Tártaro de atum. Porque sim. Lembrei-me disso um destes dias e não fui de modas. Manhã cedo, Mercado de Alvalade, um bom naco de atum vermelho, complementos, temperos, e de volta à cozinha.

Confesso que não sou muito dado a medidas exactas… Aliás, falta balança de cozinha cá em casa. Virá um dia certamente mas, enquanto vem e não vem, vai a olho.

Preparar o Tártaro de atum

Cortei cerca de 300 gramas de atum em finas fatias. A essas voltei a dar a faca afiada de forma a cortar estreitas tiras e por ultimo, picar em pequenos pedaços. Tudo para dentro de uma tigela.

Piquei também um pequeno molho de cebolinho, uma chalota, algumas alcaparras e misturei tudo com o atum. Entretanto já tinha acabado de cozer um ovo. Depois de frio, meio deste bem picado foi também para a mistura à qual juntei então um pouco de sal e pimenta preta.

Num toque à lá Tickets, o famoso restaurante de Ferran Adrià e do seu irmão Albert, resolvi incluir no meio do Tártaro uma camada de manga, igualmente picada à faca, dando um apontamento de cor mas, essencialmente, colocando o doce entre o sabor de mar do atum e o envinagrado das alcaparras.

Enformei sobre ardósia, cobri e levei ao frio durante duas horas.

Tártaro de Atum - Pedro Rebelo

Desenformei e complementei com um quarto de ovo cozido e cebolinho ao topo, acompanhado por pequenos tomates chucha com risco de Modena doce e maionese fresca.

O jantar foi tardio mas a espera valeu a pena.

Na calha fica já a ideia de um bife tártaro mas dessa feita, com um belo naco da vazia ou do lombo. A ver vamos quando virá.

 

Quem diz vinho para o jantar de Natal ,diz igualmente para a ceia e para o almoço do dia de Natal. Aqui, o que está em causa é efectivamente, qual ou quais escolher de entre uma série de vinhos que, por uma razão ou outra têm ficado guardados na garrafeira.

Que vinho para este Natal?

A saber:

  • Periquita 1996
  • Côtto Grande Escolha 2000
  • Esporão Reserva 2001
  • Quinta das Tecedeiras Reserva 2003
  • Xisto 2004
  • Reguengos Garrafeira dos Sócios 2004
  • Quinta da Bacalhôa 2005
  • Grandes Quintas Colheita 2009
  • Alma Grande Reserva 2009
  • Pó de Poeira 2010
  • Quinta Nova 2010

Agora, malta dos vinhos, malta que entende, que gosta ou até mesmo malta que “porque sim”, é dar sugestões. Que vinho se vai beber cá por casa este Natal? O repasto vai do tradicional Peru recheado ao não menos tradicional Bacalhau com couves. Há também Arroz de Pato no forno para o dia seguinte.

E então? Que vai ser?

Ali ao inicio do Bairro Alto, muito perto ainda do Camões, fica o Restaurante As Salgadeiras. Nas instalações de uma antiga padaria (ainda que em tempos idos o edifício fosse conhecido por lá estar estabelecida uma famosa casa de meninas para alegrar os homens de mar que atracavam por Lisboa), este restaurante apresenta-se mantendo uma traça antiga, com tijolo de burro à mostra e arcos de pedra dividindo os espaços.


Visualmente agradável é também fácil gostar do espaço pela simpatia de quem nos recebe e atende. Pontos muito fortes para quem ainda não se sentou.

Começamos a noite com algo fresco. Duas caipirinhas. Convenhamos que, para acompanhar uma noite quente, a frescura de um gelo moído com a dose certa de cachaça e lima é algo de muito agradável. E aqui as doses eram bem, muito bem servidas…

O couvert era de bom gosto. Azeitonas, paté de atum, manteiga com ervas, muito bom queijo de Azeitão enfim, um couvert. Evitam-se as embalagens e agradecem os Clientes. Dá um toque de classe e casa que todos apreciamos.

A entrada escolhida foi a Alheira de Chaves com ovos mexidos tirada da forma, com a consistência certa e o sabor do enchido fazendo notar que é o que diz o nome e não os tantas vezes servidos ovos com alheira.

