É verdade. Ele voltou. O mais famoso neurótico de Nova Iorque voltou à sua cidade num registo típico. Típico mas ainda assim, exacerbado. Whatever Works é real quanto baste para ser tão paranóico e desta feita, misantropo. Muito.

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Woody Allen passa desta vez a batata quente do personagem para aquele que alguns dizem ser uma espécie de alter-ego de Allen, até talvez, uma espécie de Mr. Hyde: Larry David. Metade está dito.

A neurose deixa de ser quase introspectiva e passa para o mundo num registo quase violento. Allen enquanto Allen dificilmente é imaginado a rebaixar à ignorância (ainda que ela exista) quem a tem em evidência, de uma forma aberta, publica, sonora. Larry David é exímio em tal. Tanto que chega a irritar, a enervar, a dar vontade, de que a próxima vez que ele se virar para a câmara, lhe possamos dar um par de estalos.

Mas aqui ninguém bate em ninguém. Ao fim e ao cabo, trata-se de passar um bom bocado e nitidamente é isso que Allen quer que aconteça.


Whatever Works conta a história de Boris, auto-intitulado génio da Física, que a certa altura da vida, acredita conhecer já o sentido da mesma e que como tal, mais vale desistir. Tenta matar-se mas falhando tal tarefa, opta pela auto-exclusão, afirmando-se como um “outsider” e fazendo com que a sociedade o veja também como tal.

A vida corre-lhe bem (dentro do possível para quem acredita que pior não pode ser e enquanto tal, feliz) até ao dia em que lhe aparece à porta uma jovem loira de olhos azuis que lhe pede guarida para uma noite. Sim, pois. Esqueçam lá a originalidade do tema que isso agora não interessa para nada.

Melody St. Ann Celestine (Evan Rachel Wood), é um exemplar daqueles que em português de rua seria chamado em primeira análise de “loira burra”. No Estados Unidos de Nova Iorque (que são uns Estados Unidos diferentes dos outros) a melhor forma de representar o estereotipo é sem dúvida, a jovem loira, sulista, de roupa leve (calções curtos, pernas longas) e voz aguda. Foge de casa para procurar uma vida diferente da que experimentou atrás da roulotte do peixe frito e só para num beco escuro, à porta de Boris. A estadia de uma noite, junto ao homem que não tem qualquer tipo de interesse em interacções sexuais, já vai num ano quando se casam…

Não vos posso contar mais. Pelo menos não em detalhe pois tirava metade da graça. Digo-vos só que há mães, menáges à trois, pais, descobertas da felicidade bem depois dos 40, suicídios em barda e cereais. E também há alguma Nova Iorque. Sem o glamour romântico de outras obras mas com um toque de real, de Portobello em filmes do Hugh Grant…

Há quem diga por ai que Woody Allen está a ficar velho. Dizem-no com um sentido de ironia depreciativo… Mas não gostam de vinho do Porto de certeza…

E desta vez parece que a aventura em Nova Iorque não acaba mais. Sim, para além dos relatos anteriores ainda há muito para contar. O titulo do post é claro sobre o que aqui hoje escrevo:

Comer em Nova Iorque

Já tive a oportunidade de referir a muito boa gente que comer em Nova Iorque pode ser complicado. Não que não haja o que comer. Há e muito. O problema do comer em Nova Iorque é que comer como se come por cá pode ser muito muito caro e comer mais barato não será certamente para todos os gostos. Para nós não era novidade mas mesmo assim desta feita resolvemos experimentar coisas que da outra vez não provámos.

Já na companhia do Ricardo (vão lá dar um pulo ao Mentes Brilhantes que vale bem a pena) e da Ana, logo na noite em que eles chegaram a Nova Iorque, fomos jantar ao Coppola’s. Aberto na zona de Gramercy Park (relativamente perto do hotel onde ficavam os nossos amigos) há cerca de 10 anos, este Coppola’s é a versão elegante de um outro Coppola’s aberto há mais de 20 anos no Upper West Side.

Confesso que na entrada ainda pensei se “haveria mesa” para nós. Entre engravatados de fato escuro e meninas de vestido de noite (e transsexuais – ou shemales como lhe chamam por lá – de muito boa pinta), nós os 4 seriamos os únicos de jeans por ali. Não foi impedimento. Porta aberta e uma relações públicas (loira, no topo do seu metro e setenta e muitos) recolhe os nossos casacos e logo de seguida nos indica a mesa aparentemente uma das poucas vagas na casa.

