A Cadeia Quinhentista pode não parecer o mais indicado nome para um restaurante mas, se o restaurante funcionar nas instalações de uma cadeia do século XVI a coisa já não soa assim tão estranha certo?

Sentemos-nos então na esplanada d’A Cadeia Quinhentista.

Somos recebidos pelo Sr. João Simões, o proprietário da casa e com a simpatia que se espera nas terras douradas do Alentejo é-nos sugerida a mesa. Trazem-nos um cesto de pão com várias qualidades que nos são de imediato identificadas caso dúvida houvesse (alentejano, centeio, tostas…). Fazemos a nossa escolha e o pão é retirado. Ainda que pareça inconveniente faz todo o sentido pois o pão iria ocupar na mesa espaço nobre sendo que não voltaria a ser chamado após as típicas azeitonas (não estivéssemos nós no Alentejo) e a manteiga. A agua (que a hora pedia já algo que realmente matasse a sede) refrescava já no frapê ao lado da mesa.

Enquanto verificávamos a carta, em formato original e a condizer com todo o ambiente, fomos brindados com um pequeno amuse bouche de degustação composto por duas doses de queijo com molho de maracujá e carapaus em molho à espanhola… Apresentação irrepreensível e sabor a condizer.

Eis que chega também a bebida com mais espírito uma vez  que a agua é boa mas o cante é diferente se regado com algo mais. O calor afastava o tinto e a ideia de algo bem fresco punha também de parte alguns brancos. Sangria. Uma sangria de espumante da Ervideira, bruto. Adocicada com Licor Beirão, alcoolizada com Macieira e encorpada com maracujás, pêssegos, morangos, uvas, abacaxi e maçãs. Um toque vincado de canela e alguma Sprite.

Raia de Peniche com vegetaisVem de entrada um queijo de ovelha gratinado com oregãos. Não é comum o servir de um queijo por inteiro como entrada e ainda bem pois a novidade deu um toque especial ao que seria um sabor a não esquecer. De confecção aparentemente simples, sem mais nada dá encanto ao prato. O facto de ser de ovelha garante que o sabor se mantém mesmo após a ida ao lume.

O prato de peixe é, por sugestão do proprietário, Raia do Atlântico Corada em Azeite com Coentros Frescos, batata primor, cogumelos “Portobello”e espargos verdes salteados em azeite de Estremoz.

É preciso dizer mais? Estava deliciosa e vindo de quem até não é grande apreciador do dito peixe…

Veio o prato de carne e este não foi escolha inocente pois ficou registado à primeira passagem pela porta d’ A Cadeia: Pataniscas de Enchidos de Porco Preto. Há como resistir a tal nome?

SPataniscas de enchidos de Porco Preto IIim, leram bem. Pataniscas. Aquelas, com muita cebola, salsa, feitas à base de farinha, ovos e leite. A diferença destas para aquelas que a avó fazia é que em vez de #bacalhau (desculpem o cardinal mas é do hábito) estas levam linguiça, paio tradicional e paia, tudo grosseiramente cortado e acompanhadas com legumes temperados a azeite de laranja. Resultado? A fotografia não faz jus ao encanto do palato. Outra maravilha o que ali estava no prato.

O ritmo do Alentejo é para ser apreciado e tal como dizia Miro, o empregado que com toda a simpatia e educação acompanhava de perto a nossa mesa, sem pressas. E nós não tínhamos pressa… A conversa agradável sobre a história do edifício abriu vontades à sobremesa que viria a seguir.

20090807_145432_DMC-TZ6_00940A escolha era difícil. Ovos, açúcar e requeijão para o Manjar Celeste ou o tradicional doce de Estremoz conhecido como Pudim d’Água à base de ovos, açúcar e, água. Uma vez mais, a pronta sugestão da casa e a partida para o Duo de Doces com Frutos Silvestres que mais não era que, o Manjar Celeste, o Pudim d’Água, uma bola de sorbet de limão e molho de frutos silvestres onde os ditos marcavam forte presença.

Que mais pedir? Tempo para visitar A Cadeia Quinhentista mais vezes.

O já habitual café vem delicadamente servido com a companhia de um pequeno chocolate e, para quem já se questiona, o “garoto clarinho” vinha efectivamente claro e quente. Para finalizar, tivemos o prazer de provar como oferta da casa um magnifico Licor de Bolota, com um delicado cheiro a caramelo, que enchia a boca quase sem se sentir deixando um agradável paladar a castanho. Inexplicável. Muito bom.

