Não me passaria pela cabeça sair do curso de Ciências da Comunicação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e não ler Jorge Luis Borges. Não que toda a gente que passa por este curso tenha que o ler… Talvez devesse… Enfim, interesses são interesses, gostos são gostos, cada um tem os seus… Eu, garantidamente, tinha, tenho que o ler…

Já comecei. Por onde começar talvez seja uma pergunta difícil de responder. Segui conselhos sábios, de quem o conhece… Ficções.

Ficções é o nome do livro que estou a ler… Uma série de pequenos contos que, a cada página voltada, me deixam a pensar como raio não o li eu há mais tempo?

Até à data, e vou a meio, já tenho os meus favoritos. A Lotaria em Babilónia e A Biblioteca de Babel… Deusas, os sítios por onde viajei, os corredores que percorri, as escadas que subi sem nunca chegar a descer…

Jorge Luis Borges

Quanto ao foco, bem, tal como ele, focando mais à frente… E ainda vou a meio lembram-se?

A vida é fotografia, a fotografia é a vida

Nota: Este artigo é a continuação de Nobuyoshi Araki: A morte bem pensada (I). Aconselho a leitura para melhor entendimento.

Na Lua de Mel

Araki tornou a sua lua-de-mel material em bruto para uma série de fotografias que lhe serviriam como manifesto daquilo a que chamaria de “Fotografia Pessoal”. «Podes fotografar-te a ti e às coisas que significam algo para ti pois é ai que reside o essencial e onde a intensidade dramática está no seu auge » disse Araki na série da BBC na série documental Genius of Photography. O acaso parece não fazer parte da sua obra.
Com a aceitação de Sentimental Journey, a vida torna-se então o tema da sua fotografia e a sua fotografia torna-se literalmente, a sua vida.

Numa tarde de Verão, no final da década de 80, Yoko diz a Araki que tem um grave problema de saúde e que os médicos lhe dão poucos meses de vida.

Foi num dia de Verão que a minha mulher me disse que tinha problemas no seu útero, que não tinha muito mais tempo de vida. Foi ai que começou a sua jornada a caminho do Inverno. Porque o Inverno é a morte. (declaração em Contacts Vol. 2, Portraits of Contemporary Photographers)

Araki acompanha-a até ao fim dos seus dias, mas sempre de câmara na mão, fotografando aquilo a que mais tarde chamaria de Winter Journey. Mais uma vez, barreiras que se quebram. A morte do ente amado, vista por quem mais próximo, mostrada por quem mais próximo.

O momento decisivo, aquele que não pode ser vivido por outro que não o artista, o ultimo suspiro da sua mulher, tem que ser fotografado por si mesmo que não o possa fazer. Mas a câmara é só extensão de si mesmo e ainda que o dedo no obturador não seja o seu (na foto abaixo, Araki pediu ao irmão que tirasse a fotografia daquele exacto ângulo), é conceptualmente uma fotografia sua e isso é que interessa.

Araki at Yoko's last minute

Às pessoas que o chamam de insensível, Araki responde que talvez se deva ao facto de ser Gémeos. «Eu não estou sozinho» diz ele. «Existe um outro eu». Esta desculpabilização é patente também na forma como fotografa com várias câmaras ao mesmo tempo, sugerindo vários narradores diferentes, as várias faces de Araki.

Araki remata ainda a radicalidade do seu plano, com a fotografia que capta do caixão de Yoko. Junto a ela no caixão, está bem visível, um exemplar de My Loving Chiro, o livro de fotografias que Araki tinha acabado de editar sobre o gato da família. Se parecer forçada a associação, porque não lembrar as flores que Araki leva a Yoko ainda por abrir e que, quase milagrosamente, abrem logo após a sua morte? São fotografadas no antes e no depois. E vão por isso também com Yoko para a derradeira morada. Merecendo nova fotografia.

Yoko no caixão

Mas que ganhou Araki com tudo isto? Araki fotografa hoje onde e como poucos podem fotografar. Na entrevista que deu a C.B. Liddell (ver em Intimate photography: Tokyo, nostalgia and sex) este diz-lhe que a primeira impressão que teve dele foi a de que ele parecia alguém que trabalhava num circo mas que achava isso muito importante para tirar fotografias: «Pode ser muito intrusivo e até rude com a câmara, mas as pessoas vão desculpa-lo porque a sua aparência as faz sorrir».

