O meu amigo Luis Correia publicou um artigo no seu blog intitulado “O questionário do Pedro“, onde se refere ao questionário “Sobre os valores que se atribuem à imagem fotográfica no Instagram” que criei e divulguei de forma a obter alguns dados que me ajudem a justificar determinadas opiniões num artigo académico que estou a preparar.

O questionário em questão tem algumas falhas. Algumas mais graves (como me referiu o António da Veiga Teixeira, o facto de levantar juízos logo na apresentação do questionário) e outras menos graves (como o facto de não questionar idade ou género) mas que assumi como de menor relevância para o estudo em questão.

Aparentemente, foi uma boa ideia esta de fazer um questionário e divulgar o mesmo pelas redes sociais uma vez que, ao fim de uma hora, contava já com cerca de 60 respostas e, no final do dia este valor tinha quase triplicado. Aparentemente, ninguém (menos o Luis) se incomodou com o teor das questões ou com o objectivo das mesmas. Pelo menos, não o suficiente para deixarem de responder.

Quando partilhei o respectivo questionário num determinado grupo de amigos, o Luis insurgiu-se de imediato. Não responderia ao meu questionário pois eu obrigava a que ele escolhesse entre adquirir uma fotografia do Instagram (um ficheiro digital) ou uma impressão dessa mesma fotografia. A questão a que o Luis se referia é esta:

A ultima pergunta do questionário do Pedro Rebelo sobre o Instagram
Podem aceder ao questionário completo aqui: http://goo.gl/forms/SNoP7r9xjh

Para o Luis, esta questão não tinha qualquer sentido. Eu deveria ter dado a possibilidade de responder “Nenhuma”.

Vamos por partes. Eu não tinha qualquer interesse em que me respondessem outra coisa que não uma das duas hipóteses apresentadas. Num estudo sobre se os consumidores preferem o Facebook ou o Twitter, não tem qualquer sentido colocar a hipótese Instagram. O estudo pretende saber a preferência entre Facebook e Twitter. Da mesma forma, num estudo em que se pretende saber qual será a preferencia dos utilizadores entre a impressão de uma fotografia e essa fotografia num ficheiro digital, não tem sentido colocar qualquer outra hipótese.

Por mim, eu deixaria ficar o assunto assim. Ainda que o Luis ficasse na dele, eu ficava na minha e, considerando que o inquérito, tal como estava, respondia à necessidade, ficava bem.

Mas eis que a coisa se complica, que a trama se adensa. Não satisfeito, na conversa que mantínhamos, o Luis justifica o seu argumento com a questão “Porque haveria eu de pagar por uma coisa que é pública?”.

Explicações dadas sobre o facto de haver uma grande diferença entre direito de exibição e propriedade, por mim, uma vez mais, a coisa ficaria por ai. Uma fotografia colocada no Instagram não passa automaticamente ao domínio publico. Uma fotografia colocada no Instagram tem um autor e esse autor tem direitos sobre ela (independentemente dos direitos que passa à rede social em que a publicou).

Uma vez mais, o Luis não fica satisfeito e, desta feita em hasta “mais” publica (que o forum em que o tal grupo de amigos se reune é privado), publica o seu post, onde começa por referir que o primeiro problema do meu questionário é “alguém achar que uma foto no Instagram terá qualquer valor para além de aparecer num ecran minúsculo ou numa página web.“.

Ora bem, eu penso ter sido claro quando referi no cabeçalho do questionário:

com este pequeno questionário pretendo ter uma visão mais concreta da utilização que se faz da rede social online Instagram e também do valor (se é que algum) que os utilizadores da rede atribuem às imagens fotográficas que nela visualizam e ou publicam.

Começando por aqui, há que notar que o termo valor não pode ser entendido única e exclusivamente como um valor pecuniário. Pensava eu que esse tema já tinha ficado bem esclarecido anteriormente, quando escrevi sobre a questão dos argumentos de valor da Fuji, que se não me engano, o Luis também leu.

