Antes de mais a questão: Porque chamar Harry Potter e o Príncipe Misterioso a um filme cujo nome original é Harry Potter and the Half-Blood Prince ? Convenhamos, não é difícil imaginar um qualquer estudante de magia com o inglês como língua nativa a marcar o seu livro de estudo com Half-Blood Prince. Certo, talvez um pouco convencido mas nada de outro mundo. Agora já me custa a acreditar que alguém escreva na capa do seu livrinho algo como “Este livro pertence ao Príncipe Misterioso“.

Harry Potter and the Half-Blood Prince

Adiante. Harry Potter and the Half-Blood Prince é, na minha humilde opinião, o melhor de todos os filmes da série até à data. Harry Potter cresceu em todos os sentidos e, fugindo à simplicidade de transpor para a tela o que já foi lido nos livros, revela-se aqui uma verdadeira obra gótica. Negra, romântica, dramática, um toque de humor e logo a seguir, mais negra ainda.

A maior maturidade deste filme é bem visível em várias situações mas para mim é a personagem Ginny Weasley (Bonnie Wright) quem marca o ponto de viragem quando mantém viva a paixão subentendida entre ela e Potter mas deixando-a sempre um pouco aquém. Antes, noutros filmes, não era assim. Nos próximos não será. Agora já estamos preparados.

Fiquei danado com o fim do filme é certo mas, ao contrário de outros em que o fim é pura e simplesmente parvo, em Harry Potter and the Half-Blood Prince fiquei danado porque não queria que acabasse tão rápido. E olhem que são duas horas e meia de filme.

A Cadeia Quinhentista pode não parecer o mais indicado nome para um restaurante mas, se o restaurante funcionar nas instalações de uma cadeia do século XVI a coisa já não soa assim tão estranha certo?

Sentemos-nos então na esplanada d’A Cadeia Quinhentista.

Somos recebidos pelo Sr. João Simões, o proprietário da casa e com a simpatia que se espera nas terras douradas do Alentejo é-nos sugerida a mesa. Trazem-nos um cesto de pão com várias qualidades que nos são de imediato identificadas caso dúvida houvesse (alentejano, centeio, tostas…). Fazemos a nossa escolha e o pão é retirado. Ainda que pareça inconveniente faz todo o sentido pois o pão iria ocupar na mesa espaço nobre sendo que não voltaria a ser chamado após as típicas azeitonas (não estivéssemos nós no Alentejo) e a manteiga. A agua (que a hora pedia já algo que realmente matasse a sede) refrescava já no frapê ao lado da mesa.

Enquanto verificávamos a carta, em formato original e a condizer com todo o ambiente, fomos brindados com um pequeno amuse bouche de degustação composto por duas doses de queijo com molho de maracujá e carapaus em molho à espanhola… Apresentação irrepreensível e sabor a condizer.

Eis que chega também a bebida com mais espírito uma vez  que a agua é boa mas o cante é diferente se regado com algo mais. O calor afastava o tinto e a ideia de algo bem fresco punha também de parte alguns brancos. Sangria. Uma sangria de espumante da Ervideira, bruto. Adocicada com Licor Beirão, alcoolizada com Macieira e encorpada com maracujás, pêssegos, morangos, uvas, abacaxi e maçãs. Um toque vincado de canela e alguma Sprite.

Raia de Peniche com vegetaisVem de entrada um queijo de ovelha gratinado com oregãos. Não é comum o servir de um queijo por inteiro como entrada e ainda bem pois a novidade deu um toque especial ao que seria um sabor a não esquecer. De confecção aparentemente simples, sem mais nada dá encanto ao prato. O facto de ser de ovelha garante que o sabor se mantém mesmo após a ida ao lume.

O prato de peixe é, por sugestão do proprietário, Raia do Atlântico Corada em Azeite com Coentros Frescos, batata primor, cogumelos “Portobello”e espargos verdes salteados em azeite de Estremoz.

É preciso dizer mais? Estava deliciosa e vindo de quem até não é grande apreciador do dito peixe…

Veio o prato de carne e este não foi escolha inocente pois ficou registado à primeira passagem pela porta d’ A Cadeia: Pataniscas de Enchidos de Porco Preto. Há como resistir a tal nome?

