Nighthawks é um dos meus quadros favoritos. Junte-se-lhe Cristo de San Juan de la Cruz (de Salvador Dali) e Ophelia (de Sir John Everett Millais) e teremos uma parede à beira da perfeição.
Já não é a primeira vez que me refiro a esta obra de Edward Hopper aqui no browserd.com (e estou certo de que esta não será a última) mas pareceu-me uma boa ideia deixar aqui uma nova nota, dando a conhecer o pequeno filme de Evan Puschak, onde o já famoso Youtuber apresenta um curto (são 7 minutos) ensaio sobre Nighthawks, desconstruindo-o, tornando claros (ou pelo menos descortinando um pouco) os tópicos a que Nighthawks quase subliminarmente alude, como seja a solidão, a contemplação ou o voyeurismo…
Evan Puschak estudou produção cinematográfica na Universidade de Boston e é com mestria que produz e publica regularmente como Nerdwriter filmes sobre os mais variados tópicos, sempre de alguma forma mostrando a sua visão do mundo enquanto espaço filosófico, politico e artístico.
Enquadradona série de pequenos ensaios a que Evan Puschak resolveu chamar de Understanding Art (nos quais se dedica especificamente à analise mais profunda de algumas obras culturalmente relevantes, dos mais variados géneros), Hopper’s Nighthawks: Look Through The Window foca-se em pequenos detalhes do quadro contextualizando-os com a realidade social de Hopper permitindo-nos assim uma leitura mais esclarecida da obra.
A Charlie Brown Christmas (em Portugal tem o titulo Feliz Natal, Charlie Brown) foi uma daquelas coisas que verdadeiramente me marcou quando era criança. Por incrível que possa parecer às crianças de hoje, em tempos, A Charlie Brown Christmasera mesmo a única coisa que havia para ver na televisão, numa qualquer tarde de Inverno em que a chuva teimava em arruinar as férias de Natal (até já vos tinha falado disto aqui). Bem, outras houve que também deixaram marca ainda que durante muito, muito tempo, não tenha sido a melhor (mas sobre o filme Yellow Submarine dos Beatles falarei numa outra ocasião).
Durante muitos anos, longe de pensar seriamente no humor, longe de ouvir música com o sentido de a entender, guardei na memória as imagens e as sonoridades de A Charlie Brown Christmas, assim como a associação das mesmas às tais tardes de Inverno, às férias de Natal. Quando vi na televisão A Charlie Brown Christmas pela primeira vez, talvez tivesse 8 ou 10 anos ou seja, entre 1981 a 1983 mas o filme em questão é o episódio especial de Natal da série Peanuts (criada por Charles Schulz na década de 50 do século passado, como uma tira de banda desenhada publicada nos jornais), transmitido nos Estados Unidos a 9 de Dezembro de 1965 (e que continua a ser transmitido por lá, todos os anos no Natal).
O que tem A Charlie Brown Christmas de tão especial?
Em 1965 não haveria certamente muitos desenhos animados cuja mensagem fosse o questionamento do materialismo da época natalícia. Junte-se a isto o humor cáustico com que Charles Schulz prendava os personagens de Peanuts (um grupo de crianças que vivem a sua amizade, alegrias e frustrações, observando e questionando de forma crítica, muitas vezes profundamente filosófica, os hábitos, costumes e sentimentos que se diriam comuns) e temos meio caminho andado para um filme de sucesso.
Uma série de outros factores fizeram com que o filme ganhasse a merecida fama. Coisas que à data não seriam de todo comuns, e que Charles Schulz terá entendido serem a melhor opção, como a não inclusão de sons de gargalhadas ou o tom propositadamente religioso da mensagem. Não passaria pela cabeça de ninguém, incluir num filme de desenhos animados de grande consumo, uma passagem bíblica, mas atente-se ao discurso de Linus Van Pelt (aos 20 minutos e 35 segundos) que mais não é que as palavras de São Lucas em Lucas 2:8-14.
Na mesma região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. Um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor refulgiu em volta deles; e tiveram muito medo. O anjo disse-lhes:
“Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.”
De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado.”
A Charlie Brown Christmas parece ter sido feito à medida para uma sociedade que precisaria dele durante muito tempo mas que não tinha noção disso.
Mas há ainda um outro factor essencial para fazer de A Charlie Brown Christmas o clássico de Natal que tem sido desde então.
