Ok. O titulo do vídeo abaixo é um pouco mais longo mas pareceu-me que “O que é o Google+ (Google Plus)?” seria mais que suficiente para dar a ideia…

Bastante claro, divertido quanto baste, o pequeno vídeo da Epipheo Studios é esclarecedor do conceito Google+. Lembrem-se: nem todos são nossos amigos…

Da imaginação da Patrícia (a minha filha para quem não sabe) já saíram as mais extraordinárias coisas (da fantasia de Darth Vader, ao Rei dos Cylons passando pelos sinais de proibição a monstros invisíveis) e ao que parece, ainda há muito a esperar. Desta feita, numa viagem de carro, numa aparentemente vinda do nada vontade de desabafar:

As histórias da Patrícia

Pai, vou contar-te duas histórias:

Ele chamava-se Van Lobo. Tinha cabeça de morcego, braços de homem, tronco e pernas de lobo. Uma noite tentaram caça-lo. Levavam alho, muito alho. Não conseguiram. Ele era mais forte, lutou e fugiu. Apanharam-no uma semana mais tarde. Já tinha passado a lua cheia.

Era uma vez um cão. Tinha no cérebro um pedaço de gelatina amarela onde vivia e do qual se alimentava um verme extra-terrestre. Esse verme cresceu, cresceu, e o cérebro do cão já não dava para ele. Saltou (terá sido pelas orelhas) cá para fora e colou-se às costas de um taxista. Assim viajava e podia continuar a crescer… Cresceu tanto que se tornou quase do tamanho do Universo. Abriu a boca e engoliu umas galáxias (nota minha: nitidamente a precisar de orientações no que se refere a escalas) mas sem grandes preocupações: foram só duas e a nossa escapou. Depois ficou cheio e descansou.

Certo. Estou em dúvidas se a aconselho a ir para a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas ou directamente para Berkeley.

Uma breve leitura da Introdução deste livro (que nesta edição portuguesa de 1966 se apresenta em dois volumes) e facilmente percebemos que Sam Moskowitz “vivia” a ficção científica.

Mary Shelley, Julio Verne, Allan Poe ou mesmo Cirano de Bergerac são, antes de se apresentarem por suas palavras, apresentados por quem os investigou, estudou, comparou e certamente tirou um enorme prazer de tudo isso…

Sam Moskowitz guia-nos por entre os mundos do fantástico, do gótico, do romantismo ao realismo e mostra-nos que tais viragens na história nem sempre se deram da forma mais obvia.

Agora, à leitura que se faz tarde.

A vida é fotografia, a fotografia é a vida

Nota: Este artigo é a continuação de Nobuyoshi Araki: A morte bem pensada (I). Aconselho a leitura para melhor entendimento.

Na Lua de Mel

Araki tornou a sua lua-de-mel material em bruto para uma série de fotografias que lhe serviriam como manifesto daquilo a que chamaria de “Fotografia Pessoal”. «Podes fotografar-te a ti e às coisas que significam algo para ti pois é ai que reside o essencial e onde a intensidade dramática está no seu auge » disse Araki na série da BBC na série documental Genius of Photography. O acaso parece não fazer parte da sua obra.
Com a aceitação de Sentimental Journey, a vida torna-se então o tema da sua fotografia e a sua fotografia torna-se literalmente, a sua vida.

Numa tarde de Verão, no final da década de 80, Yoko diz a Araki que tem um grave problema de saúde e que os médicos lhe dão poucos meses de vida.

Foi num dia de Verão que a minha mulher me disse que tinha problemas no seu útero, que não tinha muito mais tempo de vida. Foi ai que começou a sua jornada a caminho do Inverno. Porque o Inverno é a morte. (declaração em Contacts Vol. 2, Portraits of Contemporary Photographers)

Araki acompanha-a até ao fim dos seus dias, mas sempre de câmara na mão, fotografando aquilo a que mais tarde chamaria de Winter Journey. Mais uma vez, barreiras que se quebram. A morte do ente amado, vista por quem mais próximo, mostrada por quem mais próximo.

O momento decisivo, aquele que não pode ser vivido por outro que não o artista, o ultimo suspiro da sua mulher, tem que ser fotografado por si mesmo que não o possa fazer. Mas a câmara é só extensão de si mesmo e ainda que o dedo no obturador não seja o seu (na foto abaixo, Araki pediu ao irmão que tirasse a fotografia daquele exacto ângulo), é conceptualmente uma fotografia sua e isso é que interessa.

Araki at Yoko's last minute

Às pessoas que o chamam de insensível, Araki responde que talvez se deva ao facto de ser Gémeos. «Eu não estou sozinho» diz ele. «Existe um outro eu». Esta desculpabilização é patente também na forma como fotografa com várias câmaras ao mesmo tempo, sugerindo vários narradores diferentes, as várias faces de Araki.

Araki remata ainda a radicalidade do seu plano, com a fotografia que capta do caixão de Yoko. Junto a ela no caixão, está bem visível, um exemplar de My Loving Chiro, o livro de fotografias que Araki tinha acabado de editar sobre o gato da família. Se parecer forçada a associação, porque não lembrar as flores que Araki leva a Yoko ainda por abrir e que, quase milagrosamente, abrem logo após a sua morte? São fotografadas no antes e no depois. E vão por isso também com Yoko para a derradeira morada. Merecendo nova fotografia.

Yoko no caixão

Mas que ganhou Araki com tudo isto? Araki fotografa hoje onde e como poucos podem fotografar. Na entrevista que deu a C.B. Liddell (ver em Intimate photography: Tokyo, nostalgia and sex) este diz-lhe que a primeira impressão que teve dele foi a de que ele parecia alguém que trabalhava num circo mas que achava isso muito importante para tirar fotografias: «Pode ser muito intrusivo e até rude com a câmara, mas as pessoas vão desculpa-lo porque a sua aparência as faz sorrir».

E nós? Como vemos a fotografia de Araki?

O homem comum a encantou-se pela fotografia de Araki, porque ele a mostra como uma parte pessoal, quase intima de uma vida que une o comum do dia a dia ao sublime (no sentido que lhe dá Dostoevsky, entendendo o sublime como algo belo e ao mesmo tempo, aterrador) muitas vezes inalcançável.

Esta atitude permite que a sua noção de fotografia não se confine, ou melhor, nem sequer se enquadre no domínio da alta cultura. Araki pode fazer fotografia como arte popular e mesmo assim ser reconhecida.

Estas fotografias ajudam-me a recordar. Sem fotografia, não recordamos muito. Já cheguei ao ponto em que não fotografo o que não quero lembrar. Só fotografo o que quero mesmo recordar…

O quebrar das regras permite-lhe hoje isto: fazer o que quer e ter o que quer: reconhecimento.

Lia-se no Folheto introdutório da exposição Private Tokyo no Museum fur Modern Kunst Frankfurt am Main:

Quanto mais espectadores tem, quanto mais em forma se põe… Araki é uma figura de culto em Tóquio, com a popularidade de uma pop-star.

Mas estará a morte por trás de tudo isto? A ver vamos no próximo post.