Quando começamos a pensar no tema, até nos parece ter algum sentido: A Confissão e as Redes Sociais online. Mas normalmente nem nos lembramos de tal coisa.

Se até há uma semana atrás me viessem dizer que eu iria fazer, de minha livre e espontânea vontade, um trabalho em torno de Foucault, eu diria que estavam doidos. Sem qualquer tipo de desprimor para o autor mas, pensava eu que a licenciatura já me tinha chegado no que a tal pensador se refere. Pois que não. Foucault voltou é em força.

Não será uma abordagem original certamente, mas ainda assim, a relação entre as Redes Sociais Online e a Confissão, mais precisamente, a Exomologese, como referiu Foucault no seminário Technologies of the Self, a confissão pública dos pecados, é um tema por demais rico em conteúdo e interesse, devendo merecer na minha opinião, maior atenção a nível académico.

by Dmitry Ryzhkov, on Flickr
Fotografia de by Dmitry Ryzhkov, no Flickr

É certo que não sabemos, pelo menos por enquanto, quanto da nossa presença (e acreditem, a história da presença daria um outro post) nas Redes Sociais online é fruto de um exame de consciência, mas não nos restarão duvidas quanto ao facto de ser essa mesma presença, uma nova forma de Publicatio Sui (a publicação de si) em tempos a última e talvez agora constante, ritualização.

Aproveitando as Redes Sociais

Agora não se admirem se, nos próximos tempo, vos questionar sobre o tema, sobre as vossas práticas ou práticas de que tenham conhecimento e que se relacionem com o que pretendo estudar. Posso começar já?

Conhecem casos nas redes sociais online que, no vosso entender se enquadrem na figura da confissão? Notem que não questiono razões. Se uma confissão é feita em busca de redenção, de suporte, de afirmação ou por qualquer outra razão, será coisa a questionar mais tarde. O que vos pergunto agora é algo mais simples, mais publico e eventualmente objectivo. Já fizeram uma confissão numa rede social online? Conhecem quem tenha feito? Onde? Quando? Posso ver? Respondam-me nos comentários ou, se preferirem,  através do formulário de contacto aqui do site.

Um bom jantar é algo de que todos gostamos. Se pudermos ter um jantar bom e barato, bem, pelo menos que não seja muito caro, ainda gostamos mais. Assim, hoje resolvi mostrar-vos um bom jantar, não muito caro, relativamente fácil de fazer e que em pouco mais de uma hora está pronto.

Lombinhos de porco no forno com espargos verdes “enpankados”.

Lombinhos de Porco no Forno com Espargos Enpankados

Começando por esclarecer: Espargos “enpankados” são espargos verdes no forno envolvidos em Panko, o agora famoso pão ralado japonês. O Panko difere do nosso conhecido pão ralado essencialmente no tamanho e textura sendo que enquanto o “nosso” pão ralado é mais fino e conseguido a partir do pão comum, o Panko tem migalhas maiores, mais secas e mais leves, sendo conseguido a partir de pão sem côdea (pelo menos o Panko claro, mais comum). Então, para conseguir os espargos “enpakados” precisamos de:

  • Espargos verdes frescos
  • Um ovo
  • Uma colher de sopa de mostarda Dijon
  • Uma colher de sopa de maionese
  • Uma colher de chá de pimentão doce fumado
  • Alguns grãos de pimenta da preta moidos
  • Uma caneca de Panko
  • Meia caneca de queijo parmesão ralado
  • Um pouco de sal
  • Azeite

Ingredientes para os Espargos Enpankados

Começamos por lavar e secar os espargos em agua corrente. Depois, retiramos a ponta do fundo do espargo. Para saber onde, basta forçar um pouco e onde ele quebrar é o sitio certo.

Num recipiente de tamanho suficiente para colocar os espargos abrimos o ovo e juntamos a mostarda Dijon, a maionese, um pouco de sal e batemos tudo. Num recipiente de igual tamanho juntamos e misturamos o Panko, o queijo parmesão, a pimenta preta e o pimentão doce fumado.