E nós? Como vemos a fotografia de Araki?

O homem comum a encantou-se pela fotografia de Araki, porque ele a mostra como uma parte pessoal, quase intima de uma vida que une o comum do dia a dia ao sublime (no sentido que lhe dá Dostoevsky, entendendo o sublime como algo belo e ao mesmo tempo, aterrador) muitas vezes inalcançável.

Esta atitude permite que a sua noção de fotografia não se confine, ou melhor, nem sequer se enquadre no domínio da alta cultura. Araki pode fazer fotografia como arte popular e mesmo assim ser reconhecida.

Estas fotografias ajudam-me a recordar. Sem fotografia, não recordamos muito. Já cheguei ao ponto em que não fotografo o que não quero lembrar. Só fotografo o que quero mesmo recordar…

O quebrar das regras permite-lhe hoje isto: fazer o que quer e ter o que quer: reconhecimento.

Lia-se no Folheto introdutório da exposição Private Tokyo no Museum fur Modern Kunst Frankfurt am Main:

Quanto mais espectadores tem, quanto mais em forma se põe… Araki é uma figura de culto em Tóquio, com a popularidade de uma pop-star.

Mas estará a morte por trás de tudo isto? A ver vamos no próximo post.

Bem, pelo menos no Reino Unido vai ser assim. 25 anos depois de ter passado pelos cinemas, a Universal vai passar novamente (por tempo limitado) em 200 cinemas do Reino Unido, o filme de 1985 que é hoje objecto de culto, Back to the future.

Esta campanha servirá para promover o lançamento em Outubro da trilogia Back to the Future em Blue Ray. Infelizmente, ao que parece, estas novas exibições estão mesmo limitadas ao Reino Unido não se verificando em mais lado nenhum, nem nos Estados Unidos.

Para comemorar este acontecimento, a Universal apresentou já um poster da edição comemorativa dos 25 anos. Vejam abaixo e comparem com o poster original…

back to the future poster new and old

Era engraçado que em Portugal se fizesse algo do género. Ó Markl, tu que és assim, tipo, unha com carne, com a malta dos cinemas e das distribuidoras e coiso e tal (és não és?), não arranjas maneira de fazer isto acontecer? A malta ajuda se for preciso…

Será que é desta? Comprei os DVD’s da primeira série de Dr. Who. Agora é que não tenho desculpa…

Já várias pessoas me perguntaram, como era possível eu não ver Dr. Who. Pois que ainda não me deu para esse lado… Bem, para dizer a verdade, deu, há cerca de 2 meses atrás mas, acabei por não ter tempo. Agora é que vai ser.

Dr. Who Season 1

Esta é a primeira série depois de Dr. Who ter estado fora do ar (em transmissões regulares semanais diga-se) durante 6 anos. Por isso é chamada de Série 1. No entanto, os fãs mais ferrenhos insistem em chamar a esta temporada exibida entre 26 de Março de 2005 e 18 de Junho desse mesmo ano, de série 27, diferenciando-a assim da Série 1 original transmitida entre 23 de Novembro de 1963 e 12 de Setembro de 1964.

Nesta nova Série 1 de Dr. Who, a BBC fez um verdadeiro refresh à história de forma a lembrar (ou dar a conhecer aos novos seguidores) conceitos base e personagens. Dá ainda a conhecer personagens, que muito darão que falar num certo spin off sobre o qual escreverei em breve…

São 13 episódios entre eles Rose, que me foi particularmente aconselhado pelo Luís Alves e pela Teresa quando questionei no Twitter sobre por onde começar a ver Dr. Who.

A série está dividida em duas caixas, cada uma contendo dois discos. A primeira parte é apresentada com uma capa de cartão contendo a vulgar caixa de DVD lá dentro mas, a segunda parte da série, já não teve direito a tantas mordomias e vem só com a caixa plástica. Infelizmente, não vejo esta série a vender em nenhum dos pontos de venda habituais o que me leva a pensar, que talvez tenha sido curta a edição e, provavelmente, estaremos perante mais uma que ficará no limbo. Esperemos que não.

A ver vamos então, se é desta que este clássico geek ganha mais um fã.