E mesmo que de dinheiro se tratasse, a questão de uma fotografia publicada online não deve ser tratada com tamanha leviandade. Como referi anteriormente no post sobre os direitos de autor no Facebook, os direitos de autor continuam a existir após a publicação de um conteúdo online e com eles, um valor intrínseco dos conteúdos publicados que pode, se assim for desejado pelo autor ou por quem lhe queira atribuir valor, ser expresso em dinheiro.

Refere o Luis no seu post que uma fotografia do Instagram foi vendida por 90,000 dólares e que, pensava ele, “otários eram só noutros lados”. Mas o Luis está enganado. O que foi vendido por 90,000 dólares foi a obra (sendo que se de arte se trata ou não é outra discussão) de Richard Prince, baseada numa fotografia do Instagram.

Pedro Rebelo DoeDeere Instagram Photos
Imagens da autoria da DoeDeere, a ver em https://instagram.com/doedeere/

Ainda que o termo “baseada” se limite à impressão em grande dimensão da fotografia original e alguns comentários, esta obra “baseada” é por si, uma obra original.

Toda a polémica que desde a inauguração da exposição de Richard Prince em Nova Iorque se levantou, tem por base os tais valores que o Luis acredita não existirem.

Como poderão imaginar, teremos aqui muito por onde falar, discutir… E o meu questionário, assim como o artigo que espero escrever, vem precisamente no sentido de dinamizar essa discussão.

Mas aparentemente, o problema do Luis era ainda outro:

O Pedro está a forçar-nos a ter que responder a uma questão, quer nós concordemos em “comprar uma foto no Instagram” ou não.

Ora bem, não só não forço ninguém (diacho, só responde ao questionário quem quer) como a minha questão não é de todo se compram fotografias no Instagram ou não. Volto a repetir, caso alguém não tenha ainda percebido, o que desde já afirmo, tenho dúvidas:

Se pelo mesmo valor pudesse adquirir uma fotografia do Instagram (ficheiro digital) ou uma impressão dessa mesma fotografia, qual escolheria?
O ficheiro digital?
A Impressão?

Se podia ter escrito “quisesse” em vez de “pudesse”? Claro. Ainda assim, não deixaria de ter sentido pois o “Se” manter-se-ia no inicio da frase. Se incluía uma terceira opção? Claro que não pois não teria qualquer sentido sendo que a escolha é entre as duas opções apresentadas.

Diz também o Luis “sim, porque o Pedro acha MESMO que eu vou dar dinheiro por algo que “apareceu” numa rede social.“. Não Luis, não acho. Aliás, agora tenho a certeza de que não o farás. Mas, isso não invalida que o pudesses fazer assim como de forma alguma invalida que muita gente o possa fazer.

Se o problema do Luis, no final de contas, for a obrigatoriedade de resposta (“…ser forçado a responder algo em que eu não concordo com nenhuma das opções apresentadas“) então a conversa é ainda outra pois o Luis deverá entender, que há respostas que invalidam outras respostas ou até mesmo a globalidade de um qualquer estudo e como tal, cabe ao investigador minimizar esse risco.

Chego a perguntar-me se o problema, mais do que com a obrigatoriedade da resposta, não será com o facto de eu ter feito uma pergunta pois escreve o Luis a certa altura:

…e não concordo com tal obrigação de resposta, até porque se olharmos para o título do questionário é claro que o Pedro está interessado em perceber se há ou não valor de uma foto publicada no Instagram.

Esperem. A ver se consigo entender. O Luis não concorda com o facto de eu pedir uma resposta a uma pergunta, num questionário onde só responde quem quer, porque a razão pelo qual o faço está bem explicita no titulo do meu questionário?

Sim. Eu procuro saber se há ou não valor numa fotografia publicada no Instagram.

Mas será isso razão para eu não perguntar o que quer que seja?

O Luis termina o seu post argumentando que, se é relevante para mim saber se as pessoas encontram valor numa fotografia publicada no Instagram, então eu deveria permitir a quem responde ao meu questionário, dizer-me que não dá qualquer valor a uma fotografia proveniente dessa rede.

