Uma vez mais, os criadores da rede social Adegga levaram a cabo a empreitada de reunir em volta de um copo de vinho (ou muitos) centenas de pessoas que em comum partilham o gosto e interesse por essa bebida tão apreciada, num evento único em Portugal: o Adegga WineMarket.

Adegga WineMarket

André Cid, André Ribeirinho e Daniel Matos conseguiram novamente (e já andam há uns quantos anos nisto) com o Adegga WineMarket, juntar produtores e consumidores, num ambiente informal de prova e conversa, onde mais do que a habitual ficha técnica sobre castas e taninos, se trocavam histórias em torno deste ou daquele vinho, da primeira vez que se bebeu ou do quão bem ficava com aquele prato que não nos sai da memória.

E na minha opinião, de apreciador de vinho com algum conhecimento mas sem particular erudição no tema, é mesmo disto que o vinho precisa.

Adegga WineMarket. Porque há muito mais no vinho para além do que o que se vê no copo.

Assim como o paratexto de um livro nos pode contar histórias para além do livro em si, também os momentos vividos em torno de um determinado vinho podem acrescentar a este uma série de novos sentidos que contribuirão assim para o estabelecimento do seu valor emocional. E o Adegga WineMarket é um bom exemplo disso.

Por lá encontrei amigos de longa data, amigos que não via há muito, amigos com quem tinha estado dias antes. Amigos que gostam mais de beber, amigos que gostam mais de comer. Amigos que gostam de cozinhar… Encontrei estrelas de televisão (por favor, não perguntem) e encontrei as meninas da Uber. E encontrei muitas pessoas que não conhecia e algumas que fiquei a conhecer. E tudo isto porque a equipa do Adegga WineMarket percebe bem a importância do lado social do vinho.

Ao chegar, cada um dos convivas (vá, podemos chamar-nos assim) recebe um SmartWineGlass, um copo para prova com um chip associado ao endereço de e-mail e que permite assim receber após o evento, toda a informação sobre os vinhos provados. Uma vez mais o lado social do vinho a ser tido em conta. Quantas conversas ficariam a meio se a cada vinho provado eu sacasse do caderninho para apontar as minhas notas? “E qual é o grau? E disse que a casta principal era? Em que percentagem?”…

Tive a sorte de logo na entrada encontrar um amigo que me fez uma visita guiada (tivesse eu parado em cada capelinha para provar quantos néctares havia disponíveis e Baco me ajudasse no regresso a casa) e de repente, ainda o périplo mal se tinha iniciado, já falávamos de madeiras, bosques e terra. Mas falávamos muito além do tão típico e batido “caracterizado por um aroma jovem e frutado, onde se denotam os morangos e as cerejas, com ligeiros toques de acidez vindos do acre terreiro…”… Nada disso. Contávamos histórias de como gostos e cheiros nos levavam a sitios diferentes e de como era tão mais divertido e proveitoso falar do vinho dessa forma

No Adegga WineMarket, Hugo Fernandes e Ricardo Bernardo

Entre copos e palavras, um outro amigo faz a sua magia e o momento fica para a história guardado numa fotografia instantânea. E como não há uma sem duas, tiro da mala a avó da Fuji Instamax, a velhinha Polaroid SX-70, e de imediato faz-se história uma vez mais, daquela que fica para sempre. Amigos de copo na mão. Já vos disse da importância que equipa do Adegga WineMarket dá ao social?

De repente, do vinho à fotografia. E a relação que fazemos, as memórias com que ficamos de um materializar de uma ideia. Num quadrado de papel fotográfico, num copo de vinho inesquecível… Eis que gritam da Da Cozinha “Venha de lá uma dessas…”. E mais uma Polaroid se dá ao mundo entre copos… E depois outra, e outra… E mais um copo aqui, uma conversa ali, mais um amigo que se faz…

A Equipa DaCozinha no Adegga WineMarket

Estava na hora de ir embora e ficou a promessa de voltar no próximo Adegga WineMarket.

Pois que não vos falei dos vinhos provados, dos produtores que lá estavam, dos bons preços da loja… Falei-vos daquilo que de lá trouxe, falei-vos daquilo que para mim interessa quando falo de vinho: lembrar o momento e as pessoas com quem o bebi.

