“Abduções é palavra que raramente se ouve e que para alguns de nós, quando ouvida, de imediato nos remete ao universo de X-Files (Ficheiros Secretos em Portugal). De igual modo, carros voadores, ainda que um termo mais comum para apreciadores de ficção cientifica ou mesmo para quem leva com ela sem apreciar, remete igualmente para uma visão ficcionada de um futuro que insiste em não chegar mas que é esperado há muito.
Abduções, carros voadores e fotografia
Ontem conheci a obra do fotografo Renaud Marion, mais precisamente, a sua série de fotografias iniciada no inicio de 2013 que intitulou de Air Drive (obrigado Jorge Rosa. Cheguei lá através do link para os Flying Citroen Cars do Jacob Munkhammar).
Esta série, com os seus carros vintage, modelos automóveis de outras épocas, com as suas cores e tons, transporta-me (não fosse esse o sentido de um automóvel e, eventualmente, de uma fotografia) a um imaginário que poderei chamar de retro-futurista, um espaço roçando um steampunk moderno, movido a diesel e não a carvão.
Numa referência à cultura pop nacional, Air Drive lembra-me a Grande Cidade de Claxon, a série portuguesa da década de 90, e a cada nova fotografia espero ver António Cordeiro a aparecer num qualquer canto, taciturno, encolhido na sua gabardine.
Da França para Portugal
Mas Air Drive lembrou-me ainda outra coisa. A magnifica série fotográfica que o meu amigo Pedro Moura Pinheiro, fotógrafo exquisite e extraordinaire, tem realizado desde 2008 e que chamou de Pixel Abductions (já aqui referida em tempos).
Numa técnica semelhante, Pedro Moura Pinheiro leva-me também a um outro tempo, talvez a um outro espaço, que pela diferença no sujeito da fotografia, no enquadramento e na cor, me lembra narrativas distópicas (e note-se, eu gosto de distopias), futuros tecnológicamente avançados e dispositivos de controlo.
O candeeiro, em si objecto estranho na noite, não natural, está lá para dar luz mas não para iluminar caminhos, iluminar vidas. O candeeiro, objecto não identificado, dará visibilidade ao corpo (quase inexistente na série) mas só em caso de necessidade e não do corpo em si mas da máquina que está por trás, por cima, que regula e observa o cumprimento.
Mas enfim, isto seria entrar na percepção e entendimento da estética (enquanto experiência sensível) de quem vê. Prefiro que vejam, olvidando os meus pre-conceitos. Depois, voltem cá e digam o que acham.
*clap clap*
Obrigado pela introdução ao trabalho do Renaud e pela lembrança do belo trabalho do Pedro.