E eis que sem mais nem porquê, uma mão cheia e mais alguns indivíduos, casados, pais de família (ok, nem todos mas fica bem na sinopse) saíram de suas casas a meio da noite (tipo 2h30m da manhã), partilhando boleias e deixaram a cidade rumo à beira mar.

Juntos ao chegar, rapidamente se carregam os estaminés, uns às costas e outros debaixo do braço, cena d’homens que a vida não é facil. Pede-se silêncio ou pelo menos pouco barulho. Adiante.

4 horas da manhã. Rua acima, rua abaixo já se sabe onde ir. A coisa desce à praia que a luz inspira e o mar está sereno. Foge que ainda te molhas rapaz. E não te esqueças de sacudir a areia da bainha…

Mais uma rodada que é bom termo entre irmandades. Roda o palco mantém os actores que não é fácil de os arranjar tão bons. A baía é já ali e antes da hora acabar mais uma salva…

Andar, andar que se faz tarde. A caminho da encruzilhada, onde haveriam de desacelerar os incautos com medo das máquinas que no escuro não se deixam reconhecer, o ponto alto da noite. Qual Lynch, qual Copolla.

Pela primeira vez sem álcool (goelas havia que já o beberiam assim houvesse) e o resultado está à vista. Um Darth Vader esquizofrénico, um Chewbacca envergonhado (até ter solto a franga) e uma relação familiar desconhecida. Fez-se história. Ainda que não aconselhável a menores, ficará nos anais (sem piada por favor) da geekalhada…

Vá-se agora explicar a graça a cônjuges ou amigos que só gostam de futebol…

Fica então para vossa critica, ainda que daqui nada tenham percebido. Muito haveria a dizer, desde a razão (inspirada, internacional) ao sentimento (viva a galhofa que a caça ao riso fica para outras distopias) mas não vale a pena. São só doidos, varridos, às 4 da manhã.

Já aqui escrevi sobre o Fatias de Cá e sobre os bons momentos que com o Fatias de Cá se passam por esse pais fora mas mesmo assim não custa (é sempre um prazer) lembrar o que são e o que fazem.

O Fatias de Cá é um grupo de teatro criado na década de 70 do século passado e que segue como lema uma frase atribuída a Galileu Galilei: “Não resistir a uma ideia nova nem a um vinho velho“.

Começar a apresentação do Fatias de Cá com a frase acima não é de forma alguma um acto inocente. Basta assistir a uma das suas representações para se perceber porquê.

Com opções estéticas sui generis que vão do aproveitamento do património (seja ele natural ou construído) para compor os seus palcos e cenários até ao partilhar com o público os momentos de refeição (que podem ou não estar enquadrados na peça) em que actores e audiência sociabilizam entre dentadas e copos de tinto, o Fatias de Cá consegue representações espectaculares graças aos seus mais de 100 membros activos que fazem o que fazem essencialmente por gosto de o fazerem. Quem tiver dúvidas sobre tal facilmente as esclarece quando em animada conversa de repente se virem frente a um Fatia, com oitenta anos, a falar sobre os espectáculos que já fez e os que estão já agendados para fazer…

Do Convento de Cristo em Tomar ao Castelo de Almorol, passando pelo Palácio Pancas-Palha em Lisboa ou pela Distilaria da Brogueira em Torres Novas, o Fatias de Cá vai criando amigos em cada representação, daqueles que fazem centenas de quilómetros para lá ir, uma vez mais, passar um bom bocado.

E foi o que nós fizemos no fim de semana passado. Filha em casa da avó e lá vamos nós para a Brogueira. Abençoado GPS que a descobriu logo à porta do Hotel de Torres Novas.

Seis da tarde e o Sol a caminhar para a cama. Entrem por favor. A reserva já está feita. Sentem-se um pouco enquanto esperamos a peça começar. Há agua e vinho, chouriço pão e azeitonas para petiscar.

A Festa de Babette

A Festa de Babette está preste a começar. Foi um filme na década de 80. Dos bons mas dramalhão e não sendo feito em Hollywood a coisa não tem o mesmo impacto. Segue para a sala ao lado e são apresentadas as personagens. Martinha e Filipa (na Dinamarca levariam ph mas por cá não é preciso) são as filhas de um pastor que as quer levar (e a toda a sua comunidade) à salvação através da renuncia. A coisa vai como vai sempre em casa de bom pastor (conhecem mais algum exemplo bem sucedido?).