A comida veio precedida do vinho. Escolhemos ao copo que a oferta era variada. Ainda bem que está a pegar a ideia do vinho servido desta forma. Evita-se o sacrilégio de deixar bom néctar na garrafa e aproveita-se para a prova de alguns que pelo preço mais proibitivo não se iriam degustar tão cedo. Casa Burmester tinto. Ainda que o ano não nos ficasse de memória, o vinho ficou.

E eis que chegava à mesa o prato de peixe. Filetes de linguado em massa folhada com espinafres. Só a apresentação ganhava o prémio, fosse ele qual fosse. Não fingiam estar presentes os filetes entre o folhado e a verdura. Estavam mesmo. E frescos como às vezes não se encontram quando servidos a sós. Os espinafres na textura de esparregado faziam-lhes cama de luxo para a vista e para o paladar. A massa folhada estava no ponto, aquele em que não é seca nem está mole. Está como deve estar. Aliás, como tudo parece estar nesta casa.

O prato de carne encantou de igual forma. Pedido que estava o Espeto de Lombo em Pau de Loureiro de imediato veio à memória a triste cena do espeto pendurado, a pingar, e a ginástica necessária para por vezes de lá tirar proveito. O bom gosto da casa nota-se também nos detalhes e o lombo chegou no prato com todas as companhias do espeto mais os acompanhamentos laterais. Uma delicia ao olhar.

Da carne macia e saborosa à verdura cozida de leve e às batatas em feixe, estava tudo muito bom. De notar que as doses servidas, ainda que a decoração ocupe espaço no prato, são a ter em boa conta que ninguém fica com fome, muito pelo contrário.

Já dificilmente haveria espaço para a sobremesa mas a carta de nomes sonantes (do Fondue de Chocolate ao Leite creme com frutos silvestres) obrigava a uma pergunta: O que era o Manjar Conventual. Prontamente nos foi dito que… Era bom. Isso só por si é um indicativo mas assim que nos disseram que se tratava de Requeijão, açúcar e ovos não havia espaço mas para as dúvidas. Venha o Manjar Conventual que com a dieta nos preocupamos mais tarde.

Ainda a colher não tinha batido ao doce a segunda vez e já alguém nos questionava se estava bom tal eram as expressões à mesa. Referi que o que ali se passava era criminoso. Um verdadeiro crime não venderem o Manjar Conventual ao quilo para que connosco viessem logo um ou dois…

O final da refeição foi o costumeiro café e garoto bem clarinho e até ai, o serviço mostrou excelência. Não foi preciso pedir duas vezes nem houve má cara à prova. O garoto vinha tal como pedido e tínhamos ficado clientes. Garantidamente.

As Salgadeiras
Rua das Salgadeiras 18
Bairro Alto
1200-396 LISBOA
Telf. 213421157
URL: www.as-salgadeiras.com
Só servem jantares (encerra às Segundas-feiras)

Update: Este texto foi também publicado no site no prato com

Ele há dias especiais e nesses dias nada como um sitio especial, daqueles que, mesmo que muitos anos se passem, seja sempre possível recordar.

Viver em Lisboa foi nossa escolha. A primeira grande escolha da família to be que ainda não o era. E viver em Lisboa tem, entre mil outras coisas boas, a vantagem de poder olhar para a outra margem do Tejo, saber que ela lá está. Tal como o sitio onde jantamos no outro dia.

Saídos da ponte sobre o Tejo Almada está mesmo ali ao lado (do lado certo costumam eles por lá dizer) e apontando o carro à cidade velha, dali às muralhas é um pulo. Quem lá quiser chegar de outra forma bonito é também o passeio de barco a atracar em Cacilhas, seguir pelo cais do Ginjal (boas e muitas horas por lá passadas) até ao elevador panorâmico. Subindo já lá está… Pelo menos lá perto.

Adiante que é de estar e comer que aqui se escreve hoje.

O Amarra ó Tejo é agradável só de ver. Mesmo junto à falésia virado ao rio, as grande paredes envidraçadas prometem só por si uma agradável estadia. A vista de Lisboa com a ponte ao fundo é já sobejamente conhecida mas se acompanhada de um pôr-do-sol de Verão (entre as 20 e as 21 à data) torna-se algo de quase indescritível… É o antever do que se segue com as luzes da cidade a iluminarem o azul da noite…

Entrados, sentados nota-se de imediato algum esmero e cuidado na apresentação das mesas. Não é de um luxo ostensivo mas de primor pelo serviço. As cartas chegam à mesa e essas mereciam já algum cuidado adicional. Não que a comida se possa medir pela qualidade do papel em que é apresentada mas o comer dos olhos aprecia a refeição do principio ao fim…

Passámos a abertura pois não nos chamou ao gosto a normalidade da Caipirinha (ainda que com espumas a acrescentar). Já o couvert trazia consigo um queijo de Azeitão que marcou a qualidade. Não sei casa nem valor mas o sabor não deixou amargo de boca. Pelo contrário.

