E desta vez parece que a aventura em Nova Iorque não acaba mais. Sim, para além dos relatos anteriores ainda há muito para contar. O titulo do post é claro sobre o que aqui hoje escrevo:

Comer em Nova Iorque

Já tive a oportunidade de referir a muito boa gente que comer em Nova Iorque pode ser complicado. Não que não haja o que comer. Há e muito. O problema do comer em Nova Iorque é que comer como se come por cá pode ser muito muito caro e comer mais barato não será certamente para todos os gostos. Para nós não era novidade mas mesmo assim desta feita resolvemos experimentar coisas que da outra vez não provámos.

Já na companhia do Ricardo (vão lá dar um pulo ao Mentes Brilhantes que vale bem a pena) e da Ana, logo na noite em que eles chegaram a Nova Iorque, fomos jantar ao Coppola’s. Aberto na zona de Gramercy Park (relativamente perto do hotel onde ficavam os nossos amigos) há cerca de 10 anos, este Coppola’s é a versão elegante de um outro Coppola’s aberto há mais de 20 anos no Upper West Side.

Confesso que na entrada ainda pensei se “haveria mesa” para nós. Entre engravatados de fato escuro e meninas de vestido de noite (e transsexuais – ou shemales como lhe chamam por lá – de muito boa pinta), nós os 4 seriamos os únicos de jeans por ali. Não foi impedimento. Porta aberta e uma relações públicas (loira, no topo do seu metro e setenta e muitos) recolhe os nossos casacos e logo de seguida nos indica a mesa aparentemente uma das poucas vagas na casa.

Pela mesa e ambiente em geral, bem antes da carta na mesa, já se percebia bem que não estávamos num dos restaurantes mais baratos da cidade mas como em todas as nossas viagens, há extravagâncias que se fazem por gosto pois são aquilo que levamos connosco no dia em que não formos a mais lado nenhum… E por que si. Adiante…

Para a mesa cesto de pão e azeite aromatizado. Atempadamente (dando o tempo necessário) vem a carta e o pedido da bebida. Agua como se quer, uma garrafa se faz favor, mas rapidamente reparamos que agua por agua, por lá bebem agua a copo, del cano como lhe chamamos por cá. Não me lembro o preço da garrafa mas lembro-me de na altura comentarmos que seria essa a razão da escolha dos nova-iorquinos. Mas comida italiana não combina com agua e resolvemos experimentar um Coppola’s tinto. Vinho seco da Califórnia não desapontando não deixou particular recordação.

Para entrada pedimos um Carpaccio. Fillet Mignon finamente cortado em cama de rúcula e com muito queijo parmesão ralado grosso, regado a azeite e sumo de limão. Venha mais se faz favor. Não veio mais Carpaccio mas veio uma Insalata Caprese muito bem servida de mozzarella fresca, tomates fatiados, manjericão e tomate seco regado a azeite. Igualmente muito boa.

Infelizmente não me lembro dos pratos todos que vieram para a mesa. Melhor dizendo, só me lembro do meu prato mas sei que todos nós saímos do Coppola’s com a mesma opinião: Grande restaurante. Ora bem, o meu prato foi então algo chamado Linguine Fine all’Aragosta que é como quem diz, massa linguine de ovo e de espinafres, servida sobre uma lagosta aberta, camarões descascados e cortados tamanho família, e temperada com um molho à base de vodka. Será preciso dizer mais? Acho que sou capaz de lá voltar porque tão cedo não esqueço aquele prato de tão bom que estava.

E sim, para os que possam perguntar sobre o teste do algodão, ou seja, sobre se o garoto veio efectivamente claro digo-vos que, não só veio para a mesa um café com leite muito claro como o expresso foi dos melhores que por Nova Iorque bebi.

Comida, bebida e… Música.

É em Nova Iorque que fica senão o mais famoso, um dos mais famosos bares de Jazz do mundo: O Blue Note. Já há mais de 25 anos que este bar em Greenwich Village faz as delicias de todos quantos apreciam “aquela música maluca”… Já na nossa anterior viagem a Nova Iorque por lá tínhamos passado mas desta vez decidimos lá voltar e para além do espectáculo, apreciar também o famoso jantar Blue Note.