Pela mesa e ambiente em geral, bem antes da carta na mesa, já se percebia bem que não estávamos num dos restaurantes mais baratos da cidade mas como em todas as nossas viagens, há extravagâncias que se fazem por gosto pois são aquilo que levamos connosco no dia em que não formos a mais lado nenhum… E por que si. Adiante…

Para a mesa cesto de pão e azeite aromatizado. Atempadamente (dando o tempo necessário) vem a carta e o pedido da bebida. Agua como se quer, uma garrafa se faz favor, mas rapidamente reparamos que agua por agua, por lá bebem agua a copo, del cano como lhe chamamos por cá. Não me lembro o preço da garrafa mas lembro-me de na altura comentarmos que seria essa a razão da escolha dos nova-iorquinos. Mas comida italiana não combina com agua e resolvemos experimentar um Coppola’s tinto. Vinho seco da Califórnia não desapontando não deixou particular recordação.

Para entrada pedimos um Carpaccio. Fillet Mignon finamente cortado em cama de rúcula e com muito queijo parmesão ralado grosso, regado a azeite e sumo de limão. Venha mais se faz favor. Não veio mais Carpaccio mas veio uma Insalata Caprese muito bem servida de mozzarella fresca, tomates fatiados, manjericão e tomate seco regado a azeite. Igualmente muito boa.

Infelizmente não me lembro dos pratos todos que vieram para a mesa. Melhor dizendo, só me lembro do meu prato mas sei que todos nós saímos do Coppola’s com a mesma opinião: Grande restaurante. Ora bem, o meu prato foi então algo chamado Linguine Fine all’Aragosta que é como quem diz, massa linguine de ovo e de espinafres, servida sobre uma lagosta aberta, camarões descascados e cortados tamanho família, e temperada com um molho à base de vodka. Será preciso dizer mais? Acho que sou capaz de lá voltar porque tão cedo não esqueço aquele prato de tão bom que estava.

E sim, para os que possam perguntar sobre o teste do algodão, ou seja, sobre se o garoto veio efectivamente claro digo-vos que, não só veio para a mesa um café com leite muito claro como o expresso foi dos melhores que por Nova Iorque bebi.

Comida, bebida e… Música.

É em Nova Iorque que fica senão o mais famoso, um dos mais famosos bares de Jazz do mundo: O Blue Note. Já há mais de 25 anos que este bar em Greenwich Village faz as delicias de todos quantos apreciam “aquela música maluca”… Já na nossa anterior viagem a Nova Iorque por lá tínhamos passado mas desta vez decidimos lá voltar e para além do espectáculo, apreciar também o famoso jantar Blue Note.

Apesar de termos feito reserva ainda que tivemos que esperar à porta. O Blue Note tem espectáculos às 8 da noite e às 10. Como tínhamos as reservas para o espectáculo das 10 tínhamos que esperar o vagar das mesas. Compensa. Antes isso do que ir ao espectáculo das 8 e sair à hora certa para dar lugar a quem vem…

Assim que entramos, casacos no bengaleiro (a 1 dólar cada) e de imediato somos levados à nossa mesa. Ao longo da noite verificámos que aquela talvez não fosse a “nossa” mesa uma vez que houve grande disputa da mesma por clientes aparentemente regulares e dispostos a pagar… Ainda assim lá ficamos, naquela que aparentemente era a melhor mesa da sala.

A simpatia fez-se notar na jovem que servia a nossa mesa: Ciryl acho eu. A loira sabia agradar com um sorriso e a meter conversa. Calamares de entrada em boa dose para quatro e acompanhado por um Rioja, Loriñon Reserva 2003 na esperança de algo parecido com o nosso tinto. Os calamares estavam óptimos mas o Rioja deixou muito a desejar. Ainda a musica mal tinha começado e já estávamos a pedir a segunda rodada. Desta vez optámos por um tinto californiano e ao escolhermos um Calix Cellars 2004 Syrah diz de imediato a Ciryl que foi muito boa escolha e certamente iríamos gostar. Não nos enganou. Entre o travo a chocolate e o gosto do carvalho este vinho de Napa Valey é uma verdadeira surpresa. A produção de Calix Cellars 2004 Syrah foi de 510 caixas de 6 garrafas cada. Já não há mais.