De comidas estamos conversados mas A Cadeia Quinhentista tem ainda um pouco mais para nos mostrar. Miro perguntou se estaríamos interessados em conhecer o resto do edifício ao que de imediato anuímos. Tal como referi atrás, trata-se de uma cadeia do século XVI e que funcionou como tal até à década de 60 do século passado como tal, teria certamente algo que ver. Nem nós sabíamos o quê.

Contrastando com o andar térreo onde todas as cadeiras e mesas são artesanalmente feitas em madeira e ferro num estilo que nos lembra a robustez do desígnio original do edifício, no primeiro andar encontramos um bar, com decoração moderna e mobiliário de design conjugado com a pedra tosca da parede e mantendo visíveis detalhes curiosos como a abertura no chão por onde se alimentariam os presos mais perigosos do andar de baixo (neste primeiro andar viviam os guardas da cadeia e seriam presas as mulheres – e por favor, vamos conter as eventuais relações). Esta sala tem ainda uma lareira que de Inverno fará certamente as delicias de quem ocupa a mesa junto à mesma (que segundo o Miro está constantemente ocupada, a estrela da noite).

É-nos ainda proporcionada uma visita ao terraço. Por escada estreita de degrau alto (ou não fosse uma construção quinhentista) chegamos ao terraço que, ainda em obras promete ser um ponto de referência em Estremoz. Todo madeirado e com uma banqueta a toda a volta, este terraço tem uma vista privilegiada sobre toda a cidade e já o imaginamos nas noites de Verão

Finalizamos a visita pelo piso de baixo (comemos na esplanada) onde as grossas paredes e as grades nas janelas não deixam esquecer o nome da casa. Bem providas de espaço, entre mesas individuais e mesas mais dadas à partilha de um momento com um pequeno grupo de amigos, as salas convidam a estar desde a apresentação à simpatia de quem nos conduz.

Resumindo, A Cadeia Quinhentista foi um acaso de sorte. Ter o condão de levar o Cliente a passar à porta e dizer “é aqui” não é para todos mas A Cadeia Quinhentista consegue tal feito. Mais, consegue-o à entrada e consagra-o à saída.

Restaurante A Cadeia Quinhentista
Tipo de cozinha: Alentejana / Toque de autor
Horário: Das 12:30 às 15:00 h e das 19:30 às 22:00
Preço médio: 35€
Morada: Rua Rainha Santa Isabel Castelo – 7100-509 ESTREMOZ
Telefone: +351 268 323 400
URL: http://www.cadeiaquinhentista.com/
Pagamento: Numerário / Cartões

Nota: Fica o meu muito obrigado ao Sr. João Simões que prontamente respondeu por e-mail à minha necessidade de esclarecer alguns pontos que me tinham escapado.

Ali ao inicio do Bairro Alto, muito perto ainda do Camões, fica o Restaurante As Salgadeiras. Nas instalações de uma antiga padaria (ainda que em tempos idos o edifício fosse conhecido por lá estar estabelecida uma famosa casa de meninas para alegrar os homens de mar que atracavam por Lisboa), este restaurante apresenta-se mantendo uma traça antiga, com tijolo de burro à mostra e arcos de pedra dividindo os espaços.


Visualmente agradável é também fácil gostar do espaço pela simpatia de quem nos recebe e atende. Pontos muito fortes para quem ainda não se sentou.

Começamos a noite com algo fresco. Duas caipirinhas. Convenhamos que, para acompanhar uma noite quente, a frescura de um gelo moído com a dose certa de cachaça e lima é algo de muito agradável. E aqui as doses eram bem, muito bem servidas…

O couvert era de bom gosto. Azeitonas, paté de atum, manteiga com ervas, muito bom queijo de Azeitão enfim, um couvert. Evitam-se as embalagens e agradecem os Clientes. Dá um toque de classe e casa que todos apreciamos.

A entrada escolhida foi a Alheira de Chaves com ovos mexidos tirada da forma, com a consistência certa e o sabor do enchido fazendo notar que é o que diz o nome e não os tantas vezes servidos ovos com alheira.