Apesar de termos feito reserva ainda que tivemos que esperar à porta. O Blue Note tem espectáculos às 8 da noite e às 10. Como tínhamos as reservas para o espectáculo das 10 tínhamos que esperar o vagar das mesas. Compensa. Antes isso do que ir ao espectáculo das 8 e sair à hora certa para dar lugar a quem vem…

Assim que entramos, casacos no bengaleiro (a 1 dólar cada) e de imediato somos levados à nossa mesa. Ao longo da noite verificámos que aquela talvez não fosse a “nossa” mesa uma vez que houve grande disputa da mesma por clientes aparentemente regulares e dispostos a pagar… Ainda assim lá ficamos, naquela que aparentemente era a melhor mesa da sala.

A simpatia fez-se notar na jovem que servia a nossa mesa: Ciryl acho eu. A loira sabia agradar com um sorriso e a meter conversa. Calamares de entrada em boa dose para quatro e acompanhado por um Rioja, Loriñon Reserva 2003 na esperança de algo parecido com o nosso tinto. Os calamares estavam óptimos mas o Rioja deixou muito a desejar. Ainda a musica mal tinha começado e já estávamos a pedir a segunda rodada. Desta vez optámos por um tinto californiano e ao escolhermos um Calix Cellars 2004 Syrah diz de imediato a Ciryl que foi muito boa escolha e certamente iríamos gostar. Não nos enganou. Entre o travo a chocolate e o gosto do carvalho este vinho de Napa Valey é uma verdadeira surpresa. A produção de Calix Cellars 2004 Syrah foi de 510 caixas de 6 garrafas cada. Já não há mais.

Vem a comida para a mesa e posso dizer-vos que quase certamente comi no Blue Note um dos melhores bifes da minha vida. E ao mesmo tempo começava o espectáculo. Bill Frisell e os seus convidados ofereceram-nos duas horas do melhor saxofone, piano, guitarra e bateria que se pode desejar. Como extra um fantástico espectáculo de sapateado de improviso que nos lembra estarmos na cidade das oportunidades em que, mais do que em qualquer outro sitio, os talentos estão ali, ao virar da esquina…

A noite no Blue Note acabou de bom modo, para nós e para a empregada que, ao contrário do que pensava a Ana, sempre levou mais do que a gorjeta obrigatória.

E se for assim mesmo à americana?

Cada vez que falo em comida e Nova Iorque é certo que alguém me vai falar em McDonalds. Acreditem que a presença da marca não é assim tão visivel quanto e se calhar, mais à americana do que uma ida ao McDonals será uma ida ao Dallas BBQ. E é bem difícil não dar por ele em Times Square. O espaço é enorme mas muito organizado com empregados que através de inter-comunicadores identificam mesas vagas e gerem o fluxo de clientes. A primeira coisa que se nota é o destaque que se dá às Margaritas. É tanto que não resistimos à tentação. Preparem-se: Copos gigantes com uma bola de sorvete ao meio e ainda acompanhados por uma pequena proveta com uma dose adicional de Tequilla. Duas são um perigo.

De entrada vieram para a mesa o que chamam de Crabcakes. Famosos por aquelas bandas, estes bolinhos de caranguejo tal pasteis de bacalhau, não são nenhuma especialidade. Comem-se. O que veio depois, isso sim, é de regalar os olhos e pensar se cabe tudo. Uma vez mais só me lembro do meu prato (deveria dizer: travessa?) mas penso que seja suficiente para terem uma ideia: Um enorme bife de vaca, rodeado de algumas tiras de entrecosto e grandes camarões fritos a acompanhar. Tudo isto sobre uma cama de pão de milho e palitos de batata doce frita. Um dado a reter sobre o Dallas BBQ: é um dos sítios onde se come “barato” em Nova Iorque.

Ainda sobram mais umas incursões gastronómicas para revelar mas ficam para outro dia que o texto já vai longo. Mais uma vez, o relato sobre Nova Iorque continuará num outro post, no sitio do costume: aqui.

E eis que o relato da nossa mais recente viagem a Nova Iorque continua (iniciou em Férias em Nova Iorque outra vez (ou New York 2008)). Desta feita, uma Nova Iorque mais além, além de Times Square e das ruas movimentadas, além das limusinas e das montras de Natal.

O Brooklyn… Para além da ponte.