Vem a comida para a mesa e posso dizer-vos que quase certamente comi no Blue Note um dos melhores bifes da minha vida. E ao mesmo tempo começava o espectáculo. Bill Frisell e os seus convidados ofereceram-nos duas horas do melhor saxofone, piano, guitarra e bateria que se pode desejar. Como extra um fantástico espectáculo de sapateado de improviso que nos lembra estarmos na cidade das oportunidades em que, mais do que em qualquer outro sitio, os talentos estão ali, ao virar da esquina…

A noite no Blue Note acabou de bom modo, para nós e para a empregada que, ao contrário do que pensava a Ana, sempre levou mais do que a gorjeta obrigatória.

E se for assim mesmo à americana?

Cada vez que falo em comida e Nova Iorque é certo que alguém me vai falar em McDonalds. Acreditem que a presença da marca não é assim tão visivel quanto e se calhar, mais à americana do que uma ida ao McDonals será uma ida ao Dallas BBQ. E é bem difícil não dar por ele em Times Square. O espaço é enorme mas muito organizado com empregados que através de inter-comunicadores identificam mesas vagas e gerem o fluxo de clientes. A primeira coisa que se nota é o destaque que se dá às Margaritas. É tanto que não resistimos à tentação. Preparem-se: Copos gigantes com uma bola de sorvete ao meio e ainda acompanhados por uma pequena proveta com uma dose adicional de Tequilla. Duas são um perigo.

De entrada vieram para a mesa o que chamam de Crabcakes. Famosos por aquelas bandas, estes bolinhos de caranguejo tal pasteis de bacalhau, não são nenhuma especialidade. Comem-se. O que veio depois, isso sim, é de regalar os olhos e pensar se cabe tudo. Uma vez mais só me lembro do meu prato (deveria dizer: travessa?) mas penso que seja suficiente para terem uma ideia: Um enorme bife de vaca, rodeado de algumas tiras de entrecosto e grandes camarões fritos a acompanhar. Tudo isto sobre uma cama de pão de milho e palitos de batata doce frita. Um dado a reter sobre o Dallas BBQ: é um dos sítios onde se come “barato” em Nova Iorque.

Ainda sobram mais umas incursões gastronómicas para revelar mas ficam para outro dia que o texto já vai longo. Mais uma vez, o relato sobre Nova Iorque continuará num outro post, no sitio do costume: aqui.

Continuando o relato sobre a nossa mais recente viagem a Nova Iorque (iniciado em Férias em Nova Iorque outra vez (ou New York 2008)) seguem mais alguns dos momentos a registar.

Fast Food em Nova Iorque? Nem por isso.

T.G.I. Friday’s (a significar, dizem eles, Thank Goodness It’s Friday). Há vários espalhados por Nova Iorque. Há dois anos experimentámos o de Times Square e desta feita visitámos (mais do que uma vez) o da 9ª Avenida. Sim, é uma cadeia de comida mas não tem nada a ver com os hamburgers do Donald’s.


Tem hamburgers é certo mas também tem mais coisas… Bifes. E entrecosto. E muito, muito, molho Jack Daniels… E é bom e bem servido. Mas nota à navegação: Em Portugal eu nunca pagaria o que eles por lá pedem para comer um hamburger. O T.G.I. Friday’s também é famoso em Nova Iorque (que já agora, é a sua cidade de criação e não algures no Sul dos Estados Unidos como muita gente pensa) por servir bebidas alcoólicas. E não deixa de ser engraçado quando nos avisam logo ao fazer o pedido que, posteriormente, virá junto à mesa o responsável da casa para pedir a nossa identificação. Yeap. Uma cervejinha, um BI ou passaporte se faz favor…

Times Square. Tudo o que sempre vimos e mais ainda.

Em Times Square sentimos a falta do Naked Cowboy. É difícil não dar pela ausência de um tipo em cuecas (slips e não boxer’s atente-se) com um para de botas calçado e um chapéu de cowboy a tocar viola no meio da estrada… Em compensação andavam por lá estátuas da liberdade de óculos escuros. A praça só por si é um espanto e depois tem sempre pequenas surpresas para quem as quiser ver. Falando nisso, quando por lá passarem não deixem de ir à casa de banho. Sim, leram bem, à casa de banho. Metam-se na fila, preparem-se para as fotos e para os aplausos e lá vão direitinhos às melhores casas de banho que se podem encontrar nas redondezas. Charmin Restrooms. Vão ser difíceis de falhar.

