E assim foi. 11 anos de casados. Uma viagem às Caraíbas, um fim-de-semana em Paris… Nope. Isso é o que toda a gente (que pode) faz. Qual é a piada?

Ok. Tinha piada. Estava a brincar. Ainda assim, resolvemos que podíamos experimentar algo diferente, com piada à mesma, e que não nos deixasse com aquele sentimento de «soube a pouco» (o que garantidamente aconteceria se fossemos passar um fim-de-semana fosse a que cidade fosse e que ainda não conhecemos. Um fim-de-semana não dá para nada).

Hotel Aviz. Frank Sinatra, Maria Callas, Ava Gardner… A Lisboa dos espiões, o encanto de outros tempos… E porque não? Fica perto de casa e ao mesmo tempo, num outro mundo distante. A noite está tratada. Então e que mais?

Noite no Hotel Aviz

Check-in feito, malas no quarto, são quase horas de jantar. Um telefonema rápido, «mesa simpática junto à janela ou salinha privada?», escolha feita e a caminho do AYA de Carnaxide. Se é certo que aquele espaço dentro da cidade custaria uma fortuna, nem sabendo isso nos deixamos de questionar a escolha do lugar. Deusas. Aquilo é verdadeiramente tenebroso. O resto compensa.

Um atendimento cinco estrelas, simpatia da porta à sala, esclarecimentos quando necessários e tudo, mas mesmo tudo, com uma frescura extraordinária. Execução igualmente sem falhas. As 40 ou 50 peças na mesa, entre sashimis, makis e nigiris, passando pela sopa, pelas ameijoas de entrada e acabando na bebida (que admito não lembrar o nome), de aguardente, soda e lima (sem açúcar), estavam em conjunto a dizer: Qualidade.

A noite estava para passeio e um bom gelado fica sempre bem seja qual for a comemoração. Avenida da Igreja, um clássico lisboeta: Gelataria Itália, mais conhecida pelo nome do seu mais famoso gelado, a Conchanata. Miraculosamente dois lugares na esplanada, serviram para calmamente saborear a nata e o limão (gelado e não sorvete), sem deixar pingar para a roupa…

Vá para fora cá dentro? Porque não? Não se iludam porém. Não lhe ficará mais barato que um fim-de-semana numa outra capital europeia (vivam as low-costs) a não ser para aqueles para quem tempo é efectivamente, dinheiro. Ficará diferente isso sim…

Estamos já a planear a noite para os 22 anos de casados…


Quem desce do Castelo de São Jorge, pouco passada a hora do almoço mais tradicional, vem quase certamente com fome. Ao fim-de-semana mais ainda que a oferta work related está de folga…

Ao descer a Rua Augusto Rosa, chama a atenção a porta que deixa antever a sala em tons de verde e pontilhada a dourado. Só por si, parece desenquadrada do ambiente à volta e, com a carta à porta, recheada de nomes apetitosos e preços que não o são menos, a entrada não se faz esperar.

Sala ainda vazia, um atendimento 5 estrelas. Simpatia e educação ficam bem em todo o lado. Mesa da janela, para ver os eléctricos que passam.

Sugestão, da chef que vem à mesa. Para a mais pequena, que diz desde logo que só come arroz ou massa, sairá um tagliatelli mas, com um toque de verde, com brócolos (sim, sim, eu gosto de brócolos), cenouras baby e tomates cherry. Para nós, de maior sustento, segue-se a descrição:

Bacalhau à Príncipe. Cozido e envolto numa massa folhada fina e estaladiça, com molho bechamel. Acompanha com legumes salteados, entre courgettes, beringela e cenouras. Só pecou por falta de uma qualquer condimentação adicional que desse um brilho extra ao bechamel. Ainda assim, uma delicia.

Bacalhau a Principe - Sedução

Risotto de enchidos sendo que estes eram a farinheira e a alheira. Do arroz no ponto ao queijo certo, passando pela presença da carne não só pelo gosto mas também pela textura, o risotto estava realmente divinal. Acompanhava com uma salada de alface e tomate cherry, com um risco de balsâmico a dar o toque final ao prato.

