Imediatidade não é uma palavra bonita. Aliás, imediatidade não é uma palavra comum, uma palavra que se costume ouvir. Talvez por não ser uma palavra bonita, talvez por não ser muito bem entendida. A ver então se nos entendemos: imediatidade é qualidade do que é imediato.

Usamos por vezes a palavra imediatez para referenciar a imediatidade mas mesmo esta palavra também não é bonita e isso talvez seja razão para, tal como a outra, não ser muito usada. Mas agora que está entendida (relembrando, a imediatidade é qualidade do que é imediato) posso passar à sua importância no que a algumas das actuais formas de comunicar concerne, que é verdadeiramente o que aqui me traz.

Sociedade da imediatidade?

Vivemos, diz-se, numa sociedade do imediato, uma sociedade definida pela rapidez com que se produzem, procuram e encontram conteúdos, sejam eles de que tipo forem. Tudo é rápido, para já (porque não pode ser para há pouco), se for para logo mais, não serve.

Como escreveu Douglas Coupland, já não há tolerância para qualquer tipo de espera. Queremos todos os factos e queremo-los agora.

É ao mesmo tempo, e num sentido quase dóxico, uma sociedade do efémero, onde as coisas aparecem e desaparecem num piscar de olhos, onde o escândalo do agora obliterou por completo a noticia do há pouco.

Por outro lado, e quase paradoxalmente, esta sociedade do imediato, de conteúdo efémero e muitas vezes decíduo, é também um bastião da perenidade, garantindo, como tantas vezes ouvimos, que “uma vez na Internet…” nada se esquece, nada se apagará.

Em suma, vivemos numa sociedade onde os próprios conceitos basilares do entendimento comunicacional (como o momento ou a duração) se confundem, distorcem, misturam e encontram valores definidos não de forma canónica, mas sim relativamente às perspectivas dos intervenientes no processo.

Tudo isto é bastante visível quando falamos por exemplo, das presenças nas diversas Redes Sociais online.

A imediatidade e a desintegração da Persistência da Memória por Salvador Dali
A desintegração da Persistência da Memória por Salvador Dali

O valor do tempo nas diversas Redes Sociais online

Não é raro encontrar publicações no Facebook, Twitter ou LinkedIn com títulos como “Qual a melhor hora para publicar no Facebook” ou “Os melhores horários para publicar nas redes sociais” ou qualquer coisa deste tipo.

De imediato me apraz lembrar que a grande maioria destas publicações referem “estudos” ou análises feitas nos Estados Unidos da América. Se entendermos que as diferenças culturais serão suficientes para que haja comportamentos diferentes, este facto deve servir de alerta para não levarmos à letra determinadas “sugestões”.

São muitos os exemplos que poderia citar mas vejamos um simples e que certamente dará uma ideia clara do problema exposto acima: Muitos dos estudos que encontramos na web sobre horários de publicações nas várias redes sociais, indicam que o melhor horário para twittar é entre as 12 e as 15 horas. Quando olhamos para dados específicos sobre Portugal, muito mais difíceis de encontrar, verificamos que a grande utilização do Twitter em Portugal é feita quando em casa e no período nocturno sendo que o período de maior engajamento é entre as 21 horas e a meia-noite.

Assim, é bastante claro que a definição de tempo ideal, para o mesmo acto, varia no espaço (sendo este um apenas dos factores), e de forma muito, muito relevante.

Mas então, o que tem a publicação pelas 21 horas de algo que aconteceu às 13, a ver com a imediatidade?

Nesta nossa sociedade, a tal do imediato, ainda que assim pareça, o mais importante nem sempre é a imediatidade da publicação mas sim a imediatidade do conhecimento. Estar na posse da informação, de todos os dados, tão rápido quanto possível, permitirá fazer melhor gestão da quantidade, duração e momento da publicação.

Claramente, a imensa informação que desejamos, que temos, veio (e uma vez mais recorrendo a Coupland) osmótica ou inadvertidamente, danificar (eu seria mais soft e diria modificar ainda que de forma radical) um sentido de tempo colectivo que há muito servia a humanidade. É importante que nos dediquemos a repensar o tempo e o seu valor.

