Um destes dias a Susana perguntou-me que presente queria eu este Natal. Cá por casa é tradição perguntar um ao outro quais os presentes de Natal que gostávamos de receber. Convenhamos, é conversa essa coisa de “Ah e tal, mas o que conta é a intenção” ou “eu gosto de tudo o que ele/ela me dá”.

Que presentes oferecer

Por vezes acontece, mesmo conhecendo bem a pessoa a quem queremos dar presentes, falharmos na intenção, no momento. “Sabes, ele gosta tanto de filmes… Vou oferecer-lhe o dvd da edição especial de Star Wars.”. Seria perfeito se ele não preferisse o Star Wars em Blue Ray.

“Ele adora comer… Vou oferecer-lhe um curso de culinária.”. Perfeito. Não tivesse ele o secreto desejo de iniciar uma dieta logo a seguir às festas. Secreto. Percebem? Claro que percebem…

Vem esta conversa a propósito de um post que o meu colega Paulo Guerrinha publicou no seu blog Conversa de Homens sobre sugestões de presentes para homens. Diz o Paulo que, depois do amor (sim, ele escreveu que o que o homem mais quer é amor), o mais importante para o homem são os gadgets. Ora bem, independentemente do quanto gosto de gadgets, sou levado a discordar. Aliás, ainda que o Paulo tenha afirmado a predilecção generalizada dos homens (recolhida num “grupo selecionado de homens”) por gadgets, refere no seu texto outras hipóteses que, na sua globalidade, me levam igualmente a discordar da selecção proposta.

Não vou entrar no detalhe da discussão da marca (Paulo, estás a por-te a jeito quando escreves “Telemóveis – leia-se, um smartphone de jeito, de preferência iphone” ou “Tablet – ipad, claro”) mas, passando os gadgets, que numa lista de mais de uma dezena de itens se ficam afinal por dois ou três, tudo me parece… Pouco.

Diacho, um Drone? E onde raios deixamos a originalidade? Assinatura da Sport TV ou Bilhete de Época para os jogos do clube favorito? Sim, claro, o melhor conselho possível para a mulher ou homem que quer oferecer à sua cara metade um presente inesquecível. Principalmente se estiver numa daquelas fases da relação em que os melhores momentos da mesma são quando a cara metade está longe e sem regresso previsto

TV Gigante para ver a bola ou um Raspeberry Pi? Mesmo a sério? A TV Gigante deve vir acompanhada de um par de chinelos de lã e um six pack de SAGRES. Mini. E quanto ao Pi, convenhamos, homem que gosta mesmo dessas coisas, já as comprou todas ainda antes de ter dito à cara metade que está a pensar em comprar.

Também podia ser uma mota, um carro novo, conduzir um Ferrari ou outra experiência radical como uma descida de rio ou uma aula de surf… Ainda assim, sabe-me a pouco.

Pronto, já chega… Paulo, desculpa lá meu caro mas sinceramente, é pouco. Sim, eu sei, nem todos somos iguais, nem todos temos os mesmos gostos e interesses mas, numa lista tão genérica como sugestões de presentes para homens, porque raio não consta um livro? Ou um filme? Ou um disco? Ah e tal, uma lista de cenas à macho… Uma garrafa de whisky?

Então, já esperando por todos os possíveis comentários (bem, em última análise é o que se espera num blog certo?) a discordar da minha lista, aproveito a boleia e deixo a minha lista de

Sugestões de presentes

Garrafa de Whisky Glenfiddich 18 Year Old

Gosto particularmente desta. 18 anos parece-me ser a idade adequada. Ainda assim, posso dizer que seria igualmente uma boa prenda ainda que um pouco mais cara, uma garrafa de Glenfiddich 26 Year Old Excellence Whisky 70cl.

Uma garrafa de Gin Tanqueray No. 10 Gin Limited Edition

O Gin está na moda e já que assim é, porque não um bom Gin? Eu sei que gostos não se devem discutir mas, diacho, eu escrevi este post baseado numa questão de gostos certo? Então, para o meu gosto, este é o Gin. Tanqueray. 10. Juntem-lhe duas de tónica, o sumo de uma lima e gelo. Irão descobrir um novo gosto.

