Aniversário de Casamento

Um jantar especial, um quarto de hotel, uma pensão de bairro, uma viagem ao estrangeiro ou mesmo ficar em casa, enroscados no sofa… Sim, já passámos por tudo isso no aniversário de casamento. Que diacho, são 15 anos. E 15 anos são muitos anos. Não são suficientes, não me entendam mal. Aliás, cada ano que passa, cada dia para ser mais sincero, mais me convenço que uma vida inteira não é suficiente.

Calendar Number 15

Acham que chega? Uma vida? Para duas pessoas se conhecerem, para duas pessoas se entenderem verdadeiramente? Não, na minha opinião não chega. Somos complicados por demais. Nós.

Há para ai quem se esforce para nos descomplicar (a nós, a toda a Humanidade). Há para ai quem se esforce em tornar as relações mais simples, mais práticas, mais “em conformidade com os tempos modernos” dizem… Mas a cada passo que dão nesse sentido, cada avanço que fazem, parecem ao poucos estar a destruir uma das coisas que mais faz de nós… humanos. Nós somos complicados diacho. Assumam lá isso de vez.

E querem melhor exemplo? Bem, haverá certamente, mas para mim, isso agora não interessa nada. Para mim, melhor exemplo que o nosso é impossível. Nós somos complicados. 15 anos de casados (também podia dizer 25 anos de namoro mas isso ainda iria complicar mais a coisa)…

Mas, se gostávamos de não ser tão complicados? Se calhar sim. Há momentos menos bons… Há por vezes momentos maus (uma silepse fica sempre bem nestas situações onde dizer que há momentos bons é claramente pouco), e há momentos… Ahhhh, aqueles momentos em que só apetece… Toda a gente tem momentos. E depois?

Depois pensamos que, se há 15 anos (ou há 25, como preferirem) que temos esses momentos (todos: os bons, os maus e os outros…), é porque efectivamente os queremos ter. Só pode ser por isso. E se os queremos ter, juntos, só nós (independentemente do mundo em volta – que fique claro – sabemos que existe), então a escolha acertada é esta, continuar a comemorar, a cada ano que passa, mais um aniversário de casamento. Concordas comigo amor?

p.s. Parabéns. Amo-te. Muito. Tu já sabes disso mas eu sei que sabe sempre bem ser lembrado.

Pois é. O Festival Jazz em Agosto, a realizar no Anfiteatro ao Ar Livre da Fundação Calouste Gulbenkian no próximo mês, ao que parece, pretende contribuir para uma imagem erudita ou elitista do Jazz. Ou então é mesmo só uma questão de ser snob. Porquê? Porque ao pedido de acreditação de jornalistas para o evento, responde a organização do Jazz em Agosto:

Lamento mas não nos será possível aceder ao vosso pedido.
Só atribuímos acreditações a jornalistas especializados da área.

Haveria tanto, mas tanto a dizer sobre isto. Mas vá, sejamos simpáticos e práticos também que afinal, Agosto é um mês rico de eventos, jardins e esplanadas na cidade de Lisboa e, graças a um bom gosto generalizado, jazz e de qualidade, é o que por ai não falta. Então, e simplificando, podemos perguntar à organização do Jazz em Agosto:

Jornalistas especializados em qual área? Festivais? Música? Jazz? Jazz em Agosto? Jornalistas especializados na área metropolitana de Lisboa? Ou especializados só no mês de Agosto talvez…

Jazz em Agosto

Escreveu um dia Doug Ramsey no seu Rifftides, a propósito de um estudo do The National Endowment for the Arts sobre a participação pública nas artes:

Se os músicos de Jazz encontrarem formas de alcançar maiores audiências sem deixarem cair a sua arte por agua abaixo, será bom para eles e para o futuro da música. Tentativas calculadas de aumentar a audiência forçando a hibridação da música, não aumentaram a qualidade da mesma nem obtiveram aumentos permanentes de espectadores em sala ou de vendas de discos. Pode ser que o estudo em questão venha tornar mais claro aquilo que os artistas sérios sempre souberam, mesmo quando só sonhavam com aceitação, fama e riqueza (…) a recompensa por tocar jazz é tocar jazz.