De entrada apostámos no gosto de quem já conhecia indo para o Pastel de queijo de cabra que se fazia acompanhar de um doce de mirtilios mas que mesmo sozinho não faria má figura. Vieram ainda para a mesa os cogumelos recheados com queijo derretido e bacon. Ainda que não seja uma especialidade nunca antes vista, estavam de sabor e confecção em geral, muito bem conseguidos.

Já esperávamos a ementa apresentada pois conhecendo a minha particular predilecção por carnes, todos quantos nos referiam o restaurante em questão nos falavam dos peixes. É deles que a carta tira o brilho. Poucos pratos, dão a entender o cuidado e tempo que se poderá dedicar às escolhas.

Entre os propostos escolhemos os Filetes de Peixe Galo com açorda de ovas do mesmo e Tamboril em molho de Navalheiras acompanhado de Puré de Salsa.

Apresentação, sabor e frescura em qualquer um deles é ponto de honra certamente pois só assim se justifica a presença de todas em tudo quanto foi servido. Os filetes de Peixe Galo, em bom numero, num dourado de quem foi frito em óleo de primeira mão estavam deliciosos e a açorda de ovas não ficava atrás com uma consistência perfeita e um sabor de igual valor. O Tamboril fez-se representar por dois bons pedaços igualmente frescos e saborosos. O molho de Navalheiras, tivesse um pouco mais marcante e seria estrela na refeição. Foi só complemento. O puré de salsa compunha o prato e dava peso à refeição. Dificilmente se arranjaria melhor acompanhamento.

Também por sugestão, o vinho foi o da casa. Um Dona Ermelinda branco 2007 que pela frescura e equilíbrio nos encantou. Com um toque de fruta e uma madeira muito leve, este vinho da zona de Palmela deixa um toque escorregadio mas lento pela boca e visível no copo. Uma boa escolha.

Na sobremesa desapontou-nos a falta de possibilidade de nos prepararem o Pastel de Chocolate. A carta avisa-nos que a preparação deste depende do serviço que haja e a casa estava efectivamente cheia… Veio em substituição um clássico semi-frio de nata e molho de chocolate (preferiria chocolate negro ao de leite que somou mais doce à nata) e uma magnifica flute de sorvete de limão. O ponto desta assemelha-se mais a uma espuma do que ao solidificado sorvete mas mantém o sabor. Uma agradável surpresa.

Para finalizar, o café e o já esperado garoto. Noutros textos já tenho escrito a importância que damos ao garoto. Este pode ser (e efectivamente é) razão para não mais voltar a uma casa tais as situações que já temos encontrado. Tal como sempre pedimos um garoto muito, muito claro. Complementamos o pedido com “Só leite quente e uma pinga de café.”. É servido demasiado escuro. Vai para trás. Pedimos que nos tragam só leite quente. O leite veio mas infelizmente não sabia bem. Não nos pareceu que estivesse azedo mas o sabor do leite era demasiado forte (talvez leite gordo mas mesmo assim, era forte demais) e mesmo com a gota de café não se conseguia beber.

Detalhes como este podem estragar uma fantástica experiência. Não foi o caso ainda que ficasse de memória. Tudo o resto nos agradou sobejamente e nos deixou garantidamente com vontade de voltar.

Amarra ó Tejo
Jardim do Castelo
2800-046 ALMADA
Telf. 212730621
Terça a Domingo das 12h30 às 15h00 e das 19h45 às 22h30 (encerra Domingo ao jantar).

Update: Este texto foi também publicado no site no prato com

Um jantar a dois é uma boa prenda para o dia dos namorados. Um jantar a dois com massagem é capaz de ser melhor ainda. Marcar o jantar para 6 meses depois é que talvez seja mais complicado. Foi o que se passou com a nossa mais recente experiência mas mesmo assim, valeu a pena.

