Leituras na manhã de Sábado: A Modernidade

Lembro-me que, aquando da minha primeira passagem pela Academia, nos idos anos 90 do século passado, na entrada para um exame oral, perante a observação de um professor sobre a bandeira monárquica de Dona Maria II que ostentava na minha capa, referindo que ele não era particularmente a favor dos ideais politicos que aquele símbolo representava, dei-lhe como resposta que eu não era particularmente a favor dos ideais politicos que o partido ao qual ele pertencia representava, mas que nem por isso lhe tinha menos respeito como professor ou lhe reconhecia menor valor. Correu bem a prova oral. Acabei com 16.

Na Academia do Século XXI

Na minha mais recente aventura no mundo académico, com outro intuito e, felizmente, com outro juízo, relembro também que perante o professor que dizia que o Twitter não era relevante para os jornalistas em Portugal, insisti e provei (mérito reconhecido ao grupo – meninas, vocês sabem quem são – e a uma professora de outro departamento que testemunhou de forma irrefutável a entrega do trabalho contra o argumento do docente de que não teria sido entregue atempadamente) o contrário.

Com outros docentes, argumentei, justificando a minha discordância com o facto de num exame com consulta não ser permitido consultar o computador. E quando achei que Powerpoint’s com 10 anos estariam desactualizados, quando me disseram que o conhecimento do contexto do autor não era relevante para o entendimento da obra e quando me disseram que a entrega do trabalho era para uma semana antes do que tinham dito de inicio. Enfim, argumentei, discordei, discuti (sim, chegou até a haver palavrões pelo caminho) sempre que acreditava ter a razão do meu lado e verdade seja dita, sempre me encontrei perante verdadeiros exemplos de saber estar, de saber ser, pessoas que independentemente da posição, perante argumentações em que de alguma forma poderão ter encontrado sentido (ou não), mesmo que contrariadas e em publico, mostraram uma hombridade que, no meu entendimento, deve definir a carreira que escolheram, nunca tendo eu sentido que fui prejudicado por ter livremente expresso a minha opinião e discordância.

Um destes dias, numa agradável conversa sobre o meu interesse numa possível carreira académica, dizia-me um amigo (que por razões várias não terá o nome aqui citado) que, na Academia, a partir de um certo ponto (seria o Mestrado) se pensamos em seguir carreira académica, se pensamos em obter uma bolsa para Doutoramento, o melhor que temos a fazer é aceitar quando o docente diz que dois mais dois são cinco. Aceitar, agradecer e subscrever. “Deixa-te dessas coisas de marcar posição. Deixa as discussões filosóficas sobre o que está certo e errado para outro forum…”.

O apreço e carinho que tenho por este amigo é grande acreditem. Assim como é grande a sua genialidade. É grande como ele. E reconhecendo esse génio, entendo perfeitamente o que quer dizer quando as suas palavras me dão a entender que, em certas alturas, devemos recordar que o sujeito é aquele que se sujeita e que na expressão de desejo nosso, o sujeito somos nós. Percebo-o e sei que é por bem, para meu bem, que ele me lembra de tal, mas ainda assim, e em particular neste domínio que é a Academia, tela branca onde cada pincelada pode pintar futuro, desculpa amigo, mas não posso ficar calado.

Questionar a Academia

Que melhor forum para dizer não, que melhor lugar para questionar? Lembro a expressão na cara do Professor Doutor Adriano Rodrigues quando corri para ele e lhe contei sobre o que tinha escrito num exame de Fotografia. “Escreveste que o Benjamim queria dizer isso ou que tu pensas que o Benjamim queria dizer isso?”. “Que acredito que ele queria dizer…” disse eu. “Então não te preocupes. Se o soubeste justificar, estás safo..:”.

Cresci contrariando vozes que me disseram muitas vezes “Nós não vimos, não ouvimos, não dizemos…”. Hoje, ensino à minha filha, a cada dia, que a opinião dela deve ser ouvida, discutida e, se correcta, reconhecida. Que deve lutar por isso, lembrando-a que nem sempre encontrará a tal hombridade que é devida e que, lutar por aquilo em que se acredita por vezes custa, por vezes dói. Que encontrará contrariedades e que terá que aprender a viver com elas, sendo que uma das formas de o fazer é aceitar sempre que reconheça estar errada e nunca deixar de acreditar quando souber que está certa.

Eu gostava que ensinassem isso na Academia. E vocês?

Escreveu o sociólogo Alberto Gonçalves na ultima página da revista Sábado de 12 de Julho deste ano:

Nas nações civilizadas, apenas se chama “doutores” aos médicos, não porque se queira cobri-los de honrarias, mas porque é esse o nome do respectivo ofício.

E mais à frente, sendo certo que se referia aos políticos mas tomando a liberdade de alargar o sentido a grande parte da população nacional de “doutores”:

…a única coisa pior do que recusar o “dr.” é nem sequer ter um “dr.” para recusar. Dai a popularidade das licenciaturas obtidas ou tentadas por métodos que um bárbaro estranharia e que este encantador país ergueu a prática corrente.

