E desta vez parece que a aventura em Nova Iorque não acaba mais. Sim, para além dos relatos anteriores ainda há muito para contar. O titulo do post é claro sobre o que aqui hoje escrevo:
Comer em Nova Iorque
Já tive a oportunidade de referir a muito boa gente que comer em Nova Iorque pode ser complicado. Não que não haja o que comer. Há e muito. O problema do comer em Nova Iorque é que comer como se come por cá pode ser muito muito caro e comer mais barato não será certamente para todos os gostos. Para nós não era novidade mas mesmo assim desta feita resolvemos experimentar coisas que da outra vez não provámos.
Já na companhia do Ricardo (vão lá dar um pulo ao Mentes Brilhantes que vale bem a pena) e da Ana, logo na noite em que eles chegaram a Nova Iorque, fomos jantar ao Coppola’s. Aberto na zona de Gramercy Park (relativamente perto do hotel onde ficavam os nossos amigos) há cerca de 10 anos, este Coppola’s é a versão elegante de um outro Coppola’s aberto há mais de 20 anos no Upper West Side.
Confesso que na entrada ainda pensei se “haveria mesa” para nós. Entre engravatados de fato escuro e meninas de vestido de noite (e transsexuais – ou shemales como lhe chamam por lá – de muito boa pinta), nós os 4 seriamos os únicos de jeans por ali. Não foi impedimento. Porta aberta e uma relações públicas (loira, no topo do seu metro e setenta e muitos) recolhe os nossos casacos e logo de seguida nos indica a mesa aparentemente uma das poucas vagas na casa.
Pela mesa e ambiente em geral, bem antes da carta na mesa, já se percebia bem que não estávamos num dos restaurantes mais baratos da cidade mas como em todas as nossas viagens, há extravagâncias que se fazem por gosto pois são aquilo que levamos connosco no dia em que não formos a mais lado nenhum… E por que si. Adiante…
Para a mesa cesto de pão e azeite aromatizado. Atempadamente (dando o tempo necessário) vem a carta e o pedido da bebida. Agua como se quer, uma garrafa se faz favor, mas rapidamente reparamos que agua por agua, por lá bebem agua a copo, del cano como lhe chamamos por cá. Não me lembro o preço da garrafa mas lembro-me de na altura comentarmos que seria essa a razão da escolha dos nova-iorquinos. Mas comida italiana não combina com agua e resolvemos experimentar um Coppola’s tinto. Vinho seco da Califórnia não desapontando não deixou particular recordação.
Para entrada pedimos um Carpaccio. Fillet Mignon finamente cortado em cama de rúcula e com muito queijo parmesão ralado grosso, regado a azeite e sumo de limão. Venha mais se faz favor. Não veio mais Carpaccio mas veio uma Insalata Caprese muito bem servida de mozzarella fresca, tomates fatiados, manjericão e tomate seco regado a azeite. Igualmente muito boa.
Infelizmente não me lembro dos pratos todos que vieram para a mesa. Melhor dizendo, só me lembro do meu prato mas sei que todos nós saímos do Coppola’s com a mesma opinião: Grande restaurante. Ora bem, o meu prato foi então algo chamado Linguine Fine all’Aragosta que é como quem diz, massa linguine de ovo e de espinafres, servida sobre uma lagosta aberta, camarões descascados e cortados tamanho família, e temperada com um molho à base de vodka. Será preciso dizer mais? Acho que sou capaz de lá voltar porque tão cedo não esqueço aquele prato de tão bom que estava.
E sim, para os que possam perguntar sobre o teste do algodão, ou seja, sobre se o garoto veio efectivamente claro digo-vos que, não só veio para a mesa um café com leite muito claro como o expresso foi dos melhores que por Nova Iorque bebi.
Comida, bebida e… Música.
É em Nova Iorque que fica senão o mais famoso, um dos mais famosos bares de Jazz do mundo: O Blue Note. Já há mais de 25 anos que este bar em Greenwich Village faz as delicias de todos quantos apreciam “aquela música maluca”… Já na nossa anterior viagem a Nova Iorque por lá tínhamos passado mas desta vez decidimos lá voltar e para além do espectáculo, apreciar também o famoso jantar Blue Note.
