Sem mais palavras. Porque há obras que já dizem muito de quem as faz mesmo que nos deixem com a promessa de que muito mais poderia ser dito. Dave Brubeck morreu ontem, com 91 anos.

Dave Brubeck morreu ontem com 91 anos

Deixo-vos com The Dave Brubeck Quartet em Blue Rondo A La Turk, a primeira faixa do disco que irá tocar hoje por aqui, em loop.

Olé Coltrane foi o ultimo álbum de John Coltrane para a editora Atlantic. Bem, pelo menos foi o ultimo álbum de John Coltrane que a editora Atlantic lançou para o mercado com autorização expressa do artista. Posteriormente à sua morte, a Atlantic editou ainda mais alguns discos deste musico dando a conhecer ou relembrando o seu jazz.

CD Ole Coltrane

A edição original é de 1961 e esta que aqui mostro na imagem é a reedição de 2000, que na Alemanha e nos Estados Unidos ganhou uma faixa extra, To Her Ladyship, 8 minutos de jazz anteriormente editados como Original Untitled Ballad.

O jazz esquecido de John Coltrane.

Aparentemente, este álbum foi durante muito tempo desconsiderado pela editora e presume-se que, por uma questão de rivalidades e a já conhecida dor de cotovelo.

John Coltrane gravou este disco com a Atlantic dois dias após ter feito a sua primeira gravação numa nova editora, a Impulse Records. Olé Coltraine foi gravado para honrar o compromisso existente de um ultimo álbum a gravar com a Atlantic.

No entanto, e ao contrário do que alguns possam pensar, Olé Coltrane não é de forma alguma um álbum “a despachar”, um album só para cumprir o contrato.

Acompanhado de McCoy Tyner (ao piano), Elvin Jones (na bateria), Art Davis e Reggie Workman (no contrabaixo), John Coltrane conta ainda neste disco com as participações de Freddie Hubbard (no trompete) e Eric Dolphy (alto sax e flauta). Juntos conseguem ao longo do disco estar constantemente à beira do risco, levando o jazz por campos sonoros por vezes perto de coisas estranhas mas ainda assim, reconheciveis quanto baste para a estranheza não ser limitativa ou castradora da vontade de ouvir um pouco mais.

Uma pechincha garantidamente.

Garantidamente, um disco de jazz a ter lá em casa e se tiverem a oportunidade de o conseguir por 3 euros (como eu consegui na FNAC) então é de agarrar antes que desapareça.

Este novo CD da Regina Spektor é a minha companhia musical durante o dia de hoje.

Regina Spektor What we saw from the cheap seats

Longe vai o ano de 2005 quando aqui escrevi pela primeira vez sobre Regina Spektor,  a jovem russa que desde então me encanta com a sua voz.

Será What We Saw From The Cheap Seats o melhor álbum de Regina Spektor? Não sei, ainda não tive tempo para tais considerações. É certo que os críticos dirão que será difícil bater o bestseller Begin To Hope mas sinceramente, terá sempre um novo disco que ser melhor (o que quer que se entenda por melhor) do que um anterior? Não será até preferível que seja diferente?

E há diferenças neste novo álbum de Regina Spektor.

Mesmo quando faz uma nova versão, Regina Spektor surpreende pela diferença. Veja-se o caso de Ne me quitte pas, uma canção já apresentada no álbum Songs, de 2002, e que aqui ganha uma nova roupagem.  Estranha diferença esta que nos lembra semelhança com uma Regina Spektor que aparece e desaparece em cada novo disco…

E falando de diferenças, lembram-se de Nina Simone a cantar Don’t Let Me Be Misunderstood? Ouçam Oh Marcello e digam lá se não vos parece que a falecida teve uma visita do fantasma do futuro e resolveu homenagear Regina Spektor deixando para a eternidade a expressão i’m just a soul whose intentions are good

Assim a frio, ainda sem muito em que me basear, a minha primeira opinião é que What We Saw From The Cheap Seats é um álbum um pouco mais negro do que os anteriores. A jovem Regina está a crescer e o mundo à sua volta (ainda que as paisagens cinzentas, fabris, mecânicas, distópicas até, sempre tenham estado presentes) talvez tenha agora menos flores coloridas… Mas o negro continua a ser marca de elegância certo? E isso, garanto-vos, do que ouvi, há muito neste disco.

Adiante que há muito que ouvir… Depois vos digo algo mais.

Entretanto, vocês, gostam de Regina Spektor?

 

No final do semestre passado (para quem não sabe, estou agora no ultimo ano do curso de Ciências da Comunicação) encontrei-me numa daquelas situações que certamente será comum a muitos estudantes: Não sabia nada da matéria. As razões que levaram a tal poderão ser tema de um futuro post mas hoje, a ideia é dizer-vos o que me ajudou a ultrapassar o problema.

A redescoberta do  Jazz.

Efectivamente, atribuo ao Jazz grande mérito porque sinto ter sido graças a ele que consegui passar noites seguidas em claro, frente a folhas de papel em branco, a resmas de fotocópias e a incontáveis livros que se espalharam pela sala lá de casa…

Entre luz ténue (será porventura influência de filmes antigos mas estudar com muita luz é coisa que, como diria o outro, não me assiste) e alguns copos de vinho tinto (confirmei que ter estes como companhia complementar representava maior sucesso do que chávenas de café), a redescoberta do Jazz foi sem dúvida, não só acompanhamento de luxo como musa inspiradora.