Doug Ramsey é jornalista com um prémio de carreira atribuído pela Jazz Journalists Association. Será que lhe davam acreditação no Jazz em Agosto?

Nós fomos Clientes da NOS desde 2001. Para ser mais correcto, nós ainda somos Clientes da NOS pois não enviamos ainda o pedido, por escrito, de rescisão de contrato que a NOS nos exige para anulação do dito. Mas sim, neste momento nós já nos encontramos como Clientes da concorrência da NOS, mais precisamente, nós já somos Clientes MEO. E ainda temos 7 ou 8 dias para nos decidirmos se ficamos como Clientes MEO ou Clientes NOS. Ao que parece, temos direito a um período de 14 dias (viram? Podia ter escrito “nós temos direito…” mas resolvi dar-vos um descanso) durante o qual podemos voltar atrás na decisão de contratar um novo operador de TV, Internet, Telefone, Telemóvel, etc… E isso é bom pois pelo que nós podemos observar nestes últimos dias, o tempo faz milagres e o tempo a passar depressa faz milagres mais rapidamente. Passo a explicar.

A semana passado nós recebemos um contacto telefónico da MEO. Daqueles típicos, sem identificador de chamada, os quais ainda antes de atendermos já estamos a pensar em dizer “não estou interessado”. Conversa puxa conversa e, exactamente quando o colaborador da MEO nos propunha um fantástico serviço, de excelência, e com uma fiabilidade a toda a prova, caiu a chamada. Claro. Um bom agoiro.

Minutos mais tarde, voltam à carga. Desta feita a chamada não cai e, pelo que ouço do outro lado, ainda bem. Apresentam-nos uma boa proposta, pelo menos considerando o custo que nós tínhamos à altura e, como pensávamos já ter ultrapassado a barreira que nos obrigava a manter o serviço da NOS (o canal Nickelodeon, exclusivo da NOS, foi uma constante cá em casa nos últimos anos), pedimos para ser contactados mais tarde, ao final do dia. Nós precisávamos conferenciar em família, falar com a Patrícia, certificarmo-nos de que era a escolha correcta.

Chegada a hora combinada para novo contacto da MEO, este não chegou. Sabe quem me conhece que sou tolerante o quanto baste com atrasos. Imprevistos acontecem e, quando se lida com Clientes nunca se sabe o que pode acontecer. Esperámos. E continuámos a esperar… O contacto não chegou mas, como se costuma dizer, se o Maomé não vai à montanha, a montanha vai à MEO e fomos nós a contactar a MEO. Explicámos o porquê do contacto e, esclarecida a situação, seguimos na simulação como se previa.

O valor apresentado pela MEO era imbatível.

NOS e MEO  -Pedro Rebelo numa nova aventura

Efectivamente, a proposta que nos foi apresentada pela MEO parecia imbatível. Num pacote que englobava serviço de fibra com TV, Internet, Telefone Fixo e Telemóvel, conseguiam uma diferença de menos 40€ relativamente ao valor que nos estávamos a pagar pelos mesmos serviços entre MEO e NOS. E ainda ofereciam um tablet o que distingue a oferta.

Ainda assim, não é de animo leve que se põe termo a uma relação de 13 anos e como tal, nós resolvemos pedir um tempo para pensar. 3 ou 4  horas sendo que, honestamente informámos o colaborador da MEO que iríamos contactar a NOS no sentido de saber se nos fariam melhor proposta.

O serviço de retenção comercial da NOS falhou.

E foi aqui que tudo se complicou. Pelo menos para a NOS. Apresentada a situação ao serviço competente, o colaborador da NOS ainda tentou várias simulações, tirando serviços, colocando serviços, mais canal menos canal, mais Internet menos Internet… Nada. Por mais que tentasse, não havia valor que batesse o valor apresentado pela MEO. Assim sendo, não havia muito a fazer e perante um valor consideravelmente mais baixo e uma promessa de bom serviço, despedimo-nos cordialmente com a indicação de que iríamos prescindir do serviço ficando só a faltar uma comunicação escrita da nossa parte.

O novo contrato MEO.

Mais tarde nessa noite, telefona-nos novamente o colaborador da MEO questionando-nos então sobre a nossa decisão. E nós tínhamos decidido: Vamos mudar para a MEO. 10 minutos ao telefone e estava tudo tratado. E com a garantia de que dois dias depois estaria uma equipa da MEO em nossa casa para tratar da instalação. Assim foi.

