Há já muitos, muitos anos (vantagens da idade, poder escrever tais coisas) que as palavras de Nietzsche me acompanham. Não um texto, um livro em particular, ainda que possa ter as minhas preferências, mas as palavras em geral, o que me deixou escrito num todo…

Disse-me em tempos uma professora de saudosa memória: “Nietzsche pode destruir-te rapaz, dar cabo de ti…”. Na altura, com todo o ímpeto da juventude, sorria como que dizendo “ou fará de mim melhor homem.”.

Beyond Good and Evil

Os anos passam, essa ilusão real a que não escapamos ou melhor escrevendo, a que nos entregamos mesmo que por vezes sem o querer, e as palavras do pensador regressam a cada ponto que se sente marcante. Se me pergunto sobre o dito momento, saltam as palavras d’ A Vontade de Poder que me gritam: ‹‹Toda a acção é necessariamente mal conhecida…››.

Os anos passam e de repente, dou por mim a pensar que talvez Karl Jaspers tivesse razão quando dizia que em Nietzsche era possível encontrar em cada julgamento o seu oposto e relembro então Para Além de Bem e Mal:

Quem não quer ver o que há de elevado num homem olha com maior agudeza para aquilo que nele é baixo e superficial e assim se revela a si mesmo.

É bastante mau! Sempre a velha história! Quando se acaba de construir a casa nota-se que, ao construí-la, sem dar por isso, se aprendeu algo que simplesmente se devia ter sabido absolutamente antes de começar a construir. O eterno e maçador ‹‹tarde de mais!››. A melancolia de todo o terminado!…

Os homens de profunda tristeza denunciam-se quando são felizes: têm um modo de pegar na felicidade como se quisessem esmagá-la e sufucá-la, por ciúme, ah, e sabem bem de mais que lhes foge!

Há uns anos atrás fui apresentado pelo Prof. Doutor João Pissarra Esteves (um senhor, diga-se) à escrita de Gabriel Tarde. Com este, dei um cariz mais racional a uma questão que há muito me acompanhava, incomodava até. Gabriel Tarde falava do “sonambulismo social”, aquilo que quase inconscientemente, critiquei em pais, amigos, colegas, durante anos: A sensação da necessidade de obediência quase cega à normalidade, aquela que assim é chamada por ser a regra seguida pela maioria.

O conhecimento mais aprofundado da intertextualidade e das suas maquinações, levou-me à associação das palavras de Tarde com um outro sentimento, igualmente chegado até mim pelas letras de um génio, mas este há muito mais tempo, entre angustias da juventude: O spleen de Charles Baudelaire:

Nada iguala a extensão dos longos dias mancos
Quando o tédio, esse fruto da incuriosidade,
Sob os pesados flocos da neve dos anos,
Atinge as proporções da imortalidade.

O estar sem estar, o sentir sem saber o quê, um mal-de-vivre inexplicável. O ser o Wanderer, gostar de o ser e estar ainda, mesmo assim, insatisfeito.

Caspar David Friedrich Der Wanderer uber dem Nebelmeer

Como uma letra nunca vem só, e uma leitura não se faz em si mesma, relembro ambos os autores à luz de um outro, Sigmund Freud, que nos anos 30 do século passado escrevia a abrir A Civilização e os Seus Descontentamentos:

Há certos homens por quem os seus contemporâneos não têm respeito embora a sua grandeza resida em atributos e realizações que são completamente estranhos aos objectivos e ideais das massas.

É assim que, sem qualquer réstia de falsa modéstia, deixo a todos quantos nos últimos dias me apelidaram de louco a viva voz e de irresponsável em surdina (digam-mo na cara e me baterei de razões com muito gosto) as palavras destes outros, para que sobre as mesmas reflictam e depois, mesmo que só para si (porque por vezes é essa a atitude de maior coragem) reconheçam quantas vezes quiseram fazer o mesmo que eu fiz e lhes faltou a coragem.

Nos últimos dias tenho “assinado” quase todas as minhas intervenções nas várias redes sociais com a hashtag #vidanova. Alguns amigos perguntam-me em surdina de que raio trata a tal #vidanova, de que raio ando eu a falar. Para quem não sabe, fica abaixo a nota:

Já não sou empregado do Millennium bcp.

As noticias hoje falam do Millennium, das rescisões por mutuo acordo, dos subsídios de desemprego, de uma série de coisas… Não são propriamente novidades. Eu ter saído é uma novidade.

Working under the clock

Foi do conhecimento publico que o Millennium propôs a uma série de Colaboradores uma rescisão por mutuo acordo assim como foram igualmente conhecidas as condições desse acordo. Verdade seja dita, boas condições. Muito além do que se pratica no mercado…

Foi também publico, ainda que não tão falado (não é polémico, não faz noticia) que o Millennium abriu ao mesmo tempo um processo em que os Colaboradores se podiam propor a sair do banco, com iguais condições. Foi o que eu fiz. Sim, estava na hora. Porquê? Deixem-me ter tempo para uma despedida em condições e logo vos direi.

Mas é disso que trata a minha #vidanova. E digo-vos desde já que de manhã, ao sair de casa logo cedo, faço-o com um sorriso nos lábios. Um sorriso do tamanho do Mundo. Tenho coisas por tratar, tenho livros para ler, textos para escrever mas agora, por agora, hoje, não me quero preocupar com isso.

Quero só dizer-vos que tenho uma vida nova e que, tenho a certeza, por boa que a vida tenha sido até agora, vai ser muito melhor de agora em diante.

Essa coisa das resoluções de Ano Novo e sem qualquer ordem em particular…

De notar que esta é uma lista em progresso… Seria parvo assumir desde já que sei tudo quanto quero fazer durante o próximo ano. Não sei.

Resolucões 2013

  • Fazer mais vezes coisas boas que a decência me leva a não explicitar…
  • Ler o… Não digo. Eu é que sei;
  • Rever todos os filmes de Star Trek (até mesmo o Star Trek V: The Final Frontier);
  • Voltar a fotografar. Quando é o próximo 4 a.m. Project?
  • Terminar de ler o Pensar, Depressa e Devagar do Daniel Kahneman;
  • Ler A Piada Infinita de David Foster Wallace;
  • Voltar a Londres;
  • Aprimorar os meus dotes culinários;
  • Voltar a ler O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde;
  • Comprar uma fotografia;
  • Participar em (pelo menos) duas conferências internacionais;
  • Apresentar um trabalho sobre Balzac ao Prof. Dr. Bragança de Miranda (mesmo que já não vá a tempo para a melhoria de nota, prometido é devido);
  • Candidatar-me ao Mestrado em Ciências da Comunicação na FCSH;
  • Começar a ver em família a trilogia O Senhor dos Anéis;
  • Comprar um Ipad;
  • Montar a árvore de Natal antes de dia 23 de Dezembro;
  • Convencer mais uns quantos que o Facebook é obra do Demo;
  • Levar o gato Browser ao veterinário;
  • Perder 20 quilos;
  • Voltar ao Francês ou começar a aprender Japonês;
  • Ouvir mais Blues e entender a sua relação com o Jazz;
  • Mudar de vida!

p.s. Não sou tipo de gostar dessas cenas de listas, objectivos, resoluções e cenas que tais… Estava mesmo numa de escrever qualquer coisa e ainda não sabia bem o quê. Já está.