É muito comum (estranhamente muito mais comum do que seria de esperar), ouvir pessoas dizerem que possuem um gosto eclético, aliás, bastante eclético.

Como muitas das vezes que ouço tal coisa, por conhecer as pessoas que o dizem, tenho dúvidas sobre o verdadeiro entendimento que possuem do termo, resolvi deixar aqui alguma informação que penso ser de valor.

O termo eclético tem origem na palavra grega eklektismós (εκλεκτισμός) que por sua vez significa ecletismo, uma abordagem conceptual comumente associada ao pensamento filosófico, enquanto atitude dos praticantes de tal arte que desejam elaborar a sua própria doutrina, englobando de uma forma o mais coerente possível, o que de mais importante e valioso encontram entre outras correntes de pensamento e sistemas.

Sobre a palavra eclético propriamente dita, diz-nos o site da Priberam:

Pedro Rebelo Eclético browserd.com

Sendo certo que nada obriga a quem utiliza o termo que o aplique a todas as questões e temas da sua vida, convém, pelo menos, não esquecer que a coerência está na génese do conceito de eclético.

Eu tenho um gosto musical eclético

A minha manhã tem passado ao som daquele que é talvez um dos mais importantes discos da musica popular portuguesa, Por Este Rio Acima, o primeiro da trilogia Lusitania Diáspora iniciada por Fausto em 1982 e que contaria ainda com o disco Crónicas da Terra Ardente (1994) e Em Busca das Montanhas Azuis (2011).

A musica O barco vai de saída dá uma ideia do porquê dessa importância. Atentai na musica, atentai no poema.

Sim, que isto de ser pai, tem muito que se lhe diga… E como ser pai não é só receber mimos e beijos doces, pareceu-me uma altura tão boa como qualquer outra para exercer outra das funções de pai: a de educador.

Confesso que já não sei porquê, mas esta manhã, ao entrarmos para o carro, referi a expressão Crazy Train. Daquelas coisas que eventualmente não teria qualquer sentido considerando que, nem de perto nem de longe, falávamos de comboios.

Pergunta-me a Patrícia:

“Pai, de que é que estás a falar? O que é o Crazy Train?”

Ora bem, este é um daqueles momentos verdadeiramente estranhos mas que podem (e certamente acontecem) acontecer na vida de qualquer pai. Chegou a hora de explicar à Patrícia o que é o Crazy Train.

São 8 da manhã. Pai que é pai faz aquilo que tem que ser feito. Saca do telefone, vai ao Youtube e…

“Filha, este “avozinho” continua a dar música a muita gente. Importante é aprender que, independentemente do tipo de música pela qual se tem preferência, há boa música em todo o lado, em todos os géneros. Esta por exemplo, é uma boa música.”

A explicação sobre a paranóia da Guerra Fria, as armas nucleares, o Nash equilibrium e o John von Neumann ficam para mais tarde, com tempo.

Ainda assim, fiquei com muita vontade de propor à nossa filha uma sessão de cinema caseiro este fim de semana: Cobertores, pipocas e Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb.

“Nos espectáculos não há tendinites .”. Esta frase ficou comigo até ao final da exibição de A perna esquerda de Tchaikovsky, a noite passada no Teatro Camões.

Tendinites pode haver, em qualquer situação. E é por isso que Barbora Hruskova cose os elásticos das suas pontas, por fora, para tentar evitar as tendinites. Nos espectaculos, ela ata os elasticos, mas nos ensaios… Os ensaios são espaço na terra, espaço neste tempo, neste planeta (nos ensaios talvez não se atinja a perfeição e essa sim, é de outro planeta).

É enquanto fala connosco (os que estamos na Plateia) e com os seus pés, que Barbora Hruskova se reencontra consigo, com a bailarina que o ano passado anunciara a sua despedida do ballet clássico, quando interpretou pela última vez Giselle, obra seminal entre os bailados brancos onde o fantástico, a emoção, a loucura e a morte, podem servir como o quase perfeito requiem para quem abandona o palco. As tendinites, tenham elas o nome que tiverem, surgem quando menos se espera…

O seu corpo não é feito para dançar… Assim lhe diziam os pais, que não mentiam. E cujos corpos, esses sim, eram feitos para dançar. Deusas… Será essa a primeira tendinite. A primeira de muitas que uma vida frente ao espelho garante. Mas nos espectáculos não há tendinites não é?

42 anos. 42 anos em que Sonho de Uma Noite de Verão, Carmina Burana e O Lago dos Cisnes (o lindo, o sublime, o maldito Lago dos Cisnes) tanto a fez correr… A ela, uma bailarina que desde os 14 anos prometeu não mais correr… As tendinites, malvadas, podem ter muitos nomes, muitas formas.

Em palco, frente ao um espelho que desta vez não está lá, Barbora Hruskova faz uma viagem por toda a sua vida, pela vida de todas as bailarinas, levando-nos com ela, não na mala mas num bolso, ao peito, onde com a cabeça de fora, agarrando com força para não cair (tal é o ritmo por vezes), vivemos cada minuto como se fosse um momento sem tempo, como se lá estivéssemos mesmo, a cair com ela, quando uma dor na perna esquerda, uma qualquer tendinite, só nos faz querer perguntar “Porquê Tchaikovsky? Não é perfeita para ti?”

Tendinites ao piano?