MEO instalada, notórias diferenças de imediato. Uma imagem mais brilhante na televisão e uma velocidade mais próxima da contratada na Internet (e mais constante). Gostámos. Mas nem tudo correu bem à primeira note-se. O serviço contratado era de 170 canais (140 de TV e mais 30 de Rádio) e só estavam activos 120. Na manhã seguinte, a primeira com MEO lá por casa, a box desligou-se e assim resolveu ficar, sem mais nem menos, desligada. Felizmente, um amigo e dois telefonemas depois tudo estava resolvido e nós continuávamos satisfeitos. Tudo a funcionar e aparentemente, bem. Encantados com a nova imagem na TV e com a velocidade da Internet da MEO.

E a NOS acorda de repente. Recuperação.

Dois dias. Tínhamos o serviço da MEO instalado há dois dias quando recebemos novo contacto da NOS. Com a indicação de que “estávamos a pensar” em desistir do serviço, o colaborador da NOS contacta-nos no sentido de “esclarecer a situação” e “garantir a nossa permanência”. Clientes satisfeitos, ainda mais, Clientes tão antigos, são merecedores de condições especiais que podem garantir que não há melhor valor no mercado. Nós não tínhamos dúvidas disso. Em várias situações já passadas, percebemos o valor da antiguidade como Cliente. Infelizmente, quem nos atendeu o telefone no anterior contacto não tinha essa noção.

Depois do discurso da praxe, a antiguidade, a satisfação, os serviços e a qualidade dos mesmos, já pouco faltava dizer. Convenhamos, nós não nos encantamos pelos canais de cinema, subscritos há uns tempos numa promoção na altura vantajosa, e coisas como os hotspots NOS já eram comuns cá por casa desde que apareceu a rede FONERA… Argumento final: o preço.

E eis que do nada, numa quase milagrosa recuperação, a NOS nos apresenta uma proposta verdadeiramente incrível. À poupança de cerca de 40€ que a mudança para a MEO representava, a NOS abatia agora cerca de 20€. De repente, a NOS oferece-nos um valor cerca de 60€ a menos do que aquilo que pagávamos. Incrível. O que faz o respeito pelo Cliente antigo… Mas, levantava-se a questão: Então nós não éramos Clientes antigos dois dias antes?

A competência comercial do colaborador da NOS que nos contactou foi quase irrepreensível. Argumentando com tudo o que lhe era possível, insistindo na antiguidade e satisfação do Cliente, apelando à relação emocional que temos estabelecida com a marca, tentou de tudo. Falhou eventualmente quando nos tentou convencer que o facto de termos melhor qualidade de imagem na televisão com o serviço da MEO se devia unicamente ao facto deste operador “enviar o sinal com mais brilho”… Pronto, acreditamos que, em tempos de desespero, por vezes nos possa levar o coração a campos de menor racionalidade mas enfim, vestiu a camisola. Mas não havia muito a fazer.

Disse-lhe várias vezes que, tivesse o anterior colaborador da NOS com quem falámos feito tal proposta e dificilmente a MEO teria ganho esta batalha. Não fez e nós não poderíamos adivinhar que dois dias mais tarde, a tentativa de retenção fosse tão longe.

O último prego foi colocado quando ontem, três dias úteis depois do contrato feito, nos foi entregue em casa o MEO tablet, que prometemos à Patrícia e que, por razões óbvias, a deixou fã da MEO.

É certo que é uma nova aventura a começar, para nós e para a MEO (que não sonha onde se foi meter), e como todas as aventuras, terá os seus altos e baixos. Esperemos agora que sejam mais os altos. A ver vamos como vai ser.

p.s. Já vos dissemos que temos direito a um período de 14 dias durante o qual podemos voltar atrás na decisão de contratar um novo operador de TV, Internet, Telefone, Telemóvel, etc..?

 

Uma equipa de cientistas ao serviço do Facebook publicaram recentemente um estudo na revista Proceedings of the National Academy of Sciences que comprova ser possível estar o Facebook a manipular emoções dos utilizadores desta rede. E como comprovaram eles tal facto? Manipulando-as.

