Hiroxima, (meu amor)… Sim, passei só para vos dizer isto. Há dias assim, em que ao sair de casa é com isto que se cruzam.

No final de 1982 eu ainda não estaria muito voltado aos hits da pop-rock ou mais precisamente, da synth-pop, mas já contava com a minha dose, mais do que a recomendada, de horas frente à televisão e de ouvido junto ao radio. Hiroxima, (meu amor) estava presente certamente mas continuaria a estar durante longos anos. A verdade seja dita, ainda está.

Hiroxima meu amor Da Vinci

Quando ao ouvir as primeiras notas recordas livros, filmes, peças de teatro, cigarros fumados atrás do pavilhão… Deixem lá isso, da conversa sobre a profundidade da coisa, do significado… A profundidade é medida pelas memórias que traz e o significado constrói-se nessa proximidade.

Podia ser outra qualquer música. Quem me conhece sabe bem o quanto pontuam a minha vida mil músicas diferentes, os momentos que vou registando ao som desta ou daquela voz, desta ou daquela batida. Hiroxima, (meu amor) marcará sem duvida alguns desses momentos.

Hiroxima, (meu amor) é, como tantas outras músicas, mais uma que recordo e me faz recordar.

Que diacho, não vos parecerá assim tão estranho. Os Da Vinci eram um duo e os Eurythmics também… Sintetizadores? Também os Orchestral Manoeuvres in the Dark ou os Soft Cell. Eventualmente teria escrito algo na minha viagem matinal se esta começasse comigo a ouvir Sweet Dreams, Enola Gay ou Tainted Love

Está lançada a discussão.

Vai estrear no próximo Domingo a nova série da RTP, Os Filhos do Rock. Não me lembro da última vez que esperei ansiosamente pela estreia de uma série da RTP. Aliás, não me lembro de alguma vez ter esperado ansiosamente por uma estreia da RTP. Desta vez espero. Desta vez, sempre que passam os teasers na televisão, paro, fico a ver, vejo até ao fim. Já quase os sei de trás para a frente. Nunca mais chega dia 8…

Percebo que nem todos percebam a ansiedade. Para muitos que viveram o tempo, não foi vivido como por mim. Para muitos foi melhor, para muitos uma desgraça. Eu, vivi o tempo como o devia viver uma criança, um jovem da altura.

Os anos 70, os 80’s e os 90’s

Eu nasci nos setentas, cresci nos oitentas, fiz-me homem nos noventas… Sim, de alguma forma, também fui um filho do rock.

Ouvi rádios piratas, gravei cassetes com o dedo no stop para cortar os anúncios, fui a concertos de garagem (onde também gravei cassetes com um gravador escondido dentro do blusão), assisti a ensaios em salas de estar, a altas horas da madrugada, vi pais e mães a discutir por causa disso, fui corrido para a rua, mais que uma vez, por causa disso…

Vesti roupas estranhas, usei penteados que não passavam pela cabeça de ninguém… Fui de arrasto e pelas orelhas, levado ao barbeiro onde me raparam o cabelo à maquina, foram buscar-me à casa de jogos onde quase me fizeram engolir a brasa do cigarro proibido… Parti tacos de bilhar e escondi-me em prédios vazios a meio da noite, na esperança de que as sirenes passassem sem parar… Não que tivesse feito algo de mal, mas era um filho do rock… Éramos todos.

Escrevemos os nomes das bandas nas mochilas, usámos alfinetes de dama nos blusões, calças rasgadas e botas Doc Martens… E o rock foi crescendo connosco…

Todos mudamos. Até o rock mudou…

Fomos mudando de roupa, de calçado, de penteado, mudámos de casa, de cidade e até de pais. Mudámos muita coisa mas uma coisa se manteve. Cada vez que ouvimos uma daquelas musicas da altura, recordamos o que vivemos e não deixamos de a cantarolar, por muito que possa parecer estranho a quem não foi, a quem não é, filho do rock.

Espero ansiosamente pela estreia desta nova série. Agora, RTP, não me lixes ok?