Vejam o filme abaixo e digam se não tenho razão. Com o típico look and feel de um noticiário televisivo dos anos 70 (para quem conhece o livro de banda desenhada sabe que faz todo o sentido) este filme relata a comemoração do 10º aniversário do Doctor Manhattan. Entrevistas de rua com um espírito bem possível na altura dão o toque final para a total credibilidade.

Assim se constrói um mito. Mais de 20 anos depois de Watchmen ter sido um sucesso na banda desenhada em todos os países onde foi editado, prepara-se agora para ser um sucesso a nível global com a apresentação do “filme impossível de ser feito” como muitas vezes ouvi dizer.

Gosto de livros. Gosto muito de livros. Livros para ler, só para observar, para folhear, em suma, gosto de livros. E de fotografia também.

Tal como sobre tudo o que é assunto, no que toca à fotografia pouco há em livros que não esteja já algures numa qualquer página da Internet. Aliás, é sabido que grande parte dos livros estão já, na sua totalidade, na Internet. O livro de Scott Kelby “The Digital Photography Book” não é excepção. Uma busca nos sítios do costume e lá aparece o ficheiro pdf prontinho para download poupando assim umas libras valentes. Bem, mas na verdade, não se tem o livro certo? Por essas e por outras mandei vir o livro da Book Depository e eis então a minha opinião sobre o dito.

O Livro da Fotografia Digital talvez não seja indicado para os profissionais da fotografia. Também não deve ser indicado para aqueles que não sendo profissionais “já sabem tudo” e são efectivamente “muito melhores do que muita malta que para ai anda”… Para todos os outros é uma boa aquisição.

Scott Kelby escreve com um humor muito particular (que já conhecia do The Photoshop book for digital photographers) e que não agradará a toda a gente (mais uma vez, se és mesmo cromo da fotografia e sabes mais do que o resto da malta, não deves achar muita piadinha à coisa) mas acho que é precisamente esse humor que torna tão fácil fixar as dicas que ele nos dá e apreender alguns conceitos mais complexos sem recorrer a termos técnicos que por vezes não ajudam.

O livro leva-nos pelas páginas como se estivéssemos a ter aulas práticas, em campo, com o Scott, aquele nosso amigo, um tipo porreiro. Por 11 capítulos o Scott Kelby vai dizendo faz assim, não faças assado, se fizeres assim vai sair bem, se fizeres assado vai sair uma valente burrada. Explica-nos porque devemos usar um filtro Skylight e porque comprar um filtro polarizador é essencial ao mesmo tempo que nos diz que determinado tipo de fotografia é mais fácil com esta ou aquela lente.

Começa por nos dar umas ideias sobre como conseguir uma fotografia bem focada. Camera, lente e acessórios incluído. Segue pelas flores e casamentos pois são temas que muita gente procura. Fundos escuros para as flores e de cima de um escadote para os casório. Sempre acompanhado de muitos, muitos backups… Passa pelas paisagens com sugestões entre outras, para as quedas de agua e vai directo para a fotografia de desporto mas aqui sem ilusões. Ele avisa desde logo que neste campo conta muito o dinheiro que se pode gastar.

Scott Kelby cobre ainda a fotografia de pessoas (a história, sempre uma história) e as melhores maneiras de fotografar cidades e de fotografar em viagem. E sim (os tais prós que refiro acima não devem ler esta parte) ele aconselha o uso do Program Mode em algumas situações.

Para além de tudo isto no The Digital Photography Book,  Scott Kelby ainda dá umas indicações preciosas sobre como resolver problemas típicos da fotografia digital, sobre impressão e até comercialização de fotografias.

Enfim, este livro é definitivamente um fenómeno e não sou eu que o escrevo. Há muita gente a apoiar esta ideia e basta ver as reviews que o mesmo obtém junto de lojas como a Amazon. No meio de muitas há efectivamente algumas menos boas mas atenção, prendem-se essencialmente com o humor do autor que, como já referi acima, não será apreciado por todos.

