Para além de alguma situações relacionadas com politica, e propensas a escândalos potencialmente geradores de muitas primeiras páginas, serão poucos os exemplos de situações que cá em terras lusas tenham sido despoletadas na blogosfera e conseguido reais mudanças na vida do dia-a-dia do cidadão comum.

Veja-se o recente caso Moita Flores em que tanta alarvidade foi dita pelo próprio, tanta indignação causou junto de uma comunidade cada vez maior e influente da sociedade e mesmo assim nunca o ouvi retrair-se de uma só palavra que fosse (dizer que os blogues “são mundos de devassa, de violação, de violentação” era digno de tal não vos parece?) e estou certo de que talvez não seja a ultima vez que o iremos ouvir falar sobre “os perigos da Internet” na televisão nacional.

Aquando da situação acima referida e sobre a reacção da blogosfera indignada lembro-me de ouvir comentários do género “Lá estão os maluquinhos da Internet outra vez armados em parvos. Quando lhes mordem os calos…” . Ora a situação que reportei a partir do artigo Fraude com Cartão de Crédito Barclays tende a ser um pouco diferente.

Já conheci pessoalmente quem não goste nada dessas coisa da Internet e dos computadores e viesse aqui ao site para ler o que escrevi sobre o serviço do Barclays Bank e sobre os problemas que tenho tido com o mesmo. É um banco. E todos temos um banco. Começou com um cartão. E todos temos cartões. Pode acontecer a qualquer um.

A blogosfera mexe. A situação que é linkada inicialmente pela Flavia Paluello no seu site Noticiare em 4 de Julho, está a 22 do mesmo mês no artigo “Quando o cliente não é o melhor activo bancário” do Economia e Financas pela pena do António Dias. Ainda nesse mesmo dia, o artigo “O quie o mau serviço pode fazer pela destruição da reputação de um banco” da Caldeirada de Neutrões expunha também o assunto.

A 23 de Julho foi a vez do Figmento escrever sobre o assunto. Dois dias mais tarde o Paulo Querido publicava o artigo “Que aos bancos, como o Barclays, só importam os lucros e não as pessoas já sabemos, mas esta história é edificante” no seu Certamente!. Considerando a existência de várias distintas blogosferas, em quantas já vamos?

Logo de seguida surgiu o António Granado que publica “Barclays (pouco) Bank” no seu Ponto Média. Também nesse mesmo dia surgiu ainda o artigo “A confiança hipotecada” no Charquinho.

No dia 26 de Julho surge em cena o Marco Santos com “Barclays, reclamação, fraude, evitem este banco” no seu Bitaites. É oficial. Nasceu uma Galáxia…

Que planetas se formarão a partir daqui? O do bom-senso? O da atenção aos novos média? O
Barclays Bank mo dirá certamente.

8 thoughts on “Ouve-se a blogosfera em Portugal?

  1. Se as empresas ouvem a blogosfera, é uma boa pergunta que continuamos a aguardar a resposta. Mas quanto ao poder de propagação de informação e de agregação de factos e histórias a blogosfera é poderosíssima e sim, tem poder de alta voz.
    Ages bem ao fazer dela o seu instrumento de reclamação, até pelo facto, de forçar as empresas a lhe prestarem mais atenção e de aprenderem de uma vez por todas que actualmente não mais se controla a informação e há que dar-se a devida importância à blogosfera.
    Eu, pelo meu lado, continuarei a ecoar a reclamação e fazer com que seja conhecida e difundida. Vês que até conseguiste juntar alguns depoimentos de outros problemas com a mesma instituição.
    Conte sempre com a blogosfera para fazer valer a voz da razão.

  2. O poder da blogosfera enquanto meio de comunicação é relativo. Os únicos casos que se tornaram grandes ao ponto de a sociedade em geral ouvir falar neles só o foram porque os media se interessaram e os amplificaram.

    As empresas (não apenas) em Portugal só “ouvem” a mensagem dos consumidores passada pelo filtro dos media, não foram educadas a ligar a mínima às pessoas enquanto indivíduos. Não que as pessoas não se queixassem. Queixavam, umas às outras. Tal como fazem agora, na blogosfera, só que desta, porque a web é um meio, esperam uma espécie de equivalência mediática…

    Ora, não é bem assim.

    O poder dos blogues revela-se para já em 2 situações:
    1. como forma de interessar mais depressa os jornais (e aqui, Pedro, duvido que o teu caso lá chegue, os jornais fogem destes casos com a banca, hoje em dia praticamente só passam notícias pela positiva, nem os Grandes Escândalos financeiros têm o tratamento que deviam)
    2. como forma de estabelecer e modificar padrões de comportamento dos indivíduos — e aqui o teu caso tem algum potencial; quem o for lendo e seguindo ficará mais resistente, para não dizer que ficará imune e até refractário, ao bombardeio de publicidade com a marca Barclays.