Apesar de termos feito reserva ainda que tivemos que esperar à porta. O Blue Note tem espectáculos às 8 da noite e às 10. Como tínhamos as reservas para o espectáculo das 10 tínhamos que esperar o vagar das mesas. Compensa. Antes isso do que ir ao espectáculo das 8 e sair à hora certa para dar lugar a quem vem…
Assim que entramos, casacos no bengaleiro (a 1 dólar cada) e de imediato somos levados à nossa mesa. Ao longo da noite verificámos que aquela talvez não fosse a “nossa” mesa uma vez que houve grande disputa da mesma por clientes aparentemente regulares e dispostos a pagar… Ainda assim lá ficamos, naquela que aparentemente era a melhor mesa da sala.
A simpatia fez-se notar na jovem que servia a nossa mesa: Ciryl acho eu. A loira sabia agradar com um sorriso e a meter conversa. Calamares de entrada em boa dose para quatro e acompanhado por um Rioja, Loriñon Reserva 2003 na esperança de algo parecido com o nosso tinto. Os calamares estavam óptimos mas o Rioja deixou muito a desejar. Ainda a musica mal tinha começado e já estávamos a pedir a segunda rodada. Desta vez optámos por um tinto californiano e ao escolhermos um Calix Cellars 2004 Syrah diz de imediato a Ciryl que foi muito boa escolha e certamente iríamos gostar. Não nos enganou. Entre o travo a chocolate e o gosto do carvalho este vinho de Napa Valey é uma verdadeira surpresa. A produção de Calix Cellars 2004 Syrah foi de 510 caixas de 6 garrafas cada. Já não há mais.
Vem a comida para a mesa e posso dizer-vos que quase certamente comi no Blue Note um dos melhores bifes da minha vida. E ao mesmo tempo começava o espectáculo. Bill Frisell e os seus convidados ofereceram-nos duas horas do melhor saxofone, piano, guitarra e bateria que se pode desejar. Como extra um fantástico espectáculo de sapateado de improviso que nos lembra estarmos na cidade das oportunidades em que, mais do que em qualquer outro sitio, os talentos estão ali, ao virar da esquina…
A noite no Blue Note acabou de bom modo, para nós e para a empregada que, ao contrário do que pensava a Ana, sempre levou mais do que a gorjeta obrigatória.
E se for assim mesmo à americana?
Cada vez que falo em comida e Nova Iorque é certo que alguém me vai falar em McDonalds. Acreditem que a presença da marca não é assim tão visivel quanto e se calhar, mais à americana do que uma ida ao McDonals será uma ida ao Dallas BBQ. E é bem difícil não dar por ele em Times Square. O espaço é enorme mas muito organizado com empregados que através de inter-comunicadores identificam mesas vagas e gerem o fluxo de clientes. A primeira coisa que se nota é o destaque que se dá às Margaritas. É tanto que não resistimos à tentação. Preparem-se: Copos gigantes com uma bola de sorvete ao meio e ainda acompanhados por uma pequena proveta com uma dose adicional de Tequilla. Duas são um perigo.
De entrada vieram para a mesa o que chamam de Crabcakes. Famosos por aquelas bandas, estes bolinhos de caranguejo tal pasteis de bacalhau, não são nenhuma especialidade. Comem-se. O que veio depois, isso sim, é de regalar os olhos e pensar se cabe tudo. Uma vez mais só me lembro do meu prato (deveria dizer: travessa?) mas penso que seja suficiente para terem uma ideia: Um enorme bife de vaca, rodeado de algumas tiras de entrecosto e grandes camarões fritos a acompanhar. Tudo isto sobre uma cama de pão de milho e palitos de batata doce frita. Um dado a reter sobre o Dallas BBQ: é um dos sítios onde se come “barato” em Nova Iorque.
Ainda sobram mais umas incursões gastronómicas para revelar mas ficam para outro dia que o texto já vai longo. Mais uma vez, o relato sobre Nova Iorque continuará num outro post, no sitio do costume: aqui.