O calor do dia chamava ao branco e não sendo a escolha de vinhos muito extensa (na quantidade diga-se pois no preço, estende e não é pouco), ficámos pelo vinho a copo sendo que foi um Reguengos bem fresco. E foi uma escolha acertada.

A refeição satisfez e bem, deixando pouco espaço a aventuras pelo mundo dos doces mas ainda assim, e seguindo a sugestão atenciosa de quem nos servia, pedimos o Bolo de Chocolate da Tia Mercedes. Em boa hora o fizemos. De uma textura variada, crocante onde se quer e quase derretido onde deve, bate a pontos outros bolos de nome famoso que se encontram na praça Lisboeta.

Veio o café e o garoto que, ainda que tentado, não saiu como pedido (só leite quente com uma gota de café). Não mancha a experiência. Sabemos que não é fácil e mesmo que fosse, tudo o resto compensava o deslize.

Resumindo, o Restaurante Sedução fica a fazer parte da lista de referências.

Restaurante Sedução
Tipo de cozinha: Portuguesa / Moderna
Preço médio: 20€
Morada: Rua Augusto Rosa 4, 1100-059 LISBOA
(logo acima da Sé)
Telefone: +351 218 888 144
Pagamento: Numerário / Cartões

Noite de sexta-feira, a começar pela zona do Chiado. Bem, começa da melhor forma porque não? Temperatura amena, luzes a abrilhantar as ruas. Que seja.

Para um jantar a dois, sem vontade de tirar o carro do estacionamento, um estar sossegado, comer bem e conversar aproveitando o grito de liberdade que aos 5 anos soava lá por casa (que é como quem diz, a Patrícia foi dormir a casa de uma amiga). Visita da praxe à catedral FNAC, subir a Garrett e virar à Sacramento. Subir mais um pouco e pouco além do meio caminho, abre portas o Restaurante Sacramento. Num espaço pré-pombalino, recebidos à entrada onde aguardamos dois minutos (falta de reserva em noite de sexta oblige), deu para pensar que o espaço de bar à esquerda também é convidativo. A visitar noutra altura.

No restaurante Sacramento acompanham-nos à mesa. Não há vagas nas salas de baixo mas o andar de cima conseguido em forma de varanda interna, ainda permite sentar. Tempos muito correctos. Mesa simples mas bem decorada, combina com o estilo de toda a casa. Couvert à mesa, uma pasta de atum com um toque não identificado e que a tornava mais agradável que o costume, azeite suave e bem temperado com umas gotas de vinagre balsâmico. Pão de Centeio com sementes e ainda um pão de cebola no ponto.

De entrada serviu-se uma empada de caça com redução de Vinho do Porto. O termo escolhido se fosse folhado não identificaria mal o prato pois a textura do envolvente, tal a suavidade, estava mais para o folhado mas, que não se entenda mal a observação: Estava muito boa. A caça do recheio em boa dose, a redução a deixar-se notar. O afamado Ratatui (que até ao rato pouca gente conhecia) era composto por rabanete, alface francesa, rúcula e tomate cerise.

Os pratos ficaram-se pela carne pela vontade de experimentar. Ficará para próxima visita ao Sacramento o Bacalhau com Broa e Grelos à Sacramento.

Tornedó com Queijo da Serra e espargos

Vieram os Supremos de frango, recheados com farinheira e acompanhados de Ratatui de legumes e arroz de nozes. A carne deliciosa, os peitorais da ave, de tamanho generoso, ganhavam da farinheira não só o sabor mas a devida gordura. O prato só ficou a perder pela maturidade que as nozes do arroz, claramente, já tinham atingido. Ou isso ou um mau acondicionamento das mesmas. Nada que não se ultrapassasse uma vez que o arroz era dispensável até para a totalidade do prato.