Foi uma redescoberta pois o meu gosto pelo Jazz não é de agora mas, o gosto que tenho agora é verdadeiramente novo. É aquele gostar que vai além do easy listening, do «não sei o que é mas gosto de ouvir». Um gosto que me levou a vasculhar as prateleiras da música na FNAC em busca de Dave Brubeck, Paul Desmond, Bill Evans, Stan Getz entre outros. Um gosto que me levou a querer ouvir Cool Jazz em certas ocasiões e Bebop noutras alturas. Um gosto que me levou a procurar o que dentro do Cool é West Coast e o que dentro deste é California Hard.

A prateleira do Jazz - Clica para veres uma versão maior

Lembrei-me agora de escrever sobre isto, ao recordar o meu amigo João Nogueira, que ao ver uma fotografia de uma das minhas prateleiras de livros comentou que ainda gostaria um dia de ver uma fotografia das minhas prateleiras de CD’s. Pois bem, fica a fotografia de uma delas e a promessa de mais escritos sobre o tema.

Efectivamente, parece-me que será mesmo isso. Poderia ter outro qualquer titulo. Posso eu estar muito enganado mas, de momento, é o que me parece ter sentido: Lana Del Rey. Born to Die.

Lana Del Rey by Chuck Grant Lana del Rey por Chuck Grant.

Conheci Lana Del Dey (a sua musica entenda-se) há uns tempos atrás, através de uma amiga dada a essas coisas da Filosofia e da alma e que, além de tudo o resto tem também um fantástico bom gosto musical. Como é seu costume, DJ Lady Bug enviou-me um tweet escrevendo algo do género «Ouve lá isto». Eu ouvi e o «isto» era o Video Games. Na altura ainda não se falava de Lana Del Rey, nem contra nem a favor… Ainda mal o mundo reparara nos lábios da jovem…

Gostei. Como não gostar? A musica corria em fundo (sim, que no trabalho, trabalha-se) e dava uma olhada de quando em quando ao videoclip (posso escrever teledisco?). é certo que à segunda já não fui capaz de ver o teledisco aos bocadinhos. Aquilo é para ser visto de fio a pavio. Indie? Tenho duvidas.

Perguntei à Susana se conhecia. Ela ouve muito mais musica nova do que eu. Nada. Lana Del Rey, ilustre desconhecida.

De repente a bolha estoura. Não se fala noutra coisa. A miúda é fantástica. «gangsta Nancy Sinatra» escrevem. Lana Del Rey vai ao Saturday Night Live e tem aquela que é imediatamente intitulada de «a pior performance de sempre no palco do SNL». Segue-se outra entrevista em que sai a meio perante uma pergunta difícil (eventualmente embaraçosa). A trama adensa-se. A opacificação da personagem é condição sine qua non para a imagem de femme fatale. Femme fatale do século XXI note-se. Bem mais nova, bem mais ingénua ou melhor, aparentando maior ingenuidade…

O tão esperado CD chega ao mercado. Born to Die. Há por ai quem diga (leia-se quase tudo quanto é critico) que é mesmo essa a intenção. Nascer para morrer. Produto quase instantâneo, de duração muito inferior a qualquer pudim Mandarim. Nascer para morrer. Passar ao lado do campo da memória, enchendo os bolsos a uns quantos. Há por ai quem diga que é mesmo essa a intenção.

Chega outro teledisco: Born to Die. E pronto. Estoura a bolha outra vez. Desta feita, a minha e não a dos críticos. Se Video Games já me cheirava a Lynch (fui de Blue Velvet a Twin Peaks, passando pela casa de partida e recordando Julee Cruise como bónus), Born to Die veio lembrar-me de que a humanidade se encontra num movimento cíclico e que o perímetro do mesmo é cada vez mais pequeno. Lynch all over again, que por sua vez foi a Oz (e talvez nunca mais tenha voltado, enviando de lá a uma série de duendes, ou anões, instruções para continuar a sua obra) e nunca deixou de piscar o olho a Dali.

Em Born to Die Lana diz-nos a certa altura que «Sometimes love is not enough». Ela está certa. Este disco precisa de um pouco mais. Só amor não chega. Diz-nos que «The road is long». E pronto. Chegámos. A estrada. Lana Del Rey não é uma Laura Dern e na estrada de Born to Die faltam os tijolos dourados que Lynch lá deixou…

«Come and take a walk on the wild side» parece ser um convite a recusar quando nos é feito tão além. Ninguém refere o «Wild Side» sem um sorriso, nem que matreiro, nos lábios. Ou até um sorriso à Joker. Tem lábios para isso a miúda.

Até os tigres lá estão. Num sonho em que a abelha, abandonando a romã, talvez tenha picado a jovem Lana levando esta a decidir manter uma pose de quem não acordou. Se não acordou é porque a abelha não lhe picou e os tigres podem continuar ali, mesmo ao lado, quase a dormir, com ela. Só Lynch levaria os tigres do Dali a dar tal reviravolta.

«Don’t make me sad, don’t make me cry» diz ela com uma voz entre o cigarro e o caramelo. «Let’s go get high». Já tínhamos percebido.

p.s. E nem vamos falar de Blue Jeans onde a coisa vai mais pela onda do «I will love you till the end of time/ I would wait a million years»…