Juvenal Garcês recebe os espectadores à medida que estes entram na Sala do Teatro-Estúdio Mário Viegas. Sempre me lembro de ele lá estar. Com um semblante sério escondendo o humor que pouco depois nos irá transmitir… “Entrem que estamos todos à vossa espera…”

A Arte do Crime pela Companhia teatral do Chiado

Já há muito que conheço a Companhia Teatral do Chiado. Lembro-me de ouvir um dos actores na apresentação d’ As obras completas de Shakespeare em 97 minutos dizer que só gostaria de ter a peça em cena tanto tempo quanto esta tinha estado em Londres. 11 anos. Pois que por cá já vai em 12 and keep on going

Tenho rido como um desalmado desde então cada vez que entro naquela sala. Foram As Vampiras lésbicas de Sodoma, A Bíblia: Toda a Palavra de Deus (d´uma assentada) e mais recentemente (mesmo que não naquela sala pois assisti no Auditório do Colégio São João de Brito) Perguntem aos Vossos Gatos e aos Vossos Cães. Não há hipótese digo-vos eu. Quem lá vai, sabe o que o espera…

Mas porque raio estou eu para aqui a debitar toda esta informação sem vos ter ainda falado de A arte do crime? Porque não posso. Prometi. Prometi ao Juvenal Garcês (eu o resto da audiência) que não vos contava o fim e ainda que seja um policial, que só no fim se desvende a história, não sei quantos de vós seriam perspicazes, verdadeiros Maxwell Smart’s ao ponto de apanharem o fio à meada só pelo que vos contaria. Não. Promessa é promessa.

O espectáculo é fantástico. Os actores são fantásticos. O Emanuel Arada é um Sr. Rocha memorável que nos faz pensar várias vezes sobre a certeza da sua lógica ainda que nada seja certo e tudo pareça um pouco… ilógico. O Simão Rubim é o Inspector-Chefe Machado. Pois que está tudo dito. Vem cá que já me agarras… Muito cool na sua arrogância mas se não te pões a pau quando dás por ela já levaste. A Vanessa Agapito é a Diana Galvão que entra a matar de tão certa que está mas por não saber onde entrara, e perante um tudo tão estranho como o que lhe apresenta o Sr. Rocha não demora a deixar cair a capa de altivez (e até arrogância notada quando refere o seu “policia de estimação”) e a mostrar o quão frágil é. Enfim, fantásticos todos eles…

Agora vá, vão lá ver o espectáculo.

New York, New York… Nova Iorque. E ainda me dizem que Las Vegas é a cidade do vicio. Não é. Pelo menos, não para mim. Vicio é mesmo Nova Iorque.

New York, 40th AnniversaryJá se passaram quase 2 anos desde que estivemos em Nova Iorque. No dia em que de lá saímos deixámos bem claro que, se tudo corresse bem, em 2 anos lá estaríamos novamente. Assim vai ser. Daqui a 2 meses lá vamos nós.

Mas, chamar uma viagem de 2 em 2 anos de vicio é talvez um pouco demais não?

A questão é que o vicio não se fica pela viagem. Abrange uma série de coisas que conheci por lá e que, dois anos depois continuo a consumir como se por lá estivesse.

Uma dessas coisas é a revista New York. Não, não é a New Yorker (que também leio de ponta a ponta sempre que a compro) mas sim a mais terra-a-terra, mais comercial e até cor-de-rosa, New York. Porquê? Gosto da revista e assim que a folheio cheira-me a maçã. A grande maçã. Tem de tudo. Boas entrevistas, artigos, noticias, muita coscuvilhice e publicidade, Carradas de publicidade. Mas, tudo aquilo é Nova Iorque. De fio a pavio.

Leia-se a magnifica edição comemorativa dos 40 anos da revista New York. Woody Allen. Haverá nova-iorquino mais famoso? Algumas páginas sobre o que era a Nova Iorque de Woody Allen há 40 anos atrás e o que é hoje. E sim, a psicanálise de então… Os judeus de Nova Iorque serão ainda o que eram? O que mudou neste grupo de indivíduos tão bem definido numa cidade de mesclas sem fim? 14.600 noites de festa. 40 anos em imagem pela noite da cidade que nunca dorme (até o Michael Jackson preto está lá). Até temos 2 páginas dedicadas à Times Square famosa pelo sexo de há quase 30 anos atrás…

Esta edição apresenta-nos ainda um espectacular portefólio fotográfico de retratos de actores de Nova Iorque por Dan Winters. De Meryl Streep a LAuren Bacall, de De Niro a Steve Buscemi e Christopher Walken, de Julianne Moore a Glenn Close e tantos outros…

E depois, como sempre, os espectáculos da Broadway e de tudo quanto é sala da cidade, concertos, stand up, as exposições nos museus, galerias, jardins… Leituras e restaurantes enfim… New York, New York. Não há como não gostar.

Tenho estado a ler (entre um monte infindável de outras coisas) “Everything Bad is Good for You – Why Popular Culture is Making Us Smarter” (Tudo o que é mau é bom para ti – Porque é que a cultura popular nos está a tornar mais espertos) de Steve Johnson e sinceramente acho que talvez seja um dos melhores livros que tenho lido ultimamente.

Televisão demais com violência a mais, jogos de computador demais com violência a mais, musica a mais com violência a mais… Tudo é demais e com violência a mais. Bem, talvez a coisa não seja completamente má.

Steve Johnson tenta (e consegue) mostrar como a complexidade por trás da aparente futilidade atribuida à chamada “cultura de massas”, é na realidade tão ou mais desafiante e mentalmente estimulante do que muito do que é transmitido e “impingido” na transmissão cultural “convencional”.