SPataniscas de enchidos de Porco Preto IIim, leram bem. Pataniscas. Aquelas, com muita cebola, salsa, feitas à base de farinha, ovos e leite. A diferença destas para aquelas que a avó fazia é que em vez de #bacalhau (desculpem o cardinal mas é do hábito) estas levam linguiça, paio tradicional e paia, tudo grosseiramente cortado e acompanhadas com legumes temperados a azeite de laranja. Resultado? A fotografia não faz jus ao encanto do palato. Outra maravilha o que ali estava no prato.

O ritmo do Alentejo é para ser apreciado e tal como dizia Miro, o empregado que com toda a simpatia e educação acompanhava de perto a nossa mesa, sem pressas. E nós não tínhamos pressa… A conversa agradável sobre a história do edifício abriu vontades à sobremesa que viria a seguir.

20090807_145432_DMC-TZ6_00940A escolha era difícil. Ovos, açúcar e requeijão para o Manjar Celeste ou o tradicional doce de Estremoz conhecido como Pudim d’Água à base de ovos, açúcar e, água. Uma vez mais, a pronta sugestão da casa e a partida para o Duo de Doces com Frutos Silvestres que mais não era que, o Manjar Celeste, o Pudim d’Água, uma bola de sorbet de limão e molho de frutos silvestres onde os ditos marcavam forte presença.

Que mais pedir? Tempo para visitar A Cadeia Quinhentista mais vezes.

O já habitual café vem delicadamente servido com a companhia de um pequeno chocolate e, para quem já se questiona, o “garoto clarinho” vinha efectivamente claro e quente. Para finalizar, tivemos o prazer de provar como oferta da casa um magnifico Licor de Bolota, com um delicado cheiro a caramelo, que enchia a boca quase sem se sentir deixando um agradável paladar a castanho. Inexplicável. Muito bom.

De comidas estamos conversados mas A Cadeia Quinhentista tem ainda um pouco mais para nos mostrar. Miro perguntou se estaríamos interessados em conhecer o resto do edifício ao que de imediato anuímos. Tal como referi atrás, trata-se de uma cadeia do século XVI e que funcionou como tal até à década de 60 do século passado como tal, teria certamente algo que ver. Nem nós sabíamos o quê.

Contrastando com o andar térreo onde todas as cadeiras e mesas são artesanalmente feitas em madeira e ferro num estilo que nos lembra a robustez do desígnio original do edifício, no primeiro andar encontramos um bar, com decoração moderna e mobiliário de design conjugado com a pedra tosca da parede e mantendo visíveis detalhes curiosos como a abertura no chão por onde se alimentariam os presos mais perigosos do andar de baixo (neste primeiro andar viviam os guardas da cadeia e seriam presas as mulheres – e por favor, vamos conter as eventuais relações). Esta sala tem ainda uma lareira que de Inverno fará certamente as delicias de quem ocupa a mesa junto à mesma (que segundo o Miro está constantemente ocupada, a estrela da noite).

É-nos ainda proporcionada uma visita ao terraço. Por escada estreita de degrau alto (ou não fosse uma construção quinhentista) chegamos ao terraço que, ainda em obras promete ser um ponto de referência em Estremoz. Todo madeirado e com uma banqueta a toda a volta, este terraço tem uma vista privilegiada sobre toda a cidade e já o imaginamos nas noites de Verão

Finalizamos a visita pelo piso de baixo (comemos na esplanada) onde as grossas paredes e as grades nas janelas não deixam esquecer o nome da casa. Bem providas de espaço, entre mesas individuais e mesas mais dadas à partilha de um momento com um pequeno grupo de amigos, as salas convidam a estar desde a apresentação à simpatia de quem nos conduz.

Resumindo, A Cadeia Quinhentista foi um acaso de sorte. Ter o condão de levar o Cliente a passar à porta e dizer “é aqui” não é para todos mas A Cadeia Quinhentista consegue tal feito. Mais, consegue-o à entrada e consagra-o à saída.

Restaurante A Cadeia Quinhentista
Tipo de cozinha: Alentejana / Toque de autor
Horário: Das 12:30 às 15:00 h e das 19:30 às 22:00
Preço médio: 35€
Morada: Rua Rainha Santa Isabel Castelo – 7100-509 ESTREMOZ
Telefone: +351 268 323 400
URL: http://www.cadeiaquinhentista.com/
Pagamento: Numerário / Cartões

Nota: Fica o meu muito obrigado ao Sr. João Simões que prontamente respondeu por e-mail à minha necessidade de esclarecer alguns pontos que me tinham escapado.

Já há pela web uma série de reviews ao restaurante Sofisticato mas mais uma não faz mal e além do mais todas as que por ai aparecem referem as pizzas. Fica a nota: Não há pizzas na actual ementa do Sofisticato. Não há nem fazem falta. Mas isso mais adiante.