Já tínhamos ido até Brooklyn na nossa anterior visita a Nova Iorque. Atravessámos a ponte, passeámos um pouco, comemos num daqueles bares típicos de bancos corridos e lá estávamos de volta a Manhattan. Desta vez o passeio foi diferente. Um Brooklyn mais profundo, mesmo lá no fundo (o que viria a ser um padrão nos passeios seguintes). Resolvemos visitar o Brooklyn Botanic Garden. E acreditem que vale a pena.

Lá longe, numa América já diferente, num daqueles cruzamentos entre uma bomba de gasolina e uma casa de fast-food, o jardim botânico do Brooklyn proporciona um passeio agradável entre árvores, esquilos e estufas muito bem cuidadas. É de salientar a forma original como varias estufas representando diferentes ecossistemas estão interligadas em estrela através do núcleo desta onde o visitante pode descansar e comer qualquer coisa num prazenteiro café…

At the Brooklyn Botanic Garden (XII)

É efectivamente um mundo à parte. Exceptuando alguns locais que aparentemente aqui têm o seu ponto de encontro, há curiosos das ervinhas e estudantes. O turismo passa noutra estrada.


Antes do regresso a Manhattan, uma paragem num Donkin Donuts local. Entre uns divinais (sim, eles são mesmo bons) Donuts e mais um Hot Chocolate (que não é o do Starbucks mas enfim, o bolo compensa) eis que a Susana olha para a janela e exclama com declarado ar de espanto: “Olha um branco!”. Já há algumas horas que não se via nenhum…

Duma ponta à outra. O Bronx também nos recebeu…

Apesar das dúvidas de um casal amigo sobre a nossa segurança, estávamos decididos a ter uma visão alternativa da cidade que nunca dorme. Ao fim e ao cabo, tudo ali faz parte do nosso imaginário. Uma visita ao Bronx desta vez não nos escapava.

O Metro é o melhor amigo de quem visita Nova Iorque e que o diga quem for até ao Bronx. Assim para terem mais ou menos uma noção da distancia, Times Square fica na rua 42 e o local para onde nos dirigíamos fica na rua 180. A viagem demora muito tempo e à medida que vamos subindo é fácil entender que estamos a entrar quase noutra dimensão. Primeiro são as pessoas no Metro que vão mudando e depois a paisagem circundante. Mais uma vez, a Nova Iorque dos filmes… De alguns daqueles mais underground

Estávamos longe, muito longe. Mais uma vez, quase não se vê ninguém. Estradas largas e cruzamentos com muitos stands de automóveis daqueles à americana. “Compre aqui e faça o melhor negócio da sua vida” e tudo com muita luzinha de natal… Tentámos perguntar por direcções. Foi difícil. Difícil encontrar quem falasse inglês. A certa altura deu para entender que nos safávamos melhor com um espanhol arranhado ou até em português

O destino era o New York Botanical Garden. O enorme jardim botânico de Nova Iorque é famoso pelo seu papel no estudo da ciência botânica desde 1891 e costuma com alguma regularidade apresentar algumas exposições que lhe dão um encanto adicional.

Este ano, para além da exposição de obras do escultor Henry Moore espalhadas por todo o jardim, tivemos a oportunidade de visitar uma pequena exposição no edifício central sobre o Crisântemo na arte japonesa e, a principal atracção da época, The Holiday Train Show. E acreditem que não é propriamente uma brincadeira de crianças mas encanta igualmente miúdos e graúdos.

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O The Holiday Train Show é, de uma forma muito resumida, uma exposição de cerca de 150 miniaturas de edifícios e monumentos famosos da zona de Nova Iorque mas completamente feitos com pedaços de plantas, pequenos troncos, galhos, folhas e até frutos. Tudo isto magnificamente iluminado e com vários pequenos comboios que constantemente apitam avisando da sua passagem… É difícil descrever o quão espectacular é esta exposição e como tal aconselho vivamente uma passagem pelo site da mesma.

Não pensem que este passeio (a visita à exposição) se faz assim ao de leve. Tamanha foi a espera para a entrada que deu para conhecermos um divertido casal do Connecticut e com eles debatermos durante algum tempo temas tão dispares como o frio, os hotéis da cidade e a corrupção na politica… Coisa pouca.