Facebook a manipular emoções?

O estudo, intitulado “Experimental evidence of massive-scale emotional contagion through social networks” (Prova experimental do contagio emocional em larga escala através das redes sociais – tradução minha) mostrou que esta equipa de cientistas do Facebook manipulou o conteúdo que apareceu no feed de noticias de cerca de 700.000 (setecentos mil) utilizadores da rede de forma a determinarem até que ponto tais manipulações influenciariam o estado emocional dos utilizadores em questão.

O Facebook é nos dias que correm uma das principais fontes de informação para muita gente. É sabido que grande parte do tempo online é actualmente passado nesta rede e é comum ouvir dizer “Vou ao Facebook para saber das novidades, ver o que se passa”. O feed de noticias é o ponto central de toda esta interacção, o local onde vemos os updates que todos quantos seguimos vão fazendo, textos, imagens e vídeos.

Foi precisamente sobre o feed de noticias que a equipa de cientistas do Facebook actuou e, durante uma semana, alteraram os algoritmos da rede de forma a controlarem o que cerca de 700.000 utilizadores recebiam no seu feed de noticias fazendo com que determinados utilizadores vissem essencialmente posts contendo termos alegres e positivos enquanto outros utilizadores veriam mais conteúdo com termos negativos e que denotavam tristeza.

Conceitos de Psicologia aplicados ao Facebook

Há muito que os psicólogos sabem que a exposição constante a estados emocionais mais presentes que outros tende a levar à adopção desses mesmos estados.

Com a alteração ao algoritmo da rede, a equipa de cientistas verificou que, ao final de uma semana, os utilizadores que tinham sido expostos a posts essencialmente positivos, faziam eles próprios mais conteúdos positivos ao passo que os utilizadores que viram no seu feed de noticias mais posts negativos escreviam também com maior negatividade.

Prova-se assim que o efeito contagioso dos estados emocionais funciona de igual forma online, e desta forma comprova-se também a possibilidade de ter o Facebook a manipular emoções.

Antes de mais desenvolvimentos, duas questões:

Se é possível o Facebook a manipular o feed de noticias de 700.000 utilizadores, o que o impede de manipular o feed de noticias de  5 milhões (aproximadamente o numero de utilizadores do Facebook em Portugal) ou de todos os utilizadores?

Comprovado ser possível estar o Facebook a manipular emoções dos utilizadores, o que é que isto significa para as marcas?

Diz a Forbes que o Facebook é o melhor laboratório de pesquisa humana de sempre. Sim, literalmente quer com isto dizer que o Facebook tem nos seus utilizadores um gigantesco e fantástico grupo de cobaias humanas. Gigantesco pelas razões óbvias. Grande parte da população humana, cruzando raças e credos, está presente nesta rede. Fantástico pois, contrariamente a outros laboratórios científicos, o Facebook não precisa de pedir aos seus utilizadores que concordem com cada uma destas experiências mais ou menos éticas que a rede resolva promover pois cada utilizador já concordou com a política de utilização de dados da rede onde é claramente expresso que concorda que a sua utilização da rede possa ser usada para efeitos de pesquisa.

As questões éticas sobre a utilização da informação para efeitos de pesquisa levantam-se aqui (na minha opinião, distraindo um pouco da verdadeira questão, mais do que a utilização da informação, a manipulação da mesma) mas a equipa do Facebook apressa-se a comunicar que, não só a pesquisa só durou uma semana (ou seja, foi pouco tempo e por isso não faz mal) como nenhum dos dados tratados terá sido associado a um determinado utilizador. Segundo a revista The Atlantic a expressão usada terá sido “Não há qualquer tipo de recolha desnecessária de dados pessoais nestas iniciativas de pesquisa e todos os dados são guardados de forma segura.”.

