Que me digam que fazer sentido é um paradoxo ou que deve ser entendido como tal, bem, consigo entender, reconhecer o sentido que tem tal argumento. Se pensar no paradoxo como uma forma de expor contraditoriamente uma ideia, terá algum sentido.

Escreveu Camões:

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

Bem, Camões terá paradoxalmente descrito o que entendia por amor. Tem sentido? Parece que não mas no entanto, observando o padrão na relação dos contrários, encontramos um sentido que estando além do senso comum, pode estar carregado (arriscaria escrever pragnante) de verdades ou possíveis verdades.

Mas aquilo com que discordo é que se afirme um paradoxo como a forma correcta de expressar um sentido.

O paradoxo é, por sua natureza, algo que vem de fora (o para) da opinião comum (a doxa) e basear o que se entende como correcto em algo paradoxal não me parece ter sentido. Pelo menos um sentido que me oriente na direcção do que é correcto, do que é melhor. Obviamente, isso seria uma outra discussão.

É proibido proibir

Percebo por exemplo, o sentido de “É proibido proibir” (e recordo sempre as palavras do Professor Adriano Duarte Rodrigues a quem agradeço parte deste perceber) mas percebo o sentido que tem a frase e não o sentido que possa fazer.

Sim, eu sou daquelas pessoas que acham que as coisas têm sentido. Haverá eventualmente coisas que nem por isso, que não tenham sentido algum mas, assim de repente, não me lembro de nenhuma. De igual forma, sou daquelas pessoas que acha que as coisas não fazem sentido. Até pode haver alguma que faça mas sinceramente, também não me lembro de nenhuma.

E o argumento de que “toda a gente diz que as coisas fazem sentido” não me parece ser o mais válido. Não é porque em inglês se diz it makes sense que a forma é a correcta. Em Espanha diz-se tener sentido e a expressão hacer sentido, ainda que usada, é criticada como um anglicismo, uma deturpação da linguagem…

E quanto a vocês? Que vos parece? Para vós isto tem sentido ou faz sentido? E já agora, uma vez que eu sei que sentido tem, se para vós faz sentido, que sentido é esse?

 

Sim, volto aos livros (aos tais que de uma forma ou outra mudam vidas) e desta feita recordando Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Porquê? Porque haverá sempre quem não perceba certas coisas, haverá sempre quem não queira perceber.

Pedro Rebelo Admirável Mundo Novo

Bem, deixo para tais a mais conseguida das bem-aventuranças (Mateus 5:3 na minha humilde opinião) e continuo com o Admirável Mundo Novo. E não, não me vou alongar em dissertações filosóficas sobre a influência que o livro possa exercer sobre quem o lê. Utopias e Distopias são temas que muito me agradam e sobre os quais tenho opinião formada, amplamente discutida noutros fóruns e que certamente também terão lugar aqui no browserd.com mas, como referi, não será neste post.

O Admirável Mundo Novo vem mais a propósito dos tais pobres no espirito, os que não entendem por não quererem entender.

Por alguma estranha razão, o post que escrevi sobre 10 livros que mudaram a minha vida, parece ter dado a alguns a ideia de que certa vida me terá passado ao lado. Não que me preocupe em demasia com a ideia que das minhas palavras possam fazer os mansos ou mesmo os aflitos, mas sinceramente, não sou de ficar calado, e tal como Aldous Huxley, escrevo por vezes a posteriori palavras que clarifiquem ideias anteriores, mesmo tendo a perfeita noção de que para todos além dos visados, aumento a complexidade do raciocínio inicial. Em abono da verdade, para os visados também mas uma vez mais, com isso não me preocupo em demasia.

Assim, sem mais delongas, e seguindo os conselhos que Aldous nos deixou 14 anos após ter escrito Admirável Mundo Novo, fiquem com “Falhas”, na sua versão original, no album 78/82 dos Xutos & Pontapés, que tantas vezes ouvi quando tudo à volta eram gritos e discussões.

Consigo imaginar sorrisos nos lábios de alguns e outras feições noutros tantos. Agradam-me os primeiros e aos segundos, bem, nas palavras de um famoso talvez Maçon (porque outras ideias já por demais aqui foram expostas), si monumentum requiris, circumspice.

The Painter of (another) Modern Life by Pedro Rebelo

Existem no mundo, e mesmo no mundo dos artistas, pessoas que vão ao museu do Louvre, que passam rapidamente, e sem sequer lhes conceder um olhar, diante de uma multidão de quadros muito interessantes, embora de ‘segunda ordem’, e se plantam sonhadores diante de um Ticiano ou de um Rafael, um desses que a gravura mais popularizou; saem depois satisfeitas, dizendo algumas delas de si para si: ‘Conheço este museu’. Existem também pessoas que, tendo lido um dia Bossuet e Racine, aceitam estar na posse da História da Literatura.

Baudelaire in O Pintor da Vida Moderna

“Deixem-me em paz… Estou de sabática…” Ouvia-se ontem em alto e bom som, ao final da tarde,  numa sala quase vazia, de uma academia lisboeta… Mas que raios, obrigam-me a escrever… E eu que estava ali tão sossegado.

Sobre o Direito de Autor e as imagens no Facebook

A partir do momento que fazemos upload de uma imagem para o facebook, perdemos os direitos sobre ela…

Errado. Ao colocar uma fotografia no Facebook nós não perdemos os direitos sobre a imagem. Nós só damos alguns direitos ao Facebook, não invalidando de forma alguma os nossos.