Preparamos ao mesmo tempo um tabuleiro de ir ao forno cobrindo-o com uma folha de papel vegetal.

Passamos cada um dos espargos no recipiente com o ovo de forma a que fique uniformemente molhado pelo preparado e, à medida que os vamos molhando, passamos de imediato para o recipiente com o Panko onde os vamos enrolar de forma a que fiquem bem envolvidos na mistura seca.

Espargos Enpankados - preparação Espargos Enpankados - preparação

Dispomos os espargos por cima do papel vegetal e reservamos pois só irão ao forno mais tarde.

Os lombinhos de porco no forno.

Bem, neste caso foi só um lombinho e não lombinhos mas, um lombinho chega perfeitamente para duas pessoas. A escolha da peça, lombinho em vez de lombo, deve-se ao facto do lombinho não ficar tão seco quanto o lombo, não exigindo assim recheio ou maior preocupação com o molho (ainda que o molho neste caso seja importante).

Depois de ligar o forno nos 180 graus para ir aquecendo precisamos de:

  • Um lombinho de porco (limpo das maiores gorduras)
  • Três colheres de sopa de mostarda Dijon
  • Duas colheres de sopa de mel
  • Uma colher de sopa de folhas de Alecrim fresco picado
  • Alguns grãos de pimenta da Jamaica moidos e alguns por moer.
  • Duas folhas de louro
  • Um pouco de sal
  • Azeite

Começamos por juntar numa tigela a mostarda Dijon, o mel, a pimenta da Jamaica, o sal e as folhas de Alecrim picadas. Misturamos tudo até ficar um creme quase liquido.

Num tabuleiro de ir ao forno espalhamos um pequeno fio de azeite e por cima colocamos o lombinho de porco inteiro. Despejamos a mistura que preparámos por cima do lombinho uniformemente e depois, com as mãos, massajamos toda a peça para nos certificarmos que toda a carne entrou em contacto com a mistura. Colocamos as duas folhas de louro sobre a carne e, com uma colher, regamos um pouco mais com o caldo que entretanto escorreu para o tabuleiro.

Lombinhos prontos a ir ao forno

Colocamos o tabuleiro a meio do forno já quente lá ficará inicialmente cerca de 35 a 40 minutos. Aos 15, abram o forno, puxem o tabuleiro e voltem a regar a carne com o molho.

Chegados aos 40 minutos de forno, abram-no e passem o tabuleiro para uma posição abaixo. Entretanto, vão buscar o tabuleiro dos espargos “enpankados” e passem por cima destes um fino fio de azeite. Isso irá ajudar a que fiquem mais dourados. Coloquem o tabuleiro dos espargos na posição em que se encontrava o tabuleiro do lombinho e fechem o forno deixando estar lá os dois tabuleiros por mais 15 minutos e depois desliguem.

Retirem o tabuleiro do lombinho do forno e deixem repousar 2 a 3 minutos antes de fatiar. Nessa altura, retirem também o tabuleiro dos espargos e sirvam.

Por cá, a coisa correu bem. Um jantar bom e barato. Bem, pelo menos, não muito caro.

Podia escrever aqui uma daquelas introduções enormes, cheia de floreados e palavras caras mas para que se esclareça desde já o tema aqui fica: Telsão Electrodomésticos não é loja onde comprar electrodomésticos. Independentemente do preço.

O melhor preço não é tudo. O serviço prestado também conta.

Perante a necessidade de comprar um novo frigorifico começamos por pesquisar na Internet marcas e modelos bem cotados no mercado. Depois de muitas leituras e opiniões de amigos e conhecidos, a escolha estava entre duas marcas que eram reconhecidas pela excelência da qualidade ainda que não fossem as mais baratas do mercado: Bosch e Siemens (ambas construídas pelo mesmo fabricante e, nos modelos em questão, muito semelhantes, mudando apenas o logotipo da marca e a cor de alguns plásticos interiores).

Já que estávamos a fazer pesquisas online, continuámos nesse caminho e resolvemos também pesquisar sobre quais as lojas onde poderíamos obter o melhor preço. Ficámos impressionados com a presença e valores que a loja Telsão Electrodomésticos apresentava. Em tudo quanto era site de comparação de preços, os modelos que procurávamos apareciam com melhor valor nesta loja.

