A mim, parece-me estranho confesso, ter que dizer “gosto de saltos altos e depois?”. Eu gosto de saltos altos e não me parece, de todo, que tal gosto ou a assunção pública do mesmo seja de estranhar.

Gosto de saltos altos

Será algo de anormal um homem gostar de saltos altos? Bem, a meu ver será tão estranho quanto um homem gostar de lingerie e sabem que mais? Eu gosto de lingerie. Como não gostar? E gostar de lingerie será algo mais (pelo menos para mim é) do que dizer “Epá, aquela gaja fica mesmo boa de cinto de ligas e meias de rede”… Por amor das Deusas…

Gosto de saltos altos e de lingerie também…

Assim como gostar de lingerie se pode traduzir no saber apreciar o toque de um bustier La Perla, de um baby doll Lise Charmel ou qualquer peça Agent Provocateur (e acreditem, a Susana agradece que eu saiba apreciar estas coisas), também gostar de saltos altos se pode traduzir em saber que um salto 12 é um salto alto e um 15 já é esticar a corda ou que também há saltos 16 mas que dificilmente se encontram longe das casas de má fama

Sim, é verdade que o meu gosto por saltos altos vai um pouco além disso. Por gostar de saltos altos aprendi a distinguir uns Pump de uns Scarpin, prefiro Louboutin’s a Vuiton’s (ainda que alguns Vuiton’s sejam verdadeiras obras de arte) e até sei o que é a alma de um sapato.

É  também verdade que há muitas mulheres que não sabem fazer estas distinções mas sabem que mais? Assim como reconheço os detalhes acima, sei também o que é a gáspea, a testeira, o contraforte e o solado. Coisas que existem nos Oxfords, nos Brogues, nos Derby, nos Monks e nos Loafers… Sim, coisas que existem nos mais variados modelos de sapatos de homem, cujos nomes as maior parte dos homens não conhece.

“Queria uns sapatos daqueles, tipo luva…” ou “Não gosto daqueles sapatos com desenhos em furinhos…” são frases que se escutam com alguma regularidade em sapatarias ou conversas de amigos. Mas são sapatos de homem e são homens que dizem estas frases. Talvez não gostem de sapatos o suficiente para se interessarem por estas coisas

Gosto de saltos altos. É uma questão estética.

Dizer “eu gosto de saltos altos” é, acima de tudo, dizer que gosto de algo que me atrai esteticamente. Sendo a estética a experiência do sensível, perante uns saltos altos, o primeiro dos meus sentidos a ser atraído é a visão. Os saltos altos podem estar na montra e só por si, pelo vislumbre dos mesmos, causar a tal atração. Um par de sapatos de homem também o pode fazer mas, eventualmente, poderá requerer mais que o simples olhar. Uns Oxford Kingsman podem parecer ser quase iguais a uns Berluti mas só quando lhes tocarem, quando passarem a mão pela vira, podem notar grande diferença.

Então, dizer “eu gosto de saltos altos” é, como tantas outras coisas na vida, ter um gosto particular, um gosto que nos leva a conhecer mais sobre o tema, um gosto que nos leva a partilhar esse conhecimento, um gosto que nos deve fazer orgulhosamente dizer: eu gosto de saltos altos.

Depois, como em tantas outras coisas na vida, é esperar pelo dia em que o expressar de um gosto não tenha que vir seguido de um “e depois?”.

“Ah e tal, isso dos makers… Uma cambada de nerds e geeks (notem a distinção), de óculos na ponta do nariz com a cabeça enfiada nos computadores e nas caixas das ferramentas…”

Sim, eu ouvi isto. E já não é mau de todo pois a pessoa em questão já tinha ouvido falar de makers coisa que nem sempre acontece quando se fala desta comunidade de pessoas que se dedica à ideia do faça você mesmo.

Evento de makers ou “jolas” e bikinis?

Na aproximação do grande evento da comunidade maker em Portugal, a Lisbon Maker Faire 2015, levanta-se a questão: porque raio haveria alguém de trocar um belo dia de praia, sol, “jolas” e bikinis pela possibilidade de estar com uma série de Professores Pardal, a falar de impressoras 3D, boards Arduino e Raspberry Pi’s?

É certo que a comunidade maker nem sempre se promove da forma mais eficaz. Talvez se comunicar mais para além do seu próprio universo, talvez se mostrar mais da aplicação prática das ideias no mundo do comum dos mortais, a ideia generalizada sobre quem são os makers possa mudar.

Haverá certamente muitas formas de o fazer mas, considerando que é um dos trending topics do dia (pelo menos em determinadas comunidades – Reddit, o mundo está de olhos em ti) e, aproveitando a observação que serve de mote a este tópico, pensei em esclarecer, de forma adequada, o cavalheiro que a fez e todos os outros quantos possam ter a mesma dúvida.

Makers SexyCyborg Saia com luz

Makers SexyCyborg Saltos Altos com luz

Depois de projectos como a mini-saia com luz interior ou os sapatos de salto alto luminosos, a maker chinesa que dá pelo nome de SexyCyborg apresenta o seu mais recente projecto: Wu Ying Shoes.

Makers SexyCyborg Cybersecurity Wu Ying Shoes

Sim, sapatos outra vez. E impressoras 3D também. Mas desta vez, SexyCyborg vai mais além e dá uma lição sobre ciber-segurança, fala-nos de social engineering e de USB keystroke recorders…

makers sexy cyborg Wu Ying Shoes 1

makers sexy cyborg Wu Ying Shoes 2

O projecto detalhado da maker SexyCyborg está apresentado aqui com mais alguns detalhes aqui. Ainda assim, e sabendo que eventualmente pode haver quem não esteja interessado em ler mais, deixo desde já aqui algumas dicas dadas pela própria SexyCyborg:

Lembrem-se senhoras – se estão a pensar em tornarem-se makers, aprender a escrever código ou fazer hardware – se uma rapariga como eu consegue, quão difícil será?

… e sim, são falsas.

Agora a pergunta que se impõe: quem vai visitar a Lisbon Maker Faire 2015?

p.s. Obrigado João Neves, pela referência.