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… Tem uma luz como nenhuma outra. E tem tantas cidades em si…

Há quem não veja, quem não queira ver… Há quem se pense mais feliz assim. Há quem tenha a ignorância como forma de felicidade…

Tontos. Custa mais, chega a doer, mas viver estas cidades, garante que quando fores levas muito para contar…

Há já muitos, muitos anos (vantagens da idade, poder escrever tais coisas) que as palavras de Nietzsche me acompanham. Não um texto, um livro em particular, ainda que possa ter as minhas preferências, mas as palavras em geral, o que me deixou escrito num todo…

Disse-me em tempos uma professora de saudosa memória: “Nietzsche pode destruir-te rapaz, dar cabo de ti…”. Na altura, com todo o ímpeto da juventude, sorria como que dizendo “ou fará de mim melhor homem.”.

Beyond Good and Evil

Os anos passam, essa ilusão real a que não escapamos ou melhor escrevendo, a que nos entregamos mesmo que por vezes sem o querer, e as palavras do pensador regressam a cada ponto que se sente marcante. Se me pergunto sobre o dito momento, saltam as palavras d’ A Vontade de Poder que me gritam: ‹‹Toda a acção é necessariamente mal conhecida…››.

Os anos passam e de repente, dou por mim a pensar que talvez Karl Jaspers tivesse razão quando dizia que em Nietzsche era possível encontrar em cada julgamento o seu oposto e relembro então Para Além de Bem e Mal:

Quem não quer ver o que há de elevado num homem olha com maior agudeza para aquilo que nele é baixo e superficial e assim se revela a si mesmo.

É bastante mau! Sempre a velha história! Quando se acaba de construir a casa nota-se que, ao construí-la, sem dar por isso, se aprendeu algo que simplesmente se devia ter sabido absolutamente antes de começar a construir. O eterno e maçador ‹‹tarde de mais!››. A melancolia de todo o terminado!…

Os homens de profunda tristeza denunciam-se quando são felizes: têm um modo de pegar na felicidade como se quisessem esmagá-la e sufucá-la, por ciúme, ah, e sabem bem de mais que lhes foge!