Nós, tal como a generalidade das pessoas, se pudermos gastar menos não iremos gastar mais e como tal pareceu-nos uma boa opção visitar a loja em questão.

Tendo em consideração o site da Telsão Electrodomésticos estranhámos encontrar uma loja tão pequena, basicamente um pequeno escritório onde se amontoam alguns electrodomésticos em caixotes. Moderno – pensámos nós – uma operação tipo Amazon. O Cliente encomenda, eles adquirem e entregam. Sem stock, sem problemas. Pois. Pensávamos nós…

Bosch, Siemens, Balay… É tudo o mesmo…

Fomos alegremente atendidos e explicado o que ali nos levava a senhora por trás do pequeno balcão logo se prontificou a nos arranjar o melhor preço. Mas não se ficou por ai. Sabido que era que procurávamos um frigorifico Bosch ou Siemens, a senhora sugere-nos de imediato a marca Balay. “É tudo o mesmo. O fabricante é o mesmo, o distribuidor e o suporte também… Aliás, são iguais mas a Balay é a terceira gama. Bosch, Siemens, Balay. Leva o mesmo equipamento para casa mas paga muito menos.”. Um argumento de peso principalmente tendo em conta que falávamos de diferenças na ordem das centenas de euros como já tínhamos visto noutras lojas.

Enquanto a senhora da Telsão Electrodomésticos pesquisava online (curiosamente num comparador de preços – e isso devia logo ter-nos alertado), aproveitei também para uma rápida pesquisa no sentido de confirmar a informação. Aparentemente sim e, até pelas imagens dos vários frigoríficos que encontrámos online, facilmente verificar que eram os três muito semelhantes. Uma vez mais, as diferenças eram essencialmente os logotipos das marcas e alguns plásticos interiores. Faça-se o negócio.

O compromisso fica assumido. “A entrega do equipamento é feita no prazo máximo de 5 a 8 dias úteis mas nós telefonamos a meio desta semana – era Sábado – para confirmar a data.”. Que seja.

Nesta altura lembrámos-nos de um dado importante: devido à localização do frigorifico na nossa cozinha, a porta do mesmo terá que abrir da direita para a esquerda ou seja, ao contrário do que normalmente se encontra nos frigoríficos. A senhora da Telsão Electrodomésticos diz-nos que não será razão de problema. Quando forem entregar o equipamento poderão de imediato fazer a modificação da porta mas isso irá implicar um acréscimo de 80 euros (só pela alteração pois a entrega é gratuita). Bem, 80 euros pareceu-nos um pouco exagerado mas, se tem que ser tem que ser. Pagámos o frigorifico na totalidade e saímos aguardando o telefonema.

Telsão não cumpre o prometido

Passou o meio da semana e o fim da semana também. Da Telsão Electrodomésticos não havia novidade. Na semana seguinte ligámos para lá na segunda-feira. As desculpas do costume, que já tinham enviado um e-mail, que não tinham resposta, que nos ligavam ainda nesse dia. Informámos na altura que, se não nos entregassem o frigorifico até quarta-feira, queríamos a devolução do dinheiro. O dia chegou ao fim e ninguém nos ligou.

Na terça-feira voltámos a ligar. E o e-mail, e os atrasos e que coisas e cenas. Voltámos a lembrar que, caso não nos entregassem o frigorifico no dia seguinte, desistiríamos da compra. Garantiu-nos a senhora (a mesma com quem falámos no dia anterior e a mesma que nos atendeu na loja) que ainda durante esse dia nos iria telefonar. Quer tivesse frigorifico quer não tivesse frigorifico, que nos ligava. Adivinhem? Ninguém nos ligou da Telsão.