E exemplifica:

Há alguns anos atrás decidi introduzir o meu sobrinho de sete anos de idade às maravilhas do Sim City 2000, o lendário simulador de cidades(…). Uma hora depois, eu estava concentrado em recuperar uma determinada zona industrial da minha cidade e estudava as minhas várias opções quando o meu sobrinho disse: “Penso que devemos baixar os impostos industriais.” Ele disse isto com a mesma naturalidade e confiança com que poderia ter dito “Acho que temos que matar o gajo mau”(…). O meu sobrinho estaria a dormir em 5 minutos se tivesse numa sala de aula sobre estudos urbanos mas de alguma forma, uma hora a jogar SimCity 2000 ensinou-lhe que impostos elevados em áreas industriais são um impedimento ao desenvolvimento.

Steve Johnson mostra-nos que os jogos de computador evoluiram no sentido de se compararem à realidade ou seja, o seu primeiro objectivo é cada vez mais levar o jogador a perceber qual é o objectivo o que não é mais ao fim e ao cabo do que a nossa vivência do dia a dia. Os jogadores hoje são levados a explorar e a testarem várias hipóteses de forma a conseguirem perceber o jogo e avançar no mesmo…

E ainda não cheguei ao capitulo sobre televisão.

Agora pensem nas infindáveis horas que passamos com Lost ou com 24 e imaginem a ginástica cerebral a que nos obrigamos para relacionar as 5, 6, 7 ou mais histórias que se desenrolam em cada episódio. O esforço despendido para relacionar essas mesmas histórias com os episódios anteriores…

Este post não é uma análise a “Everything Bad is Good for You – Why Popular Culture is Making Us Smarter” . tal como referi no inicio, tenho estado a ler, ainda não o acabei. De qualquer forma, apeteceu-me deixar a nota, o livro é fantástico.

O Peter Pan gosta mesmo é da Terra do Nunca. isso nós já sabemos. Mas de vez em quando o Peter Pan também gosta de passear e ora dá um pulinho a Londres ora vem até Lisboa. Quando por cá passa, sabemos agora, fica ali no Tivoli casa a que ele acha um certo encanto. E tem a sua razão. Há já muitos anos que não entrava no Tivoli mas penso que ainda recordava a sobriedade do espaço… Adiante que a conversa aqui é sobre o Peter Pan.

Peter Pan no Teatro Tivoli
A sala abriu portas já passava da hora marcada. Num espectáculo em que se sabe ser o público grandemente constituido por crianças, não é um bom começo. Já se notava (via e ouvia) a impaciência de alguns dos pequenos espectadores. Já nos lugares a coisa ainda tardou parecendo que se esperava por alguém, ou pior, que a sala ficasse mais composta. Eu estava já a preocupar-me pois as expectativas eram altas. E eis que começa o espectáculo. Depressa esqueci o atraso.


Numa banda sonora virada ao rock (mas que estranhamente funcionava muito bem) foram-nos apresentados os principais intervenientes da história: A familia Darling e a fiel cadela Nana, depois os Meninos Perdidos, Peter Pan, os piratas e o seu Capitão Gancho, os índios enfim, toda aquela gente fantástica que habita a Terra do Nunca. E diga-se, estava tudo muito bem. É certo que a história daria para uma daquelas super-produções à lá Broadway mas aqui consegue-se com um bom enquadramento de cenários e a música a ajudar, um grandioso espectáculo que agrada facilmente a miúdos e graúdos.

A história é bem conhecida (não havia na plateia que não referisse o termo “Bacalhau” à entrada do Capitão Gancho): Peter Pan proocura a sua sombra perdida uma noite em que escutava histórias de encantar à janela de Wendy. Após um breve encantamento leva consigo Wendy John e Michael para a Terra do Nunca onde o malvado Capitão Gancho o tentará envenenar assim como matar todos os Meninos Perdidos ficando com a Wendy para que esta fosse a mãe de todos os piratas. Aventuras e desventuras levam à quase morte da Fada Sininho e é ai que Peter põe toda a plateia em pé cantando “Acreditar, acreditar, acreditar em fadas” para que a Sininho brilhe novamente. É neste momento que, olhando para todas aquelas caras ali à volta, olhando para a cara da Patrícia às cavalitas da Susana, é neste momento que relembro como é bom acreditar em fadas… Elas existem sabiam?

Salva-se a fada, salva-se o Peter e os Meninos também. O Gancho vai parar ao mar e o crocodilo certamente que o comeu. Mas a outra terra, aquela onde há pais e mães espera ainda que os pequenos Darlings voltem. Está na hora de regressar e os Meninos Perdidos vão também. Peter pede-lhes com lágrimas nos olhos que eles nunca cresçam e que nunca esqueçam a Terra do Nunca… Quem quisesse ver a Patrícia a chorar… Mas tudo volta ao lugar. A magia não acaba e até o Barrica e o Rastilho fazem as pazes com o Peter… A miuda lá se convenceu.

Tal como nas histórias originais de J. M. Barrie também neste espectáculo de Peter Pan no Tivoli a Wendy Darling (fantástica Ana Sofia Gonçalves) parece ser a protagonista principal. Também aqui a Wendy é o personagem mais desenvolvido ainda que o Peter Pan se revele igualmente emocional. Mas acho que a voz da primeira bate a do segundo. Opiniões… Já que refiro as vozes, é ainda digna de menção especial (sim, que todos estiveram, volto a referi, muito bem) a magnifica prestação da jovem que interpretava Mr. Tootles. Todos cantaram e encantaram, alguns até voaram e a imagem ficará para sempre…

Peter Pan no Teatro Tivoli. Vale a pena.