A Charlie Brown Christmas de Vince Guaraldi
Este não é um Natal normal. Há turistas a passear pelas ruas de Lisboa de calções e t-shirt. Há Sol de manhã à noite e, não fosse o frio que se faz sentir de quando em vez, ninguém diria que estamos em Dezembro. Para além disso, tenho a nítida sensação de que os espaços comerciais da cidade, contrariamente ao sucedido noutros anos, não estão a abusar das colectâneas de êxitos natalícios, a tocar em loops infindáveis, em tudo quanto é loja e corredor… E conto pelos dedos de uma mão os Pais Natal que já vi nas ruas este ano. Já se passou o Natal e ainda não ouvi uma única vez o fantástico Fairytale of New York dos Pogues com a Kirsty MacColl.
Com milhões de cópias vendidas, este disco traz com ele algumas polémicas relacionadas com as suas várias edições, contendo diferentes versões das mesmas músicas ou até mesmo músicas diferentes mas, independentemente disso, o que verdadeiramente importa é que, seja qual for a versão, A Charlie Brown Christmas é uma obra fantástica que entre outras coisas teve o mérito de apresentar o Jazz a uma geração com diferentes horizontes musicais, o que certamente veio contribuir para muito do que de então para diante se fez neste género musical (e talvez não só).
A história de como Vince Guaraldi veio a ser o autor da banda sonora de A Charlie Brown Christmas é também ela curiosa. Em 1963, o produtor televisivo Lee Mendelson tinha realizado um documentário sobre os Peanuts (A boy named Chalie Brown) e procurava a sonoridade certa para o acompanhar. Fã de Jazz que era, ouviu na radio uma música que não conhecia, de um compositor que também não conhecia, mas que lhe agradou e de imediato tentou descobrir mais sobre o autor de Cast Your Fate to the Wind, o grande êxito comercial de Vince Guaraldi nesse ano. Descobriu, conheceram-se poucos dias depois e resolveram trabalhar juntos na banda sonora.
O documentário não chegou a ser lançado (ainda que em 1969, um outro filme dos Peanuts viesse a ter o nome de A boy named Chalie Brown) mas, dois anos mais tarde, alguém na Coca-Cola (que tinha visto o tal documentário) desafiou Mendelson para que este produzisse um especial de Natal dos Peanuts e Mendelson lembrou-se novamente de Vince Guaraldi e assim nasceu A Charlie Brown Christmas, o álbum.
Vince Guaraldi era um dos artistas do chamado West Coast Jazz, o Jazz do easy going, easy listening e que melhor som para acompanhar os Peanuts do que uma sonoridade melódica e relaxante, ilustrando na perfeição, a vida daquele grupo de amigos, na calmaria da sua infância e na profundidade das suas preocupações existenciais, a mistura perfeita entre um passado de inocência e um presente de questionamento? Era a década de 60…
O pianista juntou ao seu estilo habitual, uma muito reflectida escolha de composições originais e tradicionais músicas festivas, garantido assim agradar a jovens e menos jovens. Do clássico alemão em torno da árvore de Natal O Tannenbaum, a Linus and Lucy, que não sendo uma música de Natal, parece acompanhar perfeitamente o ritmo dos personagens (com a sua eterna frescura e humor), ao ponto de se tornar uma referência dos mesmos ao mesmo tempo que se tem tornado uma referência natalícia… É fácil lembrar o Natal ao ouvir Linus and Lucy.
O West Coast Jazz tinha claramente a sua presença no tom cool de What Child Is This mas a peça central do disco, os 6 minutos da versão instrumental de Christmas Time Is Here, marcava o espírito por trás de toda a obra. A melodia encantada e encantadora, simples, suave, insinuante, deixando à imaginação o trabalho de nos levar da sala lá de casa a outro ambiente, onde Christmas Time Is Here poderá bem ser tocada em qualquer outra altura do ano…
Por tudo isto fiquei tão contente de finalmente termos em casa, a edição em vinil de A Charlie Brown Christmas.
Media Ecology. And what’s that? Well, according to Wikipedia media ecology theory is all about the idea that technology more than influencing our society, controls virtually everything in our lives; As a field of academic research it is a study of the ways that media and communication processes affect our perception and understanding of the world around us. The use of the term ecology is regarding the environment in which the medium is used – what they are and how they affect society.
So, that said, we can for sure understand that each country has it’s own media ecology. With that approach in mind, Professor Luiz Batista designed a course for foreign students at FCSH to provide them with “an overview of the changes underwent by the various Portuguese media in the last 25 to 30 years, particularly regarding the widespread use of the internet and mobile communications technologies”.
The idea is to provide to those young students the tools for an academic approach to the Portuguese media environment. For that, Professor Batista, or Luca as he likes to be called, has a selection of relevant readings and obviously promotes regular in class discussions on the subject. He also invites several guest speakers so that they can bring to class a different kind of insight, more hands-on, with some more practical views on some of the topics of the course.
