Para fechar com chave de ouro a UXLx 2011, Don Norman deixa a audiência com um constante sorriso nos lábios…
Já alguem lhe chama o Obi-Wan Kenobi da usabilidade…

O dia de ontem foi em meeting_mode all day long. E no Porto ainda por cima e por causa das tosses. A manhã a começar cedo para saber o que isso custa. Bem, pelo menos, mais cedo do que o costume e a 300 e tal quilómetros de distância.

8 horas de reunião com uma de intervalo para reabastecer ao almoço. Quem me vier cá dizer que isso de definir menus de navegação e layouts é coisa de menor importância (e ficariam admirados com a quantidade de vezes que já ouvi tais coisas) leva um sopapo atrás das orelhas. Com força.

Bate-se na mesa, gastam-se folhas e mais folhas de flipchart, o projector já deita fumo de tão quente, litros de agua engarrafada e muitos, muitos rabiscos no papel.

Não é fácil. Uma Intranet, dezenas de milhar de utilizadores espalhados por vários países, em 3 continentes…

Misturam-se em campo a usabilidade, a arquitectura de informação, o desenvolvimento… É um mundo dentro do mundo e tal como o mundo, gira e gira e gira…

Não é dificil fazer um mundo pior. E quando o dia chega ao fim, cansado, a satisfação de que, aquele ecran, aquela funcionalidade que tanto me preocupava, já está decidida.

Ontem à tarde, enquanto testávamos no trabalho um novo interface de publicação web, reparei num documento em que o titulo estava centrado, em maiúsculas, e em que o corpo do texto se encontrava justificado às margens. Tendo em consideração o respeito que tenho pelo meu colega e pelo trabalho que desempenha (e muito bem diga-se à vontade pois sei que ele não visita este site) questionei as decisões de desenho do documento em questão. Porquê o titulo centrado? E porquê em maiúsculas? Bem, porque tudo aquilo daquela forma? Entre algumas respostas verdadeiramente corporativas saiu uma frase que me chocou: “Uma coisa que tu não podes é mudar o gosto das pessoas!”.

Quem são as pessoas?

Quantos de entre os visitantes cá do site gostam de ver títulos centrados nas páginas que visitam? E quantos de entre esses mesmos visitantes gostam de títulos em maiúsculas? Bem, sei que grande parte desses mesmos visitantes é batido nestas coisas de Internet, já andam por aqui há uns anos e coisa e tal e sabem bem o que se entendeu representar neste mundo digital com as frases em maiúsculas certo? Pois. Serão vocês as pessoas? As quais eu não posso mudar o gosto? Se calhar sim. Se eu estiver a falar aqui do meu site. A ver: Eu escrevo para mim é certo. Mas escrevo para vocês também. Vocês são a minha audiência. Mais do que uma vez eu perguntei por aqui “o que acham” sobre isto ou aquilo. O vosso gosto interessa-me. Mesmo assim, posso tentar mudar o vosso gosto. E se o fizer, posso até conseguir. Mas sei, mais ou menos, o que vocês gostam. Que mais não seja porque vos pergunto. E as pessoas a que o meu colega se referia? Será que lhes perguntaram alguma coisa?

O uso e o standard.

Como não se perguntou a toda a gente que usa a Internet qual seria a melhor forma de apresentar um documento (entenda-se documento por algo tão simples como um press release) na web, o uso foi sendo baseado em alguns standards e tornando-se assim por si mesmo um standard. A diferença entre isso e uma decisão completamente arbitrária do que deve ser a disposição dos diferentes elementos de um documento quando na web é o fundamento algo cientifico de muitos e longos testes feitos desde que o Tim Berners-Lee se lembrou desta coisa do html. Assim, alinhamos coisa à esquerda, porque os nossos olhos fazem scan às páginas da esquerda para a direita e focamos mais tempo a direita logo, é lá que colocamos o essencial. O facto de alinharmos as coisas dá-nos também uma ancora espacial tornando a leitura de qualquer documento mais fácil pois o nosso cérebro sabe onde se dirigir para o começo da leitura. Da mesma forma existem argumentos bem fundamentados para não escrever tudo em maiúsculas. Escrever tudo em maiúsculas ocupa cerca de 30% mais espaço em qualquer página e torna a leitura mais lenta e mais aborrecida.

Educar para crescer melhor

Depois de toda esta lenga-lenga a minha pergunta para a plateia: Não posso mudar o gosto das pessoas? Não devo sequer tentar? Não será nosso papel enquanto designers educar mentalidades? Não que não sejam já educadas mas abrir-lhes os olhos a novas disciplinas, a novas ideias, no nosso caso, passar do papel ao digital?