A comida veio precedida do vinho. Escolhemos ao copo que a oferta era variada. Ainda bem que está a pegar a ideia do vinho servido desta forma. Evita-se o sacrilégio de deixar bom néctar na garrafa e aproveita-se para a prova de alguns que pelo preço mais proibitivo não se iriam degustar tão cedo. Casa Burmester tinto. Ainda que o ano não nos ficasse de memória, o vinho ficou.

E eis que chegava à mesa o prato de peixe. Filetes de linguado em massa folhada com espinafres. Só a apresentação ganhava o prémio, fosse ele qual fosse. Não fingiam estar presentes os filetes entre o folhado e a verdura. Estavam mesmo. E frescos como às vezes não se encontram quando servidos a sós. Os espinafres na textura de esparregado faziam-lhes cama de luxo para a vista e para o paladar. A massa folhada estava no ponto, aquele em que não é seca nem está mole. Está como deve estar. Aliás, como tudo parece estar nesta casa.

O prato de carne encantou de igual forma. Pedido que estava o Espeto de Lombo em Pau de Loureiro de imediato veio à memória a triste cena do espeto pendurado, a pingar, e a ginástica necessária para por vezes de lá tirar proveito. O bom gosto da casa nota-se também nos detalhes e o lombo chegou no prato com todas as companhias do espeto mais os acompanhamentos laterais. Uma delicia ao olhar.

Da carne macia e saborosa à verdura cozida de leve e às batatas em feixe, estava tudo muito bom. De notar que as doses servidas, ainda que a decoração ocupe espaço no prato, são a ter em boa conta que ninguém fica com fome, muito pelo contrário.

Já dificilmente haveria espaço para a sobremesa mas a carta de nomes sonantes (do Fondue de Chocolate ao Leite creme com frutos silvestres) obrigava a uma pergunta: O que era o Manjar Conventual. Prontamente nos foi dito que… Era bom. Isso só por si é um indicativo mas assim que nos disseram que se tratava de Requeijão, açúcar e ovos não havia espaço mas para as dúvidas. Venha o Manjar Conventual que com a dieta nos preocupamos mais tarde.

Ainda a colher não tinha batido ao doce a segunda vez e já alguém nos questionava se estava bom tal eram as expressões à mesa. Referi que o que ali se passava era criminoso. Um verdadeiro crime não venderem o Manjar Conventual ao quilo para que connosco viessem logo um ou dois…

O final da refeição foi o costumeiro café e garoto bem clarinho e até ai, o serviço mostrou excelência. Não foi preciso pedir duas vezes nem houve má cara à prova. O garoto vinha tal como pedido e tínhamos ficado clientes. Garantidamente.

As Salgadeiras
Rua das Salgadeiras 18
Bairro Alto
1200-396 LISBOA
Telf. 213421157
URL: www.as-salgadeiras.com
Só servem jantares (encerra às Segundas-feiras)

Update: Este texto foi também publicado no site no prato com

Depois de vos ter começado a contar como tinha sido a nossa viagem a Amesterdão não ficava nada bem se não acabasse o relato principalmente porque sei que alguns de vocês ficaram com a ideia de que em Amesterdão há pouco que se aproveite. Bem, não há muito é verdade mas nem tudo é mau.

Os museus de Amesterdão

Van Gogh Museum – Vão para a fila logo de manhã cedo. Muito cedo. Ainda que em Amesterdão nada comece cedo, a cidade está sempre cheia de turistas e muitos destes acordam cedo. Mesmo que já tenham comprado o bilhete para o museu Van Gogh no dia anterior (se não tiverem bilhete vão para lá de madrugada) cheguem lá cedo. A fila é enorme.

Depois há aquela coisa dos girassóis… Eu sei que gostos são gostos mas ao contrário do dito popularem eu acho que estes devem ser discutidos. Mas será que alguém gosta mesmo dos girassóis do Van Gogh? E a cena da orelha? A sério. Podem ficar ofendidos e tudo o mais mas não há pachorra para o Van Gogh.

Directamente ao piso de baixo do museu Van Gogh para ver a magnifica exposição de John Everett Millais (costuma estar no Tate em Londres) e ficar deveras encantado pela obra deste pré-rafaelita. Ophelia será a sua obra mais famosa mas facilmente nos apaixonamos por tudo o resto.

Neste piso podemos ainda visitar uma exposição fotográfica intitulada Me, Ophelia onde vários fotógrafos prestam à sua maneira, homenagem à obra prima de Millais.

