Como já vem sendo tradição, o mês de Agosto é reservado para os restaurantes que se coleccionam durante o ano e que a presença da pequena Patrícia não nos deixaria apreciar convenientemente. Não que ela nãos se porte bem e à altura de um qualquer restaurante de primeira mas, como qualquer criança de 5 anos, o tempo que se aguenta sossegada numa cadeira de restaurante é por demais limitado para que se possa usufruir dos prazeres de uma aprumada amesendação (desculpem lá os que não gostam do termo mas, estas coisas neo-românticas sempre me fascinaram).

Desta feita o primeiro da lista foi o Gemmeli. A revista Blue Wine faz questão de o colocar entre as suas escolhas de eleição. O nome do Chef é referenciado quando se fala de modernidade, qualidade e apresentação. Muito bem. Vamos então descobrir os encantos do restaurante italiano que não tem pizzas ali à rua de São Bento.

A porta fechada recebe-nos com um aviso. Toque à campainha somente uma vez. Efectivamente não foi preciso mais que isso. A porta abre e umas escadas indica-nos que a sala de jantar será lá em cima. A recepção é logo à entrada após confirmação na lista da reserva efectuada. Consta. Estranhei não ver um sorriso mas nem todos nascemos com ele e isso nem sempre é mau sinal.

Levados à mesa de bom grado nos deparamos com uma mesa à janela, panorâmica, espaçosa. A rua lá fora, São Bento um pouco abaixo. Primeira observação, para um jantar às 22h30m a sala está bem composta.

A decoração é simples mas moderna e agradável. Começando nos pequenos candeeiros que pendem junto às mesas acabando nas básicas cortinas que protegem meia janela. Mais floreado desviaria a atenção do essencial: o que estava para vir.

Dois Martini bianco, em dose certa ainda que talvez com um pouco, só um pouco, de gelo a mais. Tempo dado para a devida conversa e chega à mesa um pequeno amuse bouche” em forma de sopa de feijão branco. Muito bom. Ainda a abrir um falafel com recheio de queijo que estava igualmente saboroso.

Vem depois o pão (que não podia faltar). 4 variedades diferentes, quente a pedir ser comido. O azeite extra virgem vem à mesa e por lá fica para nosso deleite e onde se espera que acompanhe a travessa de queijo Grana Padano. Por mim, mais um fã.

A dança de pratos começa então com um “pequeno pudim de camarão sobre cama biológica” onde uma leve almofada individual com sabor a camarão é servida sobre umas folhas de rúcula e pequenas folhas de alface tendo por companhia pequenos toques de pimento vermelho.

O prato seguinte foi uma pasta Orecchiette com legumes cortados finos, requeijão e um pesto de manjericão. Muito saborosa, lá arranjaram forma de me pôr a comer courgettes.

Para fechar os pratos de porte, um magnifico risotto de azeitonas negras desidratadas com finas fatias de novilho em topo e molho de fois gras. A consistência que se quer, num grão que ainda que grado, parecia o indicado para o prato.

A refeição acima foi convenientemente acompanhada na sua primeira parte (até ao risotto entenda-se) por um suave PV Branco (infelizmente sem registo datado), um Douro com uma acidez discreta e muito fresco. Já a segunda parte da refeição se fez sentir com o peso de um tinto que das Beiras nos trouxe um paladar encorpado e notas de fruta vermelha. Ao primeiro contacto o Quinta do Cardo 2005 marcou a boca mas de imediato se fez notar como um acompanhamento de bom tom.

A sobremesa apresentou-se na forma de um ragu de frutos tropicais com gelado de 3 sabores a saber: Café, Baunilha e Manjericão. Também aqui levado a comer os frutos que per si não comeria, entre a calda fresca lá se comeram e quanto aos gelados, enquanto a baunilha sendo boa não deixa história (por ser comum não por que não o mereça) o de café marca bem a posição e vinca o sabor. O manjericão ganha pela originalidade e pelo paladar que facilmente limpa a boca.

O café e o garoto (claro. Leite quente e gota de café em temperatura correcta) fecharam a mesa.

Nota final ao serviço que prestável e atencioso pecava por vezes pela suavidade com os pratos nos eram enunciados sendo que entre a voz baixa e a pronuncia afincadamente estrangeira por vezes levavam ao pedido de repetição. Nada que manche a ideia da casa.

O Gemelli está claramente aprovado e incluído na lista de regresso. Não é casa de todo o dia que o preço a tal não deixa mas é claramente mais um daqueles sítios a que vale a pena voltar para um bom momento de mesa.

Gemelli
Rua Nova da Piedade 99 – Lisboa
1200-297 LISBOA
telf: 213952552
Das 12:30 às 15:00 e das 20:00 às 24:00
Preço médio: 45 euros

nota: Este artigo foi igualmente publicado no site No Prato com… Façam favor de o visitar para outras tantas boas sugestões gastronómicas.