Interrompemos a nossa programação sobre destinos turísticos do outro lado do mundo para trazer uma pérola de terras ainda mais distantes. Dada a conhecer pelos simpáticos senhores do site Comingsoon.net aqui vos deixo o trailer japonês de Watchmen, o filme que após esperar cerca de 20 anos que alguém tivesse coragem para o fazer, está agora prestes a ir para as salas de cinema (pelo menos assim esperamos com fé nos tribunais).

Quanto ao trailer própriamente dito, só podia ser japonês. Vejam porquê:

E eis que a promessa se cumpriu. Dois anos depois da nossa primeira viagem a Nova Iorque voltámos à Big Apple. O regresso a New York City estava destinado desde o dia em que regressámos de lá em 2006.

A viagem começou logo com alguns contratempos. Não connosco mas com um casal amigo que se preparava para nos acompanhar. No check-in descobriram que um deles não tinha passaporte electrónico e como tal, para entrar nos Estados Unidos necessitava de um visto da embaixada norte-americana. Também não o tinham. Ao Sábado não se emitem passaportes e este era um fim-de-semana grande. Antes de Terça-feira nada de Nova Iorque para eles. Lá os esperaríamos…


Já no avião a primeira história a recordar. Atrás de nós vai um casal a ler em voz alta indicações sobre a cidade que não dorme. Moeda, saúde, transportes… Comento com a Susana que deveria ser certamente a primeira vez que iam a Nova Iorque. Algum tempo depois, as leituras estavam aos poucos a tornar-se familiares e muito além da informação genérica sobre a cidade… Não, eu estava mesmo a reconhecer o tom da escrita. Virei-me para trás e com a descontracção do costume pergunto ao leitor se tinha tirado o texto de algum site na Internet ao que este me responde que sim, de um tal de browserd.com. Inchei. Referi que era eu o autor e de imediato fui questionado sobre as aventuras com o Marçal, a Maria José e a trupe da viagem anterior… Sabe bem. Muito bem.

A entrada no pais é a versão moderna da chegada a Ellis Island que nos habituámos a ver nos filmes… Filas e filas em curva-contracurva para chegar a um balcão onde somos questionados sobre o nosso destino, objectivo da viagem, fotografados e com direito a recolher (pelo menos é de forma digital) as impressões digitais… Passada esta fase, venham as malas e tal a vontade de chegar, direito aos chamados Shuttles que numas carrinhas Ford de 7 lugares e bastante confortáveis nos levam aquecidos até à porta do hotel.

Onde ficar em Nova Iorque

Desta vez o planeamento começou com quase um ano de antecedência. Ainda que o Madison Hotel nos tenha agradado, a ideia de poder fazer algumas refeições em casa era muito apreciada. Parecendo que não sempre se poderiam poupar alguns dólares. Um aparthotel seria o ideal.

Já na nossa visita a Nova Iorque em 2006 tínhamos contactado o Ipanema Chalet na tentativa de lá ficarmos mas não foi possível. Só tentámos com 6 ou 7 meses de antecedência e para Dezembro em Nova Iorque isso é o mesmo que tentar em cima da hora. Desta feita contactámos o Ipanema Chalet logo em Janeiro e em Fevereiro fizemos a marcação.

O Ipanema Chalet fica na zona de Nova Iorque a que chamam de Little Brazil, na Rua 46 (46th Street) mesmo na esquina com a 5ª Avenida e do outro lado da rua, a famosa Times Square. Por outras palavras, dificilmente se arranjaria melhor localização. Táxis a toda a hora e estações de Metro por todos os lados.

Na chegada como não víamos ninguém entrámos no Ipanema Restaurante que fica mesmo na porta ao lado. Identifico-me ao Maitre que de imediato me entrega a chave da entrada e um pequeno envelope com o código da porta do quarto. Nesse mesmo envelope uma nota de boas vindas do dono do hotel e um recado para que nos encontrássemos no dia seguinte para tratar da burocracia.

