Já só falta um ano. Mais um ano e já poderei dizer:

Tenho 40 anos. Não estou para aturar estas merdas.

E sim, eu escrevi mesmo isto. Raios, é o meu espaço e todos sabem que é sentido, sabem que tem sentido… 39.

Foto de marie-ll no Flickr

39 anos muito bem vividos.

Se podiam ter sido melhor vividos? Como costumo dizer: Melhor? Talvez. Pior? Certamente. Igual? Tenho a certeza que não.

Tenho vivido que me tenho fartado, dito em bom português. Vivido à grande, à minha maneira. Desde sempre, não me lembro de ser de outra forma. Chatices? Tive muitas. Coisas boas? Mais ainda.

Já passei noites ao relento, dormindo encostado a sinais de transito, já dormi em hotéis com estátuas de alabastro embutidas nas paredes. Já aqueci latas de salsichas em fogueiras, com conchas a fazer de pratos, já comi lagosta em cama de trufas regadas a vodka e já posso dizer que não gosto de caviar.

Já ouvi punk rock em garagens e já ouvi do melhor jazz no Blue Note. Já fui às Berlengas de traineira e sobrevoei Nova Iorque de helicóptero. Vi performances de 10 minutos em casas de juventude e vi operas de 5 horas no Metropolitan…

Já li Nietzsche e Baudelaire, li Pessoa e li Balzac. Li muitas histórias do Pato Donald e do Mickey  e li muitas mais do Batman e dos X-Men. Li poetas, li políticos, li sonhadores e mentirosos… Tantas revistas que li… Li a K de fio a pavio.

Dormi ao ver Star Wars no cinema e dormi num filme chamado Insónia. Vi vezes sem conta a Anne Parillaud a fazer de Nikita e o Ralph Fiennes a fazer de Lenny Nero. Perdi-me vezes sem conta entre o Tannhauser Gate e a estrada de tijolos dourados do Sailor e da Lula.

Bebi branco velho nas tascas. Bebi Tequilla e bebi Metzcal, vi fadas verdes e senhores de farda azul que me diziam para ter juízo.

Joguei xadrez em bares da noite com actores de teatro, conheci estrelas da revista à portuguesa e ouvi o António Variações ao vivo. E tanto que cantei… Cantei para mim, cantei para ela. Cantei na rua com amigos, cantei em muitos autocarros…

Gritei “Morte ao Dantas” agarrado a uma estátua no meio do Cais do Sodré. Declamei “Galileu Galilei” no meio de uma avenida enquanto os carros buzinavam e deixei-me dormir em cima da coluna de uma discoteca.

Apanhei comboios sem um tostão no bolso e voltei sempre a casa.

Empinei papagaios na praia em manhãs de Inverno e fotografei a agua a bater nas rochas muitas noites. Tantas horas passei a olhar para o rio. A sonhar com a cidade…

Dancei tanto Rock n’ Roll. Tanta laca, tanto gel e até tanta brilhantina… Usei calças de ganga com bainhas dobradas para fora e fatos de três peças.

Fumei ervas arrancadas do chão enroladas em folhas de caderno, tabaco de enrolar. Fumei cachimbo e fumei charutos. Fumei 3 maços de tabaco por dia. Dei chá Li-Cungo a um colega e disse que era outra coisa que ele podia fumar… Tanto que ri. E eu ria como ninguém.

E tanto que chorei também. Chorei de amor, sempre pelo mesmo amor. Chorei sem qualquer vergonha. Chorei por pássaros que morreram e por brinquedos perdidos. Chorei por dentro, só para mim, com um sorriso nos lábios (como ela gostaria) quando a minha avó morreu. Apertei a capa negra ao pescoço e lá fui eu em silêncio.

Fui ameaçado de morte no dia do meu casamento ainda antes de ter oferecido o copo d’agua ao som de musica pop japonesa. Não me quiseram baptizar (os padres, sempre os padres) e ainda assim, fui também abençoado.

Parei no meio de estradas desertas para fotografar arco-íris, fui convidado para visitar museus fechados, beber chá e comer scones. Já estive perdido no topo de uma montanha sem saber como descer… Mas desci.

Fiz exames de olhos fechados, e outros sem saber bem porquê. Decidi sempre por mim, o que queria fazer da vida.

Tenho uma filha que me diz que os livros são nossos amigos (não te esqueças miúda, até os maus livros servem sempre para alguma coisa). Tenho a quem amar.

Porque escrevo tudo isto agora? Sei lá eu se para o ano terei tempo para o fazer. Sei lá se para o ano cá estarei. Está dito, está dito. Para o ano tenho 40 anos e já vos disse como vai ser.

11 thoughts on “39

  1. Obrigado Isa. Isto está-nos no sangue não é?

    Um abraço Sérgio (que raio, o teu url aponta ao teu Twitter? Genial).

    Armando, nem te passam pela cabeça aquelas a que me estou a propor a aturar. Obrigado e um grande abraço.

    Ana Albuquerque, a ti, fiel representante daqueles que sei estarem ai, quietinhos, a ler as patacoadas que vou escrevendo, obrigado e um beijo enorme.

    Obrigado Hugo, estarás certamente… Era de fazer uma bloggers party hein?

    Boas Márcio e bem vindo a este universo aqui entre o Star Trek e o Star Wars, entre o Jazz e o Rock n’Roll. Obrigado pelas palavras. Sabes, é a este tipo de coisas que me refiro quando falo da paixão do blogger… Espero que a aula tenha sido proveitosa. Há mais de onde esta veio.

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