O tempo começa finalmente a ficar a meu gosto. Mais escuro, mais frio, mais ventoso… Por vezes chove o que nem seria mau não estivesse eu de fato e gravata e assim me deverei manter todo o santo dia… Isso agora não interessa nada. O que interessa é que finalmente o Verão (num sentido muito, muito lato) está a ir embora e a inspiração (entendam-na ou não) regressa aos poucos.
E o que é que isto tem que ver com os taxistas de Lisboa? Tudo. Haverá poucas sensações parecidas com uma corrida de taxi pelas ruas de Lisboa numa manhã (ou fim de tarde) invernosa. E se eu gosto… Num determinado periodo da minha vida tive o prazer de conhecer talvez metade dos taxistas que fazem as ruas desta cidade… Diáriamente, uma, duas, três corridas. Uns com mais pressa, outros mais faladores e outros ainda sem pressa alguma e mais calados que o silêncio. Há de tudo. Hoje aproveito esses curtos momentos (também ai está a razão de tão apreciadas serem estas viagens: por norma são curtas) como uma pausa quase total. Chego a folhear o jornal que me passam sobre o encosto do banco do pendura quando desço a Almirante Reis em direcção ao Terreiro do Paço. Essencialmente para anuir ao desafio que me colocam em silêncio como quem diz: Já viu as d’hoje?. E nestes dias mais escuros, estas viaturas infernais parecem já conhecer os destinos de cada um que que se acerca, sabendo perfeitamente onde cada um se vai apear. No meu caso, pela manhã, o final de cada jornada é reconfortado por um café quente no Martinho d’Arcada onde o amigo taxista passa a outro o bom rumo do meu caminho.
Tudo isto serve para recordar que em 2002 desafiei três pessoas, cada uma no seu canto (Barcelona, Itália e Canadá) para uma pequena brincadeira. Disponibilizei-lhes o acesso a cerca de 300 fotografias que eu tirei no banco de trás dos taxis de Lisboa e dei-lhes o mote: Lisbon Taxi Driver’s Fado. O resultado foi o que se pode ver abaixo: