Que prazer ter um livro para ler e não o fazer, quer dizer, que prazer não estar no Tagus Park e sim a viver… Depois explico.
E eis que o primeiro dia do ano nos brindou com mais uma maravilhosa produção cinematográfica. Que seja um prenuncio de um bom ano. Desta feita foi foi Little Miss Sunshine. Mais um daqueles filmes que passou ao lado do grande circuito comercial cá da terra mas que merece em toda a sua gloria ser visto e talvez revisto ainda que em DVD. A história de “Uma familia à beira de um ataque de nervos” (titulo em Português atribuido certamente por alguem que não viu o filme e de antemão o classificou como fracasso de bilheteira) é a história das suas personagens. A ver: O avô que foi expulso do lar de idosos por snifar heroina e mantem o hábito; o tio, académico especialista em Proust, que acaba de sobreviver a uma tentativa de suicidio causada não por males de amor homossexual (a paixão que tinha por um dos seus alunos e que não sendo reciproca é ainda “traida” pela paixão deste pelo seu maior rival) mas por ver o seu génio ser preterido em prol do homem que lhe levou o amor; o filho que nutre um estranho culto pela figura de Nietzsche o que certamente o ajuda no seu convicto voto de silêncio que há já nove meses não permite uma só palavra. Tudo isto enquanto tenta alcançar o seu propósito; o pai que rege a sua vida, e tenta reger a da sua familia também, pelo método dos 9 passos, sistema de gestão pessoal criado por si mas em que ninguem acredita. Aliás, o seu pragmático exagero chega a fomentar os ódios mais profundos (e todos sabemos quão proximos os ódios podem estar dos amores) dos que o rodeiam; a filha. Que dizer desta maravilhosa criatura que atrás dos seus oculos à mosca e quase de fundo de garrafa, persegue um sonho, o sonho, o tal, o americano: ser Miss. Não interessa bem Miss quê. Há que ser Miss. E ela merecia sem dúvida mais do que qualquer uma das outras tão reais que até assustam concorrentes; a mãe, que como em qualquer boa comédia é, a mãe e ponto.
E que tal? Serve para aguçar o apetite?