Ao entrar conhecemos o Sr. João, empregado do hotel que nos ajuda a levar as malas ao quarto e nos fala sobre os horários das limpezas. Simpático e bem-educado dá um toque quase familiar ao local.

O quarto era espaçoso. Cama, roupeiro, casa de banho, mesa de refeições/secretária, cadeirão para repouso, e tv. Para além disso o esperado forno micro-ondas, placa de fogão e um frigorífico. Lava-loiças e armários equipados. A Susana reparou que, ao contrário do Madison Hotel, aqui não havia aquecimento central mas sim um aquecedor a óleo. Ainda receou que não fosse suficiente mas revelou-se esforçado e eficiente.

Se a tudo isto juntar-mos um dos melhores senão o melhor preço de Nova Iorque em Dezembro, está explicada a nossa escolha.

A primeira saída

At Hard Rock Café New YorkTal como na primeira noite em Nova Iorque há 2 anos atrás, foi só largar as malas e rua. Combinámos encontro em Times Square com o nosso amigo Zé Manel e a namorada, Rute. 6 graus negativos e a coisa prometia. Uma vez mais, Hard Rock Café New York. Ainda que os hambúrgueres sejam mais do mesmo as Orange Margaritas e os nachos são efectivamente muito bons. Tal como dantes, uma hora de espera mas felizmente de forma confortável nos famosos sofás da casa. Comprova-se pelos preços que o Hard Rock Café vive essencialmente dos turistas. Levem a carteira cheia.

Estávamos muito cansados da viagem e a noite já ia longa. Combinámos encontro para o dia seguinte às 7 da manhã. Se queríamos finalmente conseguir assistir a uma celebração na Abyssinian Baptist Church tínhamos que ir muito cedo. São às centenas as pessoas a quererem um lugar na área reservada aos turistas na mais famosa celebração com coros de Gospel de Nova Iorque.

A manhã seguinte: Domingo em Nova Iorque.

Muito muito cedo lá nos encontramos em Times Square e fomos de Metro para o Harlem. Preparem-se para uma longa viagem mas o facto de haver Metros Expresso (que em vez de pararem em todas as estações por vezes passam 10 ou 15 sem parar) ajuda bem.

Ainda que muito diferente do Harlem dos filmes americanos da década de 70 (sim, anda-se nas ruas sem ser pelo meio de gangs e traficantes) a cada passo é fácil recordar tais cenas tal é o impacto visual da área e dos seus habitantes.

Chegámos à igreja cerca das 8 da manhã mas ao contrário do que pensávamos a fila de turistas para a missa das 9 já era bem longa. Com mais gente do que aquela a quem seria permitida a entrada… Mas já lá estávamos e desta feita haveríamos de entrar… Nem que fosse na missa das 11.

Bem dito e melhor feito. Perto das 9 horas começou a azáfama dos seguranças a contarem as pessoas e a avisarem quanto a coerência da fila. Também lá apareceram os fura-filas do costume mas a força da fé (ou melhor dizendo, das vozes que rapidamente se fizeram ouvir acompanhadas de ferozes punhos no ar) manteve a linha direita. 10 ou 12 espanholas loucas e mais uma família de iguais origens (ainda que não aparentando a mesma loucura) estavam ainda à nossa frente quando somos avisados que teríamos que aguardar pela missa das 11.

The man with the red shoes4 graus negativos. Ajudava a musica que o preto (convenhamos, é este o termo correcto. Aliás, por terras do Tio Sam chamar negro a alguém dá direito a prisão) do sobretudo vermelho (a combinar com os sapatos) e óculos escuros vendia ou tentava vender na banca de rua ali montada.

As espanholas da frente desistiram de imediato. Tinha jogo dos New York Kniks ao meio-dia e já não dava tempo. Com isso estávamos a 4 dos lugares da frente. Suportássemos nós o frio e a entrada estava garantida.