Conhecemos em mais detalhe cada um deles. Os que lá estão, os que vão chegando e os que pensam não voltar (ou que talvez não voltem pois se sai tenente e volta general não volta o que saiu) e chega então Babette. As lutas em Paris por volta de 1870 correram com ela de lá. Morto o filho, morto o marido e sem mais por quem lutar, Babette segue o conselho de um ombro amigo que lhe deu a conhecer a existência de gente simples e humilde, devota, e a quem Babette poderia servir por dedicação.

Serve-se a sopa.

Os anos passam-se, e noticias chegam de longe. Babette é agora rica com 10.000 francos da lotaria de Paris. Pede às senhoras que a deixem preparar um banquete, um banquete especial, um banquete à Babette. Por tanto lhes ter dado sem nunca ter pedido, lá lhe dão tal liberdade com uma nota: Virá um general…

Vamos à mesa (não nós mas eles). É impossível resistir ao corpo de Cristo (a receita das Cailles en Sacophage está aqui no New York Times) que é servido à mesa. Por mais que a renuncia seja modo de vida… O general sabe destas coisas, doutros tempos, doutras vidas e de um café de Paris, o Café Anglais

Não vos vou contar mais. Vão até lá. Digam que vão daqui ou então não digam nada.

No fim, voltamos à mesa. O arroz de tomate, as pataniscas e os panados satisfazem mas a conversa sacia. Já é tarde, eles querem certamente descansar e nós também. Amanhã tentamos reservar outro espectáculo. Noutra terra, com as mesmas gentes ainda que possam ser outras pessoas…

E eis que o relato da nossa mais recente viagem a Nova Iorque continua (iniciou em Férias em Nova Iorque outra vez (ou New York 2008)). Desta feita, uma Nova Iorque mais além, além de Times Square e das ruas movimentadas, além das limusinas e das montras de Natal.

O Brooklyn… Para além da ponte.

Já tínhamos ido até Brooklyn na nossa anterior visita a Nova Iorque. Atravessámos a ponte, passeámos um pouco, comemos num daqueles bares típicos de bancos corridos e lá estávamos de volta a Manhattan. Desta vez o passeio foi diferente. Um Brooklyn mais profundo, mesmo lá no fundo (o que viria a ser um padrão nos passeios seguintes). Resolvemos visitar o Brooklyn Botanic Garden. E acreditem que vale a pena.

Lá longe, numa América já diferente, num daqueles cruzamentos entre uma bomba de gasolina e uma casa de fast-food, o jardim botânico do Brooklyn proporciona um passeio agradável entre árvores, esquilos e estufas muito bem cuidadas. É de salientar a forma original como varias estufas representando diferentes ecossistemas estão interligadas em estrela através do núcleo desta onde o visitante pode descansar e comer qualquer coisa num prazenteiro café…

At the Brooklyn Botanic Garden (XII)

É efectivamente um mundo à parte. Exceptuando alguns locais que aparentemente aqui têm o seu ponto de encontro, há curiosos das ervinhas e estudantes. O turismo passa noutra estrada.


Antes do regresso a Manhattan, uma paragem num Donkin Donuts local. Entre uns divinais (sim, eles são mesmo bons) Donuts e mais um Hot Chocolate (que não é o do Starbucks mas enfim, o bolo compensa) eis que a Susana olha para a janela e exclama com declarado ar de espanto: “Olha um branco!”. Já há algumas horas que não se via nenhum…

Duma ponta à outra. O Bronx também nos recebeu…

Apesar das dúvidas de um casal amigo sobre a nossa segurança, estávamos decididos a ter uma visão alternativa da cidade que nunca dorme. Ao fim e ao cabo, tudo ali faz parte do nosso imaginário. Uma visita ao Bronx desta vez não nos escapava.

O Metro é o melhor amigo de quem visita Nova Iorque e que o diga quem for até ao Bronx. Assim para terem mais ou menos uma noção da distancia, Times Square fica na rua 42 e o local para onde nos dirigíamos fica na rua 180. A viagem demora muito tempo e à medida que vamos subindo é fácil entender que estamos a entrar quase noutra dimensão. Primeiro são as pessoas no Metro que vão mudando e depois a paisagem circundante. Mais uma vez, a Nova Iorque dos filmes… De alguns daqueles mais underground

Estávamos longe, muito longe. Mais uma vez, quase não se vê ninguém. Estradas largas e cruzamentos com muitos stands de automóveis daqueles à americana. “Compre aqui e faça o melhor negócio da sua vida” e tudo com muita luzinha de natal… Tentámos perguntar por direcções. Foi difícil. Difícil encontrar quem falasse inglês. A certa altura deu para entender que nos safávamos melhor com um espanhol arranhado ou até em português

O destino era o New York Botanical Garden. O enorme jardim botânico de Nova Iorque é famoso pelo seu papel no estudo da ciência botânica desde 1891 e costuma com alguma regularidade apresentar algumas exposições que lhe dão um encanto adicional.