Seguiu-se o Tornedó de vitela com Queijo da Serra e espargos, enrolado em presunto. Servido em cama de esparregado, acompanhava com batatas fritas servidas à parte, salada e cebola ripada a cobrir a peça de carne.

Não só a carne era muito tenra e saborosa como se encontrava servida em dose certa. O rolo bem feito e o recheio generoso. O meu medo de que os espargos roubassem protagonismo à carne era infundado. Por mim, estava óptimo.

A refeição foi regada com um tinto Dão Porta Fronha 2005 que se revelou uma agradável surpresa assim que se deixa abrir por uns minutos no copo. Funciona e bem. Muita fruta o que calhava bem com o que se comia. Os vinhos do Dão a ganharem rapidamente a minha preferência.

De sobremesa foi dividido um Crumble de Maçã, Passas e Amêndoas com Gelado de Baunilha. Crocante como se quer, doce na dose certa e com o gelado a fazer bom par, a sobremesa calhou bem para finalizar.

O café veio prontamente e o garoto clarinho lá teve que ser substituído por uma chávena de leite quente que, recebeu depois uma colherada de café fazendo aquilo que nos restaurantes teimam em não ouvir ser pedido. Adiante.

O serviço foi muito bom, atencioso e competente, a dar vontade de voltar. O espaço é dado quer a uma refeição mais intima quer a um jantar de amigos (dentro do género é claro).


Restaurante Sacramento

Site: www.sacramentodochiado.com
Tipo de cozinha: Portuguesa / Moderna
Horário: Das 12:00 às 15:00 ao almoço e das 19h30 às 24:00 para jantar.
Preço médio: 25€
Morada:Calçada do Sacramento 40-46, Chiado, Lisboa
Telefone: +351 21 342 05 72
Pagamento: Numerário / Cartões

Num registo não muito usual de simpatia e bom gosto quando se entra em casas desta especialidade, o Rui dos Leitões surpreendeu logo de imediato.

A conselho do @loboastuto (o Twitter uma vez mais, a contribuir para os conhecimentos gastronómicos deste que vos escreve), lá procurámos o restaurante Rui dos Leitões numa terriola de seu nome Fornos junto a Coimbra. Este destacava-se dos muitos que por ali existiam por um aspecto exterior mais moderno, diria quase de design.

Entramos e recebidos à porta pelo (que nos pareceu) chefe de sala, foi-nos dada a escolher a sala (que variavam só pelo tamanho) sendo-nos sugerido o andar de cima por apresentar uma sala mais sossegada. Foi por esse que optámos.

Uma vez mais, recebidos à entrada, foi-nos aconselhada mesa e de imediato sugerida a especialidade da casa: Leitão. Para todos e ao peso.

Rui dos Leitões

Não haverá muito a dizer. É leitão e como se sabe, ou se gosta ou nem por isso. Nós gostamos. Este foi servido em dose generosa, quente qb e acompanhado por salada de alface onde o vinagre se fez notar (como deve ser no leitão para cortar qualquer gordura a mais), e ainda por uma travessa de batatas frias que, ao contrário do habitual (não tradicional pois há dúvidas sobre se a tradição obriga a batata cozida), era cortada aos palitos.

O serviço foi de uma rapidez incrível e de uma simpatia maior ainda.

Uma refeição de tal calibre não podia deixar passar a sobremesa que, entre um doce de natas (falha-me a memória para o nome) e um bolo de bolacha acabado de fazer, não deixaram a obra da doceira mal vista.

No final, nem o garoto falhou.

Restaurante O Rui dos Leitões
Tipo de cozinha: Leitão
Horário: Das 9:00 às 24:00
Preço médio: 20€
Morada: Rua da Barraca, 9 – Fornos, 3020-923 TORRE DE VILELA
Telefone: +351 239 913 377
Pagamento: Numerário / Cartões

Ali à 24 de Julho está aberto há cerca de um ano o Restaurante Tejo à Vista. O espaço já foi casa de vários restaurantes e bares distintos nos últimos anos e isso parece ainda ser visível lá dentro mas, não é desses outros que vou escrever e como tal, segue.