A 4ª Temporada de Suits em DVD

Isto fará com que ele vá comprar (caso ainda não as tenha) as temporadas anteriores e irá igualmente garantir muitas noites de sofá, manta e, eventualmente, uns quantos copos do Glenfiddich de que falei ali atrás.

O disco em vinil de Charles Bradley, Victim Of Love

Porque já que falei de Suits, porque não referir uma das boas descobertas que fiz a ver esta série? É um viajar ao passado (pelo menos 30 anos) sem passar de 2014. Vale a pena ouvir.

O disco em vinil Charlie Brown Christmas de Vince Guaraldi

Já que estamos em época festiva, porque não revisitar um clássico de Natal que se ouve bem em qualquer altura do ano? Vince Guaraldi tem outras obras de grande qualidade mas este disco é sem dúvida uma abordagem ao jazz que agrada a quase toda a gente.

Um gira discos Project Debut 3 SE Turntable

Porque o vinil está de volta e ainda há muito boa gente que tem lá por casa um arranhador de discos em vez de um gira-discos, esta é uma boa e não muito dispendiosa opção. Uma forma de aproveitar a 100% as sugestões anteriores.

O DVD do filme / documentário Jiro Dreams Of Sushi

Porque Sushi está na moda mas é também uma questão de gosto. E quando se trata de Sushi e de bom gosto não há como não conhecer a história de Jiro e daquele que será talvez, o melhor restaurante de Sushi do mundo.

O livro de banda desenhada Get Jiro

Porque falando do Jiro podemos e devemos falar de Anthony Bourdain pois o restaurante de Jiro é um dos seus restaurantes preferidos. E é da imaginação de Anthony Bourdain que surge esta história em que Jiro é um ex-operacional da Yakuza numa Los Angeles distópica. Sim, uma leitura obrigatória.

O mais recente livro da colecção Blacksad: Amarillo

A série de livros começada em 2000 com Quelque part entre les ombres  está a fazer sucesso e a dupla de autores Juan Díaz Canales (argumento) and Juanjo Guarnido (desenho) mereçe a fama alcançada. Traduzida em mais de 20 línguas, esta colecção tem em Amarillo o seu quinto volume e já se esperam pelo menos mais dois. Um mimo para apreciadores de banda desenhada e para todos quantos gostam do estilo film noir.

O DVD do filme de Michelangelo Antonioni, Blow Up

Porque o primeiro filme em inglês de Michelangelo Antonioni certamente irá garantir uns momentos de silêncio e aconchego enquanto se vai desvendando o mistério daquela morte. Baseado num conto de Julio Cortázar (Las Babas del Diablo), Blow Up é um filme imperdível.

O livro de Martin Parr, Life’s a Beach

E já que falamos de fotografia, bem, de fotógrafos pelo menos, porque não um bom livro de fotografia? Para quem gosta da arte, a observação dos trabalhos daqueles que são considerados os melhores de entre os melhores é uma forma de aprender, de melhorar. Martin Parr é um dos melhores e este livro é um dos muitos que mostra porquê. Se preferirem algo mais… Sui géneris, e tiverem dinheiro para investir, porque não a aposta no Bondage Book do Nobuyoshi Araki? É um investimento de futuro.

O livro Information Doesn’t Want to be Free: Laws for the Internet Age

Se o gosto nas leituras recai sobre outros temas (não obrigatoriamente mais sérios, depende da perspectiva), porque não ler o mais recente trabalho de Cory Doctorow? Para quem gosta dos temas relacionados com Cultura Digital o autor dispensa grandes apresentações. Escritor de Ficção Cientifica, jornalista, blogger e activista, Cory Doctorow apresenta-nos aqui algumas visões, mais ou menos polémicas, sobre o mundo digital e a sua importância no dia-a-dia de cada um de nós. Uma boa leitura.

A lista de presentes?

