… do La Féria? Nós pedimos e lá fomos ver o referido musical na versão La Féria.
Entendo em parte a grande aversão que muita gente tem aos espectáculos deste tipo. A grande maioria das pessoas só os viu na televisão e eu sou o primeiro a dizer que não há pachorra para tal. A sério. Na televisão, estes musicais de palco e as revistas e o diabo a sete dentro do género não despertam qualquer interesse. Mas no palco do teatro a coisa é diferente acreditem.
Vale a pena ver um para experimentar. Não custa. Não doi. Se não gostarem, não voltam. Ora e Jesus Christ Superstar é uma boa aposta. Trata-se de um clássico da década de 70 criado por Andrew Lloyd Weber e Tim Rice que muita gente conhece (se não a peça ou o filme, pelo menos a banda sonora) e lembra nas vozes de Ted Neeley (Jesus), Carl Anderson (Judas) e Yvonne Elliman (Maria Madalena). Polémico na altura, talvez se mantenha um pouco ainda nos dias de hoje mas já ninguém pensa no assunto.
A sala estava cheia (inclusive com algumas excursões de velhinhas – sem qualquer sentido depreciativo – que riam e comentavam a pouca roupa que por vezes havia em palco) e o espectáculo não tardou. A encenação estava digna de um La Féria nos seus melhores momentos. A música ao vivo deu um complemento (seria só por si a base?) a tudo o resto que se tratava antes de mais, de vozes. Tenho ouvido e lido muita gente a falar mil maravilhas sobre o excelente Jesus Cristo mas sinceramente, sou capaz de apostar que mais de metade da sala não entendeu um só verso que este Cristo tenha cantado em falsete. Eram por demais exagerados. E o problema de Cristo não ficava por ai. O seu registo de fado não tem nada a ver com a peça em si, com o espírito rock do musical e nem mesmo com a música que o acompanha… Sem mais comentários, metam lá o Cristo na prateleira ou encharquem-no do bom e velho bagaço que ele está a precisar. Já agora e para terminar a apreciação sobre tão celestial personagem, nos agradecimentos ao público, quando já todos em palco sorriam e se mexiam mais freneticamente lembrando ai sim, um tal espírito rebelde dos seventies, ainda o raio do Cristo estava de braços abertos olhando aos céus e agradecendo ao Pai… Tivesse eu um tomate e estreava-me logo ali
Agora o resto que tal como em muitas outras coisas na vida, contem o melhor. Judas. No original (não o mais velhinho ok?) o Judas era negro. Aqui nem por isso mas tem voz e que voz. Tem a voz com que se pode imaginar um Judas que trata Jesus Cristo por tu, que diz amar o homem revolucionário que ele é e não o filho de Deus, Deus na terra que diz ser. Este Judas tem voz de trovão. Pedro Bargado é um nome a reter. A Maria Madalena é outra que tal. Sara Lima representa a prostituta, a amante, a irmã, a Maria Madalena do Make Love Not War. E representa-a bem. Bonita sem ser coquete, com feições a condizer com o papel, Sara Lima eleva a voz mesmo quando quase sussurra junto a Cristo. E depois chega Pilatos. Sendo breve aparição na primeira parte, na segunda ele dá o mote aquando das chibatadas. Ele lava as mãos é certo mas nem por isso deixa de sentir o que está prestes a acontecer e nota-se bem na sua voz.
E ainda toda a companhia. O espectáculo foi muito bom. Talvez não o que mais gostei dentro do género mas muito bom.