Eis que para uma limusina. De lá sai uma daquelas figuras que só vemos nos filmes. Uma senhora preta já de uma certa idade, muito, muito alta, de casaco de peles até ao chão, bengala numa mão e mala na outra. Dirige-se em passo apressado (no que a idade ou saúde lhe permitiam) à fila onde nos encontrávamos. Diz qualquer coisa que não entendo ao pequeno grupo de espanhóis à nossa frente mas, como grande parte dos espanhóis que conhecemos, estes não entendiam nada de inglês. Pelo menos daquele inglês com acentuada pronuncia da zona.

Percebendo que a senhora parecia estar a pedir ajuda para algo, sai da fila e dirigi-me a ela perguntando se a podia ajudar em algo. Disse-me de imediato enquanto me passava a mala para a mão: “Sim, leva-me á igreja. O motorista hoje não podia porque tinha que ir…” Já não ouvi confesso. A perspectiva de não passar as próximas duas horas a congelar na rua toldaram-me por completo os ouvidos.

Perguntou-me então a dita senhora se eu estava sozinho ao que respondi que não, que estava com a minha mulher e um casal amigo. “Então chama-os para virem contigo – disse ela – hoje serão meus convidados para a igreja.”.

Isto parecia mentira. Ali estávamos nós, a sair da fila, eu a carregar a mala e a Susana já de braço dado com a nossa benemérita. Passámos a primeira porta da igreja e passámos ainda a segunda. “Essa não a minha porta” – disse ela com um certo ar de altivez enquanto chegávamos a uma terceira porta ladeada por dois seguranças. Fez sinal para indicar que estávamos com ela e lá entrámos finalmente.

Lá dentro apanhámos um elevador e em certa altura diz-nos a referida senhora que a nossa paragem era ali. Saímos e eis senão quando nos encontramos no meio da comunidade. Não no espaço reservado aos turistas, lá atrás. Estávamos ali, no meio da coisa.

A celebração foi o que esperávamos. Animação e alegria (ao invés de tristeza amargura e pecados por todo o lado). Falava-se do que é bom e também do que é mau mas sempre na perspectiva de que o mau se tentará remediar e não só que devia ser castigado… É diferente. Ao fim de uma ou duas horas é fácil entender porque vão lá aquelas pessoas, sempre com boa cara, dispostas a ouvir e a partilhar. O Gospel? Sim, também lá estava mas o sermão batia-o aos pontos.

Para finalizar o relato desta nossa manhã fica ainda uma nota tipicamente portuguesa. A certa altura reparei que junto a nós estava mais um casal de jovens e que, falavam português. Estranhei pois não havia por ali mais ninguém que não “se enquadrasse” por completo. Perguntei como tinham entrado e a resposta foi clara: “Entrámos atrás de vocês. Quando percebi o que passava virei-me para ela e disse-lhe que viesse sem dizer nada. Aqui estamos.”.

O relato da nossa viagem a Nova Iorque continuará em breve. Por hoje já vai longo não vos parece?

Update: O relato continua em Férias em Nova Iorque outra vez (ou New York 2008) II.

Morreu Michel Crichton. Foi no passado dia 4 de Novembro. Mesmo parecendo egoísta confesso que a primeira coisa que disse quando ouvi a noticia foi: “Não pode ser. E eu que estava à espera do seu próximo livro”. Sim. Pode parecer egoísta ou insensível mas demonstra certamente o quanto eu apreciava os seus escritos.

O meu primeiro contacto com a obra de Michael Crichton foi através de Congo há muitos, muitos anos atrás. Depois fui vendo o que todos víamos, na televisão o ER (Serviço de Urgência) e no cinema o Jurassic Park ou Disclosure. Mostrava-se assim ao grande mundo, aquilo em que Crichton era um verdadeiro mestre: no chamado techno-thriller. Logo por sinal, o meu género favorito.

Na minha viagem a Nova Iorque, há 2 anos atrás, redescobri Crichton na Barnes&Nobles através de State of Fear que me deixou tão entusiasmado que ainda mal o tinha acabado de ler e já tinha comprado Next. Não poderia imaginar que seria o seu último livro. Teria guardado umas páginas para ler mais tarde…