This year was the second year Luca as invited me as one of those guest speakers, to talk to the class about Internet in Portugal and how the Portuguese people use it. For me it is a great honor believe me. Not only because I had the honor of being one of Luca Batista students (he was my Communication Philosophy teacher) and now he is reaching out to me, trusting that I can also teach something to his students, but also because it is to talk about one of my favorite subjects in one of my favorite places, FCSH, and passing to others my way of understanding digital culture in general. And of course, also for having the students, from all over the world, listening to me, hour after hour and in the end, having questions.
Yesterday, in the classroom we had students from the United States of America, Spain, Netherlands, Germany, Turkey, England … And now, they’ve heard about several things they never heard before. They’ve heard about the importance of the number 42, they’ve heard about War Games, BBS’s, Gopher, Newsgroups … Dial-up connections. They saw numbers on Facebook, on Twitter and about what a heck people do on these networks in Portugal.
And believe me or not, we’ve talked about high-heels shoes and luxury lingerie … Yeap, that’s all about the Internet. To me, it seemed that it all went very well.
Once again, Luca and everyone on the class, thank you very much for the opportunity.
Noélia e Jerónimo. Os dedos das mãos e dos pés, da família, não chegam para contar as vezes que recomendei este restaurante desde que o conhecemos, faz hoje precisamente um ano.
Em Setembro do ano passado, no fim de um longo dia de praia, combinamos jantar com um casal amigo e filhos. Depois de um dia inteiro a tentar ligar para o Noélia e Jerónimo, que nenhum de nós conhecia, finalmente fomos atendidos ao final da tarde, só para nos dizerem que já não tinham mesa para esse dia. O Ricardo, do tal casal, não se deu por vencido e decidiu que iria até Cabanas de Tavira, ao restaurante, na esperança de que uma mesa vagasse. Bendita a hora em que o fez. Depois de esperarmos cerca de uma hora à porta do restaurante, lá chegou a nossa vez. E nessa noite tivemos um dos melhores jantares que alguma vez nos foi servido em terras algarvias.
De memória nos ficaram o atendimento simpático, tudo quanto nos puseram na mesa e até a amabilidade da própria Noélia que, ao fim do jantar veio à nossa mesa perguntar se tudo tinha estado do nosso agrado. Logo ai recebeu os nossos maiores elogios. Mas que maiores elogio se poderá dar a um restaurante, para além da genuína recomendação, do que lá voltar?
E assim sim foi. Um ano depois, voltámos ao Noélia e Jerónimo.
Tentámos uma vez mais telefonar para o restaurante mas, a exemplo do que já nos tinha acontecido, não tivemos a sorte de ser atendidos. Fomos à sorte, confiantes de que abrindo o restaurante às 19h00, chegando um pouco antes disso talvez conseguíssemos mesa. Chegámos ao Noélia e Jerónimo eram 18h45. A esplanada já estava cheia (duas mesas de dois lugares vazias) e na sala, todas as mesas, ainda que vazias, ostentavam já o sinal de reservado.
Deixámos o nome na lista de espera. Só havia uma familia de 3 pessoas à nossa frente, Talvez não demorasse assim tanto pensámos. Demorou. Uma hora e meia depois, durante a qual ficámos à entrada da esplanada olhando para as mesas da sala que continuavam na sua grande maioria, vazias, fomos chamados. Menos mal.
Uma hora e meia à porta de um restaurante. Quem nos conhece sabe que não somos destas coisas. Esperar não é algo que nos choque mas uma hora e meia? Sim, nós tínhamos ficado verdadeiramente impressionados com o Noélia e Jerónimo.
A simpatia do Francisco, o responsável pela nossa mesa, não teve o que se lhe apontasse. Referimos a nossa anterior passagem pelo restaurante e umas quantas leituras sobre o mesmo. Da experiência própria pedimos para começar uma sopa de peixe para cada um. Não desiludiu. Tal como a anterior, muito saborosa e com peixe, coisa que nem sempre se vê em sopas do dito. Um pouco mais rala que o ano passado e com massa, outra inovação.
Também levados pelo que já conhecíamos, pedimos o bife de atum braseado acompanhado de arroz de gengibre e manga, ao que parece, um doss clássicos da casa. O ano passado o arroz de gengibre não tinha manga e sim amêndoas. Disse-nos o Francisco que acontece. Amêndoas tem sempre. Manga quando há. Por vezes tem framboesa. Venha de lá isso.
Já levados pelas leituras das muitas reviews que se encontram pela Internet, resolvemos pedir o famoso polvo frito com batata doce frita. Confirmam-nos: é um dos pratos com mais saída. Infelizmente, foi a primeira desilusão.
