Talvez já tivesse passado pelo meu olhar, algures no passado, uma qualquer referência ao festival Burning Man (é bem provável considerando que existe desde 1986 e, de alguma forma está próximo de alguns dos meus temas de interesse) mas só este ano, numa aula de Cultura Pop (lecionada pelo Professor Dr. Jorge Rosa no âmbito do Mestrado em Culturas Contemporâneas e Novas Tecnologias da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa – fiquei cansado) lhe dediquei mais atenção, aquando da apresentação por parte de uma colega minha, de um trabalho em torno deste festival.
Mas o que é o Burning Man?
Para quem não conhece, trata-se de um evento que se realiza nos Estados Unidos, mais precisamente no Black Rock Desert ao norte do estado do Nevada onde, entre a ultima segunda-feira de Agosto e a primeira de Setembro, dezenas de milhares de pessoas se juntam para criar uma cidade efémera, como refere a organização, uma metropole temporária, dedicada à arte, à expressão pessoal e ao espirito de comunidade, com a grande particularidade de que, quase tudo nesta “cidade” é construído pelos seus “cidadãos” que se tornam assim, mais que simples visitantes, colaboradores activos do espaço desde a sua génese.
Todo o conceito se encontra envolto em inúmeras polémicas que vão desde o seu propósito (será uma expressão contra-cultura, um ataque ao estilo de vida capitalista, um espaço de puro niilismo?) até à mais recente “apropriação” por parte de grandes corporações, de espaços reservados a visitantes VIP, com direito a tratamento diferenciado onde, e citando uma participante, “em vez de re-educar o 1%, o espaço só serve para reforçar as divisões de classes no mundo real“, mas, independentemente disso, independentemente da forma como queiramos olhar e entender o evento, há um dado a que não passará alheio quem se debruce um pouco que seja sobre o Burning Man: é um espaço com uma imagética única, de uma riqueza visual extraordinária.
Burning Man, um espaço para Hippies?
Ainda que constantemente seja associado à estética (enquanto experiência do sensível, o que, neste caso em particular muito se adequa sem distinguir sentidos) hippie, o Burning Man é essencialmente, e como dá a entender Brian Doherty no seu livro This Is Burning Man: The Rise of a New American Underground, um espaço que podia ter saído de Mad Max, um espaço mais próximo de uma distopia futurista onde punks, cyberpunks, technopunks, steampunks e, como li algures, punk punks, vivem sabendo que o mundo lá fora é outro, com regras e ordens mas que ali, em Black Rock City, se podem esquecer delas (ainda que, como em qualquer distopia que se preze, esse esquecimento, essa liberdade, seja só uma ilusão).
Todo este ambiente contribui para a tal imagética que, só por si, faz do Burning Man um evento a considerar. Foi o que fez Erica Kelly Martin, fotografa que, tendo um entendimento bastante diferente do meu relativamente ao evento, registou imagens fantásticas que nos deixam com vontade de conhecer mais sobre o tema.
O Burning Man foi-me lembrado por um artigo no Lenscratch mas podem ver mais do trabalho de Erica sobre este evento no seu blog e no seu site pessoal.
O questionário em questão tem algumas falhas. Algumas mais graves (como me referiu o António da Veiga Teixeira, o facto de levantar juízos logo na apresentação do questionário) e outras menos graves (como o facto de não questionar idade ou género) mas que assumi como de menor relevância para o estudo em questão.
Aparentemente, foi uma boa ideia esta de fazer um questionário e divulgar o mesmo pelas redes sociais uma vez que, ao fim de uma hora, contava já com cerca de 60 respostas e, no final do dia este valor tinha quase triplicado. Aparentemente, ninguém (menos o Luis) se incomodou com o teor das questões ou com o objectivo das mesmas. Pelo menos, não o suficiente para deixarem de responder.
Quando partilhei o respectivo questionário num determinado grupo de amigos, o Luis insurgiu-se de imediato. Não responderia ao meu questionário pois eu obrigava a que ele escolhesse entre adquirir uma fotografia do Instagram (um ficheiro digital) ou uma impressão dessa mesma fotografia. A questão a que o Luis se referia é esta:
Para o Luis, esta questão não tinha qualquer sentido. Eu deveria ter dado a possibilidade de responder “Nenhuma”.