May we live in interesting times dizem para ai que diziam os outros… Maldição chinesa ou premonição de presidente americano, de uma forma ou outra dá ideia de alguma dificuldade, por passar ou ultrapassada… Também os Depeche Mode transmitem esse estar. Mesmo nos seus tempos mais electrónicos (muito de volta neste Sounds of The Universe), nunca deixaram ir para longe a negritude de uma alma humana, conhecedora de sentimentos sublimes no sentido que Dostoievski daria ao termo. Em quantas das suas musicas os fans não viram céus laranja fogo a escurecer lentamente até à tempestade dos dias do fim?

Os próprios membros da banda certamente viram os tais dias do fim em várias ocasiões mas as pessoas tendem a chegar à razão (mesmo que nem sempre o admitam, muitas vezes por uma questão de estilo…) e esta leva-as por vezes a caminhos de devoção a coisas belas (quantas vezes lembro Nick Cave e o seu No More Shall We Part).  Sounds of The Universe é um desses caminhos.

Ainda que se esperem belas e até angelicais paisagens quando na direcção de uma qualquer luz, Sounds of The Universe coloca-nos muitas vezes em caminhos desertos de gente, entre fabricas abandonadas com cheiro a ferrugem no ar. Lembram-se da capa de “Amonia Avenue” dos Alan Parsons Project? Coloquem lá o ferreiro da capa de “Construction Time Again” e toquem as cornetas de “Music for the Masses“. É esta a paisagem…

O novo álbum dos Depeche Mode há muito que era esperado pelos fans. A espera tornou-se mais difícil após ser publico o single “Wrong” que deixava antever uns Depeche Mode como não se viam há já uns anos, uns Depeche Mode back to origins.

Depeche Mode - Sounds of The Universe

“Sounds of The Universe”

In Chains” é a musica que abre o álbum. Preparem os ouvidos. Os primeiros segundos são por demais estridentes. Num pequeno crescendo até ao constante, imagina-se a central eléctrica quase, quase a rebentar. Não rebenta. Volta no tempo e abre-se o pano. O concerto vai começar. David Gahan esmera-se na voz.

E há mais assim pelo disco fora. “Hole to Feed” e “Wrong” estão bem posicionadas para chocar com quem é preciso, para dizer a quem ouve que estes tipos que aqui andam há já um bom punhado de anos, ainda estão para se fazer ouvir.

Mais lá para a frente “Sounds of The Universe” leva-nos noutros passeios com “Little Soul” ou “In Sympathy“. Diferentes mas qualquer uma delas prontas para nos deixar naquele estagio em que já olhamos pela janela e contamos as estrelas ou pelo menos ficamos à espera que elas nos concedam um qualquer desejo…

Depois vem “Peace“. Que dizer sobre “Peace“? Que é um hino a electrónica dos anos 80? “There is no space to regrets… Just look at me. Peace will come to me…” Ele lá tem a sua razão. E com esta musica é fácil que isso aconteça. Um delicioso regresso ao passado.

Com “Perfect” ficamos na dúvida sobre para onde irá a musica. Depois começamos a prestar atenção à letra e entendemos. Já vos disse que gosto de boa ficção cientifica?

Desde “Behind the Wheel” que Depeche Mode pode assumidamente tomar o volante em qualquer road trip. Seja numa atitude de introspecção ou até com um espírito de search and destroy (quanto do romantismo gótico se pode encontrar neste trio?). “Miles Away” também nos pode acompanhar na estrada…

Jezebel” leva a mente a viajar num segundo até Somebody… E depois volta. Martin Gore a cantar é (quase) sempre uma experiência única e aqui, para variar, ele está muito bem.

“Sounds of The Universe” fecha (e não termina) com um som próprio. “Corrupt“. Tirem-lhe as vozes, aumentem o volume e até pode bem passar por banda sonora de uma qualquer cena de jogo e morte violenta num casino de Vegas. Com tudo o que tem, é provocante e funciona.

Passei por cima de “Fragile Tension“, “Come Back” e “Spacewalker” propositadamente. Não tenho ainda nada para vos escrever sobre as ditas… Acontece.

Certo. Quem não gosta de Depeche Mode não vai passar a gostar agora. Um dos problemas de uma certa coerência (ainda que tão estranha quando falamos dos Depeche Mode) é chegar aquele ponto em que tudo o que se faz, deixa claro quem o fez. Os Depeche Mode já nos habituaram a que cada um dos seus trabalhos seja um trabalho Depeche Mode.

Mais sobre Sounds of The Universe dentro de momentos.