A entrada dá para um espaço que funciona aparentemente como café ou bar e conta ainda com uma esplanada na rua. Chegados informámos da reserva feita e fomos encaminhados ao andar de cima. Os jantares são lá encima.

Após um esclarecimento de que a nossa reserva não era de 6 mas sim de duas pessoas lá nos foi indicada a nossa mesa. Aqui não se prima pelo luxo e ainda bem pois iria certamente encarecer a oferta e assim como está está bom.

É nos deixada a ementa mas logo à porta tínhamos reparado numa oferta regional, típica da Madeira (viemos mais tarde a saber que o proprietário é Madeirense) e a escolha estava já feita. De uma breve passagem penso que a oferta geral da ementa anda à volta de pratos de cozinha italiana mas não garanto. O interesse estava já direccionado para outro lado.

Bolo do Caco para começar. Este bolo é na realidade mais um pão do que um bolo, feito à base de farinha de trigo, fermento, água e sal, é servido quente e barrado com manteiga de alho a derreter. Dizem os entendidos que não há como o de Porto Santo e como não me lembro de ter provado esse, o do Tejo à Vista estava mesmo muito bom.

Segue-se o peixe. Bife de Atum. Com o que parecia ser um molho de cenoura, tomate e pimentos, acompanhado por uma concha de arroz, veio em dose farta e cheio de sabor.bife de atum no tejo a vista O risco do atum é por vezes ficar seco mas este estava mesmo no ponto. Fazia-se ainda acompanhar por dois cubos de milho frito e tudo numa apresentação só por si apetecível.

De carne contámos com uma espetada Madeirense. Chega à mesa um prato com cubos de milho fritos, batata assada e uma salada finamente temperada com um balsâmico adocicado (calha bem que é do que eu mais gosto). Logo depois chega então a espetada que, certamente por questões legais (discutíveis mas legais), não vem em pau de loureiro mas sim em espeto inoxidável. Quatro bons pedaços de carne de vaca, macia q.b. para o efeito e muito bem temperada onde o louro se fazia notar em força. Nada a apontar. Estava deliciosa.

Desta feita a refeição não se acompanhou de vinho mas sim de agua. De quando em vez há que dar descanso ao corpo…

Para sobremesa, ainda que com alguma dificuldade (tal o efeito do Bolo do Caco), escolhemos o Bolo de Chocolate que nos foi apresentado como algo de outro mundo, sem açúcar nem farinha, acompanhado por uma bola de gelado de baunilha e um Coulis de frutos vermelhos. Infelizmente aquilo que poderia ser uma sobremesa excelente acabou por revelar-se uma estranha experiência que a deixar contente só ao mais ferrenho apreciado de chocolate. O bolo estava massudo e a ausência de doce não ajudava. Foi-nos explicado que, de Inverno este bolo é servido ligeiramente aquecido o que o torna mais suave (acredito) e faz com que o contraste com o gelado seja maior o que também deve ajudar. Penso que é algo a tentar novamente e nesses termos.

Café e garoto (que estando claro sofreu, sem qualquer culpa de quem o tirou, do forte que era o café) e a refeição estava terminada.

Um serviço simpático e atencioso, atento aos timings dá o ponto final ao restaurante Tejo à Vista. A ver se o lucro da casa permite algum investimento na mesma só para afastar velhos fantasmas e talvez, uma maior aposta nas especialidades lá da terra não fosse má ideia.

Restaurante Tejo à vista
Tipo de cozinha: Madeirense / Italiana
Preço médio: 20€
Morada: Av. 24 de Julho, 84 A, 1200-870 LISBOA
Telefone: +351 309 935 930 / 917 300 774
e-mail: restaurante@tejoavista.com
Pagamento: Numerário / Cartões