Porque há noites em que pensas “porque diacho ainda aqui estou?”.
Pessoal e transmissivel
Seguidores no Twitter? Falem com o senhor Joaquim, o dono da Mercearia. Lembram-se? A famosa mercearia que há uns anos atrás teve um problema com a Arquitectura de Informação, a politica e as Salsichas…
Pois bem, os tempos mudaram e a comunicação na Mercearia teve também que mudar. A Dona Quitéria (que na altura era a responsável pela venda das… Já ninguém se lembra do quê), foi despedida. Ela pensava mais na sua “quinta” do que nos Clientes e uma boa regra para um negócio de sucesso é ter os interesses dos Clientes em destaque.
Como eu dizia, os tempos mudaram e o site da Mercearia já não era suficiente para dar a conhecer e dinamizar os magníficos produtos e serviços que a Mercearia tem. Assim, o senhor Joaquim entendeu por bem abraçar os novos media digitais, como forma de estar mais perto dos seus Clientes, e começou pelo Twitter.
Depois de ver o sucesso que alguma casas no ramo conseguiam alcançar, com milhares de seguidores no Twitter, o senhor Joaquim não teve dúvidas de que esta seria uma boa aposta. Se nos estrangeiro conseguiam, ele também conseguiria.
Criou uma conta, com uma boa fotografia de perfil (um belo logo por sinal) e uma cover image de fazer inveja. A Mercearia no seu melhor. Depois resolveu arranjar seguidores no Twitter, que uma conta de Twitter é tão mais interessante quanto as pessoas que a seguem.
Leu por ai o senhor Joaquim, que para arranjar seguidores no Twitter basta “investir uns cobres” mas, de igual forma, leu também que o crescimento orgânico era o melhor. Não percebendo onde raio teria que colocar o adubo, fez umas quantas perguntas e lá lhe explicaram que o crescimento orgânico é o aumento do numero de seguidores no Twitter de forma natural. É composto por aqueles utilizadores que querem seguir a nossa conta porque esta verdadeiramente lhes interessa, seja porque lhes dá boa informação ou porque os diverte.
Seguidores no Twitter? Sem gastar dinheiro?
“E não tenho que gastar dinheiro?” perguntou o senhor Joaquim? “Posso ter seguidores no Twitter sem gastar dinheiro?”. Ora bem, tempo é dinheiro e vista a coisa dessa forma, vai gastar algum. Arranjar bom conteúdo, boas imagens… Isso demora. Mas a conta cresce, os seguidores aumentam. Não é de um dia para o outro, mas vão aumentando.
Assim fez o senhor Joaquim. Começava logo pela manhã a Twittar. E twittava perto do almoço quando todos pensavam em comida, e depois de almoço quando a ninguém apetecia trabalhar. Ele twittava ao fim da tarde e depois de jantar. Fazia likes e seguia novas contas e com isso, lá ganhava, dia após dia, novos seguidores no Twitter da Mercearia.
Esta estratégia não passou despercebida à concorrência. O senhor Manuel, dono da “outra” mercearia do bairro, reparou no aumento gradual de Clientes na loja do senhor Joaquim. Sim, é certo que os seus produtos são mais caros, a sua carne é mais rija, os vegetais mais moles e o peixe até já cheira um bocadinho mal mas diacho, isso não justifica tal corrupio à loja do Joaquim. Em conversa com uma amiga – Quitéria de seu nome – que trabalhava numa agência de comunicação, ficou a saber o que se passava. A Mercearia estava a fazer um sucesso nas redes sociais. Milhares de seguidores no Twitter e até as revistas da moda já falavam dela.
“Ora bem, se é assim, eu também quero comprar um Twitter” disse o senhor Manuel à Quitéria. “Mas ó Manuel, tu já tens um Twitter pá. O teu filho abriu uma conta há uns meses mas nunca lhe ligaste e aquilo está às moscas.”. A Quitéria lá lhe explicou o que o senhor Joaquim andava a fazer, como se fazia, o tempo que levava. “Isso assim não me interessa. Não tenho tempo cá para essas coisas.”. “Não te preocupes Manuel” – disse então a Quitéria – “há outra forma de resolver o teu problema. Deixa estar que eu trato disso. Passa para cá o teu cartão de crédito“.
