Ontem, enquanto dava uma formação sobre Redes Sociais, a conversa passou ao de leve pelo tema Periscope. Para quem não sabe o que é, trata-se de uma aplicação (recentemente adquirida pelo Twitter pela módica quantia, consta, de 100 milhões de dólares) para instalar em Smartphones (já é possível dizer isto pois foi ontem lançada a versão Periscope para Android. Anteriormente era exclusivamente para iOS, o sistema operativo dos iPhones) que permite o streaming de video que é como quem diz, a transmissão em directo para a Internet, de qualquer coisa que se filme com o telemóvel.
Lembrei-me que há umas semanas atrás fui contactado pela Carolina Reis para uma peça que ela estava a preparar para o Expresso, precisamente sobre o Periscope, e as questões de segurança e privacidade em torno da utilização da referida aplicação. Na altura, era motivo de debate na Internet a queixa que a rede televisiva HBO apresentava sobre o Periscope, pelo facto de alguns utilizadores desta rede terem “transmitido em directo” o primeiro episódio da nova temporada de Game of Thrones.
Mas, mesmo sendo motivo de debate, tendo dado origem a uns quantos artigos e blog posts, não foi coisa que chegasse a “aquecer o lugar” e rapidamente deixou de se ouvir falar de tal tema. Em Portugal por exemplo, tirando um pequeno apontamento da TSF, nem me lembro de ter visto qualquer referência ao caso.
O Periscope vai mudar o mundo?
Nessa altura, lembro-me de ter referido à Carolina que não achava que o Periscope fosse a next big thing. Se é uma coisa boa? Claro que acho que sim. Se tem utilidade? Obviamente (note-se que o Expresso por exemplo, já o está a usar activamente para alguns apontamentos de reportagem em directo, nas suas presenças online). Se o mundo vai mudar por causa dele? Não me parece.
Curiosamente, foi também ontem que o WHY Group da Horizon Media divulgou um infográfico sobre o Periscope (e a outra aplicação que tendo sido lançada mais ou menos ao mesmo tempo, faz literalmente o mesmo que o Periscope, o Meerkat).
É certo que ainda é cedo, que estas aplicações são relativamente novas no mercado, que ainda não vão em velocidade de cruzeiro, que estas coisas levam o seu tempo a entranhar mas, ainda assim, olhando para os dados recolhidos, não posso deixar de pensar que, se o Periscope fosse a next big thing, já daria provas disso. E aparentemente não dá.
Os dados mostram que a faixa etária que mais usa a aplicação (bem, estas aplicações na verdade, o estudo aborda o Periscope e o Meerkat) é a que se situa entre os 18 e os 35 anos de idade e que, os principais factores que levam as pessoas a usar são o facto de ser gratuita e a possibilidade de transmitir informação em directo, em tempo real. É para isso que ela serve, não é de estranhar. É curioso que a maioria dos utilizadores (53%) refere como possível uso para o Periscope, a partilha de eventos entre amigos e família mas ao mesmo tempo, também a maioria do utilizadores (49%) refere como a maior preocupação o facto de perder tempo a ver filmes desinteressantes. Imagino que filmes estarão a falar… Filmes com familiares e amigos?
Não há qualquer referência a uma utilização mais profissional ou tão pouco, do colmatar de uma necessidade.
Um outro dado que pode ser preocupante, é o aparente desconhecimento da existência desta plataforma, principalmente quando comparado com outras aplicações como o Snapchat, o Instagram ou até o Vine (plataforma para publicação de pequenos videos, também do Twitter).
Como disse anteriormente, eu sei que ainda é cedo, sei que ainda há muito a escrever sobre o Periscope e outras aplicações do género (nota para ti Carolina: a peça soube a pouco). Não penso que seja pela abordagem da privacidade (ainda andamos nisso? 1999 telefonou, já a semana passada, e pediu que lhe devolvessem o tema que por lá já está toda a gente cheia de saudades) ou da segurança mas talvez pela ideia do Citizens Journalism ou da formação online.
Por enquanto, os dados: