Pois cá estou em PT novamente. Alguns de vós (sei de fonte segura que este site tem mais do que um visitante porque o meu IP não consta para as estatisticas) já deram por mim lá para os lados do Flickr mas ainda não tina vindo aqui porque não há tempo para tudo.
Acabaram as férias. Voltei ao trabalho, voltei para o deserto e para as horas certas para acordar. E o que há a dizer sobre Nerja? Melhor do que eu estava à espera. Mas muito melhor. Ao ponto de eu (que não me lembro de alguma vez ter gostado de praia) dizer que para o ano quero ir para a praia novamente.
Esta nossa viagem foi assim como que uma novidade. Pela primeira vez decidimos que seria para descansar (dentro do possivel que é pouco tendo em conta a Patricia). Não foi para visitar museus nem palacios. Não estávamos ali para conhecer novas culturas. Era mesmo para sornar. E eu gostei. Era capaz de me habituar a beber “Tinto de Verano” todos os dias enquanto trabalhava na varanda.
Lembrei-me mais do que uma vez da frase que a certa altura o Jack Devlin (Jeremy Northam) diz à Angela Bennett (Sandra Bullock) (em The Net) quando estão na praia: “Here we are, in one of most beautiful beaches of the world, and all we can think about is “where can I hook up my modem?””. Sinceramente, pensei em tanta coisa mas esta foi uma daquelas que, deitado na areia (mais calhaus) ou a boiar dentro de agua, não me passou pela cabeça.
Nunca me imaginei feliz por estar num hotel a 4 minutos da areia da praia (4 porque a Patricia ia connosco). Sair da praia e comer gelados de trufa e pinhão… Mesmo no mais fresco da noite, uma sopa de tomate gelada ou um gaspacho andaluz… Ter ventoinha no tecto que gira toda a noite enquanto se ouvem as vozes na rua que nunca dorme antes das três (quer da tarde quer da noite).
É Espanha. Continua por cá aquele amarguinho de boca por eles nos terem invadido (assim como por lá se nota nitidamente o amargo de boca por nós os termos posto a correr) mas que hei-de dizer? Convidem-me para ir para lá trabalhar amanhã que eu vou. E a Susana também.
Entre os 42º que chegámos a apanhar e o quente da agua do mar, encontramos também várias personagens realmente almodovarianas. Para quem acha que os filmes do Almodovar são exagerados só posso aconselhar uns dias de paz e sossego no pais vizinho. Depressa mudam de opinião. Imaginem a cena: Calor dos grandes, traseiras de um edificio de luxo junto à praia. Sombra. Mesmo na esquina uma Vespa classica (não era uma scooter qualquer) e em cima dela, quase deitada de pernas cruzadas, estendidas sobre o guiador, uma jovem de ténis All Star, hot-shorts (mas muito hot mesmo) cor-de-laranja e T-shirt (short-sleeve) branca justa. Oculos escuros com uma enorme armação branca, cabelo à la Mia Wallace (Uma Thurmam no Pulp Fiction) e com um Chupa-Chups na boca… Sorriu. Tive pena de não a ter fotografado.
Cenário 2: Junto ao hotel um casal no balcão da geladaria. Penso que discutem. Estão de costas mas nota-se que ele deve ser bem mais novo. O loiro dela também não parece muito verdadeiro. Nós passamos e a discussão continua. Acabam por nãolevar gelado nenhum. Só ai percebo que ela tem um bigode que parecia o do Artur Jorge nos velhos tempos. Só que louro.
Cenário 3: Enquanto almoçamos numa esplanada perto de Nerja, na mesa atrás da nossa senta-se um casal. Sorriem como que se acabando de pecar. Ele é uma ela. Vem de T-Shirt verde-tropa com dizeres militares e calças de bolsos. Cabelo muito curto, rapado na nuca. Ela deve ter uns 50 kg a mais (mas já contando com os 10 kg da maquilhagem). Ambos de tatuagem no braço. Ele tipo amor de mãe e ela uma qualquer frase em árabe. Pedem uma garrafa de tinto e copos com gelo. Para abrir o apetite. Ele passa a mão pelos lábios num movimento tipico de macho. Não engana ninguém. Quem manda lá em casa é ela. Na mesa por trás dessa um grupo de 4 rapazes. A Susana identifica de imediato o transformista lá da terra. É o mais forte deles. Sobrançelhas arranjadas e barba por demais bem escanhoada. Traz um lenço elastico colorido a fazer de bandolette. Ao seu lado estava outro (eram os únicos que conseguia observar da minha mesa) que pela pinta certamente seria bancário ou economista nos outros 11 meses do ano mas que ali, em pleno verão, de tanto anéis e colares que tinha em cima via-se bem que queria mesmo era ser um grande maluco o ano todo…
E depois o Júlio, El Terrible. Ou Júlio Fantástico. Imaginam um homem já não muito novo (quando perguntei à Natalie – que era quem nos servia no El Gato Negro – quantos anos tinha o Júlio recebi como resposta um explicativo “Muchos”), com um corpo muito bem cuidado, que de chapéu preto na cabeça e de camisa branca dá um espectaculo de flamenco na esplanada de um restaurante. Imaginem agora que, muitos olés, vivas e bravos depois, esse mesmo homem já está de calções de ganga curtos e de peito descoberto a relembrar o “Physical” da velha Olivia Newton John. E não ficamos por aqui porque depois ainda vem o espectaculo de tanga dourada… E se eu vos disser que, durante todo o show, está junto à porta uma velhinha que espreita e que, sempre que o Júlio faz um movimento mais picante, diz baixinho: Júúúúúllllliiiiiooooo…. como quem diz, vê lá se tens juizo. Este é o Júlio que ficou feliz por saber que eu ia falar dele na Internet e que deu um chupa à Patricia enquanto nos dizia: O importante é que não chore…
Bem… Tanto que havia a dizer. Tanto que escrevi no bendito Moleskine. Alguém um dia ainda se vai rir a ler aquilo.
p.s. As fotos da nossa viagem já estão quase todas no Flickr.
p.s.2. Confesso que me entristeceu um pouco ver “La Dourada” num parque de estacionamento mas consigo entender que eles (os espanhois) se tenham fartado do “Verano Azul” pois a TV espanhola fez com esta série no Verão o que a RTP fez com “Os 10 mandamentos” no Natal. Repetiu a mesma coisa anos sem fim. No entanto, ao ver uma rua com o nome do Chanquete e ao falar com as pessoas da terra, facilmente se percebe que aquele grupo de amigos que ali passou as férias de verão há mais de 20 anos, ainda por lá anda, com outras caras…