Mais e mais seguidores no Twitter
Dois dias depois, o senhor Joaquim vê a conta da Mercearia ganhar 30 novos seguidores no Twitter. 30 num só dia. Que maravilha, e ele que ficava todo contente quando ganhava 10 ou 15… 30 de uma só vez. E malta nova na rede certamente, tantos eram os “ovinhos”. No dia seguinte outros 30. Mais ovos. E 25 no outro dia. E 27 no dia a seguir… “Isto do Twitter deve estar a crescer” – pensa ele ao ver tantas contas novas.
Uma semana mais tarde, está o senhor Joaquim a jantar quando lhe telefona um amigo: “Olha lá pá, então andas a deitar dinheiro à rua?”. O senhor Joaquim estranhou. Mesmo que o Manuel seja conhecido por ser forreta, ele, Joaquim, nunca foi conhecido por ser um esbanjador. “De que raio falas tu?” pergunta o senhor Joaquim ao amigo. “Então? Não se fala de outra coisa pá. Que tu andas a comprar seguidores no Twitter.”.
O senhor Joaquim ficou de rastos. Ele, logo ele, que tinha ficado convencido com o tal do crescimento orgânico, com os seguidores reais, que gostam da sua casa e dos seus produtos, vir agora a ser acusado de andar a comprar seguidores no Twitter. E de repente, a conta da Mercearia parece um aviário de tantos ovos que tem… E os que não são ovos dizem que não gostaram da manobra, dizem que “a Mercearia perdeu a credibilidade”.
Nessa tarde, ao fechar a porta e subir a rua, diz-lhe o senhor Manuel com um sorriso nos lábios: “Ó Jaquim, então? Foram-se embora os Clientes? Tens que ir p’ró Twitter pá, que é lá que os gajos ‘tão todos…”.
O senhor Joaquim, pobre senhor Joaquim, lá seguiu cabisbaixo, sabendo-se honesto, trabalhador, continuando a acreditar que tinha feito um bom trabalho a ganhar seguidores no Twitter, mas triste por não perceber o que tinha acontecido.
Conclusão
Em jeito de nota para a Quitéria: Antes era má vendedora de salsichas e agora não és muito melhor a trabalhar redes sociais. És mais manhosa, trapaceira, vigarista, mas nem por isso melhor. Já todos sabemos o que fizeste. Comprar seguidores no Twitter para a conta da concorrência e depois espalhar o boato de que a concorrência o anda a fazer? Bah… Truque barato e sem classe.
O senhor Joaquim deu uma entrevista ao jornal do bairro e, sem acusar ninguém, disse que talvez tenha sido isso o que se passou… Os vizinhos gostaram do que leram e por via das dúvidas, não fosse ser verdade, deixaram de comprar na mercearia do senhor Manuel.
Hiroxima, (meu amor)… Sim, passei só para vos dizer isto. Há dias assim, em que ao sair de casa é com isto que se cruzam.
No final de 1982 eu ainda não estaria muito voltado aos hits da pop-rock ou mais precisamente, da synth-pop, mas já contava com a minha dose, mais do que a recomendada, de horas frente à televisão e de ouvido junto ao radio. Hiroxima, (meu amor) estava presente certamente mas continuaria a estar durante longos anos. A verdade seja dita, ainda está.
Quando ao ouvir as primeiras notas recordas livros, filmes, peças de teatro, cigarros fumados atrás do pavilhão… Deixem lá isso, da conversa sobre a profundidade da coisa, do significado… A profundidade é medida pelas memórias que traz e o significado constrói-se nessa proximidade.
Podia ser outra qualquer música. Quem me conhece sabe bem o quanto pontuam a minha vida mil músicas diferentes, os momentos que vou registando ao som desta ou daquela voz, desta ou daquela batida. Hiroxima, (meu amor) marcará sem duvida alguns desses momentos.
Hiroxima, (meu amor) é, como tantas outras músicas, mais uma que recordo e me faz recordar.
Que diacho, não vos parecerá assim tão estranho. Os Da Vinci eram um duo e os Eurythmics também… Sintetizadores? Também os Orchestral Manoeuvres in the Dark ou os Soft Cell. Eventualmente teria escrito algo na minha viagem matinal se esta começasse comigo a ouvir Sweet Dreams, Enola Gay ou Tainted Love…
Está lançada a discussão.
Não se choquem os mais pudicos pois já não é a primeira vez que a Playboy é referida aqui no browserd.com. Mas desta feita não é para falar mal da capa, nem tão pouco da edição nacional da famosa revista.