Adam D. I. Kramer, um dos cientistas do Facebook que participou no estudo, afirmou na sua página desta rede social:

“No fim do dia, o verdadeiro impacto nos utilizadores envolvidos nesta experiência foi o mínimo necessário para ser estatisticamente detectável. (…) Tendo eu mesmo escrito e desenhado esta experiência posso dizer-vos que nunca foi o nosso objectivo incomodar alguém…”

“Nunca foi o nosso objectivo incomodar alguém…”. Pergunto-me se não terão incomodado. Pergunto-me se, considerando a importância dada à rede em questão e o facto desta representar para tanta gente a sua presença online, ter o Facebook a manipular emoções, por leve que seja a manipulação, não será incomodativo? Que resposta menos simpática terá dado um certo utilizador por só ter visto posts carregados de negatividade durante uma semana? Que post, eventualmente alegre demais, terá colocado um outro utilizador na página da empresa pela qual é responsável, por ter estado num constante estado de boa disposição durante uma semana?

“Provavelmente ninguém foi levado ao suicídio” foi o bem humorado comentário que um professor fez no Twitter referindo-se a esta experiência do Facebook onde acrescentou a hashtag #jokingnotjoking. Pois, quem sabe?

Tweet sobre Facebook a manipular emocões

Podem  estados de euforia ou tristeza ser causados por uma miríade de outras circunstancias e factos? Sim, claro. Mas não é essa a questão que se me coloca como problemática. O problema na minha opinião, está na possibilidade de o Facebook propositadamente induzir a tais estados e, para além das questões éticas sobre as formas como o estudo terá sido conduzido (e que estranhamente parece ser a maior preocupação dos media), as possibilidades menos éticas que esta recentemente tornada pública possibilidade (e sim, esta utilização das palavras não é em mim inocente, de todo) vem abrir, principalmente a todos quantos possuírem a capacidade de influenciar quem controla o Facebook.

Facebook controla o conteúdo que disponibiliza aos utilizadores

Não é novidade, ainda que raramente referido pelos Media e menos ainda pelos marketers, que o Facebook controla o feed de noticias dos utilizadores em conformidade com o seu interesse. Lembre-se a gigantesca campanha (mesmo que não assumida) de aproximação aos Media online quando em 2013  grandes sites noticiosos começaram a ter um aumento inexplicável de visitas vindas do Facebook. “Ligeiras” alterações ao algoritmo do Facebook, modestamente anunciadas, levaram a um repentino e nunca visto aumento de tráfego em sites como o Gizmodo, Buzzfeed ou The Wire…

Definir que conteúdos, de entre os cerca de 1500 possíveis, vão aparecer no feed de noticias de um utilizador, tendo como critério interesses próprios e não declarados já é grave. Mais grave ainda será a possibilidade do Facebook  manipular as emoções dos utilizadores através da escolha desses mesmo conteúdos.

Como costumo dizer, não devemos esquecer que o Facebook é uma empresa e, como muitas outras, tem como uma das suas principais prioridades, ganhar dinheiro.

“Então e o que vamos comer? Que tal irmos ao Talho?”. A ultima vez que tive esta conversa tive que explicar ao meu interlocutor que me referia ao restaurante O Talho. Ainda que se possa passar por lá, comprar uma boa peça de carne e levar para cozinhar em casa pois o restaurante é só parte do todo que é O Talho. A outra parte é, como já perceberam, um talho.

Ele é talho, é restaurante… É o restaurante O Talho.

Mas sem complicar, vou falar-vos do restaurante O Talho mais precisamente da minha última passagem por lá, no dia em que se comemorava o primeiro aniversario da casa.

Chef Kiko no restaurante O Talho by Pedro RebeloO Chef Kiko Martins teve a amabilidade de me convidar, juntamente com um grupo de ilustres comensais (Alexandra Prado Coelho (do Mais Olhos Que Barriga), Duarte Calvão, Miguel Pires, Paulina Mata (do Mesa Marcada), Raul Lufinha (do Mesa do Chef) – desculpem se esqueci alguém) para um almoço onde, para além de provarmos alguns dos principais pratos da casa, nos proporcionou também a possibilidade de ter uma animada conversa sobre a (ainda curta) história do espaço, as suas principais linhas orientadoras e conceitos.

Obviamente falámos também do estado da restauração em geral e de como esta tem mudado, evoluído, nos últimos anos. Em suma, um convite que, presumo eu, respondeu ao esperado: bons momentos em torno de uma boa mesa.