Quarta-feira lá fomos nós direitinhos à Telsão Electrodomésticos. Ainda mal tínhamos começado a falar e a senhora levanta-se e diz “Já sei qual é a situação.”. Dirige-se para a parte traseira da loja e não nos diz mais nada deixando-nos ali ao balcão. Lindo. Volta passado um bom bocado dizendo: “Terça-feira que vem. Temos o frigorifico para entrega terça-feira que vem.”. A sério? Mais uma semana? Mas afinal, o que se passou? Não fizeram a encomenda? Não havia stock no distribuidor? Isso agora não interessa para nada. Não há frigorifico, queremos desistir da compra.

Ainda antes de avançar com a desistência questionámos a senhora pelo serviço. Se não havia o frigorifico para entrega porque não nos disse antes? E porque raio se comprometeu a telefonar para nós e não o fez? Duas vezes? A resposta não foi o que estávamos à espera: “Tenho muito trabalho. O telefone não pára de tocar, os Clientes estão sempre a entrar, as coisas estão atrasadas, não consigo tratar de tudo, não posso andar a telefonar para Clientes…”. Como é que diz que disse?

Pedimos então a devolução do dinheiro que pagámos pelo frigorifico. E pediu-nos a nós o “papel” que nos tinha dado aquando da compra. Literalmente, o papel. Uma impressão do site onde foi verificar as especificações do frigorifico e onde tinha anotado à mão o valor que nos fazia pelo mesmo. Note-se: Não era um recibo, não era uma guia ou factura. Era a impressão de um qualquer site onde eram apresentadas as tais especificações. Dissemos que não o tínhamos connosco (assim pensávamos). E quando dissemos isto a resposta que nos foi dada foi? “Então não faço a devolução”. Como é que diz que disse?

Livro de Reclamações

Se quer o Livro de Reclamações não devolvo o dinheiro

Por acaso o papel em questão estava bem dobrado no fundo da mochila mas se não estivesse, queria ver como era… Mas para que raio precisa do papel? “Porque sim. E sem papel não faço a devolução”. Claro. Papel em cima do balcão e era mais que tempo de pedir o que há muito devia ter sido pedido: Traga por favor, o Livro de Reclamações. E qual não foi o nosso espanto quando ouvimos: “Se quer o Livro de Reclamações, então não faço a devolução.”. A situação tornava-se surreal.

Vai recusar-se a fazer a devolução do dinheiro? “Se quer o Livro de Reclamações então vou seguir o Decreto Lei…”. Importa-se de explicar – perguntamos nós. “Explicar o quê?” O que quer dizer com isso do Decreto Lei. “Não conhece? Eu também não…”. Hora de acabar o diálogo e escrever.

Foi para dentro e voltou, mostrando-nos em mão um comprovativo de transferência bancária (com data da operação da próxima terça-feira. Devia estar contente por ter levado a dela adiante, só nos daria o dinheiro dai a 5 dias) mas recusou-se a dar-nos copia do documento.”Não tenho fotocopiadora.”. Não é preciso. Eu tiro uma fotografia. Não queríamos perder mais tempo. Só sair dali e ir comprar um frigorifico. Numa loja séria.

E querem saber que mais? Comprámos um frigorifico.

Saímos da Telsão Electrodomésticos em direcção ao Alegro em Alfragide para ir à Box do Jumbo. Chegados, verificámos que o modelo de frigorifico que procurávamos não existia na loja. Bosch só havia em branco mas nós queríamos em Inox. Siemens nem sequer havia nenhum. Perguntámos ao empregado que lá estava se haveria em armazém e, com enorme simpatia, prontamente foi verificar. Não demorou muito para que tivéssemos novo negócio feito. Entre o preço do frigorifico, uma campanha de desconto em vigor e o facto de não nos cobrarem nada pela modificação das portas (note-se: não é o Jumbo que não cobra. Segundo o que nos foi dito é a própria marca do equipamento que não cobra por este serviço), acabámos por adquirir o modelo de 1ª gama, o Bosch, por um preço inferior ao que pagámos pelo equipamento de 3ª gama, o Balay.

Teve um final feliz a história mas não deixa de ter umas quantas lições de moral menos alegres:

  • Na Internet, nem sempre os primeiros a aparecer são os melhores. Mesmo quando assim parece.
  • O preço é importante mas o serviço não lhe deve ficar atrás em grau de importância.
  • Compras na Telsão Electrodomésticos, nunca mais.