O jardim botânico estava agora cheio de visitantes. Não se iludam. Muito poucos turistas e desses muito poucos estrangeiros. Aquilo funciona mais como passeio de fim-de-semana, sitio agradável… Os turistas estão todos lá em baixo. No Macys e na 5ª Avenida…

Ainda no jardim botânico de Nova Iorque conhecemos um outro simpático casal mas este mesmo dali, do Bronx. E com pinta disso. Deu para entender que, no outro lado do mundo encantos simples funcionam juntos dos mais novos da mesma forma que aqui em Portugal. Assim como a Patrícia aprende palavras em Inglês com os desenhos animados da Dora, também o filho deste casal aprende palavras em Espanhol com os mesmos desenhos animados.

Foi igualmente curioso verificar que este casal tem com o filho (mais novo do que a Patrícia pois ainda não tinha 3 anos) a mesma atitude que nós temos com a nossa quando ela cai ao chão… Entre festas e aplausos a mensagem a passar é que quando caímos só há uma coisa a fazer: levantar.

Já de noite, o passeio estava terminado. A ideia de voltar a correr as ruas do Bronx e desta feita, mal iluminadas, não nos pareceu a melhor mas se não houvesse alternativa… O tal casal de locais informou-nos que mesmo ali junto a uma das saídas do jardim existia uma estação de comboio que nos punha na Grand Central em 20 minutos. Assim foi. Um frio de rachar e mais uma historia no livro das recordações…

Muito em breve, o relato continua.

Continuando o relato sobre a nossa mais recente viagem a Nova Iorque (iniciado em Férias em Nova Iorque outra vez (ou New York 2008)) seguem mais alguns dos momentos a registar.

Fast Food em Nova Iorque? Nem por isso.

T.G.I. Friday’s (a significar, dizem eles, Thank Goodness It’s Friday). Há vários espalhados por Nova Iorque. Há dois anos experimentámos o de Times Square e desta feita visitámos (mais do que uma vez) o da 9ª Avenida. Sim, é uma cadeia de comida mas não tem nada a ver com os hamburgers do Donald’s.


Tem hamburgers é certo mas também tem mais coisas… Bifes. E entrecosto. E muito, muito, molho Jack Daniels… E é bom e bem servido. Mas nota à navegação: Em Portugal eu nunca pagaria o que eles por lá pedem para comer um hamburger. O T.G.I. Friday’s também é famoso em Nova Iorque (que já agora, é a sua cidade de criação e não algures no Sul dos Estados Unidos como muita gente pensa) por servir bebidas alcoólicas. E não deixa de ser engraçado quando nos avisam logo ao fazer o pedido que, posteriormente, virá junto à mesa o responsável da casa para pedir a nossa identificação. Yeap. Uma cervejinha, um BI ou passaporte se faz favor…

Times Square. Tudo o que sempre vimos e mais ainda.

Em Times Square sentimos a falta do Naked Cowboy. É difícil não dar pela ausência de um tipo em cuecas (slips e não boxer’s atente-se) com um para de botas calçado e um chapéu de cowboy a tocar viola no meio da estrada… Em compensação andavam por lá estátuas da liberdade de óculos escuros. A praça só por si é um espanto e depois tem sempre pequenas surpresas para quem as quiser ver. Falando nisso, quando por lá passarem não deixem de ir à casa de banho. Sim, leram bem, à casa de banho. Metam-se na fila, preparem-se para as fotos e para os aplausos e lá vão direitinhos às melhores casas de banho que se podem encontrar nas redondezas. Charmin Restrooms. Vão ser difíceis de falhar.

Ainda na famosa praça de Nova Iorque mais dois pontos de visita obrigatória para o turista que quer levar umas lembranças lá para casa. Ambos doces, cada um à sua maneira e igualmente impossíveis de passarem despercebidos tamanha a publicidade que Times Square lhes dedica: A loja M&M’s e a Hershey’s.

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Ainda que não seja grande apreciador de M&M’s (não me lembro da ultima vez que comi um) há que dar a mão à palmatória no que se refere à grandiosidade com que eles nos são apresentados em Times Square. Os ecrãs gigantes com animações super coloridas são visíveis em quase toda a praça. A loja é enorme. São dois andares dedicados aos famosos amendoins cobertos de chocolate onde podemos encontrar de tudo desde os ditos até roupa de cama, cuecas, loiças, brinquedos, o que quer que seja em que se possa imaginar impressa a famosa marca de chocolates.