Terminava o sociólogo desta maneira:

Quanto mais essencial é o título, menos interessa aquilo a que o título respeita: a veneração da forma resume o conteúdo a uma irrelevância  Como Portugal, no fundo. E, graças a tantos equívocos e trafulhices similares, “no fundo” é a expressão exacta.

Não é meu hábito fazer posts exclusivamente à base de citações mas neste caso, e por tantas razões que a razão (ou o bom senso) me inibe de aqui expor, este fica assim.

Deixo-vos também o citado artigo, completo, do Alberto Simões. Espero que o autor não leve a mal.

Para todos quantos já me perguntaram (e já se perguntaram) o que raio ando eu a fazer que não tenho escrito quase nada, fica a resposta: O costume…

Pois é, a coisa (entenda-se vida) voltou ao normal: as aulas já começaram e com um horário daqueles que deixa pouco à imaginação (ou aos tempo livres). O trabalho no banco, como é de esperar (que raios, é um trabalho certo?), não dá descanso. Aliás, cada vez dá mais trabalho e acreditem que quando digo mais é assim algo do tipo… Sei lá, triplicar não me parece o termo mais correcto porque é demais redutor. Já dá uma ideia? Assim o ordenado aumentasse na mesma relação (ou noutra qualquer por assim dizer, desde que não fosse na relação inversa)…

Tenho lido, muito menos do que o desejável e, garantidamente menos do que o necessário, mas ainda assim, sempre é alguma coisa. Uns quantos minutos soltos aqui e ali vão dando para ver umas quantas séries de televisão (que diacho, quando não ter para isso, emigro de vez) e, pasme-se, até vi um filme na semana passada… Loucura.

Voltei a pegar na máquina fotográfica. Uma disciplina na faculdade (Fotojornalismo pela professora Margarida Medeiros) levou-me a limpar o pó às lentes e voltar a carregar no disparador. Por falar em carregar, à conta disso, voltei também a ter umas fantásticas dores de costas e nos ombros. Entre máquina, lentes, flash, computador portátil, livros e uma quantas tralhas a mais, o peso da mala é enorme. Dizem para ai que quem corre por gosto não cansa. Podiam estar caladinhos que para dizer asneira mais vale não dizer nada.

Animem-se mais uns quantos a quem corre sangue Geek pelas veias (vocês sabem quem são). A tal disciplina onde consta da bibliografia obrigatória o Do Androids Dream of Electric Sheeps (assim como a visualização do Blade Runer),  sempre vai constar do meu currículo. Assim tenha eu paciência para ler o Sense and Sensibility e tudo irá correr pelo melhor…

Ainda vos podia fazer o update a mais uma ou outra coisita mas sinceramente, estou cheio de sono e hoje a coisa fica mesmo por aqui. Fica a promessa de contar mais amanhã ou depois pode ser?

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Que grande título este não vos parece? Pois, a mim também… Mas tinha que ser. É uma grande revista…

Até agora, a apontar um detalhe (e chamar-lhe detalhe é ser simpático): para publicação semestral é estranho que a mais recente seja de Junho de 2008. Será que acabou? Espero que não. Para uma revista lançada em 1985 (“As maquinas censurantes modernas”, com organização do Professor Adriano Duarte Rodrigues e da Professora Maria Augusta Babo) era uma verdadeira tristeza desistir…

Pronto. Está dito. Fosse eu um rapaz com juízo e começaria uma petição online intitulada:

“Queremos uma vaga para o Pedro Rebelo na cadeira Literatura e Cinema: Literatura Britânica e Norte-Americana no Ecrã da FCSH”

Que mais não fosse seria porque, uma cadeira que tem na sua bibliografia e filmografia obrigatória o Do Androids Dream of Electric Sheeps e o Blade Runner é uma cadeira que eu tenho mesmo que fazer…

Certo, está bem. Também lá está o Sense and Sensibility mas, vejam: The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde e The Great Gatsby… Diacho. O que há para não gostar?

Não sei se já referi mas, lembro-me agora… Blade Runner? A sério?

Eu sei, eu sei… Devia ter feito a inscrição na cadeira atempadamente. Por isso, e como referência a outra grande obra que podia perfeitamente ser incluída no programa (só não é certamente porque se trata de literatura Italiana), penitenziagite

A sério… Tratasse-se de um livro de Asterix e garanto-vos que estaria agora a prometer levar meias lajes daqui a Roma ou a suplicar bastonadas mesmo sem ter deixado cair o meu pedacinho de pão no tacho do queijo…

Era uma petição bonita não? Capaz de recolher umas quantas assinaturas… E depois, logo de seguida, fazia outra para que a cadeira mudasse de sala, porque aquela onde é leccionada actualmente, convenhamos, não leva mais gente… Nem em pé…

Literatura e cinema