Ainda na famosa praça de Nova Iorque mais dois pontos de visita obrigatória para o turista que quer levar umas lembranças lá para casa. Ambos doces, cada um à sua maneira e igualmente impossíveis de passarem despercebidos tamanha a publicidade que Times Square lhes dedica: A loja M&M’s e a Hershey’s.

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Ainda que não seja grande apreciador de M&M’s (não me lembro da ultima vez que comi um) há que dar a mão à palmatória no que se refere à grandiosidade com que eles nos são apresentados em Times Square. Os ecrãs gigantes com animações super coloridas são visíveis em quase toda a praça. A loja é enorme. São dois andares dedicados aos famosos amendoins cobertos de chocolate onde podemos encontrar de tudo desde os ditos até roupa de cama, cuecas, loiças, brinquedos, o que quer que seja em que se possa imaginar impressa a famosa marca de chocolates.

Já a Hershey’s é um bocadinho diferente. Grandiosa no seu género, vive mais do chocolate do que da tralha comercial à sua volta. Ainda que existam mil e uma caixa e caixinhas, sacos e saquetas, todas elas têm como objectivo carregar os famosos Hershey’s Kisses. E garantidamente vale a pena vir de lá carregado com alguns desses beijos de chocolate.

Um passeio a Bryant Park. Uma nova zona favorita.

Mesmo perto do hotel onde estávamos, entre a Rua 40 e a 42, entre a 5ª e a 6ª Avenida fica Bryant Park. No meio de todo aquele vidro e betão, um pequeno parque que nos dá vida verde e descansa os olhos a quem já muito correu pela cidade. Tal é o encanto deste espaço que Bryant Park se tornou o sitio de eleição para muitos nova-iorquinos irem almoçar sentados nas mesas por ali espalhadas com as suas caixas de plástico ainda fumegantes saídas dos Déli’s mais próximos.

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Flores, árvores e até um carrossel dos antigos dão um encanto especial ao espaço. É claro que em Dezembro (como quase tudo em Nova Iorque) brilha de forma diferente. Uma enorme pista de gelo mete toda a gente a patinar de manhã à noite. E sim, eles vão mesmo de fato e gravata para o meio da pista com os patins nos pés, descomprimir à hora de almoço… Também nesta altura do ano Bryant Park acolhe um grande mercado com cerca de 100 lojas de artistas vários, artesanato e comida. Mais uma grande oportunidade para adquirir algo único que não pudemos desperdiçar.

Canadá? Porque não? Estamos em Nova Iorque certo?

Foi ainda em Bryant Park que tivemos outra daquelas situações que só nos filmes. Junto ao espaço do parque estava uma grande tenda montada com gente a entrar e a sair… Curiosos como somos quando estamos de viagem não passávamos sem saber o que ali havia. Tratava-se de uma acção do Turismo do Canadá a promover as viagens de Inverno ao pais vizinho. Entrámos e tiraram-nos uma fotografia num painel croma com um fundo à nossa escolha para posteriormente fazermos o download num endereço web. Até aqui tudo normal. À saída questionaram-nos sobre o nosso pais de origem e quanto tempo estaríamos ainda em Nova Iorque. A resposta talvez lhes tenha agradado uma vez que nos ofereceram duas entradas VIP para um evento também patrocinado pelo Estado do Canadá a realizar-se no Celsius Canadian Lounge, um bar ali mesmo em Bryant park. Ora com isto acabámos por ganhar uma bela massagem ao final do dia e ainda dois copos de cidra quente que para nós foi novidade. Acompanhado por uma óptima vista e boa música foi um belo fim de tarde.

Ora, os relatos desta nova viagem a Nova Iorque seguem assim que possível… Até lá, novas fotos no Flickr

Quem me conhece sabe o quanto gosto de Nova Iorque. Gosto tanto que ainda há pouco lá fui e não tarda vou lá outra vez (já estou que não posso). Ora não é de estranhar que ande sempre em busca de coisas interessantes relacionadas com a cidade que não dorme. Eis que encontro mais uma: Out My Window NYC é um projecto do fotografo Gail Albert Halaban que em conjunto com o Design Trust for Public Space está a organizar um documentário fotográfico sobre as vistas de Nova Iorque, o que é que os habitantes da cidade vêem das suas janelas. Vale muito a pena dar uma olhada.