Bem, estes são só alguns de entre muitos exemplos que podem ser boas sugestões de presentes para homens. Para ser mais exacto, boas sugestões de presentes, independentemente de serem para homens ou para mulheres. Claro que não é “a lista”. Esta é uma lista para quem gosta de coisas como livros, filmes, musica ou um bom copo enquanto se aprecia qualquer uma das outras coisas… Talvez seja por isso que a vejo como uma lista mais abrangente. Quem não gosta de nada disto?

Em tempo de férias, cinema, filmes da Disney e outros que tantos, há que relembrar a importância de mostrar aos mais novos, os clássicos da 7ª arte. Mostrar-lhes que para além dos efeitos especiais, das criaturas fantásticas e das paisagens maravilhosas, sempre houve no cinema motivo de encanto.

Porque entreter é bom, ensinar é óptimo e mostrar do que é feito a Humanidade é sem dúvida, melhor ainda. As escolhas que farão, que sejam antes de mais as suas. Mas que nunca nos digam que não sabiam que havia mais por onde escolher.

O Grande Ditador

Em 1940 Charlie Chaplin apresenta ao mundo O Grande Ditador, aquele que viria a tornar-se o seu maior sucesso comercial.

Numa sátira mordaz, condenando os regimes fascistas da Europa de então, a genialidade de Chaplin revela-se uma vez mais em toda a produção do filme, e brilha de forma impar neste discurso.

Sim, em nossa casa, por vezes, voltamos aos clássicos… Uns mais clássicos e outros nem tanto. Mas sempre com um sentido.

O Grande Ditador é um dos clássicos presente na lista de filmes a apresentar à Patrícia. É só dar-lhe tempo…

E vocês? Vão mostrar os clássicos aos vossos filhos?

Depois de um primeiro poster promocional de Vingadores: A Era de Ultron, onde a Viuva Negra aparecia meramente como personagem de suporte, eis que a Marvel lança uma série de novos posters de promoção ao filme, destacando cada um dos Vingadores.

Viuva Negra em Vingadores: Era de Ultron - Pedro Rebelo

O poster da personagem interpretada por Scarlett Johansson, Natasha Romanova para os fãs mais aguerridos, tem sido no entanto tema de debate na Internet, uma vez que a Viuva Negra aparece com um novo fato, mais electrizante, de alguma forma recordando os desenhos do personagem na década de 70 do século passado, onde esta tinha braceletes dourados nos pulsos, a partir dos quais lançava os seus “ferrões”.

Este “upgrade” ao visual do personagem em Vingadores: A Era de Ultron, deixa uma vez mais os fãs esperançosos de que esteja para breve algo mais, quem sabe um filme da Viuva Negra, mas tudo aponta para que a próxima grande estreia da Marvel com um personagem feminino à cabeça seja Captain Marvel em Novembro de 2018.

Até lá, para todos que como eu, são fãs da Viuva Negra, resta-nos as participações do personagem neste Vingadores: A Era de UltronAvengers: Infinity War Part 1 a estrear em Maio de 2018.

Quanto aos posters, vejam todos na página da Marvel no Facebook.

Sim, sabemos hoje que Star Wars, o começo de toda a saga, é na realidade (teóricos da conspiração, venham de lá as vossa teorias) o episodio IV, mas foi com a perspectiva de quem nada sabe sobre Star Wars que disse à Patrícia para ver este primeiro filme.

Star Wars em casa

E assim foi. Os três (bem, os quatro que o gato Browser fez questão de acompanhar a aventura ainda que com os olhos fechados) no sofá, depois de um dia muito activo, pizza, agua e 7Up. Que comece a sessão.

1977 está bem presente e quanto a isso não há duvidas mas ainda assim, a Patrícia aguentou firme (mais que qualquer um de nós) até ao fim, colocando constantes questões, dando opiniões e até sugestões sobre o que se deveria passar a seguir.

Já temos como certo que, a próxima sessão, Star Wars: O Império contra-ataca, terá uma baixa na audiência. A Susana já deixou claro que nesse dia, ainda que não tenha já data marcada, ela tem algo de muito importante para fazer e não poderá estar presente… Um destes dias tentaremos Star Trek: O Filme (The Motion Picture, 1979). Quem sabe não estará ali uma trekkie por descobrir…

 

E o que aconteceria se vocês vissem o Filho do Homem subir para onde estava antes?

