Escrevo tarde e a más horas que o dia de hoje foi muito puxado. A vida de pai deixou-me talvez desabituado de certos malabarismos. Pois que são diferentes as noitadas aqui sentado no sofá frente ao monitor daquelas como a de ontem que entre a paixão da arte e a bebida fresca rapidamente faz sentir as duas da madrugada como se fossem já quatro. Imaginem o que é para quem se levanta depois às seis. Não é, e como tal o dia começou logo a correr que me tinha esquecido de colocar o despertador. Adiante…

1755A noite foi de teatro. Com um casal amigo (que não refiro nomes pois a relação não é ofiicializada) o encontro foi mesmo à porta do Teatro da Trindade. Já tarde que ia começar a peça.

Cerca de 40 actores ao palco para nos mostrarem a emergência de uma nova Lisboa depois de uma decadência anunciada com a falência da nobreza e a ascensão económica da burguesia. A capital do Império deixaria de o ser por vontade de Sebastião José de Carvalho e Melo para se tornar uma capital Europeia pois ai sim estava o futuro na visão daquele que viria a ser Marquês de Pombal. Começando antes do grande terramoto 1755 dá uma visão de Lisboa que só espera o castigo divino. Com a morte de D. João V a nobreza esqueçe cada vez mais o seu “ar de nobre” (poque haveriam eles de se preocupar? O próprio D.José I deixou de lado a pose real para gozar os encantos da menina Tavora) para se entregar por completo à coscuvilhice da corte (elas) e à da alcova (eles) aqui bem representada pelo botequim da Rosa. É aqui que conhecemos Mariana (não me imaginava a dizer isto pois nunca foi actriz de minha particular eleição) deliciosamente interpretada por Leonor Seixas. Esta jovem tem um caso aceso com o Conde (tambem futuro Marquês) de Unhão (João Lagarto que nos faz rir à gargalhada) ao ponto de se matar pensado tratar-se esta de uma relação incestuosa quando afinal, a bela Mariana brasileira era filha não de outro que não o próprio Rei em tempos de princepe. Enfim…

Passa o terramoto e a devastação de Lisboa é aquilo que é. E consegue-o também graças à muito original banda sonora e efeitos cénicos muito bem concebidos. O castigo divino comprova-se dizem uns mas o Marquês insiste que a situação mais não é que uma oportunidade. E Lisboa tem que crescer. A História enquanto realidade é aqui sempre presente. A revolta da nobreza é apresentada no atentado falhado a D. José e é assim um bom pretexto para o processo dos Tavoras vir à baila. Cortam-se umas cabeças e já está.

Entretanto Lisboa é já mais adulta mas a Rainha D. Maria vem para nos dizer que Portugal Antigo voltará. Não a imagino verdadeiramente a chamar cão tinhoso ao Marquês de Pombal mas só por essa liberdade artistica não vou eu pegar. A estátua equestre do Rei está já na Praça do Comercio. A maior da Europa. A do Marquês estará para vir. Gostei de tudo. Bastante.

Saidos dali, aproveitando a folga que a Patricia dormia já a bem dormir na companhia da avó, uma visita ao Bicaense ali na Calçada da Bica. Jazz ao vivo, simpatia da empregadas (conhecidas do casal o que na enchente que lá estava foi contribuir certamente) e caipirinhas bem geladas. A noite estava para durar…

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