É só um desabafo.

Bem, escrever sobre o tempo que está a mudar pode ser sinal de mil e uma coisa mas fica a nota: é mesmo uma constatação de um facto que em muito influência a minha vivência do dia-a-dia.

Eu não ando de carro de um lado para o outro. Uso transportes públicos e ando a pé. Muito. Ainda que para quem ande de carro, se chove ou não possa implicar sair de casa 10 minutos mais cedo ou chegar a casa duas horas mais tarde, normalmente, não irá ditar de forma radical a forma como sai vestido para a rua. Que diacho, um fato é um fato e se vou de carro de casa para o trabalho e do trabalho para casa, levo o fato e acabou. Se ando de transportes públicos e a pé, ameaça de chuva implica uma gabardina ou uma parka. Às primeiras gotas exige chapéu-de-chuva… Se está frio, um sobretudo, se está calor um fato leve…

O diabo é efectivamente quando o tempo está assim-assim… Carregar o chapéu-de-chuva tornar-se-a ridículo num dia que afinal fica soalheiro (estava solarengo mas a atenção de um certo cão com pulgas permitiu a correcção). Parkas e sobretudos, ultrapassam os ridículos e chegam aos incómodos e insuportáveis com o calor a apertar… Irra que já chateia. Dava jeito uma data certa. “Ah e tal, 21 de Março. Chegou a Primavera. A partir de hoje, só chove dia x, p, t e o. A temperatura irá manter-se nos x graus exceptuando o dia tal por, em homenagem a São Qualquer coisa, se realizarem várias festividades que se prolongam pela noite dentro…” …

Já não é a primeira vez que aqui escrevo sobre a falta de tempo que me leva a diminuir o numero de entradas por aqui. Há alturas mais calmas, e alturas mais agitadas. Mais trabalho, mais projectos e mais Twitter.

Acalmem-se os evangelistas (à minha maneira também o sou). Não vou para aqui deitar culpas ao Twitter por chegar a passar uma semana sem escrever palavra. Não seria original (ao fim e ao cabo há já tanta gente a fazer tal acusação) e seria sem duvida, deselegante.

É certo que o Twitter ocupa hoje grande parte do meu tempo livre. As viagens de Metro a twittar, os almoços a twittar, as noites a twittar

Browserd: O Twitter e o Blog

Já não tenho tempo para ler nos transportes, registar ementas e tirar notas das refeições, ver séries obscuras de que ninguém ouviu falar… Uppss. Mas esses são os temas sobre os quais escrevo certo? Os livros, as comidas, os filmes e as séries… Deusas. A culpa é do Twitter!

Certo. Dramatismos à parte, a facilidade com que se twitta, 140 caracteres, a imediaticidade da resposta, múltipla resposta, a rapidez com que se propaga graças aos retwitts… Tudo isto leva a paixões assoberbadas (vejam o que twitta qualquer power user ao fim de dois dias sem twittar) mas vistas as coisas a frio, é tudo tão fino, tão efémero… Ainda que por lá se mantenham, nos confins dos searchs

Mas blogging e micro-blogging são duas coisas bem distintas. Uma semana no Twitter traz dezenas, centenas, de followers. Para um blog, demora um pouco mais de tempo. A credibilidade necessária para nos levar a ler um texto composto, a procurar uma opinião mais pensada, é mais difícil de conquistar. Por outro lado, a satisfação de ver quem nos visita no blog continuar a visitar ao fim de muitos e bons anos, é uma recompensa diferente.

Decisão: Se não tenho tempo para 500 palavras, escrevo 300, 100. 140 caracteres se for caso disso. Muito ou pouco é a parede da minha casa que estou a pintar, é a minha sala que estou a decorar, é do meu bosque particular, de portas abertas ao mundo, que eu estou a cuidar.

E o Twitter? Amigos, é o nosso ponto de encontro, o Starbucks da malta mais urbana, a tasca da malta de outros tempos. E temos piadas, e histórias, e links e directos. Temos livros e encontros, temos paixões e outras zangas… Temos musicas e letras, noites sem fim e madrugadas cheias de gente. Enquanto durar, temos Twitter.