Vamos por partes. Eu não tinha qualquer interesse em que me respondessem outra coisa que não uma das duas hipóteses apresentadas. Num estudo sobre se os consumidores preferem o Facebook ou o Twitter, não tem qualquer sentido colocar a hipótese Instagram. O estudo pretende saber a preferência entre Facebook e Twitter. Da mesma forma, num estudo em que se pretende saber qual será a preferencia dos utilizadores entre a impressão de uma fotografia e essa fotografia num ficheiro digital, não tem sentido colocar qualquer outra hipótese.
Por mim, eu deixaria ficar o assunto assim. Ainda que o Luis ficasse na dele, eu ficava na minha e, considerando que o inquérito, tal como estava, respondia à necessidade, ficava bem.
Mas eis que a coisa se complica, que a trama se adensa. Não satisfeito, na conversa que mantínhamos, o Luis justifica o seu argumento com a questão “Porque haveria eu de pagar por uma coisa que é pública?”.
Explicações dadas sobre o facto de haver uma grande diferença entre direito de exibição e propriedade, por mim, uma vez mais, a coisa ficaria por ai. Uma fotografia colocada no Instagram não passa automaticamente ao domínio publico. Uma fotografia colocada no Instagram tem um autor e esse autor tem direitos sobre ela (independentemente dos direitos que passa à rede social em que a publicou).
Uma vez mais, o Luis não fica satisfeito e, desta feita em hasta “mais” publica (que o forum em que o tal grupo de amigos se reune é privado), publica o seu post, onde começa por referir que o primeiro problema do meu questionário é “alguém achar que uma foto no Instagram terá qualquer valor para além de aparecer num ecran minúsculo ou numa página web.“.
Ora bem, eu penso ter sido claro quando referi no cabeçalho do questionário:
com este pequeno questionário pretendo ter uma visão mais concreta da utilização que se faz da rede social online Instagram e também do valor (se é que algum) que os utilizadores da rede atribuem às imagens fotográficas que nela visualizam e ou publicam.
Começando por aqui, há que notar que o termo valor não pode ser entendido única e exclusivamente como um valor pecuniário. Pensava eu que esse tema já tinha ficado bem esclarecido anteriormente, quando escrevi sobre a questão dos argumentos de valor da Fuji, que se não me engano, o Luis também leu.
E mesmo que de dinheiro se tratasse, a questão de uma fotografia publicada online não deve ser tratada com tamanha leviandade. Como referi anteriormente no post sobre os direitos de autor no Facebook, os direitos de autor continuam a existir após a publicação de um conteúdo online e com eles, um valor intrínseco dos conteúdos publicados que pode, se assim for desejado pelo autor ou por quem lhe queira atribuir valor, ser expresso em dinheiro.
Ainda que o termo “baseada” se limite à impressão em grande dimensão da fotografia original e alguns comentários, esta obra “baseada” é por si, uma obra original.
Toda a polémica que desde a inauguração da exposição de Richard Prince em Nova Iorque se levantou, tem por base os tais valores que o Luis acredita não existirem.
Como poderão imaginar, teremos aqui muito por onde falar, discutir… E o meu questionário, assim como o artigo que espero escrever, vem precisamente no sentido de dinamizar essa discussão.
Mas aparentemente, o problema do Luis era ainda outro:
O Pedro está a forçar-nos a ter que responder a uma questão, quer nós concordemos em “comprar uma foto no Instagram” ou não.
Ora bem, não só não forço ninguém (diacho, só responde ao questionário quem quer) como a minha questão não é de todo se compram fotografias no Instagram ou não. Volto a repetir, caso alguém não tenha ainda percebido, o que desde já afirmo, tenho dúvidas:
Se pelo mesmo valor pudesse adquirir uma fotografia do Instagram (ficheiro digital) ou uma impressão dessa mesma fotografia, qual escolheria?
O ficheiro digital?
A Impressão?
Se podia ter escrito “quisesse” em vez de “pudesse”? Claro. Ainda assim, não deixaria de ter sentido pois o “Se” manter-se-ia no inicio da frase. Se incluía uma terceira opção? Claro que não pois não teria qualquer sentido sendo que a escolha é entre as duas opções apresentadas.
Diz também o Luis “sim, porque o Pedro acha MESMO que eu vou dar dinheiro por algo que “apareceu” numa rede social.“. Não Luis, não acho. Aliás, agora tenho a certeza de que não o farás. Mas, isso não invalida que o pudesses fazer assim como de forma alguma invalida que muita gente o possa fazer.