Sofisticato. Em Santos. E sim, é sofisticado. Basta passar à porta para perceber mas assim que se passa “pela” porta acabam-se as dúvidas caso existam. Recebidos à chegada pela encantadora Sara e pelo não menos simpático Samuel, é-nos indicada a nossa mesa. Foi reservada a de canto ao fundo da sala. Boa escolha para uma noite descontraída e disponível.

Restaurante SofisticatoA sala só por si é um luxo. Um ambiente cosy, moderno, linhas direitas com toques de dourado a darem a pitada de classy que a casa inspira. As vigas de ferro à mostra são colmatadas com meia pintura a roxo mostrando uma robustez com gosto. As mesas são cuidadosamente apresentadas, o padrão da toalha batendo com o padrão do guardanapo e que prazer é fugir ao guardanapo branco. Nada contra é certo mas, uma cor, um padrão, é sempre bom para variar. Aqui foi.

A ementa é-nos apresentada numa moldura dourada. Os luxos não devem ser modestos. E a sofisticação com classe é um luxo a merecer nada menos que uma moldura dourada. Outra moldura vem à mesa com a carta de vinhos. Uma nota para esta onde maioritariamente se apresentam vinhos italianos sendo de contar com dois ou três portugueses e duas escolhas a copo (uma de tinto e uma de branco) que não constam da carta. Não será porém preocupante pois em caso de desconhecimento a explicação e conselho de qual o melhor vinho para acompanhar determinado prato é prontamente dada.

Para a mesa o azeite balsâmico e o pão para entreter mas mesmo sem ele ficaríamos contentes. Guloso por demais, valeu o rápido serviço ou mais teria sido comido o que roubava espaço ao prazer das iguarias por vir.

De entrada um Carpaccio dello Chef, finas fatias de novilho cru, com pequenas lascas de cogumelos frescos, queijo parmesão, cortes de aipo e molho de mostarda em grão. Acreditem, entendidos ou não, deixem lá a rúcula para os coelhos. Entre o aipo e a mostarda venha o diabo e escolha. Uma combinação de outro mundo.

Para a mesa vieram também as Polpette di Parmigiano e antes que as apresentem digo-vos já que só por si, estas bolinhas davam uma excelente refeição. São umas almôndegas, de bom tamanho, panadas, de queijo fumado, queijo parmesão e fiambre. Em dose grande para entrada, estas densas iguarias são de um ligeiro picante (dever-se-à ao queijo fumado) que vai tomando conta do paladar aos poucos. Tal como referi atrás, só por si, uma refeição.

A cada prato entrado a apresentação devida e o cruzar de conversas é constante. Quer a Sara quer o Samuel são bons conversadores e com noção dos timings. A casa é evidenciada mas acima de tudo fala-se da experiência da mesa, do comer, do beber e do estar.

Eis os pratos principais. Risotto Verde. De grão graúdo com espargos silvestres e espinafres, alho francês em boa dose e um toque de manjericão. Verde sem qualquer dúvida. Consistência ideal, o prato mais não mostra porque risotto é risotto. Muito bom e fica a dica: Um só toque de decoração. Não distrai do conteúdo e ajuda aos olhos que como sabemos, também comem.

No SofisticatoE é chegada a vez do Spaghetti Neri Alla Astice que é como quem diz, um prato de esparguete negro, meio lavagante aberto e com casca, algumas gambas (estas descascadas como pede o bom senso), boa dosagem de ameijoas frescas e limpas e muito tomate cherry, flambeado em brandy e vinho branco. A experiência do marisco com a massa é, infelizmente, pouco usual por terras lusas mas, tal como nos disse o Chef, Alessio Carrer, não é fácil cozinhar esta mistura, tem “segreto“. E uma coisa é certa, funciona. E de que maneira.

Infelizmente era o único a beber (entenda-se beber como beber e não provar que foi o que fez a Susana) e seria quase sacrilégio pedir uma garrafa de um qualquer dos italianos da carta e deixar por meio (o quente da noite não chamava a grande aventuras etílicas) e assim sendo optei pelas sugestões do copo sendo que provei um Fiuza 3 Castas para o branco e um Quinta da Alorna para o tinto. Acompanharam devidamente sem um qualquer encanto especial mas seria esperado. A refeição pedia algo mais no liquido e garantidamente a próxima visita ao Sofisticato vai proporcionar tal momento.