Que interessa isso agora? Não é Tchaikovsky que ali está. É Mario Laginha. E se Barbora Hruskova é perfeita para Mario Laginha. Ou será que é ao contrário?

Os pianistas também sofrem com tendinites e certamente também os afinadores de pianos, mas agora não é hora de pensar nisso. O público está ali, a olhar, a sentir cada tecla, mesmo quando a força é tanta que estas parecem querer saltar, ganhar vida própria. Que par perfeito. Vê-se, sente-se em cada momento partilhado, em cada parte de um monólogo que nunca o poderá ser pois o pianista responde, provoca e quando é caso disso, quase sempre, acaricia suavemente a bailarina com a sua música, de outro planeta.

Tchaikovsky e tendinites - Pedro Rebelo

Ontem fomos ao ensaio geral de A perna esquerda de Tchaikovsky. A Susana, na sua incansável busca por ações de boa vontade, entendeu que seria uma boa altura para apresentarmos a Patrícia ao bailado. Um espectáculo solidário em que a receita do mesmo converteu a favor de algumas instituições que certamente irão fazer bom uso do que recolheram. A elas o meu muito obrigado. Aos artistas, bem, para vocês deixo-vos todas as palmas que bati. Valendo o que valem, nada mais vos poderia deixar que chegasse perto daquilo que nos deixaram a nós.

Sim, volto aos livros (aos tais que de uma forma ou outra mudam vidas) e desta feita recordando Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Porquê? Porque haverá sempre quem não perceba certas coisas, haverá sempre quem não queira perceber.

Pedro Rebelo Admirável Mundo Novo

Bem, deixo para tais a mais conseguida das bem-aventuranças (Mateus 5:3 na minha humilde opinião) e continuo com o Admirável Mundo Novo. E não, não me vou alongar em dissertações filosóficas sobre a influência que o livro possa exercer sobre quem o lê. Utopias e Distopias são temas que muito me agradam e sobre os quais tenho opinião formada, amplamente discutida noutros fóruns e que certamente também terão lugar aqui no browserd.com mas, como referi, não será neste post.

O Admirável Mundo Novo vem mais a propósito dos tais pobres no espirito, os que não entendem por não quererem entender.

Por alguma estranha razão, o post que escrevi sobre 10 livros que mudaram a minha vida, parece ter dado a alguns a ideia de que certa vida me terá passado ao lado. Não que me preocupe em demasia com a ideia que das minhas palavras possam fazer os mansos ou mesmo os aflitos, mas sinceramente, não sou de ficar calado, e tal como Aldous Huxley, escrevo por vezes a posteriori palavras que clarifiquem ideias anteriores, mesmo tendo a perfeita noção de que para todos além dos visados, aumento a complexidade do raciocínio inicial. Em abono da verdade, para os visados também mas uma vez mais, com isso não me preocupo em demasia.

Assim, sem mais delongas, e seguindo os conselhos que Aldous nos deixou 14 anos após ter escrito Admirável Mundo Novo, fiquem com “Falhas”, na sua versão original, no album 78/82 dos Xutos & Pontapés, que tantas vezes ouvi quando tudo à volta eram gritos e discussões.

Consigo imaginar sorrisos nos lábios de alguns e outras feições noutros tantos. Agradam-me os primeiros e aos segundos, bem, nas palavras de um famoso talvez Maçon (porque outras ideias já por demais aqui foram expostas), si monumentum requiris, circumspice.

Pois é. O Festival Jazz em Agosto, a realizar no Anfiteatro ao Ar Livre da Fundação Calouste Gulbenkian no próximo mês, ao que parece, pretende contribuir para uma imagem erudita ou elitista do Jazz. Ou então é mesmo só uma questão de ser snob. Porquê? Porque ao pedido de acreditação de jornalistas para o evento, responde a organização do Jazz em Agosto:

Lamento mas não nos será possível aceder ao vosso pedido.
Só atribuímos acreditações a jornalistas especializados da área.

Haveria tanto, mas tanto a dizer sobre isto. Mas vá, sejamos simpáticos e práticos também que afinal, Agosto é um mês rico de eventos, jardins e esplanadas na cidade de Lisboa e, graças a um bom gosto generalizado, jazz e de qualidade, é o que por ai não falta. Então, e simplificando, podemos perguntar à organização do Jazz em Agosto:

Jornalistas especializados em qual área? Festivais? Música? Jazz? Jazz em Agosto? Jornalistas especializados na área metropolitana de Lisboa? Ou especializados só no mês de Agosto talvez…

Jazz em Agosto

Escreveu um dia Doug Ramsey no seu Rifftides, a propósito de um estudo do The National Endowment for the Arts sobre a participação pública nas artes:

Se os músicos de Jazz encontrarem formas de alcançar maiores audiências sem deixarem cair a sua arte por agua abaixo, será bom para eles e para o futuro da música. Tentativas calculadas de aumentar a audiência forçando a hibridação da música, não aumentaram a qualidade da mesma nem obtiveram aumentos permanentes de espectadores em sala ou de vendas de discos. Pode ser que o estudo em questão venha tornar mais claro aquilo que os artistas sérios sempre souberam, mesmo quando só sonhavam com aceitação, fama e riqueza (…) a recompensa por tocar jazz é tocar jazz.

Doug Ramsey é jornalista com um prémio de carreira atribuído pela Jazz Journalists Association. Será que lhe davam acreditação no Jazz em Agosto?