Entre quadros, desenhos, audio tour e um filme sobre a vida e obra do artista aqui ficou grande parte da nossa manhã. De volta ao piso de cima, a visita ao Van Gogh propriamente dito levou-nos ainda uns cinco ou dez minutos que foi o tempo que demorou até chegar à porta de saida no meio dos milhares de pessoas que se amontoavam para ver, adivinhem? Os girassóis.

Rijksmuseum – É efectivamente um grande museu este Rijksmuseum. Infelizmente grande parte dele está em obras (ao que parece já há muito tempo e tende a continuar) o que, não só defrauda as expectativas como torna a visita um bocado confusa. Ainda assim tem muito que ver principalmente para quem aprecia as grande obras de Rembrandt (Night Watch é absolutamente fantástico), Vermeer ou mesmo Pieter Saenredam com os seus fenomenais interiores de igrejas. Ainda de referir as extraordinárias casas de bonecas do século XVII a fazer os sonhos mesmo de quem nunca brincou com bonecas…

Foam fotografie museum – Tal como o nome indica, o Foam é um museu de fotografia. Daquelas pequenas pérolas que por vezes são esquecidas nos circuitos mais turísticos mas que nos enche os olhos com coisas bastante interessantes (como a exposição de Jessica Dimmock “The Ninth Floor” que acompanha um ano na vida de um grupo de toxicodependentes). Ou como num espaço diminuto dar um grande valor cultural à cidade…

Joods historich museum – mais conhecido como o Museu Judeu de Amesterdão. Muito interessante. A história de um povo pela Europa. Nunca tinha eu (e já entrei nuns quantos museus por esse mundo fora) visto tanta referência a Portugal e a Portugueses como neste museu. Ao que parece, haveria por aqui mais do que em qualquer outro lugar… Vale a pena visitar e conhecer mais intimamente a importância deste povo naquela cidade.

Ainda no Museu Judeu é de visitar o Museu Infantil onde se pode encontrar a “Parede Falante” que é, literalmente, uma parede que falando connosco nos conta a sua história ali, no edifício da sinagoga. Marcante.

E para comer? Come-se por lá?

Sim, come-se. Nada de especial. Não há propriamente uma comida típica da terra. Como diria um colega meu, talvez o mais parecido com comida típica de Amesterdão seja a comida Indonésia (há por lá muitos restaurantes destes). No entanto, come-se bem assim se vá comer aos sítios certos.

Sushi me – Passámos por este pequeno restaurante japonês logo na primeira noite em Amesterdão. Já passava das 10 da noite que nesta cidade é como quem diz, estava já fechado. Ficou marcado e lá voltámos ao Shushi me 2 noites mais tarde. Comemos bem e barato (para Amesterdão e para japonês). Sem mesas, tem um balcão corrido a todo o comprimento do restaurante (que não é longo) e bancos confortáveis.

Ainda comemos num outro japonês (mais tipo tasca japonesa) onde a comida estava igualmente boa (maior oferta) mas definitivamente, o Shushi me tinha mais estilo e na comida japonesa, em particular, os olhos também comem…

Madre Maria – Restaurante de carnes argentinas, o Madre Maria faz jus à fama que tem por lá. A carne é mesmo muito muito boa. Foi aconselhada a parrillada mista que basicamente é um fogareiro a carvão na mesa com várias carnes a grelhar. Vale bem a pena. Parece manteiga. A simpatia não é a maior mas também, é típico dos estabelecimentos na cidade…

La Madonna – O nome deste também não engana pois não? Restaurante italiano, La Madonna serviu essencialmente por estar aberto até mais tarde mas no entanto até se revelou uma agradável surpresa. A comida era boa e não foi muito caro. Serviam vinho a copo o que também ajudou a agradar.

The Pancake Bakery – De comer e chorar por agua com gás. Ou nem isso. A The Pancake Bakery tem fantásticas panquecas, gigantes panquecas com as mais estranhas combinações de sabores que possam imaginar. Não caiam no erro de lá ir lanchar a não ser que já tenham almoçado há muito e não planeiem jantar. Já lá vai para 35 anos…

Puccini – Difícil difícil seria falar de comida em Amesterdão e não falar do Puccini Bomboni. estes chocolates são caros como o raio mas são deliciosos em proporção ou mais. Por nós ficámos entre os de noz e os de pimenta (sim, a combinação pimenta e chocolate é realmente fantástica) mas facilmente comeríamos muitos mais. Visita obrigatória.