Já a Hershey’s é um bocadinho diferente. Grandiosa no seu género, vive mais do chocolate do que da tralha comercial à sua volta. Ainda que existam mil e uma caixa e caixinhas, sacos e saquetas, todas elas têm como objectivo carregar os famosos Hershey’s Kisses. E garantidamente vale a pena vir de lá carregado com alguns desses beijos de chocolate.

Um passeio a Bryant Park. Uma nova zona favorita.

Mesmo perto do hotel onde estávamos, entre a Rua 40 e a 42, entre a 5ª e a 6ª Avenida fica Bryant Park. No meio de todo aquele vidro e betão, um pequeno parque que nos dá vida verde e descansa os olhos a quem já muito correu pela cidade. Tal é o encanto deste espaço que Bryant Park se tornou o sitio de eleição para muitos nova-iorquinos irem almoçar sentados nas mesas por ali espalhadas com as suas caixas de plástico ainda fumegantes saídas dos Déli’s mais próximos.

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Flores, árvores e até um carrossel dos antigos dão um encanto especial ao espaço. É claro que em Dezembro (como quase tudo em Nova Iorque) brilha de forma diferente. Uma enorme pista de gelo mete toda a gente a patinar de manhã à noite. E sim, eles vão mesmo de fato e gravata para o meio da pista com os patins nos pés, descomprimir à hora de almoço… Também nesta altura do ano Bryant Park acolhe um grande mercado com cerca de 100 lojas de artistas vários, artesanato e comida. Mais uma grande oportunidade para adquirir algo único que não pudemos desperdiçar.

Canadá? Porque não? Estamos em Nova Iorque certo?

Foi ainda em Bryant Park que tivemos outra daquelas situações que só nos filmes. Junto ao espaço do parque estava uma grande tenda montada com gente a entrar e a sair… Curiosos como somos quando estamos de viagem não passávamos sem saber o que ali havia. Tratava-se de uma acção do Turismo do Canadá a promover as viagens de Inverno ao pais vizinho. Entrámos e tiraram-nos uma fotografia num painel croma com um fundo à nossa escolha para posteriormente fazermos o download num endereço web. Até aqui tudo normal. À saída questionaram-nos sobre o nosso pais de origem e quanto tempo estaríamos ainda em Nova Iorque. A resposta talvez lhes tenha agradado uma vez que nos ofereceram duas entradas VIP para um evento também patrocinado pelo Estado do Canadá a realizar-se no Celsius Canadian Lounge, um bar ali mesmo em Bryant park. Ora com isto acabámos por ganhar uma bela massagem ao final do dia e ainda dois copos de cidra quente que para nós foi novidade. Acompanhado por uma óptima vista e boa música foi um belo fim de tarde.

Ora, os relatos desta nova viagem a Nova Iorque seguem assim que possível… Até lá, novas fotos no Flickr

E eis que a promessa se cumpriu. Dois anos depois da nossa primeira viagem a Nova Iorque voltámos à Big Apple. O regresso a New York City estava destinado desde o dia em que regressámos de lá em 2006.

A viagem começou logo com alguns contratempos. Não connosco mas com um casal amigo que se preparava para nos acompanhar. No check-in descobriram que um deles não tinha passaporte electrónico e como tal, para entrar nos Estados Unidos necessitava de um visto da embaixada norte-americana. Também não o tinham. Ao Sábado não se emitem passaportes e este era um fim-de-semana grande. Antes de Terça-feira nada de Nova Iorque para eles. Lá os esperaríamos…


Já no avião a primeira história a recordar. Atrás de nós vai um casal a ler em voz alta indicações sobre a cidade que não dorme. Moeda, saúde, transportes… Comento com a Susana que deveria ser certamente a primeira vez que iam a Nova Iorque. Algum tempo depois, as leituras estavam aos poucos a tornar-se familiares e muito além da informação genérica sobre a cidade… Não, eu estava mesmo a reconhecer o tom da escrita. Virei-me para trás e com a descontracção do costume pergunto ao leitor se tinha tirado o texto de algum site na Internet ao que este me responde que sim, de um tal de browserd.com. Inchei. Referi que era eu o autor e de imediato fui questionado sobre as aventuras com o Marçal, a Maria José e a trupe da viagem anterior… Sabe bem. Muito bem.