Polvo Frito com Batata Doce. Se os olhos comem, ficamos com fome
O polvo estava saboroso, estava. As batatas doces fritas estavam efetivamente muito, muito boas. A combinação funciona mas não basta mandar duas coisas que combinam para dentro da travessa para ter um grande prato. Sendo que os olhos também comem, só por aí ficaríamos com fome. A apresentação torna o famoso polvo numa coisa banal, capaz de ser servido em qualquer outro sitio que não no Noélia e Jerónimo, onde tantos pratos que passam parecem ter um cuidado de artista no empratamento.
Mas o pior estava para chegar, o bife de atum braseado.
Quando temos termo de comparação e a fasquia é alta é normal que o que quer que venham em segundo dê azo a emoções fortes. Se a experiência for superior é de elevar a chef aos píncaros, que se supera, que evolui. Por outro lado, se a experiência for mais fraca será sempre uma desilusão. Desta feita, a experiência foi mais fraca, muito mais fraca.
Há muito que aprendi que a desilusão pode ser uma coisa boa (terei lido Heidegger cedo demais?), o desfazer da ilusão, o clarear da ideia. Aquilo que revela a verdade. Pois se esta é a verdade, esta desilusão é das grandes.
A dose de Bife de Atum Braseado que nos foi servido este ano
O que nos foi servido no fundo de um prato fundo não era um bife de atum. Eram pedaços de atum, cortados sem forma, de pontas de posta, cobertos de nervo. O bom atum do ano passado em nada se compara a este. Nem na forma, nem na textura e confesso, nem no sabor. E se ao Miguel Esteves Cardoso, também presente esta noite neste que considera “o melhor restaurante de sempre“, a Noélia “avisa logo se o atum é sublime (desviado dos japoneses que o pagam a 100 euros o quilo) ou meramente muito bom“, ao que parece, aos restantes Clientes essa nota passa ao lado. Tivesse eu sabido que não teria um bife de atum mas sim os tais pedaços unidos por nervo e certamente teria pedido outro prato.
O Atum Braseado que nos foi servido o ano passado
Mas a coisa não ficou por ali. Na mesa ao fundo da sala estava o Jorge Palma e tudo o que me vinha à cabeça ao olhar para o “Arroz de Gengibre com Manga” era “deixa-me rir…“. O prato de arroz que acompanhava o atum era uma daquelas visões que nos fazem pensar se nos enganámos na porta. De repente, estamos num daqueles cafés da baixa lisboeta onde se serve bitoque atrás de bitoque, sem cheiro, sem sabor e onde a única cor é dada pelas falripas de cenoura em cima da forma de arroz branco de hospital. Quase. Tinha cheiro e sabor, a queimado, das amêndoas que torraram demais. E tinha cor, dada pelos parcos pedaços de manga mole e sem graça que trazia no topo. De resto, estava espapaçado e insosso, como o tal arroz de hospital. Não o comemos.
Arroz de gengibre e Manga. Sim, os pontos pretos são amêndoas queimadas
Claro que chamámos o Francisco e que lhe explicámos a situação. O bife de atum que não era bife, o arroz que estava intragável, o Noélia e Jerónimo que não tinha nada a ver com o Noélia e Jerónimo do ano passado. De imediato nos disse que ia passar a informação à Chef. Acredito que a tenha passado. Mas acredito porque esta noite decidi ser boa pessoa e acreditar que os outros também podem ser boas pessoas. Só por isso, não porque tivesse qualquer palavra de atenção.
Salvou-se a noite pelo bife de vaca que a Patrícia comeu e que, ao que parece e ela conta, estava mesmo muito bom e pela garrafa de Crasto 2015 que bebemos mas sinceramente, pelos 80 euros que pagámos, esperávamos no mínimo algo como o que tivemos no ano passado. Nem de perto nem de longe.
O Noélia e Jerónimo foi uma desilusão. Das grandes. E por mais que o Heidegger me diga que a desilusão é uma coisa boa, esta não é boa para ninguém. Não é para mim e para a Susana que deixámos de ir a outros sítios que gostamos para ir ao Noélia e Jerónimo e viemos de lá insatisfeitos e não é para o Noélia e Jerónimo que deixam de ter a nossa visita e recomendação. Se lhes faz mossa? Talvez não mas não será por isso que deixo de escrever.
p.s. Diz o meu amigo Artur Ventura que eu só escrevo quando me pisam os calos ou quando me chateio num restaurante. Não é bem assim mas admito que este foi um daqueles casos que não podia deixar para amanhã.