    Se isso teria algum efeito nos serviços bancários, duvido, para não dizer que tenho a certeza que não. Mas ao menos os clientes fazem de alguma forma valer os seus direitos.

  3. Ups: notícias pela positiva e notícias do âmbito financeiro. Do ponto de vista dos jornais, nada mais é susceptível de notícia na actividade bancária, em especial se tiver a ver com a relação com os clientes.

  4. Devo confessar que, por absoluta falta de tempo, não li a maior parte dos textos que aqui publicou sobre o Barclays. Mas este seu “post”, em jeito de balanço sobre aquele caso concreto, tem muito que se lhe diga.
    Em sítios como o Queixas ou o Mal Servido, a lógica de intervenção cívica ERA a mesma da que sucede nos blogs; ERA porque, de uma forma ou de outra, aqueles dois e outros serviços do género acabaram por desaparecer. E isto (o fim dos serviços de reclamações online) acaba por explicar a grande diferença entre os blogs e qualquer outro meio de comunicação/acção cívica, “media” tradicionais incluídos: é que os blogs constituem uma rede INFORMAL E DESCOMPROMETIDA, dispersa, difusa e desorganizada, que filtra e promove, de forma anárquica mas, paradoxalmente, coerente, os temas de interesse geral… e comum; a força desta rede reside precisamente na sua informalidade e, em especial, no seu descomprometimento. Ninguém (nem nada) obriga ninguém a apoiar ou a condenar seja o que for e não existe outra motivação que não seja a do bem comum; se (e quando) isso sucede, então este corpo desorganizado produz informação organizada (logo, coerente, logo, pressão), que terá, por isso mesmo, de ser levada em linha de conta. Por quem de direito ou por interposição mediática.

    «Que planetas se formarão a partir daqui? O do bom-senso? O da atenção aos novos média?»

    Com sua licença, esse planeta já existe há bastante tempo, nem sempre primando pelo bom-senso, é verdade, mas cada vez mais despertando a atenção de todos os parceiros sociais. Um blog “ouve-se”, e ainda bem, porque muitos outros cumprem uma função (voluntária e inteligente) de caixa de ressonância, multiplicando as ondas de choque da primeira pedra que alguém atirou para o charco.

  5. FlaviaPM, estou a contar e pelos vistos não conto em vão.

    Paulo, quanto ao efeito nos serviços bancários não sei o que te diga. Na instituição para a qual trabalho já vi alterações profundas surgirem de sugestões ou queixas de Clientes. No desenrolar desta situação, eu próprio já sugeri, directa e indirectamente, duas ou três coisitas que o Barclays (ou qualquer outra instituição) poderia fazer para melhorar a comunicação (logo a satisfação) com os seus Clientes. Estou para ver.

    Continuo a acreditar que, nos dias que correm, uma situação como esta poderá mudar alguma coisa. Para tal muito tem contribuído a forma como a blogosfera tem feito broadcast da história. Ao que parece, ouve-se cada vez mais longe…

    JPG, por vezes já tenho pensado se não estarei a atirar pedras demais, se quem me lê, quem me visita não estará já cansado de tanta queixa, tanta reclamação. Depois lá vejo nos logs mais um site que linkou a história ou atendo mais um telefonema de um amigo a quem já lha contaram lá no trabalho… Alguem está a “ouvir” a minha queixa e com a ajuda de todos vós, acho que tem chegado aos ouvidos certos.
    Ainda que não daqueles que podem resolver de uma vez a situação, vai chegando aos ouvidos daqueles que, tal como eu, podem um dia olhar para a conta e ver que lá falta dinheiro. Falar para o banco e ver que este não faz nada.

  6. Hoje por acaso cheguei a este blog e a estes textos sobre o barclays. Estou a lê-los desde o início um a um, não porque me queira intrometer na vida alheia mas porque eu mesma encontro-me numa situação de litígio com o barclays bank. Enfim…Devo dizer que é um banco que funciona mal, a meu ver, de mera leiga e cliente descontente, e cujos funcionários são mal (in)formados e mal-educados também quando as coisas não lhes correm de feição. É uma pena, porque quando comecei as minhas relações com este banco tinha-o como um banco com um óptimo serviço e interface banco-cliente, mas agora só posso dizer que o gestor de conta não está lá para facilitar a vida ao cliente mas sim para complicar. Também escrevi no meu lj sobre isto, mas apenas uma vez e sem mencionar o nome do banco e provavelmente numa entrada ‘friends only’, mas ao ver isto dá-me vontade de ‘gritar’ a minha situação aos 4 ventos.
    Boa sorte e que tudo se resolva pelo melhor caso ainda não se tenha resolvido :)

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