Foste tu que o escolheste

Este será o teu bolo. Cheira-me que este é mesmo o teu herói… p.s. Sim, a primeira pergunta do dia foi “Quando é que faço 5 anos?” seguida do comentário “… agora tenho que tirar os bonecos da minha cama. Já sou crescida.”. Vou tentar convencer a pequena “senhorinha” de que os bonecos são parte essencial da vida que ainda está para vir.

Descobrimos a hora certa (e o sitio) para ver cinema de animação para / com crianças. Não sei se devia escrever isto correndo o risco de não se voltar a repetir a maravilhosa experiência do dia mas lá vai que vocês merecem: Lusomundo Amoreiras, Sábado, 13h05m. Para além da sessão ter intervalo (outras salas, outras sessões, sigam o exemplo por favor), a sala estava completamente por nossa conta. Uma sala inteira para nós os três.

Horton e o Mundo dos Quem foi o filme que vimos e que nos entreteve divertindo, a todos, desde o principio até ao fim. Para quem não sabe, Horton é um elefante de quem toda a gente gosta até ao dia em que ele ouve vozes vindas de um grão de pó que assenta num dente-de-leão. Toma como missão salvar aquela gente que ele não vê mas sabe habitar a flor e a partir dai desenrola-se toda uma aventura com lições de moral umas atrás das outras… Tal como já referi, para todos.

Com os recentes anúncios televisivos da Planeta DeAgostini a Galáctica voltou a ser noticia em Portugal. Battlestar Galactica já era muito falada mas por um grupo restrito de fans devotos (mais à frente veremos porque devotos é o termo certo) que acompanharam a série à medida que esta ia sendo exibida por esse mundo fora e, mais recentemente, através das edições em DVD á venda em Portugal e principalmente no estrangeiro.

Apesar de Battlestar Galactica ser uma série nova, para as pessoas da minha geração será quase impensável não referir a série original mais ainda porque a série actual transporta consigo muito do espírito que elevou a série original ao estatuto de série de culto.


Galáctica nasceu como uma estrela num firmamento que crescia na altura. Com o sucesso de Star Wars em 1977, a ficção cientifica estava a tornar-se mais popular saindo do nicho de “estranhos” a que até então pertencia. Surge Galáctica. Contando com um elenco de luxo como Lorne Greene como Comandante Adama (comandante da Galáctica e Presidente do Conselho), Richard Hatch como Apollo (filho de Adama, lider do Esquadrão Azul), Dirk Benedict como Starbuck (tenente no Esquadrão Azul, melhor amigo de Apollo), Herbert Jefferson Jr. como Boomer (também membro do Esquadrão Azul e o génio da electrónica), Terry Carter como Coronel Tigh (o segundo na cadeia de comando da nave) e Maren Jensen como Athena (filha de Adama e também piloto) entre muitos outros, Galactica garantia desde a génese ser um sucesso. O episódio piloto é o mais caro episódio de televisão feito até então. Foram duas horas de estrondoso sucesso alcançando ratings como poucas vezes tinham sido vistos.

Aquilo que estava inicialmente previsto para ser uma série de 3 tele-filmes rapidamente evoluiu para uma série televisiva mas que mesmo assim estreou nos cinemas do Canadá, do Japão e em muitos países da Europa. Só para o Canadá a Universal comprou 80 cópias do episódio piloto estreando Galáctica em mais salas de cinema do que “Tubarão” que tinha na altura cerca de 50 ou 60 cópias em distribuição. No Japão Galáctica ultrapassou “Brilhantina” nas salas de cinema.

O episódio piloto estreia na ABC a 17 de Setembro de 1978 e os espectadores tiveram acesso a algumas cenas extra que não constavam das versões para cinema. Seguiram-se 20 episódios no total de 24 horas que foram transmitidos durante os 8 meses seguintes.

Apesar de toda esta grandiosidade e de um orçamento de 1 milhão de dólares por episódio as audiências diminuiram logo durante a primeira temporada e a série acaba por ser cancelada em 29 de Abril de 1979 com o último episódio “A mão de Deus”. Ironia do destino, nesse mesmo ano Galáctica ganha o prémio da melhor série dramática. Sobre o tema, Dirk Benedict (Starbuck) escreveria mais tarde no seu livro “Confessions of a Kamikaze Cowboy”:

… fosse por que razão fosse. Battlestar Galáctica não foi capaz de acompanhar o seu lançamento como blockbuster. Os níveis de audiência baixaram e finalmente estagnaram num nível que teria sido suficiente para qualquer outra série televisiva se manter no ar. Mas não para um projecto que tinha escrito “Numero Um” na testa e que era como tal considerado por todos ainda meses antes do seu lançamento. Qualquer coisa que não o topo era próximo demais do fundo e logo não era suficientemente bom.