A entrada no pais é a versão moderna da chegada a Ellis Island que nos habituámos a ver nos filmes… Filas e filas em curva-contracurva para chegar a um balcão onde somos questionados sobre o nosso destino, objectivo da viagem, fotografados e com direito a recolher (pelo menos é de forma digital) as impressões digitais… Passada esta fase, venham as malas e tal a vontade de chegar, direito aos chamados Shuttles que numas carrinhas Ford de 7 lugares e bastante confortáveis nos levam aquecidos até à porta do hotel.

Onde ficar em Nova Iorque

Desta vez o planeamento começou com quase um ano de antecedência. Ainda que o Madison Hotel nos tenha agradado, a ideia de poder fazer algumas refeições em casa era muito apreciada. Parecendo que não sempre se poderiam poupar alguns dólares. Um aparthotel seria o ideal.

Já na nossa visita a Nova Iorque em 2006 tínhamos contactado o Ipanema Chalet na tentativa de lá ficarmos mas não foi possível. Só tentámos com 6 ou 7 meses de antecedência e para Dezembro em Nova Iorque isso é o mesmo que tentar em cima da hora. Desta feita contactámos o Ipanema Chalet logo em Janeiro e em Fevereiro fizemos a marcação.

O Ipanema Chalet fica na zona de Nova Iorque a que chamam de Little Brazil, na Rua 46 (46th Street) mesmo na esquina com a 5ª Avenida e do outro lado da rua, a famosa Times Square. Por outras palavras, dificilmente se arranjaria melhor localização. Táxis a toda a hora e estações de Metro por todos os lados.

Na chegada como não víamos ninguém entrámos no Ipanema Restaurante que fica mesmo na porta ao lado. Identifico-me ao Maitre que de imediato me entrega a chave da entrada e um pequeno envelope com o código da porta do quarto. Nesse mesmo envelope uma nota de boas vindas do dono do hotel e um recado para que nos encontrássemos no dia seguinte para tratar da burocracia.

Ao entrar conhecemos o Sr. João, empregado do hotel que nos ajuda a levar as malas ao quarto e nos fala sobre os horários das limpezas. Simpático e bem-educado dá um toque quase familiar ao local.

O quarto era espaçoso. Cama, roupeiro, casa de banho, mesa de refeições/secretária, cadeirão para repouso, e tv. Para além disso o esperado forno micro-ondas, placa de fogão e um frigorífico. Lava-loiças e armários equipados. A Susana reparou que, ao contrário do Madison Hotel, aqui não havia aquecimento central mas sim um aquecedor a óleo. Ainda receou que não fosse suficiente mas revelou-se esforçado e eficiente.

Se a tudo isto juntar-mos um dos melhores senão o melhor preço de Nova Iorque em Dezembro, está explicada a nossa escolha.

A primeira saída

At Hard Rock Café New YorkTal como na primeira noite em Nova Iorque há 2 anos atrás, foi só largar as malas e rua. Combinámos encontro em Times Square com o nosso amigo Zé Manel e a namorada, Rute. 6 graus negativos e a coisa prometia. Uma vez mais, Hard Rock Café New York. Ainda que os hambúrgueres sejam mais do mesmo as Orange Margaritas e os nachos são efectivamente muito bons. Tal como dantes, uma hora de espera mas felizmente de forma confortável nos famosos sofás da casa. Comprova-se pelos preços que o Hard Rock Café vive essencialmente dos turistas. Levem a carteira cheia.

Estávamos muito cansados da viagem e a noite já ia longa. Combinámos encontro para o dia seguinte às 7 da manhã. Se queríamos finalmente conseguir assistir a uma celebração na Abyssinian Baptist Church tínhamos que ir muito cedo. São às centenas as pessoas a quererem um lugar na área reservada aos turistas na mais famosa celebração com coros de Gospel de Nova Iorque.

A manhã seguinte: Domingo em Nova Iorque.

Muito muito cedo lá nos encontramos em Times Square e fomos de Metro para o Harlem. Preparem-se para uma longa viagem mas o facto de haver Metros Expresso (que em vez de pararem em todas as estações por vezes passam 10 ou 15 sem parar) ajuda bem.

Ainda que muito diferente do Harlem dos filmes americanos da década de 70 (sim, anda-se nas ruas sem ser pelo meio de gangs e traficantes) a cada passo é fácil recordar tais cenas tal é o impacto visual da área e dos seus habitantes.

Chegámos à igreja cerca das 8 da manhã mas ao contrário do que pensávamos a fila de turistas para a missa das 9 já era bem longa. Com mais gente do que aquela a quem seria permitida a entrada… Mas já lá estávamos e desta feita haveríamos de entrar… Nem que fosse na missa das 11.

