SAPO?
Sim, eu estava no SAPO.
Bem, isso é muito bom, é tipo, “a cena” da Internet em Portugal.
Sim, o SAPO é uma referência da Internet em Portugal, aliás, o SAPO…
Deixa-te de cenas pá, isso é mesmo à grande. Tipo, é como trabalhar no Google português.
Sim, não é bem a mesma coisa mas percebo o que queres dizer. Adiante, já não trabalho lá…

E a conversa podia ficar por aqui. Já não trabalho no SAPO. E o que posso dizer sobre isto? Bem, que foi uma aventura daquelas. Em todos os sentidos.

Eu vi o SAPO a nascer. Bem, pelo menos, assim que apareceu publicamente eu estava lá para o ver. Eu tinha chegado à Internet 2 ou 3 anos antes e de repente, chegava também o Serviço de Apontadores Portugueses  (o SAPO nasce em Aveiro em 1995 e torna-se público em 1996 se não me engano). Portugal estava em grande na Internet…

Durante muitos anos fui assim acompanhando o SAPO no seu crescimento, tornando-se a tal referência na Internet portuguesa mas também muito mais que isso, tornando-se um expoente máximo da inovação e da tecnologia em Portugal, de onde a cada dia surgiam coisas novas, coisas fantásticas, coisas que nos faziam acreditar (a nós, os que já cá andamos há muito tempo) que também por cá havia pessoas geniais, equipas geniais, nestas coisas da Internet.

Um dia, assim do nada, recebo um telefonema: “Queres vir aqui ao SAPO? Falar de Redes Sociais e cenas…”. O que mais havia a pensar? Nada. Claro que quero. O SAPO quer ouvir-me? Vou a correr.

Lembro-me que nesse dia, bebia café com um amigo enquanto lhe mostrava o que iria apresentar horas mais tarde ao SAPO e dizia-me ele: “Isto é importante… É o SAPO.”.

Nervoso miudinho, daquele que dificilmente se vê (já são alguns anos disto) mas que não deixa de lá estar. E também lá estava toda a gente. Técnicos, comerciais, malta do código, malta da escrita, malta das cenas… Falei, falei, falei… Falei muito mais do que esperava falar. Quando parei de falar fiquei com a sensação de que tinham gostado de me ouvir. Apertei umas quantas mãos, vi uns quanto sorrisos, sorri também.

Pedro Rebelo no SAPO por Pedro Couto e Santos
A minha primeira visita ao SAPO

O Pedro Couto e Santos disse-me nessa noite que eu tinha dito coisas que eram precisas dizer. “Diacho, o Pedro… Se ele me disse isto, estou no bom caminho” pensei.

E de repente, estava no SAPO

Meses mais tarde, toca o telefone. “Queres vir aqui ao SAPO? O senhor lá de cima quer falar contigo…”. E pronto. Começou.

Redes Sociais, Content Marketing, Cenas e Coisas (porque no SAPO, cenas e coisas são muito importantes…). Uma roda viva. Dias na War Room. Os designers Deusas, os designers… E os comentários parvos… O SAPO não tem clube. O SAPO não tem partido. Sabem o que é que o SAPO tem? Tem atitude…

Entra a Isa pelo andar e diz “Quem é que deu atitude ao SAPO?“. O SAPO tem atitude. Mesmo quando o charco parece mais sombrio, quando o Sol se esconde, quando as aguas param, o SAPO tem atitude. Do nada dá um salto e quando menos se espera…

Quando menos se espera é um Super-SAPO e voa até à Comic Con. Quando menos se espera lê a sina ao mundo e brilha na Superbrands. Quando menos se espera tem toda a gente aos pulos no Garage

Como é que se consegue tudo isto? Dou-vos uma ideia de como era a minha equipa no SAPO…

A Ana é um furacão. “Não sei o quer queres dizer com isso…” diria ela com aquele olhar… Ela tem connections. E faz as coisas mexer. Depressa. Por vezes leva a vida demasiado a sério. Eventualmente, isso é uma coisa boa por ali.

A Mafalda estava mesmo ali ao lado. Sempre. E logo pela manhã já vinha esbaforida. E não era por subir as escadas (vá-se lá entender… o marido trabalha nos elevadores). Era porque já tinha feito 10 telefonemas e recebido outros tantos. E o senhor Júlio devia estar ai quase a chegar para levar qualquer coisa…

A Marta diz “Ó meu Deus” a cada novo comentário que lê. Não deve ser fácil para ela digo-vos eu. Entre o Sporting e o Twitter… Nem sei como arranja ela tempo para se especializar em selfies. Mas acreditem, se o Prós e Contras fosse transmitido todos os dias, ela metia baixa ao fim de uma semana. Não havia teclado que aguentasse.