Este ano, para além da exposição de obras do escultor Henry Moore espalhadas por todo o jardim, tivemos a oportunidade de visitar uma pequena exposição no edifício central sobre o Crisântemo na arte japonesa e, a principal atracção da época, The Holiday Train Show. E acreditem que não é propriamente uma brincadeira de crianças mas encanta igualmente miúdos e graúdos.

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O The Holiday Train Show é, de uma forma muito resumida, uma exposição de cerca de 150 miniaturas de edifícios e monumentos famosos da zona de Nova Iorque mas completamente feitos com pedaços de plantas, pequenos troncos, galhos, folhas e até frutos. Tudo isto magnificamente iluminado e com vários pequenos comboios que constantemente apitam avisando da sua passagem… É difícil descrever o quão espectacular é esta exposição e como tal aconselho vivamente uma passagem pelo site da mesma.

Não pensem que este passeio (a visita à exposição) se faz assim ao de leve. Tamanha foi a espera para a entrada que deu para conhecermos um divertido casal do Connecticut e com eles debatermos durante algum tempo temas tão dispares como o frio, os hotéis da cidade e a corrupção na politica… Coisa pouca.

O jardim botânico estava agora cheio de visitantes. Não se iludam. Muito poucos turistas e desses muito poucos estrangeiros. Aquilo funciona mais como passeio de fim-de-semana, sitio agradável… Os turistas estão todos lá em baixo. No Macys e na 5ª Avenida…

Ainda no jardim botânico de Nova Iorque conhecemos um outro simpático casal mas este mesmo dali, do Bronx. E com pinta disso. Deu para entender que, no outro lado do mundo encantos simples funcionam juntos dos mais novos da mesma forma que aqui em Portugal. Assim como a Patrícia aprende palavras em Inglês com os desenhos animados da Dora, também o filho deste casal aprende palavras em Espanhol com os mesmos desenhos animados.

Foi igualmente curioso verificar que este casal tem com o filho (mais novo do que a Patrícia pois ainda não tinha 3 anos) a mesma atitude que nós temos com a nossa quando ela cai ao chão… Entre festas e aplausos a mensagem a passar é que quando caímos só há uma coisa a fazer: levantar.

Já de noite, o passeio estava terminado. A ideia de voltar a correr as ruas do Bronx e desta feita, mal iluminadas, não nos pareceu a melhor mas se não houvesse alternativa… O tal casal de locais informou-nos que mesmo ali junto a uma das saídas do jardim existia uma estação de comboio que nos punha na Grand Central em 20 minutos. Assim foi. Um frio de rachar e mais uma historia no livro das recordações…

Muito em breve, o relato continua.

Continuando o relato sobre a nossa mais recente viagem a Nova Iorque (iniciado em Férias em Nova Iorque outra vez (ou New York 2008)) seguem mais alguns dos momentos a registar.

Fast Food em Nova Iorque? Nem por isso.

T.G.I. Friday’s (a significar, dizem eles, Thank Goodness It’s Friday). Há vários espalhados por Nova Iorque. Há dois anos experimentámos o de Times Square e desta feita visitámos (mais do que uma vez) o da 9ª Avenida. Sim, é uma cadeia de comida mas não tem nada a ver com os hamburgers do Donald’s.


Tem hamburgers é certo mas também tem mais coisas… Bifes. E entrecosto. E muito, muito, molho Jack Daniels… E é bom e bem servido. Mas nota à navegação: Em Portugal eu nunca pagaria o que eles por lá pedem para comer um hamburger. O T.G.I. Friday’s também é famoso em Nova Iorque (que já agora, é a sua cidade de criação e não algures no Sul dos Estados Unidos como muita gente pensa) por servir bebidas alcoólicas. E não deixa de ser engraçado quando nos avisam logo ao fazer o pedido que, posteriormente, virá junto à mesa o responsável da casa para pedir a nossa identificação. Yeap. Uma cervejinha, um BI ou passaporte se faz favor…

Times Square. Tudo o que sempre vimos e mais ainda.

