Só o nome bastou para que a Susana soubesse que este espectáculo era a cara da Patrícia. Cabaret de Insectos: Dracularium Freak.

cabaret de insectos dracularium freak
Fotografia descaradamente roubada da página A Tarumba no FB

A verdade seja dita, a cara de todos nós. Gostamos de um bom momento em família, um teatro ao final da tarde e, quanto mais “estranho” for, melhor. Se a isso se juntar um espaço sui generis que ainda não conhecemos, está criada uma receita de sucesso.

E assim, a meio da tarde lá fomos nós ainda sem saber o que nos esperava. A Susana manteve o segredo, não nos deu nem uma pista sobre o quê nem sobre o onde.

“Mas mãe, então e almoço? Onde vamos almoçar?” perguntava a Patrícia já perto das 3 da tarde enquanto subíamos a Rua da Costa do Castelo. “Almoçamos por lá. Certamente há lá qualquer coisa para comer…”. O mistério continuava.

Chegámos então ao Teatro Taborda, espaço para nós completamente desconhecido mas onde desde 1870 se dá azo à arte.

Ficámos a saber que era teatro o que nos esperava. Uns cartazes logo na entrada davam o mote para o que nos esperava: Cabaret de Insectos: Dracularium Freak. Ainda era cedo e a vontade de tricar algo (trincar, dentadinhas, dracularium…) começava a apertar. Descemos uns quantos pisos, apreciando as magnificas salas e imponentes vistas que estas proporcionam sobre a cidade, e chegámos ao Café da Garagem. Um espaço cosy e bastante trendy (já chega de estrangeirismos ou posso continuar), onde a regra da decoração parece ser a de aproveitar o que a casa nos dá.

Frente a uma enorme janela, as mesas corridas de portas deitadas sobre cavaletes estavam prontas para nos receber. Que se come por ali?

A nossa escolha foi para umas saladas, muito bem servidas, e ainda para uma tábua de enchidos. Ficámos bem os três, ainda deixando algo por comer. A música complementava o ambiente com um swing muito 20’s que parecia encaixar perfeitamente no espirito dandy decadente (atenção ao sentido do termo) que ali se terá vivido um dia…

5 da tarde. Hora de Cabaret de Insectos: Dracularium Freak

cabarte de insectos dracularium freak 2
Fotografia que tal como a outra acima, foi roubada à página d’A Tarumba no FB

Recebem-nos na magnifica sala alguns dos personagens que nos irão acompanhar em palco. Este já está pronto e só de o ver, ainda vazio de vida, facilmente se imagina que o que se vai seguir é o que o nome nos promete. Bem, pelo menos no que ao freak se refere.

Alguém se lembra de R. M. Renfield? Bram Stocker apresentou-nos este curioso personagem em Dracula e a Companhia de Teatro de Marionetas A Tarumba volta a apontar-lhe as luzes da ribalta em Cabaret de Insectos: Dracularium Freak. E sim, terá mesmo as luzes apontadas num fantástico espectáculo de dança, daqueles de fazer abanar o esqueleto…

Mas Renfield, criador original do Cabaret de Insectos: Dracularium Freak, é apenas um de entre os muitos aterradores encantos deste espectáculo. Sim ó incautos. Preparem as vossas crianças, as que há em vós e as pequeninas ao vosso lado também, para a mortal dança de amor (ou será só sexo, puro, cru, brutal?) da Archimantis Latistyla. Preparem-se para sentir as mais básicas emoções à flor da pele perante a quente dança oriental das Blattas Orientalis ou a sensualidade dos movimentos (Deusas, que movimentos) de um grupo de Titanacris Albipes.

Sublime. Cabaret de Insectos: Dracularium Freak é sublime.

Uma experiência artística é certo, mas que no caso deste que vos escreve, foi de artista em nome próprio quando de repente me encontro em palco, “Senhor De Barbas”, e entre cartas e baratas vejo a magia acontecer frente aos meus olhos… Aos meus e aos da família, que não é todos os dias que me podem ver em palco…

Se não vos contei muito? Claro que não. Não posso. Como dizem os artistas d’A Tarumba, “Mais não podemos revelar, a não ser que vamos assombrar a vossa imaginação!… Senhoras e senhores, coloquem os cintos e os vossos mosquiteiros, o espectáculo vai começar!”

Até dia 1 de Fevereiro, de Quinta a Sábado às 21h30 e ao Domingo às 17h, Cabaret de Insectos: Dracularium Freak no Teatro Taborda.

Juvenal Garcês recebe os espectadores à medida que estes entram na Sala do Teatro-Estúdio Mário Viegas. Sempre me lembro de ele lá estar. Com um semblante sério escondendo o humor que pouco depois nos irá transmitir… “Entrem que estamos todos à vossa espera…”

A Arte do Crime pela Companhia teatral do Chiado

Já há muito que conheço a Companhia Teatral do Chiado. Lembro-me de ouvir um dos actores na apresentação d’ As obras completas de Shakespeare em 97 minutos dizer que só gostaria de ter a peça em cena tanto tempo quanto esta tinha estado em Londres. 11 anos. Pois que por cá já vai em 12 and keep on going

Tenho rido como um desalmado desde então cada vez que entro naquela sala. Foram As Vampiras lésbicas de Sodoma, A Bíblia: Toda a Palavra de Deus (d´uma assentada) e mais recentemente (mesmo que não naquela sala pois assisti no Auditório do Colégio São João de Brito) Perguntem aos Vossos Gatos e aos Vossos Cães. Não há hipótese digo-vos eu. Quem lá vai, sabe o que o espera…

Mas porque raio estou eu para aqui a debitar toda esta informação sem vos ter ainda falado de A arte do crime? Porque não posso. Prometi. Prometi ao Juvenal Garcês (eu o resto da audiência) que não vos contava o fim e ainda que seja um policial, que só no fim se desvende a história, não sei quantos de vós seriam perspicazes, verdadeiros Maxwell Smart’s ao ponto de apanharem o fio à meada só pelo que vos contaria. Não. Promessa é promessa.

O espectáculo é fantástico. Os actores são fantásticos. O Emanuel Arada é um Sr. Rocha memorável que nos faz pensar várias vezes sobre a certeza da sua lógica ainda que nada seja certo e tudo pareça um pouco… ilógico. O Simão Rubim é o Inspector-Chefe Machado. Pois que está tudo dito. Vem cá que já me agarras… Muito cool na sua arrogância mas se não te pões a pau quando dás por ela já levaste. A Vanessa Agapito é a Diana Galvão que entra a matar de tão certa que está mas por não saber onde entrara, e perante um tudo tão estranho como o que lhe apresenta o Sr. Rocha não demora a deixar cair a capa de altivez (e até arrogância notada quando refere o seu “policia de estimação”) e a mostrar o quão frágil é. Enfim, fantásticos todos eles…

Agora vá, vão lá ver o espectáculo.