Aquando da minha passagem pela Universidade, da minha primeira passagem quero eu dizer, há uns quantos anos atrás, havia um procedimento que era verdadeiramente ritual sempre que se realizava uma prova escrita. Também se procedia da mesma forma nas provas orais (sim, havia orais e em alguns casos, obrigatórias) mas nem sempre se levava à letra. A grande maioria das vezes, os alunos que chegavam à prova oral, eram bem reconhecidos pelos professores. De ginjeira.

Ora bem, o tal procedimento era relativamente simples. No dia do exame, cada aluno deveria ter em cima da mesa, a folha de exame, invariavelmente rubricada pelo professor quando entregava o enunciado, o referido enunciado e, pasme-se, o Bilhete de Identidade. Sim, esse arcaico e desproporcional documento de identificação nacional que, mal por mal, mais parecença menos semelhança, lá permitia identificar a pessoa presente na sala como sendo a pessoa cujo nome constava na lista de candidados a realizar o exame.

Ao fim de um ano e meio na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, onde o regime presencial não é obrigatório (pelo menos no curso de Ciências da Comunicação), constato que, nada impede que alguém bem dotado de conhecimentos em determinada matéria, se faça passar por aluno e realize uma prova escrita em nome de outrem.

Como invalidar tal prova? Se um aluno não é obrigado a comparecer às aulas, o professor não é obrigado a conhecer o aluno logo, esta cara em nada será diferente daquela cara.

Eu sei que a grande maioria dos meus actuais colegas universitários nunca terá ouvido falar n’ A Turma dos Repetentes (Les Sous-doué no seu original de 1980),  mas este filme francês de gosto duvidoso estava na cabeça de muitos estudantes universitários no inicio da década de 90 e garantidamente, não pelas melhores razões…

Leva-me a pensar no que se terá passado. Terá aumentado o nível de confiança dos professores universitários nos alunos ou terá baixado o nível de preocupação com os resultados finais?

Não é uma critica e muito menos uma acusação. É efectivamente uma constatação de um facto que me causa alguma estranheza. A resposta poderá eventualmente ser simples ou até óbvia e, moldado por uma anterior experiência, eu não a reconhecer.

Que vos parece? O que terá mudado? E relativamente à questão em concreto, que pensam? Poderá um aluno menos bem intencionado, levar a cabo tal esquema?

6 thoughts on “Considerações sobre a Universidade do Sec. XXI – A Identidade

  1. Na verdade, nada mudou, pelo menos no meu estaminé!
    Nós continuamos a controlar os alunos nas provas através do cartão de aluno ou BI ou cartão do cidadão. Isto porque já aconteceu termos uma tentativa de fraude de um aluno que se fez passar por outro numa prova. E foi apanhado :)

  2. No meu estaminé (IST), tal como no do António, é pedido o cartão de estudante (que tem fotografia) ou à falta deste um documento oficial de identificação com foto.

  3. António Lopes e Miguel Nogueira, pois que a mim me parece algo de muito normal. Aliás, depois deste post, algumas pessoas já me disseram que efetivamente, se continua a exigir a identificação em alguns estabelecimentos de ensino. O que estranho é o facto de não ser exigido em todos, nomeadamente naquele que frequento.

    António Granado, meu caro, a cada dia que passa mais concordo com essa tua observação mas alterando porém, o tempo verbal… Infelizmente, o modelo de aula magistral culminando na explanação ipsis verbis daquilo que o professor referiu em sala, ainda é o mais usado…

  4. Eu já há algum tempo que tenho conversado com os colegas da Universidade sobre essa questão da abolição das avaliações. Não é nada fácil estabelecer um processo satisfatório para todas as partes.

    Por um lado, acredito que a verdadeira avaliação é feita pelo mercado de trabalho. O que faz com que o verdadeiro objectivo da Universidade seja exactamente o de formar as pessoas que o mercado de trabalho e o país precisam.

    Mas por outro lado, uma vez que as Universidades sobrevivem à conta da sua reputação, estas também têm o direito de saber o que estão a “colocar” no mercado de trabalho. E sem avaliação como é que isso se faz?

    Sem avaliação, o incentivo para o aluno aprender é zero (excluindo obviamente aqueles que vêm na educação superior uma verdadeira forma de avançar nas suas capacidades e conhecimentos). O único requisito passa assim a ser o de “ir às aulas” e esperar que o tempo passe para depois poderem dizer que têm o canudo e podem ir trabalhar com base no título que detêm. E depois a Universidade é que fica mal vista porque a pessoa que pôs no mercado de trabalho não tem as capacidades que o mercado exigia.

    É muito complicado!

  5. E se a isso somares um mercado de trabalho que por vezes pouco se importa com a qualidade de quem lhe bate à porta contado que venha de boas famílias ou melhores instituições (onde o critério de admissão pode passar pelas boas famílias), então ai está o caldo entornado certo?

    Penso que o António Granado, tal como eu, não se referia à abolição da avaliação. Que diacho, o aluno tem que ser avaliado e antes de o ser pelo mercado, IMHO, deve ser pela casa que o forma mas há que descobrir a forma correta de o fazer.

    Há cursos em que penso sinceramente que a prova oral devia ser obrigatória. Outros haverá em que um exame escrito final não faz qualquer sentido. Há cadeiras em que o principal critério de avaliação deveria ser a participação do aluno em aula, ou o trabalho de investigação… É claro que todas estas questões implicam outras tantas. Como pode um professor dizer a uma turma de 100 alunos, que cada um deles deverá apresentar um trabalho de investigação de 20 páginas e depois ter uma semana para os avaliar? Este é um exemplo mas como bem sabes, existem muitos outros.

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