No passado mês de Fevereiro, para comemorar o dia dos namorados, a nossa prenda foi um voucher do site Odisseias para um jantar com massagem no Restaurante Étnico ali à Lapa. No mesmo dia a Susana contactou o serviço de forma a marcar o jantar e, surpresa das surpresas, próxima vaga: Julho.

Julho chegou e lá fomos nós. Chegámos bem mais cedo do que o previsto (por volta das 20 horas quando o jantar estava marcado para as 21) e ainda deu para dar uma volta por ali. Mas não há muito que ver se não estivermos com uma câmara fotográfica em mãos e como tal, lá seguimos para o restaurante.

Porta aberta a uma esquina, dá acesso a uma pequena sala de entrada que funciona como recepção (lá estava a placa informativa de que o multibanco estava fora de serviço) e loja de roupas, calçado e outros acessórios “étnicos”… Tudo muito made in India, ainda por lá vimos uns corpetes bastante engraçados…

O tempo passava e, além da música ambiente e de umas vozes que se ouviam ao fundo, nada mais se ouvia por ali. Nem ninguém se via.

Eis que aparece um jovem a quem nos apresentamos e nos pede que aguardemos na sala ao lado. Uma mistura de estilos árabe, indiano e oriental decorava a sala com cadeirões, almofadas e puffs… Ninguém… Ainda pensámos que nos iriam oferecer algo de beber, para refrescar. Oportunidade de negócio perdida.

21 horas. “Façam o favor de me acompanhar” diz o jovem de à pouco enquanto atravessamos a sala para uma área mais escura… Uma cortina cobre a entrada em arco. “A sala é toda vossa.”.

Pronta para um jantar a dois. Pronta até para uma noite a dois não fosse o Étnico um restaurante. A mistura de estilos continuava o espírito da sala anterior mas aqui mais intimista. A iluminação vinha das velas (como se espera num jantar romântico), muitas, e ainda havia algum toque das luzes de rua que até ficava ali muito bem.

A musica dava o mote para a noite. Estava muito bem escolhida ainda que ao fim da noite já não houvesse muita paciência para a voz que nos dava as boas vindas ao aeroporto de Buenos Aires…

Na mesa junto ao chão destacava-se o gigantesco copo balão onde brilhava avermelhada (não é esta a cor da paixão) uma sangria de champanhe e frutos vermelhos com muito, muito gelo que a noite estava quente. Uma salada de pimentos vermelhos levemente assados e muito envinagrados como se quer era acompanhada de um cesto de pães d’alho quentes. Aqui não há cadeiras. Há almofadas…

Vem primeiro a massagem. Diz quem sabe (a Susana já é batida nestas coisas das massagens pró) que não é o mesmo que uma fisioterapeuta daquelas que toca aqui, toca ali e o corpo parece novo. Ainda assim, dá para relaxar, para pensar no nada durante 20 minutos… E pensar no nada é tão bom.

Os pratos já estavam escolhidos e a escolha também não era difícil: Ou Bacalhau Místico (a nadar em natas e, penso eu, molho bechamel) ou uns crepes de massa folhada recheados de frango, com canela e mel por cima. Venham os dois. Estes últimos a seguir com muita atenção.

Servidos os pratos a sala volta a seus donos ou seja, nós. Comer quase que deitados, entre copos de sangria que por vezes pingam tais as posições, dá azo a conversas diferentes, a tons diferentes. Dá azo a risos e brincadeiras sem medo de cair da cadeira. O tempo passa devagar.

Falta a sobremesa e é claro que se trata de bolo de chocolate. Bem, poderia tratar-se de muitas outras coisas mas o bolo de chocolate fica aqui muito bem (e a sangria continua gelada).

A noite já vai longa. Calçar os sapatos, casaco ao ombro que ainda dá direito a dois dedos de conversa com os donos(?), o tal jovem que nos recebeu e a moça que nos serviu. Publicidade? Não há. Os Clientes são de boca-a-boca. Nem querem muita gente não vá o espaço perder o encanto.

São vidas…

Na sala principal já estão agora 3 ou 4 casais. Lembra as salas dos 70’s que só conhecemos dos filmes. Quantos estarão a viajar pensamos nós… Acompanham-nos até à porta. A noite continua quente, como se quer para uma noite de jantar do dia dos namorados.

Não é pela comida, não é pela massagem. É pela experiência. Valeu bem. Há mais?