Se o problema do Luis, no final de contas, for a obrigatoriedade de resposta (“…ser forçado a responder algo em que eu não concordo com nenhuma das opções apresentadas“) então a conversa é ainda outra pois o Luis deverá entender, que há respostas que invalidam outras respostas ou até mesmo a globalidade de um qualquer estudo e como tal, cabe ao investigador minimizar esse risco.
Chego a perguntar-me se o problema, mais do que com a obrigatoriedade da resposta, não será com o facto de eu ter feito uma pergunta pois escreve o Luis a certa altura:
…e não concordo com tal obrigação de resposta, até porque se olharmos para o título do questionário é claro que o Pedro está interessado em perceber se há ou não valor de uma foto publicada no Instagram.
Esperem. A ver se consigo entender. O Luis não concorda com o facto de eu pedir uma resposta a uma pergunta, num questionário onde só responde quem quer, porque a razão pelo qual o faço está bem explicita no titulo do meu questionário?
Sim. Eu procuro saber se há ou não valor numa fotografia publicada no Instagram.
Mas será isso razão para eu não perguntar o que quer que seja?
O Luis termina o seu post argumentando que, se é relevante para mim saber se as pessoas encontram valor numa fotografia publicada no Instagram, então eu deveria permitir a quem responde ao meu questionário, dizer-me que não dá qualquer valor a uma fotografia proveniente dessa rede.
Aparentemente eu poderia fazer isso perguntando:
Se pelo mesmo valor pudesse adquirir uma fotografia do Instagram (ficheiro digital) ou uma impressão dessa mesma fotografia, ou nem uma coisa nem outra, qual escolheria?
É claro que eu poderia também ter perguntado algo como “Compraria uma fotografia no Instagram?” mas isso, tal como a possibilidade acima, não adiantava muito ao objectivo que tento alcançar com a pergunta original, que é na realidade, comparar o valor que se dá a uma imagem enquanto ficheiro digital e a essa mesma imagem quando impressa.
E sim, no final de toda esta conversa, descobri mais um erro no meu questionário ou melhor dizendo, nas premissas que me levaram ao mesmo. Parti do pressuposto de que alguém que não encontre qualquer valor numa imagem publicada numa rede social, depois de ler o iniciado do meu questionário, não iria ter qualquer interesse em responder ao mesmo. Ou talvez até tenha partido do pressuposto de que não encontraria quem não encontrasse qualquer valor numa imagem publicada numa rede social.
Mas ao fim e ao cabo, talvez seja esta uma das razões que me leva a ter tamanho interesse por este mundo das pessoas, da comunicação e da comunicação das pessoas nas redes sociais. Porque me surpreende a cada dia que passa.
*ou “‘Como responder a um post num blog que não permite comentários”.
Fazer as coisas “ficarem mais próximas” é uma preocupação tão apaixonada das massas modernas como a sua tendência a superar o caráter único de todos os factos através da sua reprodutibilidade. A cada dia fica mais irresistível a necessidade de possuir o objeto, tão perto quanto possível, na imagem, ou antes, na sua cópia, na sua reprodução. A cada dia fica mais nítida a diferença entre a reprodução, como ela nos é oferecida pelas revistas ilustradas e pelas atualidades cinematográficas, e a imagem. Nesta, a unidade e a durabilidade se associam tão intimamente como, na reprodução, a transitoriedade e a repetibilidade.
Walter Benjamin
Sendo um desabafo meu, poderia ser esperado que tivesse um intento, um claro objectivo, radicalmente, um alvo.
Não tem. Não agora, não aqui. Serve essencialmente para me lembrar que não desisto, para me lembrar que aprendi cedo que o poder se conquista e que, mesmo que várias formas possam contribuir para tal, umas terão mais valor que outras e dependerá dessas o respeito que o poder nos merece, logo, a força do mesmo.
Ainda na minha aventura de experimentar a Fuji Instax, continuo a andar com ela na mala todos os dias, na esperança de me lembrar que ela ali está quando me cruzar com um daqueles momentos que não podem deixar de ser fotografados.
Esses momentos acontecem, estou certo, todos os dias, várias vezes ao dia. Mas nem sempre olhamos para eles com verdadeiros olhos de ver ou estamos mais concentrados a ver o momento ao lado.
Depois surgem aqueles outros momentos, que só são dignos de ver aos nossos olhos, que só para nós dizem algo.