O titulo deste post poderia ser mais explicito, sim, poderia. Mas ao escrever pensei: Porquê? Porque diacho terá que ser explicito ou claro? Quem lê Pátio Ambulante provavelmente não sabe do que se trata. Talvez não faça ideia de que muro se fala e não se lembrará certamente o quão cinzento estava o dia em que tirei a fotografia.

A linha é fina por Pedro Rebelo
“A linha é fina” por Pedro Rebelo

Sabiam que o antigo Hospital Júlio de Matos se chama agora Parque de Saúde de Lisboa? E que é público? Que se pode entrar e passear por toda aquela área de relva e arvoredo que fica para lá do muro?

Então e afinal, o que é o Pátio Ambulante? É uma associação cultural sem fins lucrativos que surgiu na Trienal de Arquitectura de Lisboa 2013  (sendo nesse ano um dos vencedores da bolsa Crisis-Buster) e que desde então, em torno de uma carrinha de bombeiros Mercedes 408 de 1975 se instalam temporariamente em diversos pátios, largos e espaços semi-abertos da cidade de Lisboa e que, recorrendo a pequenas intervenções em parceria com estruturas existentes em cada comunidade tentam introduzir a arte como ferramenta participativa na criação de espaço público.

Já conheciam o Pátio Ambulante? Sabem que na carrinha de bombeiros do Pátio funciona a Gelataria 408 onde se vendem gelados artesanais com coberturas caseiras?

Vamos então por partes. O Pátio Ambulante anunciou os vencedores do Primeiro Concurso Fotográfico “Para lá do Muro”. Como o próprio Pátio Ambulante o apresentava, um concurso fotográfico com o objectivo de tentar aproximar a comunidade do Bairro de Alvalade ao parque envolvente ao antigo Hospital Júlio de Matos. Dizem os colaboradores do Pátio Ambulante que pretendiam com este concurso fotográfico “contribuir para a diluição de barreiras, proporcionando confiança na utilização do espaço.”.

Não foi coisa de pouca monta não senhor. Para além das dezenas de participantes, este concurso fotográfico contou também com um júri de luxo:

  • Maria Manuela Ferreira, responsável pela Gestão e Manutenção dos Espaços Verdes no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa – Hospital Júlio de Matos;
  • Fernando Gutierrez Juarez, produtor multimédia e fotógrafo na produtora 2470media em Berlim, onde realiza materiais para o canal franco-alemão ARTE  e WIRED Magazine.
  • Beatriz Meseguer, artista residente em Nova Iorque onde, após ter terminado os estudos na School of Visual Arts, realiza instalações artísticas combinando fotografia, video e outros media.
  • Raul Valverde, artista multimédia, também residente em Nova Iorque, colaborador do Departamento de Belas Artes da School of Visual Arts.
  • Laura Soria, artista mexicana que divide o seu tempo vivendo entre a Cidade do México e Berlim e que explora no seu trabalho várias formas artísticas como a fotografia, vídeo, instalações e pintura.

A todos eles e a toda a equipa do Pátio Ambulante, o meu muito obrigado. Ver uma fotografia minha a alcançar o segundo lugar, votado por tal júri, é para mim (e para a Susana que me informou do concurso e motivou e para a Patrícia que deu toda a força) um motivo de grande orgulho.

Podem ver as restantes fotografias premiadas assim como as duas menções honrosas em “Vencedores para lá do Muro“.

Os meus parabéns também a todos os participantes e em particular à Ana Duarte com a sua “Para-lá-da-psicocama”.

“Abduções é palavra que raramente se ouve e que para alguns de nós, quando ouvida, de imediato nos remete ao universo de X-Files (Ficheiros Secretos em Portugal). De igual modo, carros voadores, ainda que um termo mais comum para apreciadores de ficção cientifica ou mesmo para quem leva com ela sem apreciar, remete igualmente para uma visão ficcionada de um futuro que insiste em não chegar mas que é esperado há muito.