João 6:62

Roy Batty, o lider natural dos Replicantes rebeldes, para além da figura de força e resistência sobre-humanas e da sua inteligência ao nivel da genialidade, é também, na minha opinião, a personificação de um imaginário religioso que, ainda que confuso diacronicamente pelo filme, enquadro em vários momentos da imagética cristã.

Os Anjos

Na busca pelo seu criador, Roy Batty encontra Chew, designer genético, fazedor de olhos, e interage com o mesmo parafraseando o poeta americano William Blake:

Fiery the Angels fell,
Deep thunder rolled around their shores,
Burning with the fires of Orc.

Note-se porém a diferença para o poema original:

Fiery the Angels rose, & as they rose deep thunder roll’d
Around their shores: indignant burning with the fires of Orc
And Bostons Angel cried aloud as they flew thro’ the dark night.

É aqui que surge a primeira referência a anjos. Mas os anjos que Roy refere são outros, são os anjos caídos. Anjos tal como ele, de volta à Terra, contrariamente ao plano superior do seu criador, num acto de rebelião.

Ascensão e falsos Deuses

Roy continua a sua demanda em busca de respostas, não só para si, mas também para os seus numa referência claramente messiânica, e ascende a Tyrell, criador. Ascender não é usado em vão. O elevador leva Roy à presença de Tyrell, o criador do novo mundo, o que se encontra para lá das nuvens, o que vê o Sol.

Tyrell Corporation Los Angeles

O edifício da Tyrell Corporation é o único em toda a cidade onde é possível vislumbrar o astro rei. No seu topo. Mas Tyrell não é endeusado só por essa imagem. A cidade parece ser construída para si, parece quase viver para si, em sua volta. Tyrell é assim um Deus. E é esse mesmo Deus que diz a Batty quando este o esclarece da razão da sua presença:

The light that burns twice as bright burns half as long. And you have burned so very very brightly, Roy. Look at you. You’re the prodigal son. You’re quite a prize!

“Tu és o filho pródigo.” O criador apresenta assim, a sua criação, como seu filho. De Querubim de Ezequiel a Cristo. O que se segue poderia justificar a oposição a esta perspectiva. O Filho não mata o Pai. Se tanto, seria o Homem, Sua criação também, que (a considerar Zaratustra tal como o declarou Friedrich Nietzsche em Also sprach Zarathustra: Ein Buch für Alle und Keinen) mataria Deus, e nunca o Seu filho.

O que se passa a seguir pode levar a uma nova interpretação. Batty continua a interpelar o “pai”, dizendo-lhe em tom de confissão, que fez coisas questionáveis (uma vez mais, a revelação da humanidade) ao que Tyrell lhe responde que foram também coisas memoráveis e que a seu tempo, as valorizará. É então que Batty termina a sua interjeição afirmando:

Nothing the God of biomechanics wouldn’t let you in heaven for.

Mas que Deus é este de quem ele fala? Não seria Tyrell certamente. Porque Tyrell não o deixou entrar no Paraiso, não lhe deu o descanso procurado, não o tornou Homem. Como refere Mark T. Conard em “The Philosophy of Neo-Noir”:

As acções de Batty mostram a sua concordância com a declaração de Satre: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido.”

E Batty toma a face de Tyrell nas suas mãos, beija-lhe os lábios e esmaga-lhe o crânio tirando-lhe também os olhos. Este não era afinal o seu Deus.

Roy Batty e Tyrell no Blade Runner

A cena foi afinal, uma representação dramática de um complexo de Edipo que fica por resolver. O pai não queria perder o controlo, o filho assume a sua independência à força.

Como escreve Lisa Yaszek no The self wired: technology and subjectivity in contemporary narrative, “literalmente matando o homem que lhe dera origem”.

Já aqui vos deixo muitas pistas sobre o caminho que este texto leva. A ideia é clara, ainda que não simples. Arrojada, improvável mas ainda assim, capaz de deixar semente em espera que aguas a façam germinar.

A ver vamos se amanhã se esclarece…