Agora que já passou a euforia do Natal (passou não passou?), e que se acabaram as festas (já está tudo a trabalhar certo?), também eu volto ao trabalho e desta feita em torno do mais famoso Timelord do Universo (bem, dizem que já só há este). Sim, eu gosto de Doctor Who mas isso não significa que a minha dedicação ao mesmo no dia de hoje não seja trabalho. Acreditem, é.

Entretanto, pesquisa para aqui, pesquisa para ali, eis que encontro esta pequena pérola: Doctor Puppet – A Timelord Christmas. Trata-se de um Especial de Natal da série de animação Stop Motion Doctor Puppet criada por Alisa Stern.

A série revelou-se um  sucesso sendo já referida em sites como The Huffington PostBBC America ou USA Today. Vale a pena ver os restantes…

Sinceramente? Só espero que não me venham arruinar um certo imaginário infantil que mantenho em torno destas pequenas criaturas azuis…

Pelo trailer de Smurfs vejo referências demais a piadas que talvez não sejam as mais apropriadas para um publico infantil mas, fica o beneficio da dúvida e esperamos para ver então como será esta nova encarnação dos famosos Estrumpfes…

E podia ficar aqui a escrever sobre a pequena maravilha tecnológica que é o filme “Como treinares o teu dragão“, podia escrever que o 3D é soberbo, de uma fluidez fantástica, uma cor brilhante… Podia.

Também podia escrever que a Dreamworks é bem capaz de ter renascido com este filme. Podia.

Como treinares o teu dragão

Mas essas coisas não interessam para nada. O que verdadeiramente interessa é que, não só são quase duas horas de diversão como, e igualmente importante (principalmente para quem tem filhas de 5 anos), são quase duas horas de uma muito boa história.

“Ah e tal, o tema é batido, o amigo dos inimigos… Afinal os inimigos não são maus mas são sim,  verdadeiras vitimas do sistema opressor…” Uuppps… Tempo a mais na esplanada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Stop. Esqueçam lá isso. É mesmo uma boa história. Mesmo quando está a roçar o “eu já vi isto…”, vem uma cena no ar ou um diálogo daqueles e, é mesmo um filme espectacular.

Fica aqui o trailer para quem não sabe do que falo…

Ficção Cientifica? Desenhos animados? Uma história de amor… Charlie Chaplin. Sim, fosse esse mestre vivo e esta poderia ser uma historia contada por ele. Aliás, com um pouco de atenção (ou imaginação) podemos ver o chapéu preto na cabeça do Wall-E.

Há 700 anos que os humanos deixaram a terra por não conseguirem sobreviver no meio de tanto lixo. Foram em busca de um mundo melhor. Nos seus últimos tempos por cá ainda tinham esperanças de conseguir remediar a coisa e construíram uma série de robots (os Waste Allocation Load Lifter-Earth Class ou Wall-E’s para os amigos) para apanharem, compactarem e arrumarem o lixo mas, a sociedade de consumo consumia mais do que os robots conseguiam arrumar. Nada a fazer.

A bordo da nave Axiom, os humanos partiram em busca de novos mundos, em busca de espaço. Desligaram-se o Wall-E’s, apagaram-se as luzes e tudo acabou. Bem, não foi bem assim. Esqueceram-se de desligar um. Um Wall-E. Que dia a dia foi cumprindo a sua missão: Apanhar, compactar e arrumar o lixo que os humanos fizeram.

O tempo passou e passou. 700 anos dele. E 700 anos dá para muita coisa e nos filmes dá até para um robot ganhar alma. E não é sem mais nem menos. Teve a preciosa ajuda de uma barata (alguns comparam-na com o Grilo Falante, amigo do tipo do nariz que crescia mas eu, observador atento, sei que o Grilo era uma consciência. Coisa diferente da alma) que, à sua maneira, sustentava a necessidade de sensação paternal que requer o crescimento. E o Wall-E foi crescendo.

Um dia aparece a Eva. Nós não sabíamos mas foram os humanos que a enviaram. Ainda em busca do tal mundo novo, sem se mexerem muito que isso cansa, eles enviam de tempos a tempos novas unidades robots para explorar o espaço em busca de um ambiente amigável, respirável. Nem eles sonham mas enfim…

Está mais que visto. O Wall-E apaixona-se pela Eva. Faz-lhe a corte e… Ela deixa-se dormir. Pois, a Eva é uma senhora. Aquilo é material de primeira. Tem uma missão a cumprir. Eva espera agora que a venham buscar, que a levem de volta à Axiom com o troféu que carrega, uma pequena planta, prova de vida, que o Wall-E lhe ofereceu.

A abordagem do filme é mais adulta do que o normal nestes filmes de animação. A mensagem do silêncio, ou da falta de vozes durante a primeira hora do filme, é uma coisa brutal que entendemos perfeitamente. Não é preciso dizer nada.

A coisa complica-se, em todos os sentidos, com o regresso de Eva à Axiom. Aqui ficamos a saber que afinal, o Wall-E não foi o único robot a “crescer”. Ainda que a humanidade pense estar no comando não está. São as máquinas quem manda e não estão com a menor vontade de voltar à Terra.

Bem, não me vou por para aqui a contar a história toda, principalmente porque há imensa gente que ainda não viu e nem está a pensar em ver esta jóia que é o Wall-E. Mais perdem.

Wall-E é um novo ET e não o novo ET. Traz consigo pedaços de coisas tão dispares como 2001 ou Hello Dolly. É de uma inovação tecnológica de momento, difícil de imaginar suplantada. Tem das mais necessárias mensagens ecológicas assim como nos pode dar valiosas lições de moral mas acima de tudo, há que recordar Wall-E como, ainda que caindo em lugar comum, uma verdadeira obra-prima.

Ainda há esperança. Assim se possam dar as mãos tal como deram o Wall-E e a Eva ou o John e a Mary. Posso escrever com certezas pois no alto dos seus 4 anos disse a Patrícia no fim do filme: E ficaram todos amigos.