Há mais sítios certamente mas não me consigo lembrar de todos e o post já vai longo… Continua mais tarde na Parte III.

Saidos que estávamos da visita à exposição do Hermitage (conto mais tarde), a fome apertava que a hora de almoço há muito já tinha passado. Já nos tinham falado do Restaurante Espaço Açores como sendo um muito bom restaurante de especialidades típicas do referido arquipélago e já que estávamos por perto lá fomos.


O tarde da hora não foi impedimento para o bom serviço que a cozinha só encerrava ás 15 horas (faltava ainda uma). Porta passada de imediato nos acompanharam à mesa junto à janela panorâmica de vista para o rio. Ainda que de cortina baixa que o sol batia mais quente do que o esperado numa tarde de Novembro, a mesa estava mesmo bem localizada. Aliás, pareceu-me pela disposição da sala que qualquer uma delas estaria. Adiante.

O sorriso nos lábios parecia imagem de marca entre os vários empregados da casa. Pronta carta na mão veio de imediato e com ela um queijo fresco coberto de uma certa massa de pimentão picante fazendo uma composição bastante apreciada. Acho que o nome dado à coisa é Queijo com Pimenta da Terra. Aconselha-se. Chegada à hora de pedir prontamente nos foi sugerida uma das especialidades da casa com a particularidade de que esta especialidade em questão só é cozinhada no primeiro fim-de-semana de cada mês. Sopas do Espírito Santo. O nome assustou de inicio pois que sopa não era o nosso intuito mas o engano foi desfeito. Não se trata de uma sopa mas sim de algo parecido com o famoso cozido à portuguesa mas deixando só a carne magra e o caldo com o qual se cobre uma boa fatia de pão ao fundo do prato e acompanha ainda com um pouco de repolho cozido no dito caldo. Não podia estar melhor. Mas ainda antes desta agradável surpresa veio o prato de peixe que, também por conselho da casa, foi um pedido às escuras: Polvo à regional. É certo que ninguém nos disse de que região se tratava mas também não era preciso. O dito vinha cortado em pequenos pedaços, cozido num molho que misturaria tomate e talvez também pimentão estando al dente mesmo como nós gostamos. Não sobrou nada para contar como foi.

Também a rega foi de escolha da casa. O calor que se fez sentir nessa tarde sugeria um branco fresco (estarei a perder-me?) mas a nossa escolha foi negada pois que vinhos brancos só mesmo dos Açores. O desconhecimento de tais vinhos pedia uma sugestão. Após apresentada a nossa preferência por brancos mais frutados a senhora que nos atendia então pediu que deixássemos por sua conta sendo que caso não fosse do nosso agrado não haveria qualquer problema. Para bom entendedor… A refeição fez-se então acompanhar por um Frei Gigante. Arinto, Terantês e Verdelho davam ao dito vinho uma frescura e um cheiro que a cada copo era capaz de pedir outro. Infelizmente fomos de imediato informados que a produção é muito pequena e a importação é cara como tal deve ser difícil achar o Frei Gigante nas prateleiras do costume.

Tudo a ser tão bom a sobremesa não poderia de forma alguma decepcionar. As sugestões da casa eram muitas e de nomes convidativos. O empregado que nos atendia na altura em jeito de humor para se livrar ao compromisso sugeriu que provássemos vários doces diferentes sendo que a escolha ficaria a seu critério. Assim foi. O Doce de Vinagre é de chorar por mais. Ovos coalhados em vinagre. Pode parecer estranho mas é realmente bom. A mousse de Maracujá é também divinal. Espessa o quanto baste e farta em sabor e sementes do fruto. Os Ovos Pardos faziam lembrar um certo doce algarvio (D. Rodrigo) mas tirando a parte do enjoo. Venham novamente. Por ultimo o pastel de feijão servido em dose reduzida e com aviso a acompanhar: é doce por demais. Confirma-se. Se para o paladar da Susana se tornou forte já para o meu foi um final feliz.

