Por mais que as Artes e Culturas me fascinem, por mais que a atitude outsider me cative, certas manifestações artisticas continuam a deixar-me perplexo quanto às suas verdadeiras intenções… Eventualmente os artistas dirão que isso não interessa para nada mas pronto, não deixo de pensar no assunto…

Neste caso a arte anda em torno de bonecas insufláveis e o conceito de  sexo self service… Tudo isto, à beira da estrada…

Self Service Sex

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Uma intervenção do grupo PMS Collective nas estradas da Polónia.

Estávamos em 1991. Sim, alguns de vós, meus colegas de faculdade que por aqui passam, ainda não tinham nascido. Como escrevia, estávamos em 1991 quando me cruzei com Heidegger pela primeira vez. Entra pela sala de aula adentro (com óbvia permissão da Sra. Professora Isabel Freitas pois seria impensável alguém entrar numa sala de aula dela sem a sua permissão) uma criatura, que não me lembrando do nome, me causou uma daquelas sensações de estranheza inexplicáveis.

O jovem aluno de Filosofia que nos vinha falar de Heidegger carregava o semblante amorfo de alguém a quem as drogas tinham claramente causado algum dano psicológico.

Não as drogas que ele tivesse experimentado – não precisava, era aluno de Filosofia – mas sim as que os pais ou talvez até os avós, tinham certamente consumido em excesso. Foi o que pensei… E ainda ele não tinha começado a falar…

O tema que na altura nos ocupou as horas seguintes foi a Desilusão de Heidegger. Lembro-me como se fosse hoje, a forma como nos foi explicado que a desilusão seria uma coisa boa, seria, ao contrário do que o senso comum e a aculturação nos ensina, o fim da ilusão, logo, o encontro da verdade, logo uma coisa boa. Conseguem certamente imaginar, não só a boa impressão com que fiquei de Heidegger, mas também, a quantidade de vezes que nos últimos 20 anos usei esta referência…

Eis que chega 2010. Chega também Arte e Comunicação, uma cadeira da opção de Comunicação Cultura e Artes do curso de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Dizem que quem corre por gosto não cansa. Há ditados parvos, parvos, parvos.. Chega Heidegger e «The Question Concerning Technology».

A prata é aquilo de que é feito um cálice de prata. Enquanto uma matéria determinada, a prata responde pelo cálice. Este deve à prata aquilo de que consta e é feito. O utensílio sacrificial não se deve, porém, apenas à prata. No cálice, o que se deve à prata aparece na figura de cálice e não de um broche ou anel. O utensílio do sacrifício deve também o que é ao perfil de cálice. Tanto a prata, em que entra o perfil do cálice, como o perfil, em que a prata aparece, respondem, cada uma, a seu modo, pelo utensílio do sacrifício.

Temo agora, e eu não sou de grandes temores (ainda hoje não estou certo de que o ser humano seja na sua essência uma criatura de bem), que alguém ao olhar para mim, ponha em causa a sobriedade dos meus pais ou avós. Fica a declaração de que, tanto quanto sei, não eram dados a cenas ilegais e nunca participaram em testes para farmacêuticas…

Juvenal Garcês recebe os espectadores à medida que estes entram na Sala do Teatro-Estúdio Mário Viegas. Sempre me lembro de ele lá estar. Com um semblante sério escondendo o humor que pouco depois nos irá transmitir… “Entrem que estamos todos à vossa espera…”

A Arte do Crime pela Companhia teatral do Chiado

Já há muito que conheço a Companhia Teatral do Chiado. Lembro-me de ouvir um dos actores na apresentação d’ As obras completas de Shakespeare em 97 minutos dizer que só gostaria de ter a peça em cena tanto tempo quanto esta tinha estado em Londres. 11 anos. Pois que por cá já vai em 12 and keep on going

Tenho rido como um desalmado desde então cada vez que entro naquela sala. Foram As Vampiras lésbicas de Sodoma, A Bíblia: Toda a Palavra de Deus (d´uma assentada) e mais recentemente (mesmo que não naquela sala pois assisti no Auditório do Colégio São João de Brito) Perguntem aos Vossos Gatos e aos Vossos Cães. Não há hipótese digo-vos eu. Quem lá vai, sabe o que o espera…

Mas porque raio estou eu para aqui a debitar toda esta informação sem vos ter ainda falado de A arte do crime? Porque não posso. Prometi. Prometi ao Juvenal Garcês (eu o resto da audiência) que não vos contava o fim e ainda que seja um policial, que só no fim se desvende a história, não sei quantos de vós seriam perspicazes, verdadeiros Maxwell Smart’s ao ponto de apanharem o fio à meada só pelo que vos contaria. Não. Promessa é promessa.

O espectáculo é fantástico. Os actores são fantásticos. O Emanuel Arada é um Sr. Rocha memorável que nos faz pensar várias vezes sobre a certeza da sua lógica ainda que nada seja certo e tudo pareça um pouco… ilógico. O Simão Rubim é o Inspector-Chefe Machado. Pois que está tudo dito. Vem cá que já me agarras… Muito cool na sua arrogância mas se não te pões a pau quando dás por ela já levaste. A Vanessa Agapito é a Diana Galvão que entra a matar de tão certa que está mas por não saber onde entrara, e perante um tudo tão estranho como o que lhe apresenta o Sr. Rocha não demora a deixar cair a capa de altivez (e até arrogância notada quando refere o seu “policia de estimação”) e a mostrar o quão frágil é. Enfim, fantásticos todos eles…

Agora vá, vão lá ver o espectáculo.