Há quanto tempo não vos escrevo aqui sobre descobertas gastronómicas? Muito, eu sei. Pois então, que um regresso às palavras em torno de sabores e encantos, seja marcado por um novo favorito na cidade de Lisboa: Populi.
Que se diga desde logo que, não será um restaurante para jantar todos os dias. Também serve pequenos-almoços, almoços e lanches e sobre esses ainda não vos sei o que vos dizer mas, sobre jantar, que fique assente: uma experiência a recordar. Pela positiva.
Noites de Agosto em Lisboa.
As noites de Agosto em Lisboa são dadas a estas coisas do comer com tempo. A renovada Praça do Comercio chama à visita, seja para a mera contemplação de uma serenidade que se agradece ao final do dia, olhando o rio, ou seja (e foi o caso) para a descoberta de um bom sitio para amesendar, comemorando os 13 anos de partilha a dois que o casamento consagrou a 07 de Agosto de 1999.
Assim, após a visita às vistas, às esplanadas e salas de porta aberta, optámos por experimentar o restaurante Populi, junto ao torreão Nascente da atrás referida Praça. Em boa hora o fizemos.
Num fim de tarde ainda soalheiro, escolhemos a sala ao invés da esplanada. A ocasião merecia uma solenidade diferente e uma atenção de maior monta que uma esplanada não garante. Recebidos à porta, é dada a escolha da mesa numa sala elegantemente decorada, ladeada por um balcão bar (e acesso guichet à cozinha) à esquerda de quem entra e uma garrafeira à direita, com tons castanhos a imperar pelas mesas desnudas de acessórios têxteis.
Escolhida a mesa e trocado o lugar (ele há raios de Sol inconvenientes mesmo dentro paredes), mostra-se muito prestável o serviço, de imediato propondo algum aperitivo enquanto se visita a carta. Optámos pelo clássico Martini que, por gosto pessoal seria branco.
Chega por essa altura o couvert à mesa, fazendo marcar a presença por umas azeitonas verdes geladas (é uma escolha e não um defeito), uma manteiga de ervas verdes (coentros?) quente e forte como na nossa opinião deve ser (de nada valem as ervas se só servirem a vista deixando o paladar e o olfacto ansiando por algo que não chega) e um azeite bem escolhido e bem temperado de balsâmico ao fundo, cuja suavidade só pedia que não se deixasse gota no vaso.
Chega a altura das entradas. Escolhidos entre uma oferta generosa foram os Peixinhos da Horta e os Ovos Revoltos com Farinheira. Se aos primeiros nós teríamos poupado alguns minutos de fritura (evitando um suave gosto a fumo) já nos segundos a única coisa que eu mudava seria o nome e passariam a Ovos Mexidos em vez de Revoltos. Quanto ao resto, no ponto certo e bem prendados que é como quem diz, com farinheira em dose abundante mas ainda assim, bastante equilibrada.
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Passemos aos pratos principais do jantar.
Dos “Comeres do Mar”, coisas de peixes no entendimento da casa, veio para a mesa o Bacalhau Confitado com Puré de Grão e Bok Choy. Concordo com eles no ponto de que as coisas devem ser chamadas pelos nomes e Bok Choy é bem mais sexy do que couve chinesa. Em dois pedaços, peixe claro, fresco e suave, soltando a lasca com a goma certa. O puré servido na dose certa (que o grão pesa) e a dita couve oriental a dar o travo a grelo que refresca. A apontar só o caldo (que talvez se fizesse notar mais pela forma do prato) que em demasia levava ao diluir do puré mais rapidamente que o desejável. Ainda assim, a não esmorecer.
Já a carne, ou “Comeres do Prado”, se fez presente em forma de Lombinhos de Porco Preto Crestado em Molho Romesco. É um lombinho para ser mais correcto, mas bem presente. Uma cama de pequenas batatas novas, chalotas e Bok Choy a riscar de verde, tinha como base maior o tal Molho Romesco, que perante a pergunta de quem agradado não conseguia identificar o gosto picante do mesmo, lá me esclareceram que se tratava de um puré à base de tomate e pimento. A receita tradicional do dito molho, vim hoje a saber, tem também uma base de amêndoa. Pensando nisso, talvez estivesse presente. Não afirmo.
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De uma apresentação muito cuidada ao sabor excelente, tudo estava no ponto certo.
Refeição acompanhada de uma sangria de espumante e frutos vermelhos (a moda não passa e ainda bem), sobre uma Aliança nacional. Esteve fresca e muito bem apresentada.
Chegada a hora das sobremesas, secundados pela opinião do Artur (chefe de sala?) escolhemos O Melhor Gelado de Chocolate do Mundo (sim, o nome não é coincidência) e o Crumble de Pêra. Quanto ao gelado, uma textura suave que ao derreter deixa chegar ao tal chocolate e à fina bolacha que o acompanha. Uma surpresa mesmo para que não é admirador convicto do dito doce. Já o Crumble chegou em dose generosa (e ainda bem pois o sabor pedia sempre mais uma colherada) e com uma apresentação cuidada, dos mirtilos ao suave doce que pintalgava o prato.
O café e o garoto clarinho viram a sua hora e, como já não nos admiramos, veio de seguida a pequena chávena só com leite quente pois a gota de café no “clarinho” tende sempre a ser não uma mas várias. Não é grave.
Finalizou o repasto, um muito floral e cítrico Moscatel Roxo José Maria da Fonseca (penso que se tratava de uma Colecção Privada Domingos Soares Franco) que veio a calhar como pièce de résistance (eu queria mesmo escrever isto, a sério), num estar que em tudo foi excelente.
Num ambiente sofisticado, o serviço foi exemplar. A presença em sala de quem acompanhava os Clientes, fosse junto à mesa ou no acto da recepção, sentia-se sem se fazer notar o que ajuda bastante à descontracção que se espera num bom jantar a dois.
Detalhes como a chegada do proprietário aquando do surgimento da musica (os oitenta em jazz vocal são sempre bem vindos) mostram que a casa é nova. O Chef que se ouve na cozinha a chamar pelo serviço mostra por sua vez que a dinamica está ainda a ser definida mas, tudo isso faz parte de um processo que, a ser correctamente afinado, pode garantir a presença do Populi durante muitos e bons anos na emblemática praça lisboeta.
Não é barato. Escrevi lá em cima que o Populi não é um restaurante para jantar todos os dias. Mas a ocasião pedia algo diferente e aqui a diferença fez-se notar.
Restaurante Populi Caffé & Restaurant
Tipo de cozinha: Fusão, Internacional, Portuguesa
Horário: Das 09:30 às 02h00.
Preço médio: 25€
Morada: Praça do Comércio, Ala Nascente, 85/86
1100-148 Lisboa
Telefone: +351 916 722 753
Site: http://www.populi.pt/