Este foi um desses momentos. Olhar para a entrada do Metro em Alvalade, enquanto esperava que a Patrícia saísse da escola, e pensar: “Isto tem sentido.”.
Através do meu olhar, o poste ganhou vida na minha cabeça. Abri a mochila, tirei a Instax e carreguei no botão. A fotografia saiu, esperei e… Consegui. O detalhe estava lá. Exactamente o que eu tinha imaginado.
Um pouco mais tarde, quando a Patrícia chegou, sem qualquer introdução, mostrei-lhe a fotografia que tinha tirado.
“Que fixe pai. Parece assim uma torre gigante, um arranha-céus do Metro, com uma porta pequenina aqui em baixo…”.
E pronto, o tal momento que para mim tinha todo o sentido, ali, cristalizado num pequeno rectângulo de papel, tinha para a minha filha um sentido idêntico.
Através da página do Facebook da Fujifilm Instax PT, perguntei à Fuji se me podiam dar algum argumento de valor que me convencesse a usar uma das suas máquinas fotográficas instantâneas em vez de usar uma Polaroid.
A resposta não foi, de todo, aquilo que eu esperava:
Caro Pedro! Trata-se de uma questão de gosto pessoal realtivamente à câmara. Quanto ao preço, 89 €
Vá lá, agora a sério. Não se dá esta resposta.
Um “argumento de valor”? Será assim tão difícil de entender? E logo numa das mais usadas redes sociais online?
Este era um bom momento para escrever sobre a forma como as empresas estão nas redes sociais online, como se portam, como respondem aos utilizadores, como percebem as próprias redes. Era, era um bom momento. Não o vou fazer. Fuji, se quiserem, terei todo o gosto em conversar convosco sobre o tema ok?
Não tendo a equipa da Fuji conseguido convencer-me, optei por outra estratégia e assim que pude, comprei uma Fuji Instax.
Não é uma daquelas Fuji Instax bonitinhas que agora se encontram por ai em cada loja. Essas são as Fuji Instax Mini 8, com piada e coisa e tal mas, os tais 89 euros que elas custam ainda estão um pouco além do que eu estou disposto a pagar para experimentar uma máquina fotográfica. Para além disso, confesso que acho muito mais bonitas as Fuji Instax Mini 50s ou as novas Fuji Instax Mini 90 mas em qualquer dos casos, o valor a pagar seria ainda maior e como tal, de momento, fora de questão.
Comprei uma Fuji Instax 100 Wide.
Sim, eu sei, é um monstro de máquina fotográfica. É gigantesca, uma enorme massa de plástico que, quando se liga, fica ainda maior graças à sua lente extensível. E é roxa. Sim, roxa.
Também é uma máquina antiga, que já não se fabrica. Esta é de 1999 e mesmo o modelo que a veio substituir, a Fuji Instax 200 Wide também já não é fabricada…
Então porque diacho fui eu comprar uma Fuji Instax 100 Wide? Porque as fotografias que ela tira hoje são iguais às que tirava em 1999. Bem, eu não tinha uma destas em 1999 mas já vi suficientes fotografias tiradas por outras Fuji Instax na altura e que me convencem disso.
É uma aventura garanto-vos, e não me parece que vá ser fácil convencer-me a trocar as Polaroids pela Fuji Instax mas, convenhamos, a Fuji Instax tem efectivamente argumentos de valor:
O preço do filme
Cada caixa com 2 embalagens de 10 fotografias cada custa 22€, ou seja, o mesmo que custa uma caixa com 8 fotografias para a Polaroid.
A questão do instantâneo
Quando se tira uma fotografia com a Fuji Instax a mesma começa a aparecer ao fim de 2 a 3 minutos, coisa que não acontece com as Polaroid que actualmente (e sobre isso escreverei noutra altura) demoram pelo menos 10 a 15 minutos até que se veja alguma coisa.
O nome Fuji
A Fuji mantém a produção de filme para as suas máquinas instantâneas há mais de 30 anos e não se prevê que deixe de o fazer tão cedo, como se pode imaginar tendo em conta o investimento nas novas gamas da Fuji Instax. Eu apoio o projecto que trouxe de volta à vida as Polaroid mas, mesmo com todo o sucesso que tem alcançado, ainda não deixa de ser um projecto.
E esta foi uma das primeiras fotografias a sair, literalmente, da Fuji Instax 100:
E vocês? Deixariam a máquina fotográfica digital em casa para carregarem uma Fuji Instax?