Também Glen Larson disse numa outra ocasião:

Penso que nós (com o cancelamento) demos um gigantesco passo atrás para a ficção cientifica. Nós tínhamos a rara oportunidade de verdadeiramente abrirmos a fronteira e falar sobre o que poderá acontecer lá fora no espaço. Não tem que ser tudo sobre robots e máquinas voadoras.

Esta primeira série fez desde o inicio fans fervorosos que não ficaram nada satisfeitos com a decisão da ABC. Tanta foi a pressão sobre a estação que em 1980 vai para o ar Galáctica 1980 mas esta só dura 10 episódios. Pouco empenho da estação e uma produção muito fraca terão sido os principais motivos. Ainda assim, o culto estava para ficar. A Galáctica estava destinada a não desaparecer.

Entre aqueles que mais defendiam o espírito da Galáctica estava Richard Hatch o actor que desempenhava na série o papel de Apollo filho do Comandante Adama. Para tentar convencer potenciais investidores e os estúdios de televisão norte-americanos, Richard Hatch produziu um filme que, com a ajuda dos principais intervenientes da série e com espectaculares efeitos especiais, veio criar mais uma lenda deste verdadeiro novo Universo. Ainda assim, a série não regressaria aos canais de televisão.

Mas qual seria o segredo de Galáctica para causar tão fortes paixões? O que estaria por detrás daqueles cenários, naves e robots que não deixava que se perdesse um episódio?

Não há como não ser apreciador da Vanity Fair. A sério. A revista surpreende a cada edição. Scarlett Johansson e Javier Bardem n’ A Janela Indiscreta do Mestre Hitchcock? A Charlize Theron em Chamada Para a Morte? Pelo menos os originais estão muito bem representados e não haverá ninguém a dar voltas na tumba…

Charlize Theron em Chamada para a morte

Uma fantástica produção fotográfica em que actores e actrizes actuais possam em cenários montados para reconstituirem cenas dos classicos de Alfred Hitchcock. A Vanity Fair ainda nos dá a benesse de poder ver a cena original com um clique em cima das fotos. A não perder.

Scarlett Johansson em A Janela Indiscreta

Juno é… Fantástica. Juno é uma fantasia de adolescente meio geek. E quem não gosta de fantasias de adolescente? Mesmo que sejam meio geeks? Sim. Juno não toca em computadores nem nada que se pareça mas sabemos que se tocasse seria fenomenal. Assim como se fosse estudante de Filosofia ou de Religiões Comparadas. Juno é inteligência somada a esperteza daquela que sabe bem. Juno é o Little Miss Sunshine do ano.

Juno tem 16 anos (ainda que Ellen Page tenha 20) e descobre com 3 testes de gravidez no mesmo dia, graças a garrafões de Sunny Delight, que está grávida. O pai da criança é o seu melhor amigo Bleek interpretado por Michael Cera com quem ela teve relações sexuais (fez “o amor” diria eu) uma única vez.

Juno Poster

Juno é nas primeiras impressões uma chata. A miúda é irritante. Irritante que até chateia. Chateia tanto que é bom… Quando ela diz “Silencio old man!” nós sabemos que há ali muito valor. Mesmo com o telefone em forma de hamburger ou com meias às riscas indicando o quão miúda ela é, Juno tem em si uma mulherzinha, decidida o quanto baste para querer dar “a coisa” para adopção. Assim. Sem mais nem menos mas com uma maturidade (que Juno sabe a certa altura ainda não ser suficiente para tudo o que a vida lhe reserva) invejável. Aqui mais uma vez os jovens pais (como eu e a Susana) podem apreciar como a sua influência pode ser decisiva para o carácter dos seus filhos. Os pais de Juno são do melhor que já se viu… Assim é a filha. Assim será (fica no ar) um dia a mãe…

Não. Não vos vou contar mais. Vejam o filme. A sério. Ouçam a banda sonora. Está tudo muito bom.

Eis que chegamos à cena final. Sim, Juno podia ser assim quase que um conto de fadas tal a preciosidade com que nos é apresentada a cena final. Frente à porta de casa do Bleek, juntos tocam e cantam, apaixonados, numa cena longa e visualmente marcante pela simplicidade aparente mas que nos deixa a pensar em tudo o que lá está.

Uma ultima referência a Diablo Cody, nome de guerra de Brook Busey-Hunt uma ex-stripper de Minneapolis que um dia resolveu escrever sobre a sua vida no blog The Pussy Ranch. Passou depois para a escrita em papel com Candy Girl: A Year in The Life of an Unlikely Stripper e dai foi convidada a escrever um argumento de cinema originando Juno. Ora, Portugal que tem em tão boas graças os livros escritos por strippers, prostitutas, garotas de programa e outras que tais (para um pais que não lê) nunca por cá viu nada de Diablo. Porque será? Talvez tenha palavras muito complicadas…