Para sobremesa, porque apesar de satisfeito uma refeição deste calibre não podia fechar sem uma sobremesa, a escolha recaiu sobre a Panna Cotta com molho de frutos vermelhos. De entre as opções a mais leve ainda que havia por lá uns pêssegos que ficaram a tilintar mas que da próxima não escapam. A Panna Cotta estava especialmente boa, com uma textura e densidade que há muito não provava em tal doce e completamente em sintonia com a espessura do molho.

A refeição terminou como de costume com um café e um garoto que, não vindo tão claro como o requerido, pela excelência do serviço, simpatia e qualidade da comida, não mereceu novo pedido. A acompanhar dois cálices de Limoncello, oferta da casa, para complementar o gostinho a Itália.

Resumindo, a experiência no Sofisticato foi verdadeiramente boa. A disponibilidade da casa serviu para criar relação o que é particularmente interessante neste tipo de restaurantes em que, com alguma familiaridade se descobrem facilmente pérolas escondidas da carta. A sugerir e voltar garantidamente.

Restaurante Sofisticato
Tipo de cozinha: Italiana / Toque de autor
Horário: De terça a quinta e Domingo, das 18:30 às 23:00 – Sexta e Sábado, das 18:30 às 24:00
Preço médio: 35€
Morada: Rua São João da Mata 27, 1200-846 LISBOA
Telefone: +351 213 965 377
Pagamento: Numerário / Cartões

Centro Comercial Amoreiras. Final de tarde de uma qualquer Segunda-feira. Piso 2, loja 2005, Sapataria Jandaia. Mesmo sem ver nada de particularmente interessante à primeira olhada na montra, resolvi entrar e tentar a sorte. Esta foi a sapataria (ainda que na Avenida da Igreja) onde durante muitos anos comprei os meus sapatos. Quem me diria a mim se não encontrava ali novamente consolo para os meus pés?

Nova olhada e na montra lá estava um par de sapatos que me agradava. Uma marca italiana de que não me lembro o nome e um preço razoável entre os 120 e os 130 euros. Pergunto à senhora que me atende se tem aquele modelo no numero 41. Diz que sim, convida a sentar e lá vai ela em busca do dito cujo.

Volta, traz os sapatos, eu experimento e comento o facto de estar já habituado aos meios-números dos sapatos americanos. Dava jeito um 41,5. Diz-me a senhora que os sapatos italianos também existem em meios-números. Infelizmente não naquele modelo em particular. Só 41 ou 42.

Estava decidido. Seria o 41. Só um pequeno detalhe. Diga-me por favor – peço eu com o tal direito de todo o Cliente – mas arranja-me este modelo com pele normal, brilhante? É que o modelo que tem na montra tem pele lisa, brilhante e o que me trouxe tem uma textura um pouco diferente e é baço.

“Esses são brilhantes” – responde a senhora. Desculpe? Como diz que disse? Não. Estes são baços. Brilhantes são os outros. “Não” – volta a senhora a replicar – “esses são brilhantes. A questão é que esses são 41 e os que estão na montra são 39.” Surreal. Kafka voltou à terra e encarnou uma vendedora de sapatos da Jandaia nas Amoreiras.

Explico à senhora que o facto de um sapato ser 39 e o outro ser 41 não terá nada a ver com o facto de um ser preto liso e brilhante e outro ser preto texturado e baço. “É da luz” – diz a senhora prontamente – “pois esse par baço que eu trouxe agora já teve muito tempo na montra, muitos meses, e ficou baço. Esse sapato que está na montra foi para lá agora e ainda está brilhante.” Como rebater tal justificação cientifica? Como se não bastasse, para terminar por ali tal esgrimir de argumentos, colmata a senhora a conversa (pensava ela) com: “Olhe que eu sei do que estou a falar. Já estou nisto há 9 anos”. Estava a pedir por ela certo? Pois que eu já calço sapatos vai para mais de 30…

“Pois então não. Este modelo não tenho com brilho. Posso ver se tenho em alguma outra loja.” Como é que diz que disse? Se tem em alguma outra loja? O quê? Sapatos iguais numero 41 mas que ainda não tenham apanhado com a luz da montra e como tal, que estejam brilhantes? Não havia. A senhora confirmou lá no seu computador e sapatos daquele modelo, numero 41, que ainda brilhassem, não havia em mais lado nenhum

Garantidamente, e só por piada confesso, amanhã irei visitar outras Jandaias por Lisboa. Tenho vontade de contar a história, sentir as reacções…