Abduções, carros voadores e fotografia

Ontem conheci a obra do fotografo Renaud Marion, mais precisamente, a sua série de fotografias iniciada no inicio de 2013 que intitulou de Air Drive (obrigado Jorge Rosa. Cheguei lá através do link para os Flying Citroen Cars do Jacob Munkhammar).

fotografia de Renaud Marion

Esta série, com os seus carros vintage, modelos automóveis de outras épocas, com as suas cores  e tons, transporta-me (não fosse esse o sentido de um automóvel e, eventualmente, de uma fotografia) a um imaginário que poderei chamar de retro-futurista, um espaço roçando um steampunk moderno, movido a diesel e não a carvão.

fotografia de Renaud Marion

Numa referência à cultura pop nacional, Air Drive lembra-me a Grande Cidade de Claxon, a série portuguesa da década de 90, e a cada nova fotografia espero ver António Cordeiro a aparecer num qualquer canto, taciturno, encolhido na sua gabardine.

fotografia de Renaud Marion

Da França para Portugal

Mas Air Drive lembrou-me ainda outra coisa. A magnifica série fotográfica que o meu amigo Pedro Moura Pinheiro, fotógrafo exquisite e extraordinaire, tem realizado desde 2008 e que chamou de Pixel Abductions (já aqui referida em tempos).

leisure hover on the promenade

Numa técnica semelhante, Pedro Moura Pinheiro leva-me também a um outro tempo, talvez a um outro espaço, que pela diferença no sujeito da fotografia, no enquadramento e na cor, me lembra narrativas distópicas (e note-se, eu gosto de distopias), futuros tecnológicamente avançados e dispositivos de controlo.

Looking for a new place to stay.

O candeeiro, em si objecto estranho na noite, não natural, está lá para dar luz mas não para iluminar caminhos, iluminar vidas. O candeeiro, objecto não identificado, dará visibilidade ao corpo (quase inexistente na série) mas só em caso de necessidade e não do corpo em si mas da máquina que está por trás, por cima, que regula e observa o cumprimento.

three scouts

Mas enfim, isto seria entrar na percepção e entendimento da estética (enquanto experiência sensível) de quem vê. Prefiro que vejam, olvidando os meus pre-conceitos. Depois, voltem cá e digam o que acham.

O olho só vê o que a mente está preparada para compreender

Hoje, só porque sim, é um daqueles dias em que me apetece lembrar ao mundo as palavras de Henry Bergson, filósofo francês e Prémio Nobel da Literatura em 1927:

L’oeil voit seulement ce que l’esprit est préparé à comprendre.

 

Os logos andam ai. Eles existem. Todos sabemos disso. De quando em vez, fingimos que não os vemos mas lá no fundo no fundo, sabemos que eles lá estão, a olhar para nós. De repente, revelaram-se e mostraram ao mundo o seu verdadeiro propósito: a conquista. Largaram as suas bases, aquilo que os mantinham presos e agora…

MacDonald's 2003 by Matt Siber
MacDonald’s 2003 by Matt Siber
MacDonald's + Truck 2008 by Matt Siber
MacDonald’s + Truck 2008 by Matt Siber

O projecto Floating Logos divide-se em duas séries. A Serie I, onde os logos são fotografados de baixo, intencionalmente sem base, sem chão. A Serie II já nos mostra os logos enquadrados na paisagem numa perspectiva mais alargada…

Matt Siber é um americano, de Chicago, crescido em Boston e formado em História e Geografia que em determinada altura decidiu virar-se para a fotografia. A coisa correu-lhe tão bem que hoje tem o seu trabalho em sitios como o Art Institute of Chicago ou o Museum of Contemporary Photography. É também representado por galerias em Espanha e na Alemanha.

Esta abordagem lembrou-me o trabalho de um outro grande fotografo, que tenho o gosto e a honra de ter como amigo, Pedro Pinheiro. O seu projecto Pixel Abductions veio dar a conhecer ao mundo outra invasão, veio comprovar ao mundo a existência de outra vida que pairava sobre nós…

Arriving Home by Pedro Pinheiro
Arriving Home by Pedro Pinheiro

Há quem diga que, precisamente por não ter receio da verdade, o Pedro foi silenciado por outras e mais fortes instancias tal é a distancia que temos hoje da ultima fotografia da série, mas ainda assim, não perdemos a esperança…