Em Times Square sentimos a falta do Naked Cowboy. É difícil não dar pela ausência de um tipo em cuecas (slips e não boxer’s atente-se) com um para de botas calçado e um chapéu de cowboy a tocar viola no meio da estrada… Em compensação andavam por lá estátuas da liberdade de óculos escuros. A praça só por si é um espanto e depois tem sempre pequenas surpresas para quem as quiser ver. Falando nisso, quando por lá passarem não deixem de ir à casa de banho. Sim, leram bem, à casa de banho. Metam-se na fila, preparem-se para as fotos e para os aplausos e lá vão direitinhos às melhores casas de banho que se podem encontrar nas redondezas. Charmin Restrooms. Vão ser difíceis de falhar.

Ainda na famosa praça de Nova Iorque mais dois pontos de visita obrigatória para o turista que quer levar umas lembranças lá para casa. Ambos doces, cada um à sua maneira e igualmente impossíveis de passarem despercebidos tamanha a publicidade que Times Square lhes dedica: A loja M&M’s e a Hershey’s.

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Ainda que não seja grande apreciador de M&M’s (não me lembro da ultima vez que comi um) há que dar a mão à palmatória no que se refere à grandiosidade com que eles nos são apresentados em Times Square. Os ecrãs gigantes com animações super coloridas são visíveis em quase toda a praça. A loja é enorme. São dois andares dedicados aos famosos amendoins cobertos de chocolate onde podemos encontrar de tudo desde os ditos até roupa de cama, cuecas, loiças, brinquedos, o que quer que seja em que se possa imaginar impressa a famosa marca de chocolates.

Já a Hershey’s é um bocadinho diferente. Grandiosa no seu género, vive mais do chocolate do que da tralha comercial à sua volta. Ainda que existam mil e uma caixa e caixinhas, sacos e saquetas, todas elas têm como objectivo carregar os famosos Hershey’s Kisses. E garantidamente vale a pena vir de lá carregado com alguns desses beijos de chocolate.

Um passeio a Bryant Park. Uma nova zona favorita.

Mesmo perto do hotel onde estávamos, entre a Rua 40 e a 42, entre a 5ª e a 6ª Avenida fica Bryant Park. No meio de todo aquele vidro e betão, um pequeno parque que nos dá vida verde e descansa os olhos a quem já muito correu pela cidade. Tal é o encanto deste espaço que Bryant Park se tornou o sitio de eleição para muitos nova-iorquinos irem almoçar sentados nas mesas por ali espalhadas com as suas caixas de plástico ainda fumegantes saídas dos Déli’s mais próximos.

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Flores, árvores e até um carrossel dos antigos dão um encanto especial ao espaço. É claro que em Dezembro (como quase tudo em Nova Iorque) brilha de forma diferente. Uma enorme pista de gelo mete toda a gente a patinar de manhã à noite. E sim, eles vão mesmo de fato e gravata para o meio da pista com os patins nos pés, descomprimir à hora de almoço… Também nesta altura do ano Bryant Park acolhe um grande mercado com cerca de 100 lojas de artistas vários, artesanato e comida. Mais uma grande oportunidade para adquirir algo único que não pudemos desperdiçar.

Canadá? Porque não? Estamos em Nova Iorque certo?

Foi ainda em Bryant Park que tivemos outra daquelas situações que só nos filmes. Junto ao espaço do parque estava uma grande tenda montada com gente a entrar e a sair… Curiosos como somos quando estamos de viagem não passávamos sem saber o que ali havia. Tratava-se de uma acção do Turismo do Canadá a promover as viagens de Inverno ao pais vizinho. Entrámos e tiraram-nos uma fotografia num painel croma com um fundo à nossa escolha para posteriormente fazermos o download num endereço web. Até aqui tudo normal. À saída questionaram-nos sobre o nosso pais de origem e quanto tempo estaríamos ainda em Nova Iorque. A resposta talvez lhes tenha agradado uma vez que nos ofereceram duas entradas VIP para um evento também patrocinado pelo Estado do Canadá a realizar-se no Celsius Canadian Lounge, um bar ali mesmo em Bryant park. Ora com isto acabámos por ganhar uma bela massagem ao final do dia e ainda dois copos de cidra quente que para nós foi novidade. Acompanhado por uma óptima vista e boa música foi um belo fim de tarde.

Ora, os relatos desta nova viagem a Nova Iorque seguem assim que possível… Até lá, novas fotos no Flickr