Santos da casa não fazem milagres dizia-me alguém que até entende que baste do assunto. Não dos santos nem das casas mas de Social Media em geral.

Conhecem aquele meu amigo? Aquele, que trabalha lá naquela empresa de máquinas de lavar… Vocês sabem quem é. Pois bem, dizia-me ele que a vida era muito complicada no que respeita à Social Web. Ainda no outro dia, estava ele nos copos com um pessoal conhecido, veio em conversa essa coisa da Social Web e dos Social Media e disse-lhe um amigo: “Tu eras o tipo indicado para explicar umas coisas ao meu chefe. Lá no trabalho até já temos um site mas visitas e serviços que era bom, nem vê-los”.

Vai-se a ver, o tal amigo trabalhava numa loja de esquina, arranjos e coisa e tal. A loja até nem era assim tão pequena, já tinha fama e bons Clientes. Na Internet é que não havia maneira de arrancar.

Junta o útil ao agradável – diz o amigo – Tu entendes dessas coisas, dos sites, dos Facebooks e dos Twitters, até precisas de arranjar os canos lá de casa, falas com o Joaquim (o patrão lá da loja sabem?), explicas a coisa bem explicada e ele ainda te faz os arranjos de graça.

Ainda pensou duas vezes mas logo se decidiu. Isso é coisa para uma ou duas horas de conversa. Marca lá com ele que amanhã falamos.

Um portátil e uns powerpoints, uma ligação à net daquelas mais baratuxas e no dia seguinte, a conversa de duas horas levou a quatro e ainda a noite não chegara e a Internet estava mais rica: Graças ao Twitter , @arranjosemcasa e toda a equipa estavam prontos a responder às solicitações. A promoção da semana (arranjos em máquinas de lavar – quem diria) foi anunciada em conversa de amigos, teve um retwitt em 2 minutos e o primeiro Cliente entrou por e-mail em menos de um quarto de hora. Estavam pasmados. Aquilo funcionava.

Na manhã seguinte, ligava o Joaquim eufórico, que já lhe pediam mais fotos da tal cozinha que ele montou e do trabalho nas escadas de madeira do prédio ali na Morais Soares. Aquilo do Flickr era um espectáculo. A filha também queria que ele abrisse uma conta no hi5 mas ele deu por lá uma volta e achou que aquilo era só miudagem…

Ao final da semana já o Joaquim falava em ir ao Linkedin ver se arranjava alguém que percebesse de jardinagem. Falaram-lhe disso no Facebook e era capaz de ser um bom nicho de mercado…

O tal meu amigo, o que trabalha na empresa das máquinas de lavar, ficou bastante satisfeito. Não só tinha os canos arranjados como arranjou ainda mais uns amigos. Passou a palavra sobre o @arranjosemcasa lá no café da rua e foi um ver se te avias… Não havia quem não ficasse agradado… No trabalho é que a coisa era mais complicada…

A venda das maquinas de lavar não andava famosa. Estas coisas agora até nem duram assim tanto mas arranjam-nas num instante… Antes, antes é que era bom… Para encontrar quem as arranjasse era uma trabalheira. Mais facilmente se comprava outra.

De quando em vez lá sugeria o meu amigo que talvez fosse boa ideia aproveitar o site da empresa e dar dicas para os arranjos, para a manutenção, quem sabe até, vender peças… Os Clientes ficavam por ali, satisfeitos e, mesmo que se queixassem de algo (nem sempre o material é do melhor, nós sabemos), a empresa seria a primeira a saber…

Pois que não. Isso é residual dizia o Francisco, chefe da secção. “Isso da Net… Mas alguém lá vai?” “O Chefe tem razão – dizia a Joana do PBX – Mas agora vai lá alguém pelo site se basta telefonar?”. Cada vez que se falava no assunto dizia logo o Joãzinho, o tipo que mete os anúncios no Ocasião e nessas cenas “Ainda ontem me dizia a senhora da Nova Gente, que cada vez tem mais procura para anúncios de página inteira na revista. Principalmente, vejam lá, de outras marcas de máquinas de lavar.

O meu amigo desesperava… Mas seria possível que aquela gente não o entendia? Não se tratava de acabar com os anúncios na Maria ou no meio do Café da Manhã. Tratava-se de complementar, abordar nova estratégia, de custo reduzido e eventual retorno quase imediato e completamente mensurável… Nada. O espírito do Moita Flores tinha invadido a empresa das maquinas de lavar. A Internet é um antro de devassa, e os bloggers… Esses eram uns terroristas.

Um belo dia diz o Francisco (Chefe de secção lembram-se?) para o meu amigo: “Ó não sei quantos, amanhã vem ai um cavalheiro falar dumas coisas, Internet, social e outros que tantos. Vai ai dizer ao pessoal o que se passa, como é que funciona, essas coisas...” e no dia seguinte, lá estavam eles, o Francisco, o Joãozinho e até a Joana (a do PBX). Estava lá toda a gente. Entrou o Joaquim (lembram-se? Lá em cima?). Liga o portátil, salta o powerpoint. “Joaquim dos Santos. Canos, telhas e fios eléctricos. Arranjos em geral. Web Consultant“.

A empresa aplaudiu de pé. A experiência foi emocionante. Perguntaram-lhe se já pensara em escrever um livro “Tinha assunto para isso” disse a Joana (a do PBX) com uma lágrima ao canto do olho…

À saída da sala, o Francisco, chefe de secção, pisca o olho ao meu amigo que trabalha lá na empresa como quem diz, santos da casa não fazem milagres… E o rapaz lá foi, convencido que, no fundo no fundo, ainda havia quem o compreendesse…

O que é que esta história tem a ver com a minha carteira? Perguntem ao Joaquim. Ele trabalha bem ainda que se faça pagar caro para vos explicar.