A pièce de résistance das nossas visitas gastronómicas tem sido sem dúvida, o garoto da Susana. Garoto é entendido na hotelaria como um café com leite, não muito escuro, servido em chávena de café expresso (bica). Simples não? Se pedido, claro, muito claro, chegando ao ponto de pedir uma chávena de leite quente com uma gota de café, parece-me então que não haverá motivo para engano. Lindo. Pela primeira vez nos foi trazida à mesa uma pequena leiteira (com o respectivo conteúdo aquecido) sendo sugerido que tirasse a tal gota do café que me tinha servido a mim. Perfeito. Pode não o ser no entendimento de alguns mas para nós foi efectivamente, perfeito.

Colmatando a visita ainda me foi perguntado se queria beber algum digestivo ao que após breve reflexão educadamente recusei. Estava satisfeito. O empregado não resistiu a perguntar ainda se gostava de amoras. O sim esperado resultou no que nós também já esperávamos. A oferta de um licor de amora que dificilmente esqueceremos.

Concluindo. O Restaurante Espaço Açores é um daqueles restaurantes que deve constar na lista de qualquer um apreciador de bom repasto não só pela qualidade da comida em si mas pela experiência que nos oferecem com a simpatia e cordialidade. Recomenda-se vivamente. Saimos de lá com um até breve.

Espaço Açores
Largo da Boa Hora
( Junto ao Mercado da Ajuda )
1300 – 098 LISBOA – PORTUGAL

Tel: 21 364 08 81 / 21 364 03 53
Telm: 93 348 37 25

E eis que é dia de comida Italiana. Onde ir, onde não ir, o melhor é ficar por aqui perto e bem dito melhor feito. La Campania ali à Artilharia Um.


Não foi uma estreia pois já por lá tínhamos comido com um casal amigo mas desta feita era um jantar a dois. A entrada pode não ser a mais convidativa com a sua porta fechada e letreiro à lá bar/disco muito seventies mas o ambiente lá dentro não tem nada a ver. Sala relativamente pequena (capacidade para uns 50 convivas) com mesas talvez a mais e cores que dão o quente à sala não fugindo ao que seria de esperar num italiano. Acolhedora pela musica e pelo sossego não se evitará a clientela selecta de charuto em riste mas enfim… Prontamente posto o talhere (de pão quente e manteiga) não demora que ofereçam a carta. Entre antipasti, massas frescas, outras massas, pizzas e carnes várias a oferta é farta. Optámos pelo carpaccio de entrada. Carne bem cortada em duas definidas fatias, saborosa e bem temperada (talvez um pouqito de azeite a mais) com a já rotineira rucola e o queijo seco em finas lascas. Não decepcionou. Chegou entretanto o vinho cuja escolha recaiu sobre um Douro clássico Esteva de seu nome pela existência de colheita de 2003. Era o bom esperado.

Chega então a escolha que desta vez foi consensual: Tagliatelle com camarão. Muito bom. A massa fresca será sem dúvida um indicador seguro de uma boa “casa italiana” e assim sendo, daqui nada há a apontar. A massa estava óptima e o camarão era de bom tamanho e melhor número. Salpicada a verde e queijo, é prato para encher mas sempre saboreando. O vinho revelava-se a escolha acertada. O espesso do molho não seria tão apreciado com um outro mais encorpado.

De sobremesa a nossa escolha clássica em casas de tais terras é a Panna Cotta. Esta mistura fresca de natas, leite, açúcar e gelatina cozinhada em lume brando e coberta de um doce de frutos vermelhos raramente nos deixa ficar mal. Hoje também não deixou. Para além disso experimentámos também o Cheesecake que coberto com o mesmo doce não me fez arrepender da escolha. A coisa só não terminou melhor porque vindo o meu café tal como é normal, o da Susana mesmo com esforço acrescido de trazerem a leiteira à parte, pecava por já vir a chávena meia cheia de café tornando assim impossível a realização do pedido simples que é como sempre: Um garoto muito claro tipo, uma chávena de leite quente só com uma gota de café. Cada vez mais me convenço que o conceito de gota é desconhecido na lusa restauração.

Resumindo, La Campania é um bom restaurante de comida com qualidade e serviço rápido. Falha a simpatia que não se deixou ver mas não será por ai que lá deixaremos de voltar.

Restaurante La Campania
Rua Artilharia Um, nº 30
1250 Lisboa

Telefone: 21 385 03 45
Fax: 21 383 83 72

p.s. Sim, fiz hoje (upps, já passa da meia-noite), fiz ontem 34 anos e a bateria do telemóvel acabou a meio da tarde.