O Facebook pode usar a minha fotografia? Pode claro. Eu permiti ao aceitar que “you grant us a non-exclusive, transferable, sub-licensable, royalty-free, worldwide license to use any IP content that you post” (o uso dos termos em inglês deve-se à chamada de atenção do próprio Facebook relativamente a prioridade desta lingua sobre qualquer dúvida que possa surgir proveniente das traduções).

Non-exclusive. Onde está a dúvida? Não é exclusivo.

A atribuição de direitos de imagem ao Facebook não retira os direitos ao autor da mesma.

… a imagem passa a ser propriedade do facebook, logo os direitos que tens sobre a utilização da mesma vão à viola.

Errado. Já ficou esclarecido não vos parece?  Os Termos de Serviço do Facebook são claros. A grande questão que aqui se coloca é: Quem disse “… perdemos os direitos sobre ela…” percebeu os TOS? Ou melhor, chegou a ler os TOS?

Se podem ser usadas pelo facebook, podem ser usadas por todos, porque o facebook somos nós. Estamos a entrar num admirável mundo novo onde muita coisa terá de ser redefinida, a começar pelos direitos de autor. Se ainda existem é na teoria, porque na prática já lá foram há muito tempo.

Deusas, esta merece um apurado trabalho de decomposição…

Onde está escrito que os direitos do Facebook são os direitos de todos nós? Não vou entrar pela retórica retorcida do “o facebook somos nós”. Eu não me lembro de já me terem sido creditados dividendos das acções do Facebook e enquanto tal não acontecer…

Ora vejamos, se o autor destas palavras (as que se encontram entre aspas) for à minha conta do Flickr, fizer o download de uma fotografia e posteriormente, o upload da mesma para o Facebook, quem lhe deu permissão para tal?  Aliás, segundo o próprio Facebook, “You will not post content or take any action on Facebook that infringes or violates someone else’s rights”.

É preciso ser mais claro? Diz o Facebook: “Não publicarás conteúdo ou tomarás qualquer acção que infrinja ou viole os direitos de outra pessoa.”.

E se eu não lhe der permissão para usar a minha fotografia, ele está efectivamente a violar os meus direitos (e numa conversa mais informal esta seria a altura em que eu diria “só se me derem beijinhos no pescoço”). E quando essas coisas acontecem, há problemas… O caso da página do Cool Hunter diz-vos algo? 788.000 Likes era quanto valia aquela página.

Lembro-me do dia em que a dita página publicou no Facebook uma fotografia do meu amigo Pedro Moura Pinheiro… Lembro-me também de não terem feito qualquer referência ao autor. Lembro-me ainda da quantidade absurda de comentários que foram colocados nessa mesma fotografia referindo o autor e o quão injusto era o Cool Hunter não o identificar. E sabem do que é que me lembro mais?

788.000 Likes e o Facebook fechou a página por violação de direitos de autor!

“Se ainda existem é na teoria…” Vão lá ao Cool Hunter perguntar-lhe o que ele pensa da teoria…

This account has been disabled due to repeat copyright infringement under our terms and the account has been removed from the site accordingly.

Sim, foi a resposta oficial do Facebook. Esta conta foi encerrada devido a repetidas infrações aos direitos de autor, blá-blá-blá, blá-blá-blá…

Enquanto pessoas que vivemos no digital (passamos aqui grande parte, a maior parte das nossas vidas) temos o dever, a obrigação, de esclarecer quem não sabe sobre o tema. Enquanto profissionais, devemos ser regidos por um qualquer sentido ético que nos leve a acreditar que, quanto melhor tratarmos os nossos Clientes, melhor será para todos. Enquanto, por exemplo, Gestores de Comunidades, podemos ser evangelistas de um medium onde ainda há muito por explorar mas sem esquecer que há igualmente necessidade de regular.

O que não podemos é escrever barbaridades como “Já não há Direitos de Autor”!

Uma das razões que me levou a Ciências da Comunicação foi o desejo de poder falar com maior propriedade, autoridade, sobre alguns temas e termos que, sempre entendi, serem muitas vezes levados com demasiada leviandade. E garanto-vos, como gosto quando tenho uma oportunidade de dar por bem empregue o tempo que tenho dedicado a ser um estudioso da comunicação.

Antes de Aldous Huxley, um outro senhor, Shakespeare de seu nome, já se tinha referido a um Brave New World e, tal como na obra deste fez Miranda, perante ignóbeis figuras que via, também na obra de Huxley, John, o “Sr. Selvagem”, disse “Oh, admirável mundo novo, que encerra criaturas tais!”.

Agora, é preciso ler Admirável Mundo Novo, ou pelo menos A Tempestade, para reconhecer a ironia de tal frase…

p.s. Tenho o Admirável Mundo Novo em papel, numa edição da Colecção Dois Mundos. Infelizmente não o tenho aqui comigo mas sei que, caso precise, não deve ser difícil de encontrar um qualquer ficheiro com a obra na Internet. E não me envergonho nada se tiver que o ir buscar ok?

p.s.2 O post esteve para se chamar “Os Direitos de Autor, o Facebook e o Francisco” mas depois pensei: Há para ai tanta gente a quem isto pode interessar…

Sim foda-se. E estes que estás aqui a ver, vi-os todos em Divx, mas como gostei, assim que pude, comprei-os. E se quiseres passar por cá para ver os outros, estás à vontade. Posso emprestar se quiseres… A uns quantos vais é ter que os retirar do celofane ok?

A favor dos direitos de autor - Pedro Rebelo

Para todos os outros que não o Francisco, deixem lá isso que eu depois explico…