Tártaro de atum. Porque sim. Lembrei-me disso um destes dias e não fui de modas. Manhã cedo, Mercado de Alvalade, um bom naco de atum vermelho, complementos, temperos, e de volta à cozinha.

Confesso que não sou muito dado a medidas exactas… Aliás, falta balança de cozinha cá em casa. Virá um dia certamente mas, enquanto vem e não vem, vai a olho.

Preparar o Tártaro de atum

Cortei cerca de 300 gramas de atum em finas fatias. A essas voltei a dar a faca afiada de forma a cortar estreitas tiras e por ultimo, picar em pequenos pedaços. Tudo para dentro de uma tigela.

Piquei também um pequeno molho de cebolinho, uma chalota, algumas alcaparras e misturei tudo com o atum. Entretanto já tinha acabado de cozer um ovo. Depois de frio, meio deste bem picado foi também para a mistura à qual juntei então um pouco de sal e pimenta preta.

Num toque à lá Tickets, o famoso restaurante de Ferran Adrià e do seu irmão Albert, resolvi incluir no meio do Tártaro uma camada de manga, igualmente picada à faca, dando um apontamento de cor mas, essencialmente, colocando o doce entre o sabor de mar do atum e o envinagrado das alcaparras.

Enformei sobre ardósia, cobri e levei ao frio durante duas horas.

Tártaro de Atum - Pedro Rebelo

Desenformei e complementei com um quarto de ovo cozido e cebolinho ao topo, acompanhado por pequenos tomates chucha com risco de Modena doce e maionese fresca.

O jantar foi tardio mas a espera valeu a pena.

Na calha fica já a ideia de um bife tártaro mas dessa feita, com um belo naco da vazia ou do lombo. A ver vamos quando virá.

 

Miles Davis Sketches of SpainHá dias assim. Há dias melhores e dias piores. Há dias bons e dias menos bons. Há até dias maus. E há músicas que encaixam perfeitamente nesses dias. Sejam eles bons, maus ou nem por isso. O disco Sketches of Spain de Miles Davis tem algumas dessas músicas e, como sei que todos nós temos por vezes “dias assim”,  hoje gostava de vos apresentar uma delas.

O Concierto de Aranjuez

Não será fácil imaginar a viagem desde os jardins do Palacio Real de Aranjuez, na Madrid do século XVIII, até a East 30th Street na Nova Iorque dos anos 60 mas, tal é a beleza da obra escrita por Joaquín Rodrigo em 1939 entre sonhos e pesadelos, que da guitarra clássica chegou ao trompete de Miles Davis, dando-nos a cada nota uma imagem do tal jardim, dos recantos floridos, dos lagos de agua corrente, dos pássaros a cantar mas também das sombras entre frescas e frias e do escuro que fica quando cai a noite. Miles Davis disse que ouviu o Concierto de Aranjuez pela primeira vez quando um amigo o pôs a tocar numa das suas digressões pela costa oeste norte-americana e que depois disso o ouviu durante semanas até que não o conseguisse mais tirar da cabeça. Ouve-se e percebe-se porquê.

A música mais longa

Pegando no segundo movimento do Concierto, o adagio, Davis cria juntamente com Gil Evans, a mais longa musica do disco, com uma duração de 16 minutos e 19 segundos mas leva-nos ainda assim, numa suavidade por vezes quase angustiante, a escutar na esperança que não acabe, que dure só mais um pouco, tal é a constante promessa de que melhores dias virão… Ou nem por isso. Assim é a vida. Assim é o jardim.

Tal como num jardim, também aqui há uma ordem. Preparem-se para um fantástico trabalho de orquestra, o tal encadear da natureza que, com todos os sons disponíveis, cria uma tela imbricada que nos envolve de tal forma quase nos levando a acreditar que ali, está tudo o que existe. Não é o típico jazz de Miles Davis, não é a obra do improviso a cada tempo, houve até quem chegasse a perguntar se era realmente jazz. Miles Davis respondeu “É música, e eu gosto.”.