Alguém me disse que tinha visto um texto meu, numa qualquer rede social, a criticar a forma como a questão da COVID19 está a ser gerida e a grande importância que lhe está a ser dada. Pedi que parasse por ali.
Não só estou certo de que a única coisa que escrevi sobre o tema foi “Portugal, a COVID19 e a pequena aldeia irredutível” (texto que dificilmente alguém poderá entender como uma critica à gestão da corrente crise) como, e sinceramente, muito mais revelador, é completamente impensável para mim negar a gigantesca importância da temática em causa.
Quem me conhece e sabe o que faço, sabe o quão interessado tenho estado no assunto, o quão próximo e o quão envolvido. Mas, quem me conhece e sabe o que faço, sabe também o quão interessado, próximo e envolvido estou na luta contra a desinformação. Infelizmente, estas duas temáticas estão muito mais interligadas do que seria desejável. E dai, haver quem veja textos afirmando categoricamente as maiores barbaridades, questionando as maiores evidências, levantando dúvidas nas mentes mais incautas, semeando a constante confusão e discórdia, aparentemente sem um real propósito.
Não, não é ser naïf, e não ver que quem escreve essas coisas o faz com segundas intenções. É, e conhecendo algumas das pessoas que escrevem tais coisas, acreditar que só pode ser sem um propósito, escrever por escrever, qual escrita fantasma de mau gosto. Porque, acredito, estas pessoas sabem que o que escrevem, mesmo nos mais recônditos cantos da Internet, ficará para sempre associado aos seus nomes.
Talvez num momento de temporária insanidade, se tenham esquecido do básico, e declararam a calma e certeza de entidades mundialmente reconhecidas como instigadores de desinformação, como fontes de verdade. Partilharam estudos de revistas conhecidas pela publicação de fraudes académicas, como verdadeiras entradas enciclopédicas, e noticias de mundialmente famosos pasquins, como vozes de arautos da verdade, enviados à Terra por não outro senão Deus nosso Senhor.
Claramente, houve leituras esquecidas pelo caminho. Desde 1882 que se anunciou a morte de Deus e, mesmo para os mais desatentos ou crentes incondicionais na certeza de que há algo eterno, será certamente claro que Deus não anunciaria a Sua palavra no Daily Mail.
Gostaria de ver o à vontade e a pose magistral de certos rabiscadores, perante uma audiência de pais, filhos e netos a quem, derivado da COVID19, faltam companhias queridas, pessoas amadas. Gostaria de os ver argumentar, munidos dos nomes pomposos de médicos estrangeiros e recortes avulso sacados de sabe-se lá onde, sem a possibilidade de bloquear respostas ou de ignorar comentários, frente a frente com alguns daqueles que entre os 60 milhões de infetados com o Corona Vírus, estiveram em camas de hospital, ligados a máquinas, sem saber se se safavam.
O mundo não é preto e branco. A sério Varatojo?
Há coisas que não entendem? Claro que há, mas perguntem a quem de direito, perguntem a quem sabe e não a quem diz que sabe porque ouviu dizer que a prima de um amigo, que tem um tio que é vizinho do irmão da filha do padrinho do primeiro casamento do cunhado de alguém que trabalha numa clínica ou lá o que é, em Cesky Krumlov, na Republica Checa, tinha lido sobre o tema no Facebook.
Mas há histórias mal contadas? Claro que há. Lembrem-se dos vossos pais. Eles contaram-vos umas quantas enquanto vocês cresceram, mas não foi razão suficiente para que vocês viessem para a Internet chamar-lhes aldrabões.
Uma amiga referiu ontem, o argumento Reductio ad Hitlerum e dai à Lei de Godwin foi um pulo (ou um tweet melhor dizendo). A aplicabilidade da mesma aqui, nem precisa de muita argumentação. Os negacionismos existem e o mais famoso de todos, independentemente das evidências, não deixa de existir.
Aqueles que negam a importância da COVID19 são também aqueles que colocam frequentemente o termo “negacionismo” em cima da mesa, num acto de auto-vitimização em jeito de defesa, argumentando que são acusados de tal por não seguirem “a corrente”, como se essa referência à priori vá impedir ou minimizar o efeito de quem os vir como aquilo que são e os chamar pelo nome.
Desiludam-se (no sentido da fenomenologia Heideggeriana, abandonando a ilusão e abraçando a realidade). Aquilo que hoje escrevem é parte do que vos define.
Que fique então muito claro: há mais Marias na terra.