Desta vez, a referência vem no sentido da pergunta “Afinal, quem lê a Playboy?” ou, fazendo justiça à pergunta original, que tipo de homem lê a Playboy?
What Sort of Man Reads Playboy?
A questão foi colocada muitas vezes entre os finais da década de 50 e o inicio da década de 70 do século passado, numa fantástica colecção de anúncios publicados sempre na própria revista, ocupando uma página inteira entre a fotografia, a pergunta e um pequeno texto onde este leitor era descrito, sempre que possível, com detalhes estatísticos que ajudavam ao enquadramento do mesmo na sociedade da altura e nos sonhos de realização da mesma.
Sabiam que:
- em 1962, 76% dos leitores da Playboy possuíam um ou mais gira-discos em casa?
- em 1966, cerca de 33% de todos os leitores da Playboy possuíam cartões de crédito?
- em 1972, metade dos homens entre os 18 e os 34 anos que fizeram mais que 8 viagens de avião, liam a Playboy?
Quase sempre jovem, sempre com muito bom gosto, determinado, bem na vida diriam alguns, e invariavelmente, foco da atenção das mulheres em seu redor. Assim era o leitor desta que era uma das mais famosas revistas do mundo.
O site Flashback, na senda de nos relembrar pérolas do passado, fez uma extensa recolha dos referidos anúncios e voltou a publicar um artigo (já tinha publicado um outro artigo no ano passado) sobre o tema, profusamente ilustrado, garantindo uns largos minutos de humor.
A famosa revista já não é o que era. Acabaram-se as coelhinhas nuas (no site já tinham acabado em 2014) e longe vão os tempos das históricas entrevistas com Miles Davis, Arthur C. Clarke ou Steve Jobs e dos textos escritos por autores como Margaret Atwood, Ian Fleming, Jack Kerouac ou Ray Bradbury. Os leitores, certamente, também mudaram.
E vocês? Como descreveriam o actual leitor da Playboy?
Escreve o João Miguel Tavares na última página do jornal Público de hoje que:
os momentos de histeria via redes sociais seguem sempre a mesma mecânica:
- um tipo qualquer descobre uma coisa na Internet que o irrita;
- um grupo de gente identifica-se com esse tipo qualquer e inicia o processo de indignação descontrolada e analfabeta via Facebook em crescendo de idiotia;
- outro grupo de gente que não gosta do Facebook reflete sobre as redes sociais e conclui que Mark Zuckerberg é o Anti-Cristo;
- um terceiro grupo sublinha a necessidade de preservar o direito de cada um a escrever aquilo que bem lhe apetece;
- cinco dias depois, já ninguém se lembra de nada disto.
Penso que o João Miguel Tavares se esqueceu de um 6º ponto, que cada vez mais parece estar presente nesta mecânica sobre a qual escreve:
6. Uma ou duas semanas depois, um tipo qualquer que não tem sobre o que escrever, debita umas quantas patacoadas na última página de um jornal, contrariando a sua própria teoria de que passado cinco dias sobre um qualquer caso falado na Internet, já ninguém se lembra disso.
Meu caro João Miguel Tavares, a HRS (História das Redes Sociais) e de forma mais abrangente, a história da Internet, diz que esta não esquece. Não esquece por exemplo, “parolos que debitaram parolices” sobre as redes sociais.
Outra coisa que, sinceramente, eu não esquecerei tão cedo, é o facto de tão veementemente o João Miguel Tavares defender um estilo que cruze “biografia com história, antropologia e sociologia” contendo uma “inventividade, um arrojo interpretativo”.
Talvez seja má interpretação minha, talvez desconhecimento de causa (a única antropologia que estudei depois da básica no ensino secundário foi Antropologia do Ciberespaço na faculdade e confesso, não fiquei o maior fã) mas tinha a ideia de que um relato biográfico, histórico e antropológico se devia cingir mais a factos do que a “invenções”.
Vou no entanto assumir que o João Miguel Tavares se refere à inventividade da Antropologia do mesmo modo que se referiu Jean Segata (não fiquei fã mas não quer dizer que não tenha estado com atenção às aulas), ou seja, como uma “capacidade de criar mundos” que, na minha humilde opinião, é o que o Henrique Raposo parece ter feito.
Tirando isto, amigos como dantes.