Aparentemente eu poderia fazer isso perguntando:

Se pelo mesmo valor pudesse adquirir uma fotografia do Instagram (ficheiro digital) ou uma impressão dessa mesma fotografia, ou nem uma coisa nem outra, qual escolheria? 

É claro que eu poderia também ter perguntado algo como “Compraria uma fotografia no Instagram?” mas isso, tal como a possibilidade acima, não adiantava muito ao objectivo que tento alcançar com a pergunta original, que é na realidade, comparar o valor que se dá a uma imagem enquanto ficheiro digital e a essa mesma imagem quando impressa.

E sim, no final de toda esta conversa, descobri mais um erro no meu questionário ou melhor dizendo, nas premissas que me levaram ao mesmo. Parti do pressuposto de que alguém que não encontre qualquer valor numa imagem publicada numa rede social, depois de ler o iniciado do meu questionário, não iria ter qualquer interesse em responder ao mesmo. Ou talvez até tenha partido do pressuposto de que não encontraria quem não encontrasse qualquer valor numa imagem publicada numa rede social.

Mas ao fim e ao cabo, talvez seja esta uma das razões que me leva a ter tamanho interesse por este mundo das pessoas, da comunicação e da comunicação das pessoas nas redes sociais. Porque me surpreende a cada dia que passa.

*ou “‘Como responder a um post num blog que não permite comentários”.

7 thoughts on “O valor dos conteúdos nas redes sociais*

  1. “valor pecuniário” :-) só por isso já devias ser multado.
    Bom Pedro, para baralhar ainda mais. Ganho a vida a vender fotos e as redes sociais são para mim as antigas galerias de arte, com uma vantagem, não tenho que pagar percentagem a ninguém pela venda efectuada. Se perguntares: “quantas fotos vendes no instagram?” Eu respondo “zero”. O mesmo já não posso dizer em relação ao Flickr e Google+. Para mim o instagram sofre de um problema de memória. Uma foto no instagram tem um tempo de vida muito reduzido, como tal perde o seu valor independente da qualidade da mesma. O mesmo não acontece com o Flickr ou Google+ em que a imagem ficam indefinidamente exposta na galeria. Por isto o instagram para mim vale zero.

    É verdade… bom post mais uma vez.

  2. Grande Benjamim. Sempre um bom input e neste caso, com um valor (“não pecuniário” mas com possibilidade de se converter) acrescido de quem faz do objecto em questão vida.

    Obrigado e volta sempre.

  3. Voltei Pedro
    Julgo que não é novidade, mas mesmo vendendo zero, reconheço que o instagram quando bem utilizado e com alguma sorte, dedicando tempo e criatividade os resultados podem ser de valor pecuniário elevado. Não conheço ninguém pessoalmente que viva do instagram mas tenho lido histórias quase fabulosas de quem faz.

  4. Bom texto, Pedro.

    Respondi ao questionário (nem sabia que era teu, para ser rigoroso).

    Os fundamentalismos religiosos (ser geek é, para tantos, equiparado a religião) nunca deram nada de útil a ninguém, exceto aos egos dos fundamentalistas, e muitas vezes apenas durante um curto período de tempo.

    Eu compro cenas online. Cenas digitais, I mean. As que têm valor para mim, se posso (a vida está difícil), compro. Não me passa pela cabeça obrigar ninguém a comprar — ou a não comprar. E não me passa pela cabeça que estou certo ao comprar ou que sou um tanso por comprar. Se tem valor, eu preciso e tenho arame, compro.

    No resto: não há questionários perfeitos. Azar, temos pena.

    (Se isso interessa: não comentava num blog há coisa para 2 anos)

  5. Grande Paulo, “se isso interessa”? Então não? Se por outros motivos não fosse (e é pois és sempre bem vindo), tu já eras presença nas minhas formações de blogging e desta feita, passaste a presença actual, presença do agora.

    Estamos sintonizados no que toca a este tema e isso, obviamente me agrada. É a prova de que, vivências à parte, as razões não deixam de ter lugar quando necessárias e de ser colocadas na mesa quando merecidas.

    Obrigado pelo teu comentário meu caro.

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