Estes bons momentos começaram com uma agradável conversa no talho propriamente dito. O espaço gerido pelo Chef Kiko, para além de restaurante é também aquilo que lhe dá nome, talho, onde podemos encontrar bons cortes das melhores carnes e peças já transformadas. Apresentada a equipa somos de igual forma “apresentados” a alguns dos tais cortes, porventura menos comuns mas que aguçam a curiosidade e abrem o apetite. Este falatório foi acompanhado entre outras coisas, por uns croquetes de cozido à portuguesa que, só vos digo, deixam boa memória.

Para começo de conversa no restaurante O Talho

Passámos à mesa propriamente dita e ai, um verdadeiro festival de sabores. Lugar comum na escrita é certo mas, na falta de melhor expressão, não me coíbo de a usar. Como chamar a uma refeição onde se inclui um Rosbife Asiático, finos pedaços de Alcatra acompanhados de sabores vários mais típicos de sabores a Este, finos fios de massa de arroz e uma ostra? Sim, o mar em prato de carne…

Não bastasse o regozijo já conseguido, serve-se um carpaccio que, para surpresa dos presentes, se faz acompanhar de umas já conhecidas e alaranjadas ovas de salmão. Uma vez mais, um contraste de gosto inesperado mas nem por isso menos cativante. Pelo contrário.

Mas venha de lá a refeição principal. E num talho…

O gosto da carne continuaria com um daqueles pratos que dá nome à casa (estranho, considerando que aparentemente pouca gente costuma referir o gosto pelo mesmo): O bife tártaro. E que bife tártaro. Conhecem o termo paixão à primeira vista (sim, que aquilo não era amor, tal o deleite com que rapidamente se consumiu)? Está ali, naquele prato.

A carne bem limpa, de cor ideal, fresca à vista e com o toque de gordura requerido. Bem cortada, picada à faca (sim, contrariamente ao que alguns pensam, o bife tártaro não é com carne moída), envolvida com a dose certa de alcaparras a dar o sal e chalotas para adocicar e ligada com a gema de ovo, subtil o quanto baste para não ganhar em sabor à carne. Sobre uma leve maionese de rábano, o toque mais agreste que ali faltava, vem à mesa com folhas de alga nori, sugerindo assim uma vez mais, um toque asiático e, de alguma forma quase subconsciente, outra vez o mar. Mistura-se, faz-se um rolo, saboreia-se com um trago de vodka.

Detalhes da refeição no restaurante O Talho

Uma refeição em que se louvava a carne e o gosto da mesma assim como a arte de quem a sabe trabalhar. E o Chef Kiko (com a sua equipa) sabe. Mais provas fossem necessárias (não eram), veio para a mesa uma trilogia de carnes. Poderia ser só um trio mas entendi a oferta como algo com uma linha, um caminho. No prato, e nesta ordem, uma Vazia fresca de vitela Maronesa, uma ponta de Acém maturada cerca de 3 semanas e uma Picanha do Uruguay. O prato queria nitidamente mostra-nos o valor da peça do meio. Nada a apontar a qualquer uma das outras carnes que se apresentaram como defensoras do seu bom nome mas, foi a peça maturada que deu o tal brilho especial ao prato. Fazendo-se acompanhar de uns mini-legumes que davam o toque meio crocante em contraste com o macio da carne, todo o prato era perfeito.  Ide. Ide e experimentai.

A sobremesa faz parte. E aqui, a carne ficou de fora.

Complementou-se todo este manjar com um toque de doce entre o amendoim (coisa que por norma não me lembro na sobremesa) servido em gelado, também de igual forma a banana e ainda o doce de leite que vem pastoso e muito doce, acertando a combinação com o fresco e o crocante do resto do prato, apelando nos sentidos a uma associação à america do sul e, por inerência de sabores, às carnes que nos foram servidas anteriormente.

Resumindo, o restaurante O Talho foi bem revisitado aquando do seu primeiro aniversário, num almoço memorável onde tive o gosto de conhecer pessoas bastante interessantes e que, tal como eu (independentemente de o fazerem e mostrarem de formas diferentes) nutrem especial apreço por uma boa mesa e por aquilo que nela se serve assim como por partilhar essas mesmas experiências.

Ao Chef Kiko Martins, uma vez mais o meu muito obrigado e o desejo de muitos e bons anos a levar o restaurante O Talho por bons caminhos.