Bem dito e melhor feito. Perto das 9 horas começou a azáfama dos seguranças a contarem as pessoas e a avisarem quanto a coerência da fila. Também lá apareceram os fura-filas do costume mas a força da fé (ou melhor dizendo, das vozes que rapidamente se fizeram ouvir acompanhadas de ferozes punhos no ar) manteve a linha direita. 10 ou 12 espanholas loucas e mais uma família de iguais origens (ainda que não aparentando a mesma loucura) estavam ainda à nossa frente quando somos avisados que teríamos que aguardar pela missa das 11.

The man with the red shoes4 graus negativos. Ajudava a musica que o preto (convenhamos, é este o termo correcto. Aliás, por terras do Tio Sam chamar negro a alguém dá direito a prisão) do sobretudo vermelho (a combinar com os sapatos) e óculos escuros vendia ou tentava vender na banca de rua ali montada.

As espanholas da frente desistiram de imediato. Tinha jogo dos New York Kniks ao meio-dia e já não dava tempo. Com isso estávamos a 4 dos lugares da frente. Suportássemos nós o frio e a entrada estava garantida.

Eis que para uma limusina. De lá sai uma daquelas figuras que só vemos nos filmes. Uma senhora preta já de uma certa idade, muito, muito alta, de casaco de peles até ao chão, bengala numa mão e mala na outra. Dirige-se em passo apressado (no que a idade ou saúde lhe permitiam) à fila onde nos encontrávamos. Diz qualquer coisa que não entendo ao pequeno grupo de espanhóis à nossa frente mas, como grande parte dos espanhóis que conhecemos, estes não entendiam nada de inglês. Pelo menos daquele inglês com acentuada pronuncia da zona.

Percebendo que a senhora parecia estar a pedir ajuda para algo, sai da fila e dirigi-me a ela perguntando se a podia ajudar em algo. Disse-me de imediato enquanto me passava a mala para a mão: “Sim, leva-me á igreja. O motorista hoje não podia porque tinha que ir…” Já não ouvi confesso. A perspectiva de não passar as próximas duas horas a congelar na rua toldaram-me por completo os ouvidos.

Perguntou-me então a dita senhora se eu estava sozinho ao que respondi que não, que estava com a minha mulher e um casal amigo. “Então chama-os para virem contigo – disse ela – hoje serão meus convidados para a igreja.”.

Isto parecia mentira. Ali estávamos nós, a sair da fila, eu a carregar a mala e a Susana já de braço dado com a nossa benemérita. Passámos a primeira porta da igreja e passámos ainda a segunda. “Essa não a minha porta” – disse ela com um certo ar de altivez enquanto chegávamos a uma terceira porta ladeada por dois seguranças. Fez sinal para indicar que estávamos com ela e lá entrámos finalmente.

Lá dentro apanhámos um elevador e em certa altura diz-nos a referida senhora que a nossa paragem era ali. Saímos e eis senão quando nos encontramos no meio da comunidade. Não no espaço reservado aos turistas, lá atrás. Estávamos ali, no meio da coisa.

A celebração foi o que esperávamos. Animação e alegria (ao invés de tristeza amargura e pecados por todo o lado). Falava-se do que é bom e também do que é mau mas sempre na perspectiva de que o mau se tentará remediar e não só que devia ser castigado… É diferente. Ao fim de uma ou duas horas é fácil entender porque vão lá aquelas pessoas, sempre com boa cara, dispostas a ouvir e a partilhar. O Gospel? Sim, também lá estava mas o sermão batia-o aos pontos.

Para finalizar o relato desta nossa manhã fica ainda uma nota tipicamente portuguesa. A certa altura reparei que junto a nós estava mais um casal de jovens e que, falavam português. Estranhei pois não havia por ali mais ninguém que não “se enquadrasse” por completo. Perguntei como tinham entrado e a resposta foi clara: “Entrámos atrás de vocês. Quando percebi o que passava virei-me para ela e disse-lhe que viesse sem dizer nada. Aqui estamos.”.

O relato da nossa viagem a Nova Iorque continuará em breve. Por hoje já vai longo não vos parece?

Update: O relato continua em Férias em Nova Iorque outra vez (ou New York 2008) II.