A Íris (Irina, Isis… Um dia experimento chamar-lhe Joaquina a ver se me responde) ouve melhor quando põe os óculos. No topo dos seus… Sei lá… 18? 19? 20? (quantos anos tens Íris?) No topo da sua juventude, está atenta a tudo o que se passa. Puto, ela é o futuro… E também é “a mulher da tombola” mas isso é algo que só quem lá está entende.

O João é a figura da seriedade religiosa por ali. O senhor (senhor João entenda-se) não se vê mas sente-se. Sente-se a cada tweet mais mordaz, a cada post mais além… Há quem escreva direito por linhas tortas… E depois há o João que escreve a torto e a direito.

A Catarina é “O nosso homem em Havana” versão mulher em Roterdão. Mas acreditem, do café da rua à biblioteca municipal não há rede de wifi que não a tenha já apanhado a transmitir informação vital… Por falar nisso, não olhes agora Catarina mas tens alguém atrás de ti…

Mas como uma equipa nunca vem só (achei que soava bem escrever isto), eu tinha duas.

A Joana é a serenidade. Todo um corpo diplomático numa só pessoa. Apontamentos? Check! Apresentações? Check! Propostas? Check! Telefonemas? Check! E a isto juntem ideias, vontade e mais apontamentos, apresentações, propostas… Um farol digo-vos eu, um farol…

O Paulo… Bem, a sério… Não sei se vou falar do Paulo. Nós andávamos sempre às turras… Estou a brincar. Na parte de falar nele. Vá lá, o Paulo é jornalista e faz-me lembrar a minha relação com o Prof. Doutor Nelson Traquina… E só isso diz muito. Ou seja, somos dois teimosos, cada um a defender a sua ideia. E a minha ideia é mais gira, por isso…

E depois a Inês, que é o ponto comum das duas equipas. Dois ou três dias depois de nos conhecermos, algo de inesperado aconteceu no SAPO. Num encontro fugaz ao fundo das escadas disse-me “Não te preocupes. Para onde eu for, tu vens comigo…”. Já me tinha conquistado mas nesse momento, ganhou um aliado. “Vamos fazer…”. Assim. Sem mais. Se é esse o melhor caminho? Acreditamos que sim, certo? Então, vamos lá…

Há muito mais gente no SAPO claro. A Jonas é a Jonas. Reclama e volta a reclamar… Sim, ela percebe da coisa. E de português também. Não me deichava escapar uma (viram o que fiz aqui?). Lembram-se daquele mote dos clássicos filmes de terror “Eles vivem…”? Os blogs também. Jonas… O Loureiro que é um perfeito advogado do Diabo (e todas as casas deviam ter um), o Gamboa e o Eduardo que são génios da fita-cola, o Nuno que entre impropérios e a Isa, faz código que parece renda de bilros e a Isa que entre os impropérios do Nuno e o teclado, transforma a renda de bilros em coisas lindas. E tantos outros (que não me vão levar a mal mas o post já vai longo demais)…

Quando sai da PH Neutro para o SAPO disse “Fizeram-me um convite que não podia recusar”. Enquanto estive no SAPO, recusei alguns, até ao dia em que disse “Fizeram-me um convite que não podia recusar”.

Estou certo de que muitas mais palavras poderia aqui deixar sobre a minha aventura no SAPO mas enfim, deixo no Twitter as #cenasdocharco e deixo aqui as que me foram oferecidas no dia que de lá sai:

Pedro Rebelo outra vez a revisitar o Walter Benjamin

Fazer as coisas “ficarem mais próximas” é uma preocupação tão apaixonada das massas modernas como a sua tendência a superar o caráter único de todos os factos através da sua reprodutibilidade. A cada dia fica mais irresistível a necessidade de possuir o objeto, tão perto quanto possível, na imagem, ou antes, na sua cópia, na sua reprodução. A cada dia fica mais nítida a diferença entre a reprodução, como ela nos é oferecida pelas revistas ilustradas e pelas atualidades cinematográficas, e a imagem. Nesta, a unidade e a durabilidade se associam tão intimamente como, na reprodução, a transitoriedade e a repetibilidade.

Walter Benjamin

Sendo um desabafo meu, poderia ser esperado que tivesse um intento, um claro objectivo, radicalmente, um alvo.

Não tem. Não agora, não aqui. Serve essencialmente para me lembrar que não desisto, para me lembrar que aprendi cedo que o poder se conquista e que, mesmo que várias formas possam contribuir para tal, umas terão mais valor que outras